Álvaro era um menino tímido que cresceu em um orfanato em Washington. Sua mãe o havia deixado para trás, pois, para ela, essa era a única alternativa para fugir com seu grande amor, o milionário César Strong. Estar em um ambiente onde todos o observavam o deixava constrangido. As inúmeras visitas de famílias que poderiam adotá-lo apenas aumentavam sua dor.
O êxtase de acreditar que seria escolhido e, posteriormente, ser deixado de lado fez com que o pequeno Álvaro criasse uma armadura que o impedia de sentir amor e empatia. Afinal, ele sequer sabia o que era isso. Somente aos 16 anos foi adotado pela família Belmont.
Ester, sua mãe adotiva, precisava de um herdeiro. Não conseguia engravidar, e esse fardo estava acabando com ela. Então, junto de seu marido, decidiu adotar Álvaro. O bilionário Eduardo Belmont aceitou, pois não via outra alternativa. Até que, inesperadamente, Ester engravidou, e finalmente o filho legítimo nasceu.
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Ele a encarava como se quisesse feri-la. Liana estava furiosa com a pressão imposta sobre seus braços. Álvaro era forte demais e não percebia o quanto sua força a machucava. Por outro lado, ele, incendiado pela raiva, sequer notava o estrago que causava. Até que as palavras dela o fizeram despertar:
— Você está me machucando.
No mesmo instante, ele a soltou. Engoliu em seco e baixou os olhos para os punhos de Liana. Eles estavam extremamente vermelhos, as marcas de seus dedos ainda evidentes.
Liana massageou os pulsos doloridos, encarando-o com um olhar sofrido, carregado de fúria e mágoa.
— Nunca mais encoste em mim.
O peito de Álvaro subia e descia em uma respiração descompassada. Seus olhos fixaram-se nas marcas vermelhas nos punhos de Liana.
Ele não queria machucá-la. Mas havia machucado.
Sem dizer mais nada, saiu do escritório com passos pesados, ignorando o chamado distante de Ágata.
A dor latejava dentro dele, queimando como fogo sob a pele. Ele sabia o que aconteceria. Sabia que, se não se afastasse, perderia o controle. Correu pelo jardim até que a floresta surgiu diante dele.
A luz da lua brilhava intensa no céu escuro, iluminando as sombras das árvores. O corpo de Álvaro começou a tremer. Os ossos estalaram, os músculos se contraíram, e um rugido profundo escapou de sua garganta quando seu lobo tomou o controle.
Sua forma humana desapareceu, dando lugar à criatura que ele mantinha oculta da sociedade. O lobo negro ergueu o focinho para a lua, uivando para a deusa Luna.
"Será ela?"
"Será Liana minha luna?"
O vento soprou forte, como se o universo estivesse respondendo.
Mas não havia resposta. Apenas silêncio.
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Liana fechou a porta do quarto e deslizou até o chão, abraçando os próprios joelhos.
Seu corpo tremia de raiva. De medo. Mas, acima de tudo, de confusão. Por que Álvaro era assim? Por que ele a afastava e, ao mesmo tempo, parecia incapaz de deixá-la ir?
As lágrimas caíram sem que ela pudesse contê-las. O cansaço tomou conta de seu corpo, e, sem perceber, ela adormeceu ali mesmo, com os olhos inchados e o coração pesado.
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Antes do amanhecer, Liana despertou com um sobressalto. O quarto ainda estava mergulhado na penumbra, mas seu coração batia forte. Ela precisava entender quem era Álvaro Belmont.
Com passos silenciosos, desceu as escadas. O casarão estava quieto, exceto pelo leve farfalhar das cortinas dançando ao vento.
O escritório. Se havia respostas, elas estavam lá.
Liana entrou no cômodo e fechou a porta atrás de si. O cheiro amadeirado do lugar misturava-se ao aroma sutil de tabaco.
Respirando fundo, começou a revirar as gavetas.
Pastas. Contratos. Números.
Então, encontrou algo diferente.
Relatórios médicos.
Nomes de remédios que ela já ouvira falar. Outros que nunca tinha visto antes. Havia também documentos sobre importação e exportação de substâncias controladas.
Um desses medicamentos era exatamente o que sua avó precisava para sobreviver.
Levou as mãos à boca, sentindo o choque percorrer seu corpo.
Liara franziu o cenho.
O que era aquilo?
Continuou folheando os papéis até encontrar uma lista de nomes. Pessoas influentes. Políticos. Empresários. Seus dedos tremiam enquanto pegava um envelope preto, lacrado com um selo dourado.
Mas, antes que pudesse abrir, um barulho na porta fez seu coração saltar. Ela se enfiou rapidamente debaixo da mesa, segurando a respiração.
A porta se abriu, e passos firmes entraram no escritório.
— A próxima remessa já está a caminho? — Álvaro perguntou, sua voz baixa e cortante.
— Sim, senhor. Tudo sairá conforme o planejado — um outro homem respondeu.
