Catarina
2018
Henrique vai completar dois aninhos na semana que vem. Às vezes, nem consigo acreditar que o tempo passou tão rápido. Ele é uma criança adorável e esperta, que ri o tempo todo e se ajusta a qualquer ambiente. Dorme bem, come que nem um leão e é muito carinhoso. Agora que está bem crescido, as semelhanças físicas com o pai são gritantes: os cabelos castanho-claros e os olhos verdes como uma límpida e brilhante esmeralda. Toda vez que ele me encara com profundidade, faz com que eu pense em Theo. Ele se tornou uma lembrança boa, que provoca uma saudade gostosa. Não sinto mais nenhum tipo de raiva e até consigo entender que foi muita pressão para ele, com tão pouca idade. Não que isso justifique a maneira como ele me deixou, mas pelo menos ameniza o estrago que isso causou em mim.
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Theo 2018 Consegui fechar um negócio milionário para a empresa e, com certeza, vou ganhar um bônus que vai compensar toda a dedicação dos últimos tempos. Nas duas semanas que passaram, virei noites para dar conta do projeto e praticamente abandonei a minha vida pessoal. Natália tem reclamado que quase não apareço em casa, sempre me cobrando por mais atenção. Gosto muito dela e de tudo o que construímos juntos, mas me incomoda essa mania de querer sempre mais, como se o que eu ofereço nunca fosse o suficiente. Namoramos há quase um ano e já moramos juntos há cinco meses. Ela entrou na minha vida e, quando me dei conta, já estava dentro da minha casa. Agora, fala o tempo todo em casar, em fazer uma enorme festa e até em ter filhos. Estou feliz, mas, quando fecho os olhos, não me imagino ao seu lado pela vida inteir
Catarina Ando meio sem rumo, completamente atordoada com o que acabou de acontecer. Claro que pensei em Theo quando vim para o Rio, mas quais as chances de esbarrar com ele, no primeiro dia, em uma cidade tão grande e cheia de gente? Estou com a boca totalmente seca e, sem querer, analiso a roupa que visto, o estado do meu cabelo, os sapatos nos pés. Eu me sinto uma adolescente. Penso no encontro que teremos logo mais, tentando não criar qualquer tipo de expectativa. Pego um táxi e vou direto para o hotel. Tomo um banho relaxante e me deito para tentar relaxar. Preciso decidir o que estou disposta a contar. Penso em Henrique e sinto, de repente, uma saudade enorme do meu filhinho. Ligo para casa, falo com Fernanda e confiro se está tudo bem. Depois, tento tirar um cochilo, mas a adrenalina não me deixa pegar no sono. Faço
TheoSaio do hotel em que Catarina está hospedada radiante e preocupado. Sinto uma alegria incontrolável pela noite que tive com a mulher que eu amo, mas também carrego a culpa pelo que fiz com Natália. E, principalmente, com o que ainda terei de fazer. Ela estava possessa ao telefone, e não ajudei muito: fui completamente evasivo em todas as minhas respostas. Ela SABE que alguma coisa séria aconteceu, mas não sei se consegue imaginar a dimensão do que foi.Ligo para o trabalho para avisar que chegarei mais tarde e vou direto para o meu apartamento encarar a minha namorada. Chegando lá, a encontro sentada na sala, com a cabeça apoiada nas mãos, com o rosto já inchado de chorar. Vê-la desse jeito faz com que eu me sinta um babaca, e, para ser sincero, é isso que sou.Deixo as minhas coisas em cima da mesa e me sento ao
