Na pacata cidade de Felington, a cidade dos lobos cinzas, o maior casamento de todos os tempos iria ocorrer. Liana estava feliz por finalmente casar-se com o amor da sua vida Enzo Williams. A jovem sempre foi terrivelmente apaixonada, e tudo se intensificou quando no mês anterior, embaixo de um pinheiro ele a pediu em casamento. O seu coração mal coube no peito e o "sim" saiu suavemente.
Correndo, ela quase arrebentou a porta para contar a novidade para Amélia, sua meia irmã com traços idênticos ao dela. Com as sobrancelhas arqueadas observou a felicidade que Liana trazia aos lábios. Ela não gostou. "— Enzo, o maior e o melhor partido dessa cidade, me pediu em casamento. E você será minha madrinha irmã. Estou tão feliz por finalmente ele me aceitar. " Amélia rodeou os braços na cintura da irmã. Com um sorriso falso nos lábios, mostrou sua alegria forçada, enquanto seus olhos avaliaram cada detalhe da felicidade de Liana. "— Isso é… maravilhoso, irmã. Você realmente merece ser feliz. — sua voz era doce, mas havia algo nela que fez a espinha de Liana arrepiar. Ela sorriu para a irmã e retirou os pensamentos intrusos. Não era nada demais." O mês seguinte passou como um sonho. Liana estava radiante, cuidando dos preparativos, escolhendo flores, vestidos e alianças. Enzo, sempre tão atencioso, parecia distante nos últimos dias, mas ela ignorou esse detalhe, acreditando que fosse apenas ansiedade pelo casamento. Afinal, era o maior evento que Felington já vira. No grande dia, Liana acordou com o coração disparado. Seu vestido era perfeito, um tecido leve que deslizava pelo corpo como uma segunda pele, do jeito que ela sonhou. Com rendas estiradas pelas mangas e ao redor da cintura. Seu reflexo no espelho mostrava uma mulher pronta para o altar, para finalmente viver seu conto de fadas. O único que lhe incomodava, era a doença de sua avó Elizabeth. Ela estava com um câncer terminal que a matava aos poucos. Necessitava de um dos medicamentos mais difíceis de se encontrar no mundo, o qual nenhum dinheiro poderia pagar. Ela espantou os pensamentos e voltou a sorrir. Agora que iria se casar com um dos homens mais ricos e influêntes da aldeia, com certeza, conseguiria esse medicamento tão complexo, era questão de tempo. Somente Liana amava a avó, e ela faria tudo para vê-la saudável. A igreja estava lotada. Os lobos cinzas mais influentes de Felington estavam presentes. O salão estava decorado com luzes douradas, flores brancas e um tapete vermelho que levava ao altar. Mas quando Liana chegou, algo estava errado. Todos a olhavam com expressões estranhas, algumas cheias de pena, outras carregadas de malícia. Com passos vacilantes ela caminhou no grande tapete vermelho despojado ao chão. Seus pais estavam no altar, e ao lado deles, Amélia. Ela usava um vestido de noiva idêntico ao seu. No mesmo momento, o que antes era festa, se tornou um pesadelo. O chão desapareceu sob seus pés. Liara olhou ao redor, confusa, o coração martelando. — O que está acontecendo? — sua voz saiu em um sussurro. Foi então que Enzo apareceu, com um sorriso vitorioso, o mesmo que ele sempre usava quando conseguia o que queria. Tudo havia sido planejado estrategicamente. O lobo ambicioso sabia que Amélia era a mais velha e por isso a herança da família ficaria com ela. Liana foi somente uma diversão, um momento ao seu prazer. Agora ela não era mais necessária. — Ah, minha querida Liana… — ele se aproximou, e sua voz era de pura condescendência. — Você realmente achou que eu iria me casar com você? O silêncio na igreja era cortante. — Mas… você me pediu… — a voz de Liara falhou. Amélia deu um passo à frente, segurando o braço