O grito do meu pai ecoa pela sala, fazendo meu corpo inteiro tremer. Seus olhos percorrem a cena mais uma vez: eu enrolada na toalha, Ethan na mesma situação que a minha… mesmo que quiséssemos, é impossível negar.— Pai… — começo, mas ele levanta a mão, me impedindo de continuar.— Não — ele me corta, sem desviar os olhos de Ethan. — Não é você que precisa explicar alguma coisa aqui.— James, não é o que você… — Ethan tenta falar, mas não termina.Meu pai se move antes que qualquer um de nós possa reagir. Dois passos e um soco atinge Ethan com força suficiente para fazê-lo cambalear para trás, batendo na parede. Sem dar tempo para ele se recuperar, meu pai parte para cima dele novamente.Meu grito surpreso fica preso na garganta enquanto assisto à cena diante de mim. Ele não para. Outro golpe. E mais um. O sangue escorre do supercílio de Ethan, pingando no chão de mármore. Ainda assim, ele não se defende, apenas permite que meu pai descarregue sua raiva.— SEU FILHO DA PUTA! — meu pa
Sinto meu sangue gelar. A ameaça, dita de forma tão fria e calculada, parece congelar o ar ao nosso redor. — Pai — minha voz sai trêmula —, não foi assim… — Não? — ele se vira para mim. A dor em seus olhos é devastadora. — Se ele não sabia quem você era, é impossível que tenha decidido agir sem… — Mil dólares — Ethan o interrompe, finalmente admitindo a verdade. — Foi o valor que deixei. O som que escapa da garganta do meu pai é quase animal. Suas mãos se fecham em punhos novamente, e instintivamente dou um passo em sua direção, temendo que ele parta para cima de Ethan outra vez. Mas, por um momento, ele não se move. O que é pior. Porque consigo ver em seus olhos algo se quebrando. A confiança, o respeito, anos de amizade… tudo reduzido a cinzas. Então, num movimento tão rápido que mal consigo acompanhar, meu pai avança e empurra Ethan contra a parede com tanta força que o quadro atrás dele treme. Ele levanta seu punho novamente, e sei que dessa vez ele não vai parar. Não até
Minhas pernas tremem tanto que preciso me apoiar na parede. Só agora percebo que estou chorando de novo.— Mia… — Ethan se aproxima, tocando meu braço.— Não. — Me afasto, limpando o rosto com raiva. — Ele tem razão.— Não tem, meu amor.— Tem, sim — insisto. — Destruímos tudo. A confiança dele, nossa relação com ele… Como vamos consertar isso?— Vamos dar tempo a ele — Ethan responde, tentando se aproximar novamente.Dessa vez, não me afasto. Deixo que seus braços me envolvam enquanto as lágrimas continuam caindo.— Tempo? — repito, sentindo o peso da situação. — Você viu o olhar dele. A decepção…— Vi — ele suspira, beijando o topo da minha cabeça. — E vou ter que conviver com isso. Com a certeza de que traí a confiança do meu melhor amigo.Fecho os olhos com força, me lembrando das palavras do meu pai. Perfeitos um para o outro. Destruindo quem confia em nós.— E se ele nunca nos perdoar? — pergunto, minha voz quase um sussurro.— Então teremos que aprender a viver com isso — Ethan
“Ethan Hayes”A noite chegou, a casa está silenciosa, mas minha mente está longe disso.Sentado na cama, passo a mão pelo rosto, sentindo a dor dos machucados. O corte no supercílio arde, meu lábio lateja, mas a dor na pele é quase bem-vinda. Distrai um pouco da outra, aquela que parece rasgar meu peito toda vez que lembro do olhar do meu melhor amigo.Ex-melhor amigo.Solto um suspiro pesado e apoio os cotovelos nos joelhos, enterrando o rosto nas mãos. Por mais que eu acredite que o que Mia e eu temos vale cada risco, não posso negar que dói saber que destruí a confiança do homem que esteve ao meu lado por anos.O que me assusta é não saber se há conserto para isso.Um gemido baixo me traz de volta à realidade. Levanto a cabeça e olho para o lado. Mia se mexe inquieta, o rosto marcado pelo cansaço e pelo inchaço das lágrimas.Foram mais de duas horas de choro até ela finalmente adormecer. Duas horas em que tudo o que pude fazer foi engolir o que sentia para não tornar tudo ainda mai
Enquanto dirijo em silêncio pelas ruas de Chicago, percebo que o olhar de Mia vagueia pela cidade sem realmente enxergar nada. Suas mãos estão entrelaçadas no colo, e os dedos inquietos denunciam sua apreensão. — Tem certeza de que quer entrar comigo? — pergunto ao ver o prédio da Nexus se aproximando. — Posso te deixar na entrada lateral. — Não — responde com uma firmeza que me surpreende. — Se vamos enfrentar isso, vamos enfrentar juntos. Desde o início. Entro na garagem do prédio, sentindo um misto de orgulho e apreensão. Desligo o carro e me viro para ela. — Lembra do que combinamos? — indago, acariciando seu joelho. — Sim. Agir normalmente. Manter a rotina — Mia responde, ajeitando a bolsa no ombro. — E ignorar qualquer possível comentário ou olhar estranho. — Amor, se seu pai… — Se meu pai aparecer, não vou insistir nem o provocar ainda mais — ela me interrompe, respirando fundo. — Não quero piorar as coisas, Ethan. — Você é incrível — digo, me aproximando para beijá-la.
