— Eu não vou me casar com ele!
Após a cerimônia, todos estavam em uma sala reservada no fundo da igreja. Henrique, o pai das irmãs, estava nervoso. Afinal havia prometido Amélia para o filho do homem mais rico da cidade, a família Belmont, reconhecida por seus atos impiedosos. Ele ajeitou a gravata, imaginando o seu pescoço fora da cabeça no exato momento que dissesse que o acordo estava cancelado.
— Entenda, a sua irmã me implorou para se casar com Enzo. O que eu iria fazer? Interromper o romance deles em troca de um casamento que ela não queria?
Henrique indagou. Ela estava indignada, claramente o seu pai preferia Amélia e não escondia de ninguém. Seus olhos, no exato momento encheram de água, seu peito esquentou com a remota possibilidade de se casar com um homem por obrigação.
— Então o senhor encobriu a traição da sua filha preferida, me escondeu todo esse lixo, e agora quer que eu substitua a minha irmã nesse casamento arranjado? Nunca! Eu não irei fazer isso.
— Nem para salvar a sua avó?
Ela minimizou os olhos. A única pessoa que a faria mudar de ideia seria Elizabeth. Henrique sabia disso, e usaria de todos os artifícios para que esse pescoço não fosse degolado pela família Belmont.
— O que o senhor disse?
— Eles são uma das famílias mais ricas do país, senão a mais rica. Com um ou duas ligações, a sua avó será curada. É simples querida, você se casa com ele e depois de um ano está livre. A sua avó estará sem doença nenhuma e você poderá voltar para casa.
— Eu nunca voltaria para você.
O silêncio na sala ficou pesado. Liana sentiu o coração apertar no peito. Seu pai a vendia como uma peça de xadrez, movendo-a conforme sua conveniência. Ela olhou para Henrique, depois para Amélia, que estava de mãos dadas com Enzo.
O olhar de sua meia-irmã era de pura satisfação. Como se tivesse vencido um jogo cruel.
Mas nada poderia tê-la preparado para o que veio a seguir.
Amélia puxou Enzo pela gola do terno e o beijou, sem pudor, sem receio, bem diante de seus olhos.
O estômago de Liara se revirou, e um gosto amargo subiu à garganta. Cada fibra do seu corpo implorava para sair correndo dali, para fugir daquela cena humilhante. O homem que ela amava, aquele que lhe prometera o futuro dos sonhos, agora a descartava sem o menor remorso.
— Vocês não precisam esfregar isso na cara — sua voz saiu trêmula, mas firme.
Enzo riu de canto, passando os dedos pelo queixo de Amélia.
— Não seja dramática, Liana. Isso só mostra que esse casamento nunca foi para você.
Ela quis gritar. Quis destruí-los com palavras afiadas. Mas antes que pudesse reagir, sentiu uma mão fria em seu ombro.
— Querida, você sabe que seu pai só quer o melhor para você.
A voz falsa e melosa de Beatriz, sua madrasta, a fez estremecer. Liana se afastou com um passo brusco, olhando nos olhos daquela mulher.
Beatriz fingia preocupação, mas seu desprezo por Liara sempre fora evidente.
— Você não se importa comigo, Beatriz — disse, a raiva queimando em sua voz. — Nunca se importou.
A madrasta apenas suspirou, fingindo paciência.
— Você está desperdiçando uma grande oportunidade. Álvaro Belmont pode não ser… tradicionalmente bonito, mas ele tem poder. e dinheiro.
— Eu não me importo com dinheiro! — Liana gritou.
— Se importe com sua avó? — Henrique esbravejou, sua voz soando como um golpe. Henrique não era um bom filho. Estava usando a doença de sua mãe para chantagear a própria filha. Era nítido o amor da jovem pela avó, e isso a impactou.
O silêncio caiu novamente.
Elizabeth. A única pessoa que sempre esteve ao seu lado. O desespero tomou conta de Liana. Seu pai sabia exatamente onde atingi-la. Sabia que ela não hesitaria em dar a própria vida para salvar a avó.
— O tempo está passando. Faça sua escolha.
Ela fechou os olhos com força. Seu peito subia e descia em agonia. Casar-se com um homem que não conhecia. Casar-se com um estranho com uma reputação assombrosa. Mas salvar sua avó.
Suas mãos tremeram ao pegar a caneta. As letras do contrato pareciam dançar diante de seus olhos marejados. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto quando ela assinou seu nome no papel.
Era oficial.
Ela agora pertencia a Álvaro Belmont.
Quando terminou, um silêncio frio tomou conta da sala. Então, uma risada baixa e rouca ecoou no ambiente.
— Eu já estava impaciente.
Liana levantou os olhos e sentiu o ar escapar de seus pulmões.
Álvaro
Sua presença dominava a sala, sugando todo o ar. Ele era alto, imponente, vestia um terno negro impecável. Mas o que mais chamava atenção era a enorme cicatriz que atravessava seu rosto. Uma linha grotesca, partindo do canto da sobrancelha até a mandíbula.