de Enzo com posse. — Pobrezinha, — disse Amélia, seus olhos brilhando de satisfação. — Você realmente acreditou que poderia ser a noiva? A verdade, irmã, é que esse casamento sempre foi meu. Liana sentiu o mundo girar. O nó na garganta cresceu e as lágrimas queimaram seus olhos. — Isso não pode ser verdade… — ela murmurou, recuando um passo. Enzo soltou uma risada baixa. — Seu pai precisava de um bom casamento para unir as famílias e fortalecer os negócios. Você era apenas um plano B, caso Amélia recusasse. Mas é claro que ela aceitou, afinal, qual mulher não gostaria de se casar comigo? As palavras a atingiram como uma lâmina afiada. A vontade de lhe presentear com uma bofetada, deu lugar, a dor e o sofrimento advindo do desprezo. Lembrou-se da herança de família. Sua avó era uma das mais ricas do país, contudo, nenhum dos parentes usufruíam de sua herança, pois sabia que todos a odiavam. Liana fechou os olhos constatando o porquê de sua meia irmã ter sido tão carinhosa com Elizabeth nos últimos tempos. — Amélia, como pôde? Desde criança, Amélia invejava a sua irmã. Apesar de serem parecidas, Liana tinha uma beleza única que cativava todos em sua volta. Contudo, no final do dia, era Amélia a menina obediente, que não causava problemas, a mais bondosa. Sempre que aprontavam, Liana recebia culpa de tudo, como se fosse a filha rebelde. Por amor à irmã mais velha, a inocente, acabava arcando com as consequências não deixando a sua irmã ser descoberta. O burburinho crescia ao redor, e algumas pessoas riam, divertindo-se com a humilhação pública de Liana. Seu coração se despedaçou em mil pedaços. Mas antes que as lágrimas caíssem, uma nova figura apareceu na porta da igreja. A presença dele era forte e avassaladora. Álvaro Belmont. O homem que ninguém queria por perto. O lobo negro entre os cinzas. Portador de uma cicatriz que ultrapassava sua mandíbula até o início da garganta. Os olhares se voltaram para ele. Amélia havia sido prometida para Álvaro como um acordo de paz. O lobo negro, irradiava ódio pelo que estava assistindo. Seus olhos vermelhos mostrava a fúria que aplacava todo o seu ser. Estava pronto para acabar com o casamento, de cometer uma desgraça, mas o perfume de rosas adentrou as suas narinas. Sutilmente o seu olhar caiu aos olhos da jovem humilhada. E então, a reviravolta começou. Vote!— Eu não vou me casar com ele! Após a cerimônia, todos estavam em uma sala reservada no fundo da igreja. Henrique, o pai das irmãs, estava nervoso. Afinal havia prometido Amélia para o filho do homem mais rico da cidade, a família Belmont, reconhecida por seus atos impiedosos. Ele ajeitou a gravata, imaginando o seu pescoço fora da cabeça no exato momento que dissesse que o acordo estava cancelado. — Entenda, a sua irmã me implorou para se casar com Enzo. O que eu iria fazer? Interromper o romance deles em troca de um casamento que ela não queria?Henrique indagou. Ela estava indignada, claramente o seu pai preferia Amélia e não escondia de ninguém. Seus olhos, no exato momento encheram de água, seu peito esquentou com a remota possibilidade de se casar com um homem por obrigação. — Então o senhor encobriu a traição da sua filha preferida, me escondeu todo esse lixo, e agora quer que eu substitua a minha irmã nesse casamento arranjado? Nunca! Eu não irei fazer isso. — Nem para sal