Catarina A noite inteira parece um conto de fadas, mas nada me prepara para o seu desfecho: Theo ajoelhado aos meus pés, segurando uma aliança reluzente e me pedindo para ser a sua mulher. Eu não penso em mais nada e voo no seu pescoço, perdendo a compostura e gritando repetidas vezes o “SIM” mais sonoro que já falei na minha vida. Sem cerimônia, ele me tira para dançar e ficamos os dois, no meio do salão do restaurante, completamente alheios a tudo o que está à nossa volta. Vamos para casa abraçados e fazemos amor demoradamente, com delicadeza e paixão. Dormimos abraçados, totalmente extasiados de felicidade, mal acreditando que vamos ficar juntos. No dia seguinte, penso na questão geográfica e me preocupo. Não vai ser fácil viver em uma ponte aérea entre Rio e Minas, principalmente tendo uma criança no esquema. Resolvo dividir o meu receio com Theo, que abre um sorriso gigante e me conta que vai se mudar par
2020 Catarina Hoje faz dois anos que me casei com Theo e posso dizer que a nossa vida juntos tem sido fantástica. Claro que enfrentamos as dificuldades e os problemas de qualquer casal, mas tudo tem leveza e é permeado por amor. E isso faz qualquer obstáculo parecer pequeno. Henrique está enorme e cada dia mais inteligente, idêntico ao pai em todos os sentidos. É uma miniatura do meu marido, tão adorável e apaixonante quanto ele. Nós compramos uma casa no ano passado, com um lindo jardim e bastante espaço para o nosso menino brincar. É bonita, funcional e muito aconchegante. Moramos na região da Savassi, que é um dos melhores bairros aqui de Belo Horizonte, com comércio farto e muitas opções de lazer. Saímos para comemorar em um restaurante das redondezas, e levo comigo um presente muito especial para Theo. Fiz uma embalagem rebuscada e estou muito ansiosa para ver a su
Prólogo Catarina Eu sempre sonhei com um grande amor. Idealizava aqueles romances novelescos, repletos de clichês e banhados por calda de açúcar. Queria as frases-feitas, as declarações cafonas, o fogo incontrolável das paixões desmedidas. E, claro, tudo isso com direito a músicas de fundo emocionantes, igualzinho aos romances das telinhas. Mas, com 23 anos, o máximo que consegui foram uns beijos xoxos e atrapalhados, em uns caras absolutamente sem graça. Nada que me desse palpitações nem despertasse os meus devaneios. É justo ressaltar que a marcação cerrada dos meus pais e o fato de morar em uma cidade pequena também não ajudam muito os meus planos românticos. Enquanto penso na falta de emoção da minha vida, salto do ônibus e ando os dois quilômetros de estrada de terra que me deixam na porta de casa. Todos os dias,
Março de 2015 Catarina Hoje, faz dez anos que me casei com Heitor. Ou seja, é aniversário de uma década em que vivo no Inferno. Desde a primeira noite, ele só piorou. Cada dia mais agressivo, raivoso e desequilibrado. A impressão que tenho é que passa o dia encarnando um personagem e, quando chega em casa, desconta em mim tudo aquilo que foi obrigado a guardar. Algumas vezes, basta olhá-lo para dar início a xingamentos, que logo se transformam em tapas, socos e pontapés. Durante todo esse tempo, sou escrava das suas vontades e sirvo de saco de pancada para as suas frustrações. Pesquisei a fundo e descobri que ele tem o chamado Transtorno da Aversão Sexual, que faz com que as pessoas realmente tenham horror a qualquer contato íntimo. Mas esse é apenas um pequeno problema do meu marido; algo que acontece com muitas pessoas boas todos os dias. A r
Março de 2005CatarinaChega o grande dia. Nem acredito que já se passaram oito meses desde a primeira visita de Heitor. De lá para cá, ele vem me visitar regularmente, sempre cortês, sorridente e bajulador. Elogia a minha roupa, comenta sobre o meu cabelo, quer saber sobre o meu dia.Faz sete meses que ele paga o tratamento médico do meu pai, arcando com todas as despesas do plano de saúde e garantindo as medicações necessárias ao seu bem-estar. Saber disso deixa o meu coração mais leve e faz com que cresça a minha admiração pelo homem com quem vou me casar.Nunca ficamos realmente a sós, e entendo que é por respeito ao meu pai. Ele quer fazer tudo certo, como manda o figurino. Acho que, por essa razão, estou tão nervosa