“Ethan Hayes” A casa continua exatamente como me lembro. As mesmas cores, as mesmas plantas, os mesmos quadros nas paredes — cada um retratando um dos projetos mais importantes do legado Hayes. Mais de trinta anos de trabalho da minha família expostos como um museu particular de sucessos. Lauren entra primeiro, anunciando nossa chegada em voz alta. Mia aperta minha mão quando hesito na porta, e é tudo que preciso para dar o primeiro passo. — Ethan? A voz da minha mãe ecoa pela sala, tremida e incerta. Segundos depois, ela aparece no corredor. Seus cabelos estão um pouco mais curtos do que me lembro, mas seus olhos… são os mesmos que me observaram crescer. — Oi, mãe — digo baixo, sentindo um nó se formar em minha garganta. Ela não responde. Em vez disso, atravessa a distância entre nós em passos rápidos e me abraça. O perfume dela, o mesmo de sempre, me atinge como uma onda de memórias que permaneceram esquecidas por tanto tempo. — Meu menino — murmura contra meu peito, e perce
Mia e eu descemos as escadas devagar, os dedos entrelaçados, apreciando a calmaria apesar de tudo. Quando chegamos ao último degrau, as vozes animadas se misturam ao cheiro de comida caseira que se espalha pela casa. Por um instante, sou transportado para anos atrás, quando esses encontros eram comuns para mim. Ao chegarmos à sala de estar, minha mãe está sentada no sofá, rindo com Magnólia, minha tia materna, e George, seu marido. Seu olhar se ilumina assim que nos vê. — Ah, finalmente! — Minha mãe exclama, abrindo os braços. — Estávamos começando a achar que vocês tinham decidido ir dormir. George se aproxima e me dá um aperto de mão firme antes de me puxar para um abraço. — Bom te ver, garoto. Magnólia se levanta rapidamente e solta um suspiro dramático antes de se aproximar de nós. — Meu Deus, Ethan! Cinco anos sem aparecer e você acha que um jantar basta? — Ela segura meu rosto entre as mãos antes de me puxar para um abraço forte. — Você me deixou esperando por tempo dem
“Mia Bennett” As conversas e risadas ainda ecoam pela mesa, quando Catherine se levanta com um sorriso caloroso. — Alguém aceita um café na sala de estar? Tenho uma torta de maçã para acompanhar. Sinto o olhar de Ethan sobre mim imediatamente. Seus olhos verdes me questionam silenciosamente: queremos continuar ou encerrar a noite por aqui? Retribuo seu olhar, implorando sem palavras. Estou exausta. Dois dias intensos em Nova York seguidos por essa viagem a San Francisco consumiram minhas energias. E, honestamente, não estou disposta a enfrentar mais uma rodada de perguntas invasivas ou comentários sutilmente hostis — especialmente de Lily, que não parou de me analisar durante todo o jantar. Ethan estreita levemente os olhos, entendendo meu pedido silencioso. — Vamos passar essa, mãe — ele diz num tom firme, que não deixa espaço para contestações. — Acho que já socializamos o suficiente por hoje. Catherine franze o cenho, levemente desapontada, mas assente. — Bem, ent
“Ethan Hayes” O som de passos lentos, calculados, ecoa pela casa, quebrando o último vestígio de leveza da manhã. Não preciso virar o rosto para saber que é ele. É como se meu corpo entrasse em alerta, sempre se preparando para o próximo embate. O silêncio que se instala diz tudo. Minha mãe para de mexer a xícara. Meus tios interrompem a conversa. Mia, ao meu lado, fica tensa. E então, ele aparece. Cinco anos. Cinco anos e ele continua o mesmo. O mesmo olhar frio. O mesmo terno impecável. A mesma energia de alguém que mede tudo ao redor para garantir que nada esteja fora do lugar. E a primeira coisa que ele faz não é me encarar. Seu olhar percorre a mesa primeiro, como se avaliasse quem está presente. Como se essa fosse a prioridade. Até que, finalmente, seus olhos recaem sobre mim. Um segundo. Dois. Três. — Então, decidiu aparecer — diz, sem qualquer traço de emoção. Como se tivéssemos nos visto ontem e não há cinco anos. Não reajo imediatamente, e isso parece chamar a a
