Capítulo 3- Novo mundo

Uma criança fragilizada, como se seus pais a houvessem esquecido na escola. Era assim que Liana estava. Com os joelhos dobrados sobre o estofado, deixou a testa descansar neles, enquanto as lágrimas caíam incessantes. Seus pensamentos eram rápidos e confusos. Preocupava-se com a vida de sua avó, com o sacrifício que ela havia feito e, principalmente, com o fato de estar sentada ao lado de um homem desconhecido.  

O simples pensamento de que ele pudesse tocá-la lhe causava arrepios, mais ainda do que olhar para sua cicatriz enorme. Ele não era um homem feio; pelo contrário. Talvez a cicatriz causasse espanto à primeira vista, mas Álvaro era um dos homens mais bonitos da cidade. Todas as mulheres o desejavam, até que, em uma batalha, uma marca foi deixada em seu rosto, transformando o homem cobiçado em um monstro enjaulado.  

— Não quero mais ouvir seus lamentos. Comprei você do seu pai, não para que chorasse como uma criança rebelde, mas para que estivesse ao meu lado na posição de minha esposa.  

Ela o olhou, espantada. A naturalidade em sua fala a assustou. Sentia-se como uma mercadoria usada, que qualquer um poderia arrebatar. Engoliu o choro, pensando no que seria de sua vida dali em diante.  

O carro deslizou suavemente pelo caminho de pedras, adentrando uma imensa propriedade. Liana ergueu o olhar, ainda abraçando os próprios joelhos, e ficou boquiaberta com o que viu.  

A mansão Belmont era um verdadeiro palácio. Lustres brilhavam através das janelas altas, colunas de mármore adornavam a entrada, e um jardim impecável se estendia ao redor da propriedade. Tudo parecia saído de um conto de fadas – um conto do qual ela não queria fazer parte.  

Álvaro desceu do carro primeiro e abriu a porta para ela. O gesto poderia ser considerado cavalheiresco, não fosse a frieza estampada em seu rosto.  

— Vamos.  

Liana hesitou, mas a lembrança de sua avó a fez mover-se. Seus pés tocaram o chão frio e, ao dar os primeiros passos em direção à entrada, sentiu-se como uma prisioneira marchando para sua cela.  

O interior da casa era ainda mais deslumbrante. O chão reluzia em mármore polido, quadros de artistas renomados pendiam das paredes, e o aroma suave de jasmim preenchia o ar. Mas o esplendor não afastava a sensação de aprisionamento que crescia dentro dela.  

— Ágata, leve-a para o quarto.  

A voz de Álvaro ecoou pelo salão, e uma mulher de expressão severa surgiu à sua frente. Vestida com um uniforme impecável, Ágata a olhou de cima a baixo com um desdém mal disfarçado.  

— Por aqui — disse secamente, virando-se sem esperar que Liana a acompanhasse.  

Liana seguiu a empregada pelos corredores silenciosos, sentindo-se cada vez menor diante da grandiosidade do lugar. Quando chegaram ao quarto, Ágata abriu a porta sem cerimônia.  

— Esse será o seu quarto.  

Liana entrou e ficou maravilhada. A cama era gigantesca, os móveis de madeira nobre tinham detalhes dourados, e cortinas de veludo cobriam as janelas.  

— Se precisar de algo, peça a outra pessoa — disse Ágata, saindo antes que Liara pudesse responder.  

O peso da solidão caiu sobre ela.  

Suspirando, começou a explorar o quarto, tentando absorver sua nova realidade.  

— Oh, minha querida…  

A voz doce e acolhedora a fez se virar.  

Na porta, uma senhora de cabelos grisalhos e olhos bondosos a observava com ternura. Ela se parecia com sua avó, e isso lhe trouxe uma sensação de paz.  

— Você deve ser Liana.  

— Sim… e a senhora?  