Os olhos dele eram ainda mais sombrios do que sua cicatriz. Ainda mais quando percebeu o seu olhar de nojo para ele. Seus olhos se estreitaram, ganhando um tom assombroso.
Liana engoliu em seco.
Ela queria desviar o olhar, mas não conseguia. Álvaro se aproximou lentamente, pegando o contrato com mãos firmes e analisando sua assinatura.
— Perfeito — murmurou.
Sem aviso, ele segurou o pulso de Liana, fazendo-a estremecer.
— Vamos.
— O quê? Agora? — sua voz saiu trêmula.
— Não há motivo para esperar. Você é minha esposa agora. Vamos para casa.
Ela olhou para o pai, para sua madrasta, para Enzo e Amélia. Nenhum deles parecia se importar com sua partida. Seu coração pesou como chumbo. era inacreditável que depois de anos, com a sua família, isso poderia acontecer. O amor Se esfriou, juntamente com o contrato de casamento.
Sem escolha, Liana foi puxada para fora da igreja e levada até um carro preto luxuoso. O frio do metal da porta em suas mãos fez seu corpo inteiro gelar. Quando entrou no carro e a porta se fechou, um arrepio percorreu sua espinha.
Ela estava indo embora.
Com Álvaro Belmont.
E não havia mais volta.
Vote!
Uma criança fragilizada, como se seus pais a houvessem esquecido na escola. Era assim que Liana estava. Com os joelhos dobrados sobre o estofado, deixou a testa descansar neles, enquanto as lágrimas caíam incessantes. Seus pensamentos eram rápidos e confusos. Preocupava-se com a vida de sua avó, com o sacrifício que ela havia feito e, principalmente, com o fato de estar sentada ao lado de um homem desconhecido. O simples pensamento de que ele pudesse tocá-la lhe causava arrepios, mais ainda do que olhar para sua cicatriz enorme. Ele não era um homem feio; pelo contrário. Talvez a cicatriz causasse espanto à primeira vista, mas Álvaro era um dos homens mais bonitos da cidade. Todas as mulheres o desejavam, até que, em uma batalha, uma marca foi deixada em seu rosto, transformando o homem cobiçado em um monstro enjaulado. — Não quero mais ouvir seus lamentos. Comprei você do seu pai, não para que chorasse como uma criança rebelde, mas para que estivesse ao meu lado na posição de min
Liana foi conduzida até o seu quarto e preparada como as mulheres se preparam para o casamento. Com um banho prolongado, foi massageada e coberta por pétalas de flores. Ela revirou os olhos inúmeras vezes. Não entendia o motivo daquela palhaçada, já que o casamento não passava de um arranjo. Tudo era uma farsa. — Betânia. — Sim? — Por que ele está se casando comigo? Eu não consigo entender. Entre tantas mulheres no mundo, arranjar compromisso com a minha meia-irmã não seria uma ideia mais inteligente? Com um sorriso gentil, Betânia sentou-se ao seu lado na cama. — Álvaro sempre foi o filho rejeitado, deixado de lado. O bilionário Eduardo Belmont nunca o reconheceu como filho de verdade. Tudo piorou quando a cicatriz se formou em sua face. Álvaro foi tratado como um monstro, e até hoje isso distorce os sentimentos dele. — Você ainda não me respondeu. Por que se casar? Por acaso ele tem medo de ficar só? Hm. Com certeza é isso. Ninguém se casaria com um monstro... com uma ci
Álvaro era um menino tímido que cresceu em um orfanato em Washington. Sua mãe o havia deixado para trás, pois, para ela, essa era a única alternativa para fugir com seu grande amor, o milionário César Strong. Estar em um ambiente onde todos o observavam o deixava constrangido. As inúmeras visitas de famílias que poderiam adotá-lo apenas aumentavam sua dor. O êxtase de acreditar que seria escolhido e, posteriormente, ser deixado de lado fez com que o pequeno Álvaro criasse uma armadura que o impedia de sentir amor e empatia. Afinal, ele sequer sabia o que era isso. Somente aos 16 anos foi adotado pela família Belmont. Ester, sua mãe adotiva, precisava de um herdeiro. Não conseguia engravidar, e esse fardo estava acabando com ela. Então, junto de seu marido, decidiu adotar Álvaro. O bilionário Eduardo Belmont aceitou, pois não via outra alternativa. Até que, inesperadamente, Ester engravidou, e finalmente o filho legítimo nasceu. ---Ele a encarava como se quisesse feri-la. Liana
