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Capítulo 4 - Casada com o monstro

Liana foi conduzida até o seu quarto e preparada como as mulheres se preparam para o casamento. Com um banho prolongado, foi massageada e coberta por pétalas de flores. Ela revirou os olhos inúmeras vezes. Não entendia o motivo daquela palhaçada, já que o casamento não passava de um arranjo. Tudo era uma farsa.  

— Betânia.  

— Sim?  

— Por que ele está se casando comigo? Eu não consigo entender. Entre tantas mulheres no mundo, arranjar compromisso com a minha meia-irmã não seria uma ideia mais inteligente?  

Com um sorriso gentil, Betânia sentou-se ao seu lado na cama.  

— Álvaro sempre foi o filho rejeitado, deixado de lado. O bilionário Eduardo Belmont nunca o reconheceu como filho de verdade. Tudo piorou quando a cicatriz se formou em sua face. Álvaro foi tratado como um monstro, e até hoje isso distorce os sentimentos dele.  

— Você ainda não me respondeu. Por que se casar? Por acaso ele tem medo de ficar só? Hm. Com certeza é isso. Ninguém se casaria com um monstro... com uma cicatriz horrorosa, uma alma escura e um olhar perturbador.  

No mesmo instante, Liana olhou para a porta. Álvaro acabara de sair. Uma leve sensação de desconforto validou todos os pensamentos dela. Ela apenas subiu os ombros e ignorou.  

— Melhor deixarmos esse assunto para outra hora. Você deve se arrumar, seu casamento será em poucos minutos.  

— Infelizmente.  

###  

O vestido era deslumbrante.  

Camadas de tecido esvoaçante formavam uma cascata branca que contrastava com os cabelos loiros de Liana. O corpete ajustado realçava sua silhueta, deixando seus seios em evidência. As joias discretas brilhavam sob a luz do espelho.  

Ela estava magnífica. Mas não feliz.  

— Está pronta, querida? — Betânia perguntou, ajustando um dos broches do vestido.  

— Não tenho escolha, tenho? — Liana respondeu, sua voz carregada de ironia.  

Betânia suspirou, mas nada disse.  

O casamento aconteceria no jardim da mansão Belmont. Os pais de Álvaro, assim como todos os seus parentes, estavam no altar. Parecia um momento especial, mas não para ela. Quando chegou, todos se viraram para olhá-la. Um sussurro coletivo percorreu os convidados.  

Liana não se enganava. Não era emoção. Era surpresa.  

E talvez um pouco de pena.  

Com passos firmes, começou a caminhar até o altar. Não faria cena. Não demonstraria fraqueza. Se queriam uma noiva perfeita, ela seria.  

Mas seus olhos, involuntariamente, encontraram Álvaro. Ele estava ali, esperando por ela. Seu terno negro ajustado realçava sua figura imponente. O coque ligeiramente desalinhado deixava alguns fios rebeldes caírem sobre a testa. A cicatriz marcava sua pele como uma lembrança cruel do passado, mas, ainda assim, ele possuía uma beleza bruta e inegável.  

Liana desviou o olhar. Não queria reconhecer aquilo.  

Finalmente, chegou ao altar. Álvaro estendeu a mão, mas não a tocou de verdade. Ela pousou os dedos sobre os dele com relutância.  

A cerimônia seguiu seu curso. Palavras distantes ecoavam pelo jardim. Liana respondeu mecanicamente, sentindo-se cada vez mais desconectada da realidade.  

— Eu os declaro marido e mulher — disse o padre. — Pode beijar a noiva.  

O silêncio foi absoluto.  

Os olhos de Liana se arregalaram quando percebeu o que aconteceria. Apertou os lábios e inspirou fundo. Não queria se sentir constrangida, então inclinou levemente o tronco para beijar o marido.  

Álvaro não correspondeu ao movimento.  

O constrangimento foi instantâneo. Um murmúrio correu entre os convidados, olhares perplexos se cruzaram.  

Liana sentiu o rosto arder.  

Ele a rejeitou.  

Não que ela quisesse aquele beijo, mas a recusa, diante de todos, doeu mais do que deveria. Sem outra opção, girou nos calcanhares e saiu do altar, sem se importar com os olhares ou com a etiqueta.  

###  

De volta ao quarto, removeu o véu com raiva.  

Cada detalhe daquele casamento era uma farsa, mas o que mais a incomodava era a atitude de Álvaro. Por que ele se recusou a tocá-la?  

Antes que pudesse afundar em seus pensamentos, ouviu batidas na porta.  

Era tarde da noite quando Ágata entrou sem ser convidada.  

— Agora que são oficialmente casados, deveria ir até seu marido.  

— O quê? — Liana franziu o cenho.  

Ágata sorriu com desprezo.  

— Ou prefere esperar que ele venha até você… e talvez não tenha escolha?  

O sangue de Liana gelou.  

Álvaro não lhe deu sinais de que se aproximaria, mas… ela não o conhecia de verdade. Não queria ter relação alguma com ele, mas, de algum modo, o relacionamento que estavam construindo a perturbava. Álvaro estava escondendo algo, e ela estava doida para descobrir.  

Mordendo o lábio, respirou fundo.  

— Eu vou.  

###  

O escritório era amplo e iluminado pela lareira acesa. Álvaro estava sentado atrás de uma mesa de madeira maciça, absorto em um copo de uísque que girava entre os dedos.  

Quando Liana entrou, ele levantou os olhos.  

— O que faz aqui?  

Ela fechou a porta atrás de si.  

— Somos casados agora. Achei que deveríamos… conversar.  

Ele arqueou a sobrancelha, mas não respondeu.  

Liana se aproximou devagar. O ambiente estava carregado de tensão.  

— Por que não me beijou? — A pergunta escapou antes que pudesse segurá-la.  

Álvaro contraiu a mandíbula.  

— Isso te incomodou?  

Ela cruzou os braços.  

— O que você acha? Todos ficaram murmurando. Novamente, eu estava constrangida.  

Ele soltou uma risada baixa, sem humor.  

— Não gosto de ser tocado.  

Liana inclinou a cabeça, intrigada.  

— Por causa da sua cicatriz?  

Álvaro pousou o copo sobre a mesa com força. Aparentemente, a jovem não tinha travas na língua. Falava o que pensava. Ele gostava disso.  

— Você acha que sabe algo sobre mim, mas não sabe nada, Liana.  

Ela hesitou, mas então, sem pensar muito, caminhou até ele. Estendeu a mão, tocando de leve a lateral de seu rosto.  

A reação foi imediata.  

Álvaro segurou seu pulso com força, afastando-a bruscamente. Os olhos dele estavam sombrios, perigosos. Como se estivesse diante de seu pior inimigo.  

— Nunca me toque.  

O coração de Liana

disparou. Não de medo.  

Mas pelo mistério.  

Havia algo errado com ele. Algo que ia além da cicatriz.  

E ela precisava descobrir.  

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