— Muito bem. Há muitas pessoas envolvidas nessa transação que vale milhões de dólares. Exijo sigilo absoluto de você e dos seus homens.
O capanga concordou, ciente de que, com Álvaro, não havia espaço para falhas.
— Não pode haver erros. Esses medicamentos valem fortunas no mercado negro.
Liana arregalou os olhos.
O choque percorreu sua espinha como uma corrente elétrica.
Álvaro Belmont era o responsável pelo tráfico de medicamentos ilegais.
E agora, ela sabia demais.
Continuou ouvindo a conversa. Quanto mais eles falavam, mais seu estômago se revirava.
Era por pessoas como ele que sua avó não conseguia os remédios de que precisava. Enquanto eles eram desviados, milhares de pessoas perdiam suas vidas esperando por algo que jamais chegaria.
Liana entrelaçou os dedos nos cabelos, puxando os fios com indignação. A vontade de sair debaixo daquela mesa e estapear Álvaro era quase irresistível. Acusá-lo de golpista e criminoso.
Mas isso só pioraria sua situação.
— Ah… a avó de sua esposa necessita de um desses medicamentos, não é verdade? — o capanga perguntou.
— Você está muito bem informado. Um dos acordos era que eu fornecesse o remédio de que ela tanto precisa — Álvaro respondeu.
— O senhor sabe muito bem que o nome dela não poderia constar na lista.
Com um sorriso irônico, Álvaro concordou.
— Eu sei disso.
Liana franziu as sobrancelhas.
Ele não iria cumprir com o combinado.
*Desgraçado!*
No mesmo instante, bateu a cabeça no tampo da mesa, fazendo um pequeno barulho.
— O que foi isso? — a voz de Álvaro ecoou no silêncio.
Vote!
Liana sabia que havia sido descoberta. Com os olhos fechados, implorando a Deus e à Luna para que o castigo não fosse tão grande, ela sentiu seus braços serem puxados para fora da mesa. A força que Álvaro aplicava era maior do que da outra vez. Ele estava com uma feição diferente, constrangido e, ao mesmo tempo, furioso. Talvez ele não quisesse ter descoberto dessa maneira tão estúpida. — Você é um mentiroso. — O que estava fazendo aqui? — Não interessa! Você vem enganando pessoas. Como pode? A minha avó é uma das mulheres que estão sendo lesadas por pilantras como você! Álvaro apertou os lábios. Ele não suportava o fato de uma mulher gritar com ele. Quanto mais ela falava, mais a raiva subia dentro do seu corpo. A vontade era pegar o corpo franzino da jovem, arrebitar o seu bumbum e estapeá-lo. Seria pouco para ela. — Eu tenho nojo de você. Nojo de estar casada com um homem que, além de ser um farsante, usou a doença da minha avó para se casar comigo. É tão feio assim que n
— Levante agora. Ágata jogou uma muda de roupas em cima de Liana. A mulher acordou no susto, olhou o relógio e viu que não era nem ao menos cinco da manhã. O que estava acontecendo? Se perguntou. —O que você está fazendo? Ágata puxou o seu punho para se levantar, o corpo de Liana voou nas mãos da empregada. Com o olhar fixo ela dissertou tudo o que o seu patrão havia lhe ordenado a falar. — De hoje em diante, você não faz parte dos benefícios de quem é esposa do patrão. Agora você é uma empregada como eu. Ela sorriu de lado. — Quer dizer, Você jamais será como eu, não tem os mesmos atributos. Liana sorriu sem vontade. Ainda tentando entender o que estava acontecendo. Então quer dizer que o seu marido a transformou em sua empregada? Aquilo só podia ser uma brincadeira. Ter que aturar um homem deplorável e ainda trabalhar para ele, era o cúmulo da história. — O que está me olhando garota? Coloque imediatamente o seu uniforme vai limpar os banheiros dessa casa. Eu não esto
— O que você está fazendo aqui? Era estranho reviver uma cena do passado. Olhar para aquele rosto que por muito tempo foi o seu confidente, trazia lembranças desagradáveis. Alice estava linda como sempre. Os seus cabelos loiros medianos caindo em cascata em seu colo, demonstrava a modernidade que refletia em sua roupa. Com um terninho azul com a sala lápis combinando, ela estava pronta para relembrar os velhos tempos. — Surpreso ao me ver? Decidi fazer uma visita inesperada. Pela sua cara, percebo que está realmente chocado com a minha presença. — Como eu te expulsei há muito tempo da minha vida, realmente estou surpreso pela sua falta de vergonha na cara. Ela sorriu sem vontade. Analisou por completo a mulher que estava ao lado do seu ex-noivo. Olhando de cima para baixo, percebeu a semelhança idêntica a ela. Balançando a cabeça ela confirmou as suas suspeitas. Na realidade ele nunca a esqueceu, pensou. — Sério que teve que se casar com uma mulher quase idêntica a mim? Porque? P
