Departamento Jurídico. Décimo andar. O território de James. As portas do elevador se abrem, revelando um ambiente completamente diferente do que estou acostumada. O silêncio é quase absoluto. Homens e mulheres de terno se movem como engrenagens de uma máquina perfeitamente calibrada. Um homem de meia-idade, de óculos de aro fino, se aproxima rapidamente. — Srta. Bennett? Sou Arthur Pearson, advogado sênior. O Sr. Bennett pediu que eu a orientasse. — Ele me examina da cabeça aos pés e sua expressão deixa claro o que pensa. — Talvez queira usar roupas mais… apropriadas amanhã. Temos um código de vestimenta aqui. Sinto minhas bochechas queimarem. Estou vestindo uma blusa de seda leve e uma saia social, mas, claramente, não pertenço a este lugar. — Onde posso encontrar o Sr. Bennett? — pergunto, ignorando suas palavras. — Em sua sala. — Ele olha o relógio. — Mas sugiro que se instale em sua mesa primeiro. Posso mostrá-la? — Preciso falar com ele agora. Obrigada. Ignoro seu olhar
“Ethan Hayes” Após alguns dias longe da Nexus, de James, do estresse… achei que voltaria um pouco mais preparado. Ingenuidade minha. Claro que meu retorno tinha que ser um desastre. Cheguei quinze minutos atrasado para a reunião com os investidores britânicos e agora tento parecer completamente focado enquanto Wilson, meu vice, apresenta as projeções do último trimestre. Os britânicos me observam com aquela frieza característica, claramente julgando cada movimento. O Sr. Montgomery, em particular, parece catalogar mentalmente cada segundo do meu atraso como uma falha moral pessoal. Como se a pontualidade fosse mais importante que os 22% de crescimento que apresentamos no último ano. Típico. Após trinta minutos e um atraso significativo da minha namorada, ouço batidas na porta. Desvio o olhar, esperando que Mia traga as projeções atualizadas que pedi. Em vez disso, uma loira que nunca vi na vida entra, carregando a pasta que deveria estar nas mãos da minha assistente. — Bom di
O caminho até o departamento jurídico parece mais longo hoje. Cada pessoa que passa me olha como se eu fosse uma bomba-relógio prestes a explodir. Talvez eu seja. O drama entre o CEO e o Presidente Jurídico já se espalhou. Não me surpreenderia se tivessem feito apostas sobre quem sairá vitorioso. Olho ao redor procurando por Mia, mas nem sinal dela. Respiro fundo, viro o corredor e sigo diretamente para a sala de James. A secretária dele se levanta assim que me vê. — Sr. Hayes, o Sr. Bennett pediu para não ser incomod… — ela começa, mas gesticulo rapidamente, interrompendo-a. — Não perguntei, Srta. Hampton. Empurro a porta e entro. Sem bater. James está sentado atrás da mesa, folheando um contrato como se estivesse absolutamente alheio ao caos que plantou hoje. Quando levanta o olhar, não parece nem um pouco surpreso por me ver. — Ethan. — Ele fecha uma pasta de documentos, cruzando os dedos sobre a mesa com toda a calma do mundo. — A que devo a honra? — Vamos pular a encen
“Mia Bennett” As batidas na porta interrompem nossa conversa. Ethan me encara, talvez com as mesmas suspeitas que eu: James. Antes que possamos responder, a porta se abre, revelando Pearson, com sua expressão de permanente tédio. — Srta. Bennett, estamos esperando pelos documentos da Vertum. — Seus olhos passam de mim para Ethan, e um pequeno sorriso aparece em seus lábios finos. — Sr. Hayes, não sabia que estava no departamento. Ethan o encara e percebo sua postura mudar instantaneamente. De repente, ele não é mais meu namorado preocupado, mas sim o CEO da Nexus Group. — Arthur Pearson, certo? — Sua voz sai fria, cortante. — A Srta. Bennett estará com vocês em alguns minutos. Temos assuntos pendentes a resolver. Pearson hesita, claramente dividido entre a autoridade de Ethan e as ordens de James. — O Sr. Bennett foi bastante específico quanto à urgência… — E eu estou sendo bastante específico quanto aos próximos cinco minutos. — Ethan não eleva a voz, mas o tom não deixa esp