“Mia Bennett” Assim que nos levantamos do banco de pedra, Ethan segura minha cintura com uma familiaridade que me causa arrepios. Seu olhar intenso se fixa no meu e, por um momento, esqueço completamente da ideia que tive. — Não sei qual foi sua ideia para me relaxar — ele sussurra contra meu ouvido, me puxando para mais perto — mas sei de uma excelente maneira de fazer isso lá em cima, no meu quarto… na minha cama. Sinto minhas bochechas queimarem e disfarço, soltando uma risada baixa. — Você é terrível! — digo, dando um leve empurrão em seu peito. — Realmente uma excelente ideia, mas não quero ser expulsa da sua família antes mesmo de entrar nela oficialmente. — Uma semana, Mia — dramatiza, deslizando os dedos pela minha cintura. — Sete dias inteiros sem absolutamente nada. — E você está sobrevivendo muito bem — provoco, arqueando a sobrancelha. — Finjo muito bem, meu amor. Porque estou à beira do colapso. — Em breve te recompenso — digo, dando-lhe um beijo rápido. — Vou co
Sorrindo, aproximo meu rosto do dele e o beijo suavemente. Quando nos afastamos, Ethan me puxa para deitar, e eu me aconchego em seu peito enquanto observo o céu sobre nós. O vento sopra suavemente pelo lago e o calor do corpo dele sob minha pele é uma das sensações mais tranquilizantes que já experimentei. Sinto seus dedos deslizando suavemente pelo meu cabelo, em um movimento quase distraído. Sua respiração está calma e percebo que ele também está perdido em pensamentos. — Você sabia que nunca fiz isso antes? Levanto um pouco a cabeça, apoiando o queixo em seu peito para encará-lo. — Isso o quê? — Pedir alguém em namoro. — Ele desliza os dedos pelo meu braço, traçando caminhos invisíveis em minha pele. — Achei que estávamos namorando. — E estamos. Mas nunca te pedi oficialmente. Ethan se vira de lado, ajustando nossos corpos para ficarmos frente a frente. — Sabe, tomei apenas duas grandes decisões na vida, decisões que mudariam tudo — diz, segurando minha mão. — A primeir
“Ethan Hayes” As palavras do meu pai ressoam em meus ouvidos enquanto solto a mão de Mia. Cinco anos de silêncio, e ele continua o mesmo. Respiro fundo, sentindo o sangue pulsar em minhas têmporas. Cansei de tentar ignorar. Desta vez, ele vai me ouvir. Quando entro na sala, encontro meus pais e Lauren sentados no sofá, alheios ao fato de que as palavras do meu pai acabaram de reacender um incêndio dentro de mim. — Interessante ouvir isso. — Minha voz sai mais alta do que eu pretendia, mas não faço esforço para suavizá-la. — Pelo menos assim, sua decepção comigo não é completa. Três pares de olhos se voltam para mim, surpresos com minha entrada abrupta. Minha mãe é a primeira a se recuperar, levantando rapidamente. — Ethan, querido… — ela começa, mas eu a interrompo. — Não, mãe. Quero ouvir dele. — Meu olhar não deixa o rosto de meu pai, que permanece impassível como sempre. — Quinze anos provando meu valor e cinco tentando esquecer que meu próprio pai não consegue ver além dos
Hesito antes de pegar o envelope das mãos dele. É surpreendentemente pesado para algo tão fino. Ou talvez seja somente o peso invisível do que representa. Deslizo o dedo sob a aba e abro cuidadosamente. Dentro, encontro documentos com o timbre da Hayes & Associados no cabeçalho. Franzo o cenho enquanto começo a ler. Não são papéis de transferência ou contratos, como imaginei a princípio. É uma proposta detalhada para uma parceria estratégica entre a Hayes & Associados e a Nexus. Levanto os olhos, encontrando o olhar atento do meu pai. — Não entendi o que o senhor quer com isso — digo finalmente, virando mais uma página. — É bem simples, na verdade. — Abraham se apoia na borda da mesa. — A empresa está crescendo, assumindo projetos internacionais, expandindo para novos mercados. Lauren trouxe uma nova dimensão com seu trabalho em design de interiores, mas… — Mas…? — Sempre fomos fracos na gestão empresarial e nas questões jurídicas. — Há um traço de ironia em sua voz. — Sou um