Quando vi já estava envolvida demais, apaixonada demais e viciada em seu toque. Eu não sabia, ou sabia no fundo, mas ele seria a minha perdição. Avisei a sua mãe que ele havia precisado sair mais cedo, embora não tivesse contado que havíamos dormido juntos. Quando voltamos para casa eu estava disposta a vê-lo de novo, a ter mais do seu toque, mais do seu beijo. A semana passou rápido e quase não nos vimos, trabalho e faculdade. Ele parecia estar muito ocupado, não o via na janela ou em lugar nenhum. E quando me vi já estava se arrumando num dia de sábado a noite as nove e meia para ir á uma certa casa noturna. Convidei a Mari para ir comigo.Quando cheguei na Meyer Haus havia fila, estranhei não ver a Mari nela e me contentei em guardar nossos lugares. Já fazia dez minutos na fila, que hoje não estava tão cheia, quando meu celular apitou. Era mensagem da minha amiga no WhatsApp:Amiga, não vai dar pra eu ir.Depois te conto.Babado.Eu quase surtei porque já estava na fila. Estava pen
Eu e minha vó éramos muito amigas, as melhores viagens que fiz foi para sua casa. Lá sempre foi meu segundo porto seguro. No fundo eu sempre soube que minha mãe sentia pela distância, mas acreditava que ela estava em boas mãos e acabava sempre focando no restaurante. Agora seria duro porque minha mãe sentiria o impacto de ter se afastado por muito tempo. De não ter dado prioridade a sua maior e melhor amiga. Eu sei disso, porque se minha mãe estivesse com câncer eu sofreria demais. E saber que minha vó passaria pelo tratamento agressivo partia meu coração. Nunca é sobre o resultado e sim pelo processo. Ela poderia ficar boa, mas não sem sofrer. Minha vó tinha quase sessenta anos. Teve minha mãe muito cedo, engravidou na adolescência com um moleque que não sabia nem seu próprio nome. Viveu todas as experiências que uma guerreira vive. Se eu pudesse desejar qualquer coisa agora, desejaria que se fosse para morrer tão nova, que fosse de uma forma calma. Sem sofrimento. Não. Eu não queria
Na semana seguinte eu vi o fundo do meu precipício logo abaixo dos meus pés. Eu já estava com quase tudo organizado e pronta para viajar. Numa sexta eu havia marcado para jantar com a dona Giovanna, ela tinha sido muito minha amiga ao longo dos dias e lhe devia isso. Tomei um banho bastante gelado, coloquei um conjunto de moletom e capote e com um coque no cabelo fechei a casa atravessando a rua. Bati na porta e logo fui atendida com um sorriso no rosto, abrimos um vinho, jogamos conversa fora. E em algum momento da conversa eu percebi o sorriso da dona Giovanna se tornar traços tristes.— Você é uma garota especial, Jasmim... — Ela falou pensativa.— Obrigada, Dona Giovanna. — Sorri com seu gesto de carinho.— Não, estou falando de verdade. Eu me vejo em você quando mais jovem. Vejo-me em você até mais do que quero. — Ela suspirou. — Você é independente, não tem medo de sonhar, e sempre vê o lado bom até mesmo das piores coisas.Eu assenti e ela continuou:— O único problema de ver o
Eu me vi num precipício, eu vi o nada a minha frente... E eu podia recuar, porque eu sabia que mais a frente eu estaria em queda livre sem ao menos saber o que tinha lá embaixo. Sabe quando você dá mais um passo mesmo sabendo que pode dar merda? Foi o passo que eu não dei. Eu estanquei. E esse é o problema de uma guerra, as decisões não tomadas fazem toda diferença! Eu sabia muito bem disso! Eu tinha duas opções: Recuar ou seguir adiante e ver no que daria a minha queda. Eu estanquei na ponta do precipício. E como o mundo não é o precioso conto de fadas literário, a vida decidiu por mim. E de repente, não havia mais chão...Depois da conversa que tive com dona Giovanna eu não vi o Ary durante todo o final de semana. Ele havia viajado na tarde daquele mesmo dia. Eu preferi esquecer o assunto e focar nos últimos preparativos para minha viagem. Durante os dias em que falei com minha mãe, ela a todo o momento tentava me tranqüilizar, mas eu podia ver o seu mundo ruindo, mesmo com uma vó c
