“Mia Bennett” Acordo, e a primeira coisa que sinto é dor. Latejante, incômoda, como se uma orquestra inteira estivesse ensaiando dentro da minha cabeça. A segunda coisa é o frio. Muito frio. Tento abrir os olhos, mas minhas pálpebras parecem pesar toneladas. Quando finalmente consigo, pisco algumas vezes, tentando adaptar minha visão ao ambiente. — Onde estou? — murmuro, sentindo minha garganta arranhar. Memórias fragmentadas começam a surgir. O evento beneficente. Ethan subindo ao palco. Gabriel me oferecendo champanhe. A tontura repentina… Gabriel. A compreensão me faz engolir em seco. Não foi o calor. Ele me drogou. Me sequestrou. Mas… por quê? Tento me mexer e descubro que estou sentada em uma cadeira, meus pulsos amarrados para trás, tornozelos presos às pernas do assento. Olho ao redor, encontrando uma sala pequena e mal iluminada. Paredes de concreto, piso de cimento, uma única lâmpada fraca pendurada sobre mim, projetando sombras distorcidas pelo ambiente. Um porão? U
“Ethan Hayes” Enquanto estamos no escritório central de segurança da Nexus, onde Frank conseguiu reunir uma equipe tática em tempo recorde, meu celular vibra. Olho rapidamente. Número desconhecido. Uma única mensagem e uma foto em anexo. A imagem carrega devagar, como se o universo estivesse conspirando para prolongar minha agonia. Então, finalmente, a foto aparece e o ar parece ser sugado dos meus pulmões. Mia está amarrada em uma cadeira, com o rosto pálido e uma marca vermelha em sua bochecha. Seus olhos, mesmo na foto de baixa qualidade, transmitem medo. A raiva me consome imediatamente. — É ela? — James pergunta, se aproximando. Engulo em seco e viro o celular para ele. James prende a respiração e passa a mão pelo rosto. Sua expressão se contorce em fúria. — Filho da puta… — ele murmura. Abaixo da imagem, uma mensagem curta e direta: “5 milhões. Instruções a seguir. Sem polícia, ou ela morre.” Leio a mensagem mais uma vez, sentindo a raiva percorrer meu corpo. A mar
“Mia Bennett” Meu rosto ainda arde dos t***s que Miranda me deu durante a ligação. O primeiro acertou minha bochecha já dolorida. O segundo, mais forte, veio com o bônus do anel de diamante que ela usa, abrindo um corte que agora sangra e pinga no meu vestido. — Sua piranha insolente! — ela vocifera, guardando o celular no bolso do casaco. — Mais uma gracinha dessas e vou garantir que recebam um dedo seu pelo correio. Engulo a resposta que ameaça escapar. Preciso ser inteligente. Provocá-la não vai me ajudar a sair daqui. Gabriel caminha inquieto de um lado para o outro, checando repetidamente seu celular. Ele parece cada vez mais desconfortável com a situação, lançando olhares discretos em minha direção que Miranda não percebe. — Agora é só esperar — ela continua, sem disfarçar a impaciência. — O dinheiro logo estará em nossas mãos, e então… liberdade. — E quanto a ela? — Gabriel pergunta, apontando para mim com um movimento de cabeça. Miranda me encara como se avaliasse um ob
Miranda para na minha frente, o sorriso em seus lábios se alargando. Há uma frieza em seus olhos que me faz estremecer mais do que qualquer grito poderia.— Sabe o que é mais patético, pequena ratinha? — ela pergunta, puxando uma arma de dentro do casaco. — Ethan realmente está disposto a sacrificar tudo por você. Todo o império que construiu, sua reputação, possivelmente até a própria vida.Mantenho meus olhos fixos nos dela, mesmo quando o cano frio da arma pressiona minha têmpora.Posso até morrer essa noite, mas nunca darei a ela o gostinho de me ver implorar.— O que aconteceu lá fora? — Gabriel pergunta, olhando pela janela novamente.— Parece que alguém quis bancar o herói e trouxe reforços — ela diz, sem tirar os olhos de mim. — Idiota! Avisei o que aconteceria se ele envolvesse a polícia.Meu olhar encontra o de Gabriel. Ele me encara de um jeito diferente. Como se estivesse tomando uma decisão.— Miranda, isso já foi longe demais — ele diz, dando um passo à frente. — Ninguém
