O caminho até o departamento jurídico parece mais longo hoje. Cada pessoa que passa me olha como se eu fosse uma bomba-relógio prestes a explodir. Talvez eu seja. O drama entre o CEO e o Presidente Jurídico já se espalhou. Não me surpreenderia se tivessem feito apostas sobre quem sairá vitorioso. Olho ao redor procurando por Mia, mas nem sinal dela. Respiro fundo, viro o corredor e sigo diretamente para a sala de James. A secretária dele se levanta assim que me vê. — Sr. Hayes, o Sr. Bennett pediu para não ser incomod… — ela começa, mas gesticulo rapidamente, interrompendo-a. — Não perguntei, Srta. Hampton. Empurro a porta e entro. Sem bater. James está sentado atrás da mesa, folheando um contrato como se estivesse absolutamente alheio ao caos que plantou hoje. Quando levanta o olhar, não parece nem um pouco surpreso por me ver. — Ethan. — Ele fecha uma pasta de documentos, cruzando os dedos sobre a mesa com toda a calma do mundo. — A que devo a honra? — Vamos pular a encen
“Mia Bennett” As batidas na porta interrompem nossa conversa. Ethan me encara, talvez com as mesmas suspeitas que eu: James. Antes que possamos responder, a porta se abre, revelando Pearson, com sua expressão de permanente tédio. — Srta. Bennett, estamos esperando pelos documentos da Vertum. — Seus olhos passam de mim para Ethan, e um pequeno sorriso aparece em seus lábios finos. — Sr. Hayes, não sabia que estava no departamento. Ethan o encara e percebo sua postura mudar instantaneamente. De repente, ele não é mais meu namorado preocupado, mas sim o CEO da Nexus Group. — Arthur Pearson, certo? — Sua voz sai fria, cortante. — A Srta. Bennett estará com vocês em alguns minutos. Temos assuntos pendentes a resolver. Pearson hesita, claramente dividido entre a autoridade de Ethan e as ordens de James. — O Sr. Bennett foi bastante específico quanto à urgência… — E eu estou sendo bastante específico quanto aos próximos cinco minutos. — Ethan não eleva a voz, mas o tom não deixa esp
“Lauren Hayes” O escritório de James é exatamente como imaginei: impecável, intimidador e incrivelmente chato. Sério, nem uma planta? Até Ethan tem aquela suculenta que sobrevive por pura teimosia. — E esse tom para as cortinas? — pergunto à Vitória, que observa atentamente meu catálogo de tecidos. — Azul-petróleo é perfeito para quebrar tanta seriedade. — Ela sorri, separando outros tons complementares. A garota de cabelos cacheados e pele bronzeada se juntou a mim assim que cheguei, talvez tentando escapar do tédio que essa casa transmite. Quase formada em moda, ela tem sido uma companhia inesperadamente útil enquanto tento reorganizar o mausoléu que James Bennett chama de lar. — Concordo, sem dúvidas. — Sorrio, surpresa por estar perto de alguém que entende tanto de cores quanto eu. — Achei que seria a única a perceber que ele precisa de algo menos… monótono. — Desde que comecei meu estágio, venho tentando convencer minha mãe a sugerir uma reforma. — Ela ri, passando o
“James Bennett” A mulher à minha frente sorri de um jeito que me irrita profundamente. O mesmo sorriso de Ethan quando acha que ganhou algum argumento. Deve ser genético. — Começaremos pelo escritório? — Lauren pergunta, ainda sorrindo. — Ou talvez pelo quarto principal? — O escritório — respondo rapidamente. A ideia da irmã do meu ex-melhor amigo no meu quarto me deixa estranhamente desconfortável. Lauren é linda, não posso negar, e é justamente por isso que nunca me permiti olhar para ela de outra forma. Ela assente, anotando algo no tablet enquanto os cabelos caem levemente sobre o rosto. É irritante como parece perfeitamente à vontade, invadindo meu espaço, reorganizando meu conforto com azuis. — Você sempre foi assim? — A pergunta escapa antes que eu possa contê-la. — Assim como? — Lauren franze as sobrancelhas, me encarando com curiosidade. — Desafiadora. Teimosa. — Faço uma pausa. — Incapaz de aceitar um simples não como resposta. — Pergunte a Ethan. Costumava deixá-lo