Uma criança fragilizada, como se seus pais a houvessem esquecido na escola. Era assim que Liana estava. Com os joelhos dobrados sobre o estofado, deixou a testa descansar neles, enquanto as lágrimas caíam incessantes. Seus pensamentos eram rápidos e confusos. Preocupava-se com a vida de sua avó, com o sacrifício que ela havia feito e, principalmente, com o fato de estar sentada ao lado de um homem desconhecido. O simples pensamento de que ele pudesse tocá-la lhe causava arrepios, mais ainda do que olhar para sua cicatriz enorme. Ele não era um homem feio; pelo contrário. Talvez a cicatriz causasse espanto à primeira vista, mas Álvaro era um dos homens mais bonitos da cidade. Todas as mulheres o desejavam, até que, em uma batalha, uma marca foi deixada em seu rosto, transformando o homem cobiçado em um monstro enjaulado. — Não quero mais ouvir seus lamentos. Comprei você do seu pai, não para que chorasse como uma criança rebelde, mas para que estivesse ao meu lado na posição de min
Liana foi conduzida até o seu quarto e preparada como as mulheres se preparam para o casamento. Com um banho prolongado, foi massageada e coberta por pétalas de flores. Ela revirou os olhos inúmeras vezes. Não entendia o motivo daquela palhaçada, já que o casamento não passava de um arranjo. Tudo era uma farsa. — Betânia. — Sim? — Por que ele está se casando comigo? Eu não consigo entender. Entre tantas mulheres no mundo, arranjar compromisso com a minha meia-irmã não seria uma ideia mais inteligente? Com um sorriso gentil, Betânia sentou-se ao seu lado na cama. — Álvaro sempre foi o filho rejeitado, deixado de lado. O bilionário Eduardo Belmont nunca o reconheceu como filho de verdade. Tudo piorou quando a cicatriz se formou em sua face. Álvaro foi tratado como um monstro, e até hoje isso distorce os sentimentos dele. — Você ainda não me respondeu. Por que se casar? Por acaso ele tem medo de ficar só? Hm. Com certeza é isso. Ninguém se casaria com um monstro... com uma ci
Álvaro era um menino tímido que cresceu em um orfanato em Washington. Sua mãe o havia deixado para trás, pois, para ela, essa era a única alternativa para fugir com seu grande amor, o milionário César Strong. Estar em um ambiente onde todos o observavam o deixava constrangido. As inúmeras visitas de famílias que poderiam adotá-lo apenas aumentavam sua dor. O êxtase de acreditar que seria escolhido e, posteriormente, ser deixado de lado fez com que o pequeno Álvaro criasse uma armadura que o impedia de sentir amor e empatia. Afinal, ele sequer sabia o que era isso. Somente aos 16 anos foi adotado pela família Belmont. Ester, sua mãe adotiva, precisava de um herdeiro. Não conseguia engravidar, e esse fardo estava acabando com ela. Então, junto de seu marido, decidiu adotar Álvaro. O bilionário Eduardo Belmont aceitou, pois não via outra alternativa. Até que, inesperadamente, Ester engravidou, e finalmente o filho legítimo nasceu. ---Ele a encarava como se quisesse feri-la. Liana
Liana sabia que havia sido descoberta. Com os olhos fechados, implorando a Deus e à Luna para que o castigo não fosse tão grande, ela sentiu seus braços serem puxados para fora da mesa. A força que Álvaro aplicava era maior do que da outra vez. Ele estava com uma feição diferente, constrangido e, ao mesmo tempo, furioso. Talvez ele não quisesse ter descoberto dessa maneira tão estúpida. — Você é um mentiroso. — O que estava fazendo aqui? — Não interessa! Você vem enganando pessoas. Como pode? A minha avó é uma das mulheres que estão sendo lesadas por pilantras como você! Álvaro apertou os lábios. Ele não suportava o fato de uma mulher gritar com ele. Quanto mais ela falava, mais a raiva subia dentro do seu corpo. A vontade era pegar o corpo franzino da jovem, arrebitar o seu bumbum e estapeá-lo. Seria pouco para ela. — Eu tenho nojo de você. Nojo de estar casada com um homem que, além de ser um farsante, usou a doença da minha avó para se casar comigo. É tão feio assim que n