Assim que termina de falar, Lauren sai apressada pelo corredor. Troco um olhar rápido com meu pai, que gesticula para a porta, e seguimos os passos dela. Tudo o que passa pela minha cabeça é Mia e a possibilidade de algo ter acontecido com ela. Mas, quando chegamos à sala de estar, a cena que encontro me faz parar no meio do caminho. Lauren está literalmente empurrando Mia para o sofá. Minha namorada, com os olhos arregalados de surpresa, cai sentada, rindo, ainda tentando entender o que passa na cabeça da cunhada. — Lauren! — exclamo, me aproximando rapidamente. — Que merda você está fazendo? Minha irmã se vira para mim com um sorriso travesso, sem nenhum vestígio da urgência desesperada de momentos atrás. — Ah, vocês me surpreenderam lá dentro… — Ela solta os ombros de Mia, que se endireita, ajustando a blusa. — Tive que improvisar. — Improvisar? — repito, alternando o olhar entre Lauren e Mia, que parece tão confusa quanto eu, embora ainda esteja rindo. — Claro! Fui a
“Mia Bennett” O sol mal começou a aparecer no horizonte quando coloco a última peça de roupa na mala. Desvio o olhar para Ethan, que está parado junto à janela, observando o jardim. Desde a conversa com Abraham, algo mudou nele. Não de forma dramática ou evidente para quem não o conhece bem, mas, para mim, é como se todos os músculos que estiveram tensos por anos começassem finalmente a relaxar. — Acha que esquecemos alguma coisa, amor? — pergunto, fechando o zíper da mala. Ethan se vira para mim, sorrindo. — Além das vinte perguntas que a tia Eliza fez sobre nosso relacionamento e que prometi responder por e-mail? Rio, lembrando da senhora idosa que, ontem, passou boa parte do jantar de aniversário de Catherine me interrogando sobre casamento e possíveis “pequenos Hayes”. — Ela é persistente. — Característica de família — ele responde, aproximando-se para ajudar com a mala. A casa está silenciosa quando descemos as escadas. Ao chegarmos à sala de estar, encontramos C
O sol invade o quarto por entre as frestas da persiana, desenhando linhas douradas na cama. Ethan dorme tranquilamente ao meu lado, um braço sobre minha cintura e o outro sob minha cabeça. Me viro lentamente para admirar meu namorado. Sua respiração é calma, os cabelos claros caem sobre a testa e ele parece completamente alheio ao caos dentro de mim. Hoje voltamos oficialmente à realidade. Sete dias se passaram desde nossa volta de San Francisco. Sete dias dentro do nosso próprio mundinho, onde fingimos que os problemas lá fora não existiam. Sete dias de filmes ruins, café da manhã na cama e conversas estendidas nas varandas dos nossos apartamentos. O alarme toca e Ethan geme, enterrando o rosto nos meus cabelos. Desligo rapidamente o aparelho. — Bom dia, dorminhoco — sussurro, beijando seu rosto. — Não. — Ele resmunga, puxando o edredom para cobrir a cabeça. — Não existe bom dia às seis da manhã. É cientificamente impossível. — Hoje é o grande retorno, lembra? Rio, p
Departamento Jurídico. Décimo andar. O território de James. As portas do elevador se abrem, revelando um ambiente completamente diferente do que estou acostumada. O silêncio é quase absoluto. Homens e mulheres de terno se movem como engrenagens de uma máquina perfeitamente calibrada. Um homem de meia-idade, de óculos de aro fino, se aproxima rapidamente. — Srta. Bennett? Sou Arthur Pearson, advogado sênior. O Sr. Bennett pediu que eu a orientasse. — Ele me examina da cabeça aos pés e sua expressão deixa claro o que pensa. — Talvez queira usar roupas mais… apropriadas amanhã. Temos um código de vestimenta aqui. Sinto minhas bochechas queimarem. Estou vestindo uma blusa de seda leve e uma saia social, mas, claramente, não pertenço a este lugar. — Onde posso encontrar o Sr. Bennett? — pergunto, ignorando suas palavras. — Em sua sala. — Ele olha o relógio. — Mas sugiro que se instale em sua mesa primeiro. Posso mostrá-la? — Preciso falar com ele agora. Obrigada. Ignoro seu olhar
