Respiro fundo antes de me virar lentamente, preparando mentalmente alguma desculpa para evitar o que quer que meu pai tenha planejado desta vez para me manter longe de Ethan. Pearson me observa segurando uma pasta volumosa, com aquela expressão de tédio que já aprendi a detestar nesses dias no departamento jurídico. — Na verdade, estava indo embora, Sr. Pearson. O expediente acabou. — O expediente acabou para quem não tem responsabilidades urgentes. — Ele estende a pasta em minha direção. — Precisamos desses documentos revisados para a audiência de amanhã. Olho para a pasta como se fosse uma cobra prestes a me dar um bote. Isso não é coincidência. Nem um pouco. Pearson poderia ter me dado isso há horas, quando voltou da audiência. Ou poderia simplesmente deixar para amanhã cedo. Mas não. Tinha que ser agora. Exatamente quando estou saindo para encontrar Ethan. — Agora? — Pergunto, tentando não soar tão irritada quanto estou. — São quase seis e dez. — Seria bom demons
“Ethan Hayes” Observo Mia em meu colo, a testa franzida enquanto processa minhas palavras. Seus olhos desviam-se dos meus por uma fração de segundo, tempo suficiente para eu perceber que toquei em um assunto delicado. No entanto, por mais sensível que seja, precisamos falar sobre isso. É o nosso futuro. Algo que, querendo ou não, pode interferir no nosso relacionamento. — Harvard agora é… complicado. Ela suspira, deslizando os dedos pelo meu braço em movimentos distraídos. — O que exatamente é complicado, meu amor? — Acaricio seus cabelos, pensativo. — Você sempre disse que Harvard era um sonho de anos. — Sim, mas as coisas mudam. — Você mudou? — Acho que sim. — Mia levanta o olhar para mim, e vejo o conflito em seus olhos. — Ou talvez… as prioridades tenham mudado. — Mia, você está cogitando abrir mão de Harvard, é isso? — Ainda não estou abrindo mão de nada, Ethan. Só estou dizendo que pode haver outras opções. Existem ótimas universidades aqui em Chicago. — Mas não são
“Mia Bennett” Ethan segura meu rosto entre as mãos, seus olhos fixos nos meus com uma intensidade que faz minha respiração falhar. — Estou ouvindo, meu amor. — Se Harvard for realmente o que você quer, vamos fazer isso funcionar. — Ele fala com aquela certeza inabalável que sempre me desmonta. — Na verdade, expandir meus investimentos sempre foi um plano a longo prazo. Levanto as sobrancelhas, entendendo exatamente o que ele está insinuando. — Você abriria algo em Boston? — Sim. Seria estrategicamente vantajoso. — Ele dá de ombros, fingindo indiferença. — O fato de poder ver minha namorada com mais frequência seria apenas um feliz efeito colateral dos negócios. Não consigo evitar uma risada. — Um efeito colateral? É assim que me vê? — O melhor investimento que já fiz. — sussurra, sorrindo antes de me beijar. O telefone toca, interrompendo nosso momento. Ethan suspira, me colocando no sofá antes de se levantar. — Deve ser a recepção com a comida. — Diz, afastando-se. — Pedi
“Ethan Hayes”A sala de reuniões parece mais silenciosa que o normal. Conselheiros e diretores revisam os relatórios trimestrais enquanto aguardam o início da apresentação.Do outro lado da mesa, observo discretamente James. Seu olhar alterna entre os documentos à sua frente e a interação entre mim e Amy, estrategicamente sentada ao meu lado.Seguindo nosso plano, me inclino levemente quando ela me entrega uma pasta.— Obrigado, Srta. Frazier. — Digo, deixando que meus dedos toquem os dela por um segundo além do necessário.— Sempre à sua disposição, Sr. Hayes.Do outro lado da mesa, James levanta os olhos assim que ouve a voz dela. Para qualquer um, é somente um olhar normal. Mas para ele, é o começo da confirmação de suas suspeitas.A reunião segue, tediosa como sempre. Números são discutidos, projeções debatidas, decisões adiadas.Mas o que realmente importa hoje, especialmente para James, que nos observa como um falcão, são as interações entre mim e Amy.Trocas de olhares, sorriso