Liana ainda estava parada no mesmo local sem entender absolutamente nada. Assim que a porta bateu, evidenciando que Alice havia ido embora, Álvaro pode respirar aliviado. Ele apertou os olhos e passou as mãos ao cabelo. Não estava entendendo nada do que aconteceu, somente que ela o beijou e ele o correspondeu. Assim que olhou para Liana percebeu que tinha acontecido e automaticamente a sensação de desapontamento lhe incomodou. Mesmo que ele soubesse que o casamento dos dois era somente fachada não se sentia bem beijando outra mulher na frente de sua dela. Ele era um homem íntegro com os princípios bem alinhados. E o que havia acontecido naquele local não fazia parte do seu modo de agir. —Eu não queria ter feito isso. Ele começou a falar. A jovem até então que estava muda, balançou a cabeça e apertou os olhos. —Não, você não tem que se desculpar por algo. Ela já foi a sua noiva, vocês já tiveram um relacionamento. Eu e você somos apenas casados no papel, nossa relação não significa
Ainda assustada com tudo que estava acontecendo, Liana bateu a porta do seu quarto, mas não foi rápida o suficiente ao ponto de fechar na cara do seu marido. Ele estava furioso. Era perceptível a raiva estampada no seu rosto, era derivada pelo que aconteceu no andar de baixo. Ele não suportava a ideia do seu irmão, ter visto Liana naqueles trajes os quais estavam parados em sua frente. — Não tem vergonha? Uma mulher casada não devia desfilar seminua pela casa, com tantas pessoas à espreita. Como você acha que eu me senti? — Você deveria se sentir como? Ela não entendia o porquê de tamanho raiva. Os dois não tinham relacionamento nenhum, então não precisavam essa cena toda. Ela fechou os braços evidenciando os seus seios, fazendo subir levemente. Nesse mesmo segundo, Álvaro olhou, desviou o olhar no instante seguinte. Ela era linda e isso não podia negar. Era impressionante o fato de como ela mexia com ele.— Não deveria andar com essas roupas, na próxima vez que eu ver isso acontec
Levar Liana para escolher uma roupa para o baile de máscaras, não era difícil, o mais difícil era fazê-la querer alguma coisa. Com a cara emburrada, todas as roupas que Betânia mostrava, não a agradava. Ela estava doida para ir embora daquele local, um amontoado de pessoas, falatórios, crianças chorando, não era o seu passeio favorito. Ela olhava para as crianças e se perguntava se um dia conseguiria ter filhos. Até então não era um dos seus planos, mas se conhecesse uma pessoa realmente boa, que fizesse sentir segura, essa poderia ser uma boa opção. Até um mês atrás, acreditou que construiria uma família com o seu ex-noivo. A traição rasgou o seu peito de uma maneira que ainda não conseguia superar.—esse vestido! Esse vestido é muito bonito, é a sua cara. Vermelho, com um leve decote, com pedrarias em toda extensão. Enquanto Betânia estava a falar, ela revirou os olhos e andou até a entrada da loja. O único que queria era que o passeio acabasse e voltassem para o castelo do monsto
— Quanto demora! Tem certeza que ela foi somente buscar um vestido para o baile? —Você já perguntou isso pela terceira vez Eduardo. Mulheres são assim andam pelo shopping durante horas, muitas vezes para não escolher roupa nenhuma. Álvaro sorriu de canto, enquanto conversava com os pais. Não gostava de visitas inesperadas, nem ao menos que ficassem por muito tempo. — Eu estou empolgadíssima para o baile. Será a estreia da sua esposa para a sociedade. No dia do seu casamento, nem tivemos tempo de conversar com ela direito. A sua esposa não gosta de pessoas? Ester mãe perguntou.— Liana é muito conservada, totalmente diferente de Alice. —Alice... Essa sim era uma nora perfeita, não sei porque você a dispensou. Tudo estava pronto para o casamento de vocês. Ele bufou. — E não adianta revirar os olhos para mim, você sabe que eu tenho razão.Era difícil confrontar os pais, dado ao fato que eles deram tudo que ele possuía. Óbvio, se não tivesse outros empreendimentos, jamais teria conse
Então eles se olharam, cada um com um pensamento diferente. Liana achava surreal que aquilo poderia estar acontecendo. Em meio ao caos, onde se encontrava sua vida, em uma luta incessante para conseguir os remédios de sua avó, ela encontra o seu companheiro em seu algoz.Por outro lado, Álvaro queria se transformar em seu lobo e correr o mais longe possível. Ter a mínima ideia que Liana era sua companheira o aterrorizava. — Como isso pôde acontecer? Ele balançou a cabeça de um lado para o outro. — A deusa Luna só pode estar brincando com a gente.— Nós dois, companheiros... Não temos nada a ver um com o outro, e duvido muito que um dia nós teremos.— Isso jamais irá acontecer, eu irei consultar hoje os conselheiros e ver se há alguma forma de reverter essa situação. Ele estava inconformado. Jamais imaginou na sua vida, que seria companheiro de uma mulher que o odiasse. Mesmo que Liana pudesse parecer interessante, aos seus olhos, não gostava de mulheres que o desafiavam, que o levav