“Mia Bennett” Uma semana. Sete dias exatos desde que deixei de ser assistente pessoal do CEO para me tornar… bem, seja lá o que for que estou fazendo no Departamento Jurídico. Aprendiz de advogada? Filha problemática sob vigilância? Provavelmente algo entre essas duas opções. — Terra para Mia. — Theo balança a mão na frente do meu rosto, me trazendo de volta à realidade do restaurante italiano onde almoçamos. — Você acabou de comer toda a sua salada sem dizer uma palavra. Isso é alarmante. — Desculpe. — Empurro o prato vazio. — Muita coisa na cabeça. — Está tudo bem? — Ele me lança um olhar que deixa claro exatamente ao que está se referindo. Ao contrário do que imaginei, Theo não mudou nem um pouco após nossa última conversa no meu apartamento. E, nesses últimos dias no Jurídico, tem sido essencial para minha adaptação. O único que não me trata como uma intrusa, minha salvação quando estou completamente perdida no departamento. Solto um suspiro baixo, desviando o olhar para
“Alguns minutos antes… Ethan Hayes”A dor de cabeça está voltando. A terceira vez hoje.Massageio as têmporas, tentando aliviar a pressão enquanto reviso os relatórios trimestrais. Já estou na quarta xícara de café e nem passa das duas da tarde. Patético.Uma semana. Uma maldita semana desde que James decidiu transferir Mia. Uma semana sem poder vê-la durante o dia, sem nossos almoços rápidos, sem ela me impedindo de tomar café demais.Uma semana com uma assistente modelo e seus sorrisos perfeitamente ensaiados. Incapaz de conversar sem se inclinar demais sobre minha mesa.Fecho os arquivos digitais e empurro a cadeira para trás, passando as mãos pelo rosto. No mesmo instante, o silêncio do meu escritório é interrompido por batidas na porta.— Sr. Hayes? — Amy abre sem esperar resposta. — Trouxe seu café.— Obrigado, mas não pedi café. — Mantenho a voz neutra, sem olhar para cima.— Pensei que poderia querer. — Ela sorri, aproximando-se da minha mesa. — O senhor sempre toma café a est
“Mia Bennett” O silêncio que se segue às minhas palavras é cortante. Sinto o olhar de Ethan sobre mim, enquanto Amy parece um animal encurralado. — Não sei do que está falando. — Sua voz já não carrega a doçura forçada de antes. — Mencionei o Sr. Bennett porque… — Porque foi ele quem te colocou aqui para seduzir meu namorado — interrompo, revirando os olhos. — Ou prefere continuar fingindo que isso foi um “acidente”? Amy ajusta a blusa nervosamente, seu rosto oscilando entre pálido e vermelho. — Eu realmente não sei o que você quer que eu diga — insiste. — Foi um acidente! Ethan se aproxima devagar, encostando-se na mesa ao meu lado. — Srta. Frazier, estou disposto a esquecer esse incidente se você disser a verdade agora. — Sua voz sai calma, mas com aquela autoridade que faz todo mundo na empresa tremer. Amy engole em seco, hesitante. — O Sr. Bennett vai me demitir se eu falar — sussurra. — E eu vou te demitir se não falar — Ethan rebate sem alterar o tom. — Acredite, do je
Respiro fundo antes de me virar lentamente, preparando mentalmente alguma desculpa para evitar o que quer que meu pai tenha planejado desta vez para me manter longe de Ethan. Pearson me observa segurando uma pasta volumosa, com aquela expressão de tédio que já aprendi a detestar nesses dias no departamento jurídico. — Na verdade, estava indo embora, Sr. Pearson. O expediente acabou. — O expediente acabou para quem não tem responsabilidades urgentes. — Ele estende a pasta em minha direção. — Precisamos desses documentos revisados para a audiência de amanhã. Olho para a pasta como se fosse uma cobra prestes a me dar um bote. Isso não é coincidência. Nem um pouco. Pearson poderia ter me dado isso há horas, quando voltou da audiência. Ou poderia simplesmente deixar para amanhã cedo. Mas não. Tinha que ser agora. Exatamente quando estou saindo para encontrar Ethan. — Agora? — Pergunto, tentando não soar tão irritada quanto estou. — São quase seis e dez. — Seria bom demons