“Lauren Hayes” O escritório de James é exatamente como imaginei: impecável, intimidador e incrivelmente chato. Sério, nem uma planta? Até Ethan tem aquela suculenta que sobrevive por pura teimosia. — E esse tom para as cortinas? — pergunto à Vitória, que observa atentamente meu catálogo de tecidos. — Azul-petróleo é perfeito para quebrar tanta seriedade. — Ela sorri, separando outros tons complementares. A garota de cabelos cacheados e pele bronzeada se juntou a mim assim que cheguei, talvez tentando escapar do tédio que essa casa transmite. Quase formada em moda, ela tem sido uma companhia inesperadamente útil enquanto tento reorganizar o mausoléu que James Bennett chama de lar. — Concordo, sem dúvidas. — Sorrio, surpresa por estar perto de alguém que entende tanto de cores quanto eu. — Achei que seria a única a perceber que ele precisa de algo menos… monótono. — Desde que comecei meu estágio, venho tentando convencer minha mãe a sugerir uma reforma. — Ela ri, passando o
“James Bennett” A mulher à minha frente sorri de um jeito que me irrita profundamente. O mesmo sorriso de Ethan quando acha que ganhou algum argumento. Deve ser genético. — Começaremos pelo escritório? — Lauren pergunta, ainda sorrindo. — Ou talvez pelo quarto principal? — O escritório — respondo rapidamente. A ideia da irmã do meu ex-melhor amigo no meu quarto me deixa estranhamente desconfortável. Lauren é linda, não posso negar, e é justamente por isso que nunca me permiti olhar para ela de outra forma. Ela assente, anotando algo no tablet enquanto os cabelos caem levemente sobre o rosto. É irritante como parece perfeitamente à vontade, invadindo meu espaço, reorganizando meu conforto com azuis. — Você sempre foi assim? — A pergunta escapa antes que eu possa contê-la. — Assim como? — Lauren franze as sobrancelhas, me encarando com curiosidade. — Desafiadora. Teimosa. — Faço uma pausa. — Incapaz de aceitar um simples não como resposta. — Pergunte a Ethan. Costumava deixá-lo
“Mia Bennett” Uma semana. Sete dias exatos desde que deixei de ser assistente pessoal do CEO para me tornar… bem, seja lá o que for que estou fazendo no Departamento Jurídico. Aprendiz de advogada? Filha problemática sob vigilância? Provavelmente algo entre essas duas opções. — Terra para Mia. — Theo balança a mão na frente do meu rosto, me trazendo de volta à realidade do restaurante italiano onde almoçamos. — Você acabou de comer toda a sua salada sem dizer uma palavra. Isso é alarmante. — Desculpe. — Empurro o prato vazio. — Muita coisa na cabeça. — Está tudo bem? — Ele me lança um olhar que deixa claro exatamente ao que está se referindo. Ao contrário do que imaginei, Theo não mudou nem um pouco após nossa última conversa no meu apartamento. E, nesses últimos dias no Jurídico, tem sido essencial para minha adaptação. O único que não me trata como uma intrusa, minha salvação quando estou completamente perdida no departamento. Solto um suspiro baixo, desviando o olhar para
“Alguns minutos antes… Ethan Hayes”A dor de cabeça está voltando. A terceira vez hoje.Massageio as têmporas, tentando aliviar a pressão enquanto reviso os relatórios trimestrais. Já estou na quarta xícara de café e nem passa das duas da tarde. Patético.Uma semana. Uma maldita semana desde que James decidiu transferir Mia. Uma semana sem poder vê-la durante o dia, sem nossos almoços rápidos, sem ela me impedindo de tomar café demais.Uma semana com uma assistente modelo e seus sorrisos perfeitamente ensaiados. Incapaz de conversar sem se inclinar demais sobre minha mesa.Fecho os arquivos digitais e empurro a cadeira para trás, passando as mãos pelo rosto. No mesmo instante, o silêncio do meu escritório é interrompido por batidas na porta.— Sr. Hayes? — Amy abre sem esperar resposta. — Trouxe seu café.— Obrigado, mas não pedi café. — Mantenho a voz neutra, sem olhar para cima.— Pensei que poderia querer. — Ela sorri, aproximando-se da minha mesa. — O senhor sempre toma café a est