Miranda para na minha frente, o sorriso em seus lábios se alargando. Há uma frieza em seus olhos que me faz estremecer mais do que qualquer grito poderia.— Sabe o que é mais patético, pequena ratinha? — ela pergunta, puxando uma arma de dentro do casaco. — Ethan realmente está disposto a sacrificar tudo por você. Todo o império que construiu, sua reputação, possivelmente até a própria vida.Mantenho meus olhos fixos nos dela, mesmo quando o cano frio da arma pressiona minha têmpora.Posso até morrer essa noite, mas nunca darei a ela o gostinho de me ver implorar.— O que aconteceu lá fora? — Gabriel pergunta, olhando pela janela novamente.— Parece que alguém quis bancar o herói e trouxe reforços — ela diz, sem tirar os olhos de mim. — Idiota! Avisei o que aconteceria se ele envolvesse a polícia.Meu olhar encontra o de Gabriel. Ele me encara de um jeito diferente. Como se estivesse tomando uma decisão.— Miranda, isso já foi longe demais — ele diz, dando um passo à frente. — Ninguém
“Ethan Hayes” O mundo ao meu redor parece girar em câmera lenta enquanto seguro Mia inconsciente em meus braços. O sangue dela encharca minha camisa, quente e viscoso contra minha pele. — Mia, abra os olhos — peço, minha mão tremendo ao dar um leve tapa em seu rosto. — Por favor, perdição. Abra os olhos, não me deixe. — Filha… acorda — James murmura ao meu lado, tocando sua mão. Os paramédicos invadem a sala, dividindo-se rapidamente entre Gabriel e Mia. Me afasto apenas o suficiente para que possam trabalhar. — Ferimento por arma de fogo, entrada posterior, possível saída pelo tórax anterior — um deles informa, cortando o tecido do vestido para acessar o ferimento. — Precisamos estabilizá-la. Passo a mão pelos cabelos, olhando enquanto ele continua. Atrás de nós, Frank supervisiona a situação com Miranda. Ela está no chão, algemada, gemendo de dor pelo ferimento no ombro, cercada por policiais. O segundo tiro que dispararam acertou sua coxa quando tentou reagir após atirar em
O médico nos encara por um momento que parece uma eternidade. Seu rosto está cansado após horas na sala de cirurgia, mas seus olhos permanecem alerta. — Ela sobreviveu à cirurgia — ele finalmente diz, e sinto meus joelhos fraquejarem com o alívio. — O projétil perfurou o pulmão esquerdo e causou danos significativos, mas conseguimos estabilizá-la. Houve uma perda substancial de sangue, o que nos preocupou bastante durante o procedimento. — Mas ela vai ficar bem? — James pergunta, claramente preocupado. O médico suspira, ajustando os óculos. — As próximas 24 horas serão críticas. Ela ficará na UTI, sedada e em ventilação mecânica para permitir que o pulmão comece a se recuperar. — Ele faz uma pausa, alternando o olhar entre mim e James. — Preciso ser honesto: a paciente ainda não está fora de perigo. Existe risco de complicações, mas ela é jovem e aparentemente saudável, e isso favorece a situação dela. — Podemos vê-la? — pergunto, mal reconhecendo minha própria voz. — Somente p
“Mia Bennett” Tudo aqui é tão claro. Tão vívido, limpo. Perfeito. A luz não incomoda meus olhos, mas parece reacender cada detalhe ao meu redor. As flores silvestres balançam suavemente, o céu é absurdamente azul, e a grama acaricia meus pés descalços. Não sinto dor. Meu peito não arde enquanto respiro… Meu corpo parece leve, como se pudesse flutuar a qualquer momento. Olho ao redor enquanto caminho pelo campo de flores, deslizando as mãos pelas pétalas. As cores são mais vivas, as fragrâncias mais intensas. Não sei há quanto tempo ando por esse paraíso que parece não ter fim, mas quando vejo um banco de madeira sob uma árvore enorme, decido me sentar. Observo as borboletas dançando ao meu redor e sinto uma paz indescritível. — É lindo, não é? A voz que vem por trás de mim faz meu coração parar. Conheço essa voz. Conheço tão bem que, mesmo após meses sem a ouvir, reconheceria em qualquer lugar. Me viro lentamente, quase com medo de que ela desapareça se eu me mo