Liana sabia que havia sido descoberta. Com os olhos fechados, implorando a Deus e à Luna para que o castigo não fosse tão grande, ela sentiu seus braços serem puxados para fora da mesa. A força que Álvaro aplicava era maior do que da outra vez. Ele estava com uma feição diferente, constrangido e, ao mesmo tempo, furioso. Talvez ele não quisesse ter descoberto dessa maneira tão estúpida. — Você é um mentiroso. — O que estava fazendo aqui? — Não interessa! Você vem enganando pessoas. Como pode? A minha avó é uma das mulheres que estão sendo lesadas por pilantras como você! Álvaro apertou os lábios. Ele não suportava o fato de uma mulher gritar com ele. Quanto mais ela falava, mais a raiva subia dentro do seu corpo. A vontade era pegar o corpo franzino da jovem, arrebitar o seu bumbum e estapeá-lo. Seria pouco para ela. — Eu tenho nojo de você. Nojo de estar casada com um homem que, além de ser um farsante, usou a doença da minha avó para se casar comigo. É tão feio assim que n
— Levante agora. Ágata jogou uma muda de roupas em cima de Liana. A mulher acordou no susto, olhou o relógio e viu que não era nem ao menos cinco da manhã. O que estava acontecendo? Se perguntou. —O que você está fazendo? Ágata puxou o seu punho para se levantar, o corpo de Liana voou nas mãos da empregada. Com o olhar fixo ela dissertou tudo o que o seu patrão havia lhe ordenado a falar. — De hoje em diante, você não faz parte dos benefícios de quem é esposa do patrão. Agora você é uma empregada como eu. Ela sorriu de lado. — Quer dizer, Você jamais será como eu, não tem os mesmos atributos. Liana sorriu sem vontade. Ainda tentando entender o que estava acontecendo. Então quer dizer que o seu marido a transformou em sua empregada? Aquilo só podia ser uma brincadeira. Ter que aturar um homem deplorável e ainda trabalhar para ele, era o cúmulo da história. — O que está me olhando garota? Coloque imediatamente o seu uniforme vai limpar os banheiros dessa casa. Eu não esto
— O que você está fazendo aqui? Era estranho reviver uma cena do passado. Olhar para aquele rosto que por muito tempo foi o seu confidente, trazia lembranças desagradáveis. Alice estava linda como sempre. Os seus cabelos loiros medianos caindo em cascata em seu colo, demonstrava a modernidade que refletia em sua roupa. Com um terninho azul com a sala lápis combinando, ela estava pronta para relembrar os velhos tempos. — Surpreso ao me ver? Decidi fazer uma visita inesperada. Pela sua cara, percebo que está realmente chocado com a minha presença. — Como eu te expulsei há muito tempo da minha vida, realmente estou surpreso pela sua falta de vergonha na cara. Ela sorriu sem vontade. Analisou por completo a mulher que estava ao lado do seu ex-noivo. Olhando de cima para baixo, percebeu a semelhança idêntica a ela. Balançando a cabeça ela confirmou as suas suspeitas. Na realidade ele nunca a esqueceu, pensou. — Sério que teve que se casar com uma mulher quase idêntica a mim? Porque? P
Liana ainda estava parada no mesmo local sem entender absolutamente nada. Assim que a porta bateu, evidenciando que Alice havia ido embora, Álvaro pode respirar aliviado. Ele apertou os olhos e passou as mãos ao cabelo. Não estava entendendo nada do que aconteceu, somente que ela o beijou e ele o correspondeu. Assim que olhou para Liana percebeu que tinha acontecido e automaticamente a sensação de desapontamento lhe incomodou. Mesmo que ele soubesse que o casamento dos dois era somente fachada não se sentia bem beijando outra mulher na frente de sua dela. Ele era um homem íntegro com os princípios bem alinhados. E o que havia acontecido naquele local não fazia parte do seu modo de agir. —Eu não queria ter feito isso. Ele começou a falar. A jovem até então que estava muda, balançou a cabeça e apertou os olhos. —Não, você não tem que se desculpar por algo. Ela já foi a sua noiva, vocês já tiveram um relacionamento. Eu e você somos apenas casados no papel, nossa relação não significa
Ainda assustada com tudo que estava acontecendo, Liana bateu a porta do seu quarto, mas não foi rápida o suficiente ao ponto de fechar na cara do seu marido. Ele estava furioso. Era perceptível a raiva estampada no seu rosto, era derivada pelo que aconteceu no andar de baixo. Ele não suportava a ideia do seu irmão, ter visto Liana naqueles trajes os quais estavam parados em sua frente. — Não tem vergonha? Uma mulher casada não devia desfilar seminua pela casa, com tantas pessoas à espreita. Como você acha que eu me senti? — Você deveria se sentir como? Ela não entendia o porquê de tamanho raiva. Os dois não tinham relacionamento nenhum, então não precisavam essa cena toda. Ela fechou os braços evidenciando os seus seios, fazendo subir levemente. Nesse mesmo segundo, Álvaro olhou, desviou o olhar no instante seguinte. Ela era linda e isso não podia negar. Era impressionante o fato de como ela mexia com ele.— Não deveria andar com essas roupas, na próxima vez que eu ver isso acontec