“James Bennett” Tento me concentrar no trabalho que precisa ser feito agora que voltei da reunião, mas minha mente continua processando o que testemunhei há pouco. As pessoas não mudam. Especialmente homens como Ethan Hayes. Durante algum tempo, podem tentar. Talvez até acreditem serem capazes de compromisso. Mas a verdade sempre vem à tona. A lealdade não está no DNA de Ethan. Nunca esteve. Batidas na porta interrompem meus pensamentos. Amy entra com a pasta que lhe pedi para entregar. — Aqui estão os documentos que pediu, Sr. Bennett. — Ela coloca a pasta sobre minha mesa com um sorriso. — Obrigado — digo, estudando seu rosto. — Como estão as coisas no administrativo? — Estão se tornando… interessantes. — Seu sorriso se amplia. — O Sr. Hayes tem sido… atencioso desde o pequeno incidente com o café. — Atencioso? — Os olhares dele mudaram. Os sorrisos também — explica, sentando-se com calma. — E há pouco me pediu para ficar até mais tarde. Disse que precisa da minha ajuda pa
“Mia Bennett” Alguns minutos antes… Guardo minhas coisas com a velocidade de quem está fugindo de um flagrante. Cada segundo conta. Se Pearson me encontrar agora, certamente inventará outro trabalho “urgente” que precisa ser feito até amanhã. — Por que parece que você está fugindo? — Theo pergunta, parando ao lado da minha mesa. — Shh! — coloco o dedo nos lábios, fazendo-o rir. — Estou escapando antes que o Drácula sugue o resto da minha vida social. Ele olha para os lados, balançando a cabeça enquanto ri ainda mais. — Pearson está em uma reunião com outros advogados. Você está na vantagem. — E você não vai aproveitar para fugir também? — pergunto, estranhando sua tranquilidade. Normalmente, ele some antes mesmo de mim. — Queria, mas não posso. Parece que o sorteado da vez fui eu. — Coloca a mão no peito em uma dramatização exagerada. — Agora vá antes que ele resolva aparecer e te arraste junto. — Hoje não! — exclamo, jogando a bolsa no ombro. — Theo, me faz um favor? Me av
“James Bennett” As palavras de Mia me atingem como um tapa no rosto. Passo a mão pela nuca, tentando processar a situação. Os dois me enganaram, isso é fato. Criaram um teatro inteiro para me fazer de idiota. E o pior? Funcionou. — Vocês estão levando isso como um jogo? — questiono, tentando manter a calma. — Amy está envolvida nisso também? — Digamos que… ela não teve muito sucesso com a cena patética do café — Mia responde, revirando os olhos antes de me encarar séria. — Pai, que tal pararmos com isso e conversarmos como adultos? Estou cansada dessa guerra. — Você não entende, Mia — murmuro, optando pela honestidade. — Estou tentando te proteger. — Você não quer me proteger, quer me controlar. Decidir com quem devo me envolver não é proteção, é? — Já disse, quero te proteger dele! — Aponto para Ethan, que permanece estranhamente calmo. — Ethan sempre teve casos de uma noite, contratava acompanhantes para evitar dramas, se cansava da mesma mulher semanas depois. O silêncio
“Mia Bennett” Quando a porta se fecha atrás do meu pai, o silêncio que se instala na sala é quase ensurdecedor. Permaneço imóvel por alguns segundos, como se qualquer movimento pudesse quebrar este frágil momento de… vitória? Trégua? Não tenho certeza do que acabamos de conquistar. Ethan é o primeiro a se mover, soltando um suspiro longo enquanto passa a mão pelos cabelos. — Você está bem? — pergunta, num tom preocupado. A pergunta é simples, mas o suficiente para fazer minhas pernas tremerem. Ando até o sofá e praticamente me jogo no assento, sentindo a adrenalina abandonar meu corpo. — Acho que sim — respondo, encarando a peruca loira caída no chão. — Isso foi… intenso. Ethan se senta ao meu lado, pegando minha mão entre as suas. — Você foi incrível — diz, e o orgulho em sua voz me faz olhá-lo. — Forte, determinada. Exatamente como eu sabia que seria. Tento sorrir, mas não tenho certeza se consigo. A expressão no rosto do meu pai quando me reconheceu continua gravada em