“Ethan Hayes” Após alguns dias longe da Nexus, de James, do estresse… achei que voltaria um pouco mais preparado. Ingenuidade minha. Claro que meu retorno tinha que ser um desastre. Cheguei quinze minutos atrasado para a reunião com os investidores britânicos e agora tento parecer completamente focado enquanto Wilson, meu vice, apresenta as projeções do último trimestre. Os britânicos me observam com aquela frieza característica, claramente julgando cada movimento. O Sr. Montgomery, em particular, parece catalogar mentalmente cada segundo do meu atraso como uma falha moral pessoal. Como se a pontualidade fosse mais importante que os 22% de crescimento que apresentamos no último ano. Típico. Após trinta minutos e um atraso significativo da minha namorada, ouço batidas na porta. Desvio o olhar, esperando que Mia traga as projeções atualizadas que pedi. Em vez disso, uma loira que nunca vi na vida entra, carregando a pasta que deveria estar nas mãos da minha assistente. — Bom di
O caminho até o departamento jurídico parece mais longo hoje. Cada pessoa que passa me olha como se eu fosse uma bomba-relógio prestes a explodir. Talvez eu seja. O drama entre o CEO e o Presidente Jurídico já se espalhou. Não me surpreenderia se tivessem feito apostas sobre quem sairá vitorioso. Olho ao redor procurando por Mia, mas nem sinal dela. Respiro fundo, viro o corredor e sigo diretamente para a sala de James. A secretária dele se levanta assim que me vê. — Sr. Hayes, o Sr. Bennett pediu para não ser incomod… — ela começa, mas gesticulo rapidamente, interrompendo-a. — Não perguntei, Srta. Hampton. Empurro a porta e entro. Sem bater. James está sentado atrás da mesa, folheando um contrato como se estivesse absolutamente alheio ao caos que plantou hoje. Quando levanta o olhar, não parece nem um pouco surpreso por me ver. — Ethan. — Ele fecha uma pasta de documentos, cruzando os dedos sobre a mesa com toda a calma do mundo. — A que devo a honra? — Vamos pular a encen
“Mia Bennett” As batidas na porta interrompem nossa conversa. Ethan me encara, talvez com as mesmas suspeitas que eu: James. Antes que possamos responder, a porta se abre, revelando Pearson, com sua expressão de permanente tédio. — Srta. Bennett, estamos esperando pelos documentos da Vertum. — Seus olhos passam de mim para Ethan, e um pequeno sorriso aparece em seus lábios finos. — Sr. Hayes, não sabia que estava no departamento. Ethan o encara e percebo sua postura mudar instantaneamente. De repente, ele não é mais meu namorado preocupado, mas sim o CEO da Nexus Group. — Arthur Pearson, certo? — Sua voz sai fria, cortante. — A Srta. Bennett estará com vocês em alguns minutos. Temos assuntos pendentes a resolver. Pearson hesita, claramente dividido entre a autoridade de Ethan e as ordens de James. — O Sr. Bennett foi bastante específico quanto à urgência… — E eu estou sendo bastante específico quanto aos próximos cinco minutos. — Ethan não eleva a voz, mas o tom não deixa esp
“Lauren Hayes” O escritório de James é exatamente como imaginei: impecável, intimidador e incrivelmente chato. Sério, nem uma planta? Até Ethan tem aquela suculenta que sobrevive por pura teimosia. — E esse tom para as cortinas? — pergunto à Vitória, que observa atentamente meu catálogo de tecidos. — Azul-petróleo é perfeito para quebrar tanta seriedade. — Ela sorri, separando outros tons complementares. A garota de cabelos cacheados e pele bronzeada se juntou a mim assim que cheguei, talvez tentando escapar do tédio que essa casa transmite. Quase formada em moda, ela tem sido uma companhia inesperadamente útil enquanto tento reorganizar o mausoléu que James Bennett chama de lar. — Concordo, sem dúvidas. — Sorrio, surpresa por estar perto de alguém que entende tanto de cores quanto eu. — Achei que seria a única a perceber que ele precisa de algo menos… monótono. — Desde que comecei meu estágio, venho tentando convencer minha mãe a sugerir uma reforma. — Ela ri, passando o