— Betânia, a cozinheira. — Ela sorriu. — Se precisar de algo para comer, me avise. Você parece exausta.  

Liana sentiu o estômago revirar.  

— Obrigada, mas acho que vou apenas descansar.  

Betânia assentiu, sem insistir.  

— Então, tenha uma boa noite.  

Quando ficou sozinha, Liana deixou-se cair sobre a cama. Não queria chorar. Não queria sentir a dor da humilhação outra vez. Mas as lágrimas vieram, silenciosas, até que o cansaço a venceu.  

---

O amanhecer trouxe um choque brutal.  

Liana acordou sobressaltada ao som de batidas firmes na porta.  

— Levante-se — ordenou Ágata. Como sempre, nem esperou resposta antes de adentrar o quarto. — Hoje é o seu casamento.  

— O quê?!  

Seu coração disparou.  

Sem pensar duas vezes, correu até a varanda. Era alto demais para pular, mas precisava arriscar algo. A sensação de pertencer a um homem para sempre lhe deu uma coragem desconhecida e, sem pensar duas vezes, ela se jogou da sacada.  

Correu pelo jardim, sentindo a grama pinicar seus pés. Assim que viu o portão de grades, teve a brilhante ideia de escalá-lo, mas não imaginou que os seguranças de Álvaro a capturariam tão facilmente.  

— Soltem-me! Eu exijo!  

— Exigir? — A voz grave e fria de Álvaro interrompeu sua súplica. — Você não está em posição de exigir nada, Liana.  

Seus olhos encontraram os dele, e um arrepio percorreu sua espinha. Ao encarar sua cicatriz, seu estômago embrulhou ainda mais. Não por achá-lo feio, mas por imaginar o quão cruel ele poderia ter sido para adquiri-la. Álvaro estava ali, imponente, observando-a como um lobo que acabara de capturar sua presa.  

Ele fez um gesto sutil, e os seguranças a soltaram.  

— Venha comigo.  

Sem escolha, ela o seguiu até um escritório luxuoso. Ele fechou a porta atrás de si e encostou-se na mesa, cruzando os braços.  

— O que você esperava? Pulando como uma gata borralheira do terceiro andar? Se pretende se livrar de mim, não é assim que vai conseguir.  

— Eu não quero me casar com você!  

— Isso não importa. Você assinou o contrato.  

Ela fechou as mãos em punhos, furiosa.  

— Você é um monstro!  

— Um monstro que salvará sua avó.  

As palavras atingiram-na como uma faca.  

— Logo ela receberá os medicamentos, como combinamos. Mas se continuar sendo essa menina rebelde, terei o maior prazer em acabar com a vida de seu pai e com seus sonhos de ver sua avó saudável.  

Ele sabia exatamente onde atacá-la.  

— O que quer de mim?  

Álvaro inclinou-se levemente, sua proximidade sufocante.  

— Quero uma esposa que saiba seu lugar. Que entenda que agora pertence a mim.  

Seus olhos escuros percorreram o rosto dela, estudando-a de uma maneira que a fez prender a respiração.  

— E por que eu? — Sua voz saiu mais baixa do que queria.  

— Porque você me intriga.  

Ela piscou, surpresa.  

— A sua esposa deveria ser minha irmã, não eu.  

— Mas foi você. — Ele caminhou lentamente até ela, como um predador cercando sua presa. — Aceite esse fato.  

Álvaro deslizou um dedo pelo braço dela, um toque sutil, mas que fez seu corpo inteiro arrepiar. Liana sentiu um calor desconhecido subir por sua pele. Não era medo. Era algo pior. Era atração.  

Não!  

Afastou-se, tentando dissipar aqueles pensamentos absurdos. Álvaro sorriu de canto, como se tivesse lido sua mente.  

— Nos vemos no altar, Liana.  

Com um último olhar intimidador, ele saiu, deixando-a sozinha, confusa e aterrorizada com o que começava a sentir.

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