Capítulo 140A notícia não me surpreende. Na verdade, eu já esperava por isso. Mas ouvir da boca de Alec, que continua me encarando como se estivesse prestes a enfrentar a Terceira Guerra Mundial, só confirma o quanto James está puto.— Sabemos que isso não é tão simples — solto um suspiro pesado.— Sei disso, Ethan. Por isso te digo que essa não é a pior parte. James está cogitando outra hipótese.— Que é…?— Vender a parte dele nas ações.— Espero que, apesar de estar cego de raiva, ele não seja estúpido a esse ponto. Seria o mesmo que assinar a falência da Nexus… e dele mesmo.— James não está pensando com clareza — Alec desliza a mão pelo rosto, pensativo. — Ele se sente traído, o que significa que muita merda pode vir por aí.— Imagino — concordo, esfregando o maxilar dolorido. — Mas ainda assim, abrir mão da Nexus é loucura.— Quando foi que algo entre vocês dois não foi? — Alec ri antes de se levantar. — Enfim, só… tente não piorar as coisas, ok? Pelo menos até a poeira baixar.
James não pega o envelope imediatamente. Apenas observa Miranda enquanto seus dedos tamborilam contra a mesa. Num movimento lento, controlado… É isso que ele está fazendo agora: se controlando. Miranda, por outro lado, não percebe nada disso. Está ocupada demais, me encarando com aquele sorriso irritante, me analisando como se já tivesse vencido. — E esses machucados, Ethan? — pergunta, irônica. — Conseguiu defendendo alguma donzela em perigo? Passo a língua pelo corte no lábio antes de um sorriso preguiçoso surgir no canto da boca. Ela está tão confiante que mal percebe seu próprio fim se aproximando. — Quer mesmo saber? — devolvo, no mesmo tom irônico. Mas antes que eu continue, o som do papel sendo puxado me cala. Desvio o olhar para James, que acabou de abrir o envelope. Sua mandíbula tensiona instantaneamente, e Miranda percebe, claro. Como a manipuladora nata que é, decide jogar mais lenha na fogueira. — Sabe, James — suspira, assumindo um tom doce. Falso. — Eu realmente
James não se move. Não fala. Apenas mantém os olhos fixos na porta, os punhos cerrados ao lado do corpo. Então, solta um suspiro longo, passa a mão pelo rosto e, sem me encarar, se senta novamente. O som da cadeira se ajustando sob seu peso é o único ruído por alguns segundos, antes que ele estenda a mão para o telefone na mesa.— Quero que garantam que Miranda Pierce deixe a Nexus nos próximos dez minutos — diz, a voz baixa, mas cortante. — Se ela passar disso, podem tirá-la à força daqui.Desliga e, sem pausa, disca outro número.— Assim que a Srta. Pierce sair, reúna a equipe jurídica na sala de reuniões.Mais um clique seco ao desligar. Ele se recosta na cadeira, tamborilando os dedos contra a mesa, como se sua paciência estivesse no limite.Sei que ele quer que eu saia. Também sei que qualquer palavra minha agora pode ser um erro.Mas não saio.— Você está fazendo a coisa certa. — Quebro o silêncio, mantendo meu tom neutro.James solta uma risada curta, sem humor, e finalmente l