Eu me vi num precipício, eu vi o nada a minha frente... E eu podia recuar, porque eu sabia que mais a frente eu estaria em queda livre sem ao menos saber o que tinha lá embaixo. Sabe quando você dá mais um passo mesmo sabendo que pode dar merda? Foi o passo que eu não dei. Eu estanquei. E esse é o problema de uma guerra, as decisões não tomadas fazem toda diferença! Eu sabia muito bem disso! Eu tinha duas opções: Recuar ou seguir adiante e ver no que daria a minha queda. Eu estanquei na ponta do precipício. E como o mundo não é o precioso conto de fadas literário, a vida decidiu por mim. E de repente, não havia mais chão...Depois da conversa que tive com dona Giovanna eu não vi o Ary durante todo o final de semana. Ele havia viajado na tarde daquele mesmo dia. Eu preferi esquecer o assunto e focar nos últimos preparativos para minha viagem. Durante os dias em que falei com minha mãe, ela a todo o momento tentava me tranqüilizar, mas eu podia ver o seu mundo ruindo, mesmo com uma vó c
Ele gesticulou para que eu entrasse, passei pela porta com dificuldade. Mancando por causa dos chutes. Se eu me olhasse no espelho, jurava que estava irreconhecível. Durante o trajeto havia feito um coque no cabelo, pensando na alternativa de ser pega novamente e o criminoso usar a tática do puxão como havia usado. Eu havia deixado o capote que usava para trás. Estava apenas com um cropped e uma calça jeans. Eu estava suja e ralada pela queda. O segurança tentou me ajudar me dando à mão para que eu me apoiasse, recusei. Eu não queria ajuda, queria entender o que estava acontecendo e porque haviam tentado me seqüestrar ou me matar.— Eu vou pedir que você espere aqui. — O homem falou quando chegamos à frente de um escritório depois de passar por um corredor e subir escadas. Seu sotaque era pesado.— Eu não vou esperar porra nenhuma. — Falei. — Você ou algum dos seus homens vão me conter? Porque se não, eu vou entrar na porra desse escritório agora. — Falei furiosa.— Você não pode faze
Ele assentiu novamente sem coragem de perguntar.— Eu tenho meu restaurante aqui, e eu vou viajar amanhã. E se você está metido com o alto escalão, provavelmente eles conhecem a minha vida. Só acho burrice enviar apenas um homem para seqüestrar a filha de um militar, e por sinal, um homem bem burro. — Eu ri. Não sei se de raiva ou realmente porque a situação foi ridícula. — Não há relatos do meu treinamento militar, mas isso é bem obvio. Enfim... Eu espero que isso não recaia sobre a minha família.— Não vai. — Ele respondeu por cima da lata.— Ok. — Falei me virando para ir embora. — Sobre nós dois... — Me virei para ele novamente. — Sua mãe tinha razão. Eu tenho muito a perder. E não estou disposta a deixar todos os outros na escuridão para ser a luz de alguém. Mesmo que eu ame muito esse alguém. — Suspirei. — Eu não posso... — Engoli a dor que rompeu minha garganta.— Eu sei. — Ele disse. Sua voz saiu embargada. Seus olhos brilharam e por um instante eu senti sua dor de onde estava
— Foi à vida que eu escolhi. Quando você entra neste mundo e jura lealdade, não há volta. É até o fim. Eu não poderia ou posso abandonar meu filho agora, e acima de tudo, eu amo o Heiko. Não concordo com nada do que ele faz. Embora eu esteja envolvida porque sou uma Meyer também, não posso me isentar de minha culpa. Tenho consciência. Mas o amor nos leva a caminhos tortuosos, sabe. E então um dia você ultrapassa um limite onde não há mais volta. — Ele parou por alguns segundos e me encarou. — Foi só uma pequena torção. Com uma tala logo melhora.— Você é medica? — Perguntei.— Enfermeira. Era preciso se formar em alguma coisa para gastar o tempo. Enfermagem. É útil quando seu filho ou seu marido tem o costume de chegar em casa quebrado. Ou quando você fica esperando que ele vá passar pela porta completamente ensangüentado.— Entendi. — Suspirei. — Por que vieram diretamente até a mim? — Perguntei curiosa com aquele fato.— Você já me viu pisar os pés na Meyer Haus? Ou sair de casa soz