“Ethan Hayes” O mundo ao meu redor parece girar em câmera lenta enquanto seguro Mia inconsciente em meus braços. O sangue dela encharca minha camisa, quente e viscoso contra minha pele. — Mia, abra os olhos — peço, minha mão tremendo ao dar um leve tapa em seu rosto. — Por favor, perdição. Abra os olhos, não me deixe. — Filha… acorda — James murmura ao meu lado, tocando sua mão. Os paramédicos invadem a sala, dividindo-se rapidamente entre Gabriel e Mia. Me afasto apenas o suficiente para que possam trabalhar. — Ferimento por arma de fogo, entrada posterior, possível saída pelo tórax anterior — um deles informa, cortando o tecido do vestido para acessar o ferimento. — Precisamos estabilizá-la. Passo a mão pelos cabelos, olhando enquanto ele continua. Atrás de nós, Frank supervisiona a situação com Miranda. Ela está no chão, algemada, gemendo de dor pelo ferimento no ombro, cercada por policiais. O segundo tiro que dispararam acertou sua coxa quando tentou reagir após atirar em
O médico nos encara por um momento que parece uma eternidade. Seu rosto está cansado após horas na sala de cirurgia, mas seus olhos permanecem alerta. — Ela sobreviveu à cirurgia — ele finalmente diz, e sinto meus joelhos fraquejarem com o alívio. — O projétil perfurou o pulmão esquerdo e causou danos significativos, mas conseguimos estabilizá-la. Houve uma perda substancial de sangue, o que nos preocupou bastante durante o procedimento. — Mas ela vai ficar bem? — James pergunta, claramente preocupado. O médico suspira, ajustando os óculos. — As próximas 24 horas serão críticas. Ela ficará na UTI, sedada e em ventilação mecânica para permitir que o pulmão comece a se recuperar. — Ele faz uma pausa, alternando o olhar entre mim e James. — Preciso ser honesto: a paciente ainda não está fora de perigo. Existe risco de complicações, mas ela é jovem e aparentemente saudável, e isso favorece a situação dela. — Podemos vê-la? — pergunto, mal reconhecendo minha própria voz. — Somente p
“Mia Bennett” Tudo aqui é tão claro. Tão vívido, limpo. Perfeito. A luz não incomoda meus olhos, mas parece reacender cada detalhe ao meu redor. As flores silvestres balançam suavemente, o céu é absurdamente azul, e a grama acaricia meus pés descalços. Não sinto dor. Meu peito não arde enquanto respiro… Meu corpo parece leve, como se pudesse flutuar a qualquer momento. Olho ao redor enquanto caminho pelo campo de flores, deslizando as mãos pelas pétalas. As cores são mais vivas, as fragrâncias mais intensas. Não sei há quanto tempo ando por esse paraíso que parece não ter fim, mas quando vejo um banco de madeira sob uma árvore enorme, decido me sentar. Observo as borboletas dançando ao meu redor e sinto uma paz indescritível. — É lindo, não é? A voz que vem por trás de mim faz meu coração parar. Conheço essa voz. Conheço tão bem que, mesmo após meses sem a ouvir, reconheceria em qualquer lugar. Me viro lentamente, quase com medo de que ela desapareça se eu me mo
A voz de Ethan chega até mim, distante e, ao mesmo tempo, clara. Tento focar no rosto dele tão perto do meu, seus olhos brilham com lágrimas contidas. Quero responder, dizer que sim, voltei por ele, por nós, como minha mãe me instruiu. Mas meu corpo não coopera. Sinto apenas meus lábios formando um sorriso fraco antes que a escuridão me envolva novamente. Tento abrir os olhos outra vez, mas eles se recusam a responder. Entre a consciência e a inconsciência, ouço vozes familiares, o toque de mãos, o bip constante… Não sei quanto tempo se passa assim, nesse ciclo interminável. Minutos, horas, talvez dias. Até que, finalmente, consigo retomar o controle dos meus olhos, encontrando um teto branco sobre mim. Tentar respirar profundamente é um erro que percebo imediatamente. Uma dor aguda atravessa meu peito, me fazendo engasgar e forçando minha respiração a se tornar superficial. Movo meus dedos, testando cada parte do meu corpo. Tudo parece conectado e funcionando, embora cada