A voz de Ethan chega até mim, distante e, ao mesmo tempo, clara. Tento focar no rosto dele tão perto do meu, seus olhos brilham com lágrimas contidas. Quero responder, dizer que sim, voltei por ele, por nós, como minha mãe me instruiu. Mas meu corpo não coopera. Sinto apenas meus lábios formando um sorriso fraco antes que a escuridão me envolva novamente. Tento abrir os olhos outra vez, mas eles se recusam a responder. Entre a consciência e a inconsciência, ouço vozes familiares, o toque de mãos, o bip constante… Não sei quanto tempo se passa assim, nesse ciclo interminável. Minutos, horas, talvez dias. Até que, finalmente, consigo retomar o controle dos meus olhos, encontrando um teto branco sobre mim. Tentar respirar profundamente é um erro que percebo imediatamente. Uma dor aguda atravessa meu peito, me fazendo engasgar e forçando minha respiração a se tornar superficial. Movo meus dedos, testando cada parte do meu corpo. Tudo parece conectado e funcionando, embora cada
Não faço ideia de quanto tempo permaneci dormindo, mas, quando abro os olhos novamente, o sol já não brilha lá fora. A lua, no entanto, ilumina o quarto com a mesma imponência. Viro o rosto para o lado, esperando encontrar Ethan, mas, para minha surpresa, é meu pai quem está sentado na poltrona. Assim como Ethan, ele também parece péssimo. — Pai — chamo, num tom baixo. Ele se vira rapidamente para mim, e vejo a surpresa e o alívio em seus olhos. — Filha — ele diz, aproximando-se. — Como está se sentindo, querida? — Como se um trem tivesse passado sobre mim — respondo, tentando sorrir. Meu pai solta um riso curto, mas logo o sorriso desaparece, dando lugar à seriedade. — Você nos deu um susto, filha — murmura, segurando minha mão. — Me desculpe. Sei que não foi minha culpa, mas isso não muda o fato de que ele passou os últimos dias no inferno por minha causa. Ele suspira, passando a mão pelo rosto. — Eu deveria ter te protegido melhor — diz, num tom baixo, carregado de culp
A notícia não me surpreende tanto quanto deveria. No fundo, tinha certeza de que isso aconteceria. Finalmente, duas pessoas importantes na minha vida encontraram uma à outra. O jantar dos “morangos assassinos” serviu muito bem para isso. — Sinceramente? — faço uma pausa dramática, vendo a apreensão no rosto dela. — Acho que vocês combinam mais do que imaginam. O alívio em sua expressão é quase cômico. — Sei que é… complicado. Com tudo que aconteceu, e… bem, ele sendo seu pai e eu sendo irmã de Ethan. Cada vez mais, tudo isso parece uma novela mexicana — Lauren tenta brincar, mas a insegurança continua em seus olhos. — Vocês são perfeitos um para o outro, e é isso que importa — digo com sinceridade. — Você precisa de piadas sem graça e ele precisa ser lembrado de que a vida não é feita só de trabalho. Lauren me encara, surpresa. Então, finalmente solta um suspiro e abre um sorriso aliviado. — Estava nervosa para te contar — admite. — Sei que sua relação com seu pai ainda é rec
“Mia Bennett” Dez dias. Nove noites. Duzentas e dezesseis horas presa entre paredes brancas, o som constante dos monitores e o cheiro persistente de desinfetante que parece ter se impregnado na minha pele. Mas agora, sentada na beira da cama do hospital, com os pés tocando o chão frio e vestindo roupas de verdade pela primeira vez desde o sequestro, sei que finalmente está acabando. — Isso não deveria levar tanto tempo — reclamo, olhando para o relógio pela terceira vez em cinco minutos. — Quanto tempo demora para assinar alguns papéis? Ethan para de colocar meus pertences na mala e me encara com aquela expressão paciente que já conheço bem demais. — A burocracia hospitalar é quase tão ruim quanto a tributária, meu amor. — Alguém está ansiosa para ver o mundo exterior — Lauren brinca do outro lado do quarto, enquanto guarda os livros e revistas que me ajudaram a suportar o tédio dos últimos dias. — Nem imagina quanto. Passei dias contando os quadrados do teto — resmungo, ajusta