James não pega o envelope imediatamente. Apenas observa Miranda enquanto seus dedos tamborilam contra a mesa. Num movimento lento, controlado… É isso que ele está fazendo agora: se controlando. Miranda, por outro lado, não percebe nada disso. Está ocupada demais, me encarando com aquele sorriso irritante, me analisando como se já tivesse vencido. — E esses machucados, Ethan? — pergunta, irônica. — Conseguiu defendendo alguma donzela em perigo? Passo a língua pelo corte no lábio antes de um sorriso preguiçoso surgir no canto da boca. Ela está tão confiante que mal percebe seu próprio fim se aproximando. — Quer mesmo saber? — devolvo, no mesmo tom irônico. Mas antes que eu continue, o som do papel sendo puxado me cala. Desvio o olhar para James, que acabou de abrir o envelope. Sua mandíbula tensiona instantaneamente, e Miranda percebe, claro. Como a manipuladora nata que é, decide jogar mais lenha na fogueira. — Sabe, James — suspira, assumindo um tom doce. Falso. — Eu realmente
James não se move. Não fala. Apenas mantém os olhos fixos na porta, os punhos cerrados ao lado do corpo. Então, solta um suspiro longo, passa a mão pelo rosto e, sem me encarar, se senta novamente. O som da cadeira se ajustando sob seu peso é o único ruído por alguns segundos, antes que ele estenda a mão para o telefone na mesa.— Quero que garantam que Miranda Pierce deixe a Nexus nos próximos dez minutos — diz, a voz baixa, mas cortante. — Se ela passar disso, podem tirá-la à força daqui.Desliga e, sem pausa, disca outro número.— Assim que a Srta. Pierce sair, reúna a equipe jurídica na sala de reuniões.Mais um clique seco ao desligar. Ele se recosta na cadeira, tamborilando os dedos contra a mesa, como se sua paciência estivesse no limite.Sei que ele quer que eu saia. Também sei que qualquer palavra minha agora pode ser um erro.Mas não saio.— Você está fazendo a coisa certa. — Quebro o silêncio, mantendo meu tom neutro.James solta uma risada curta, sem humor, e finalmente l
“Mia Bennett”Minhas unhas deslizam pela borda do bloco de anotações, rabiscando formas sem sentido enquanto meus olhos permanecem fixos no relógio digital no canto do computador.Os segundos parecem se arrastar, ou talvez seja apenas minha ansiedade tornando cada um deles insuportável.Meu pai e Ethan estão sozinhos em uma sala, depois de tudo o que aconteceu ontem… Nenhuma possibilidade me parece boa. Especialmente após os cochichos que ouvi há pouco.Discussão acalorada na sala do Sr. Bennett. Seguranças sendo chamados.Cruzo as pernas e descruzo logo em seguida, incapaz de me manter parada. Cada minuto que passa só aumenta a sensação de que algo está errado.Então, finalmente, o som do elevador chama minha atenção.Ethan.Ele sai do elevador com passos firmes, a expressão fechada e os ombros tensos. Seu maxilar está travado, e os hematomas em seu rosto parecem ainda mais evidentes sob a luz fria do escritório.Mas não é isso que me faz prender a respiração. É a maneira como seus o
Já faz três dias que os corredores da Nexus se tornaram um campo minado para mim.Como agora, enquanto caminho ao lado de Ethan após uma reunião externa, e sinto os olhares nos seguindo. Os sussurros nunca vêm diretamente, mas estão por toda parte — e incomodam mais do que deveriam.No início, achei que fosse coisa da minha cabeça. Reflexo de todo o caos que virou minha vida do avesso. Mas agora, depois de dias sentindo o peso desses olhares, sei que não é paranoia.— Está tudo bem? — Ethan pergunta, baixo, quando paramos ao lado da minha mesa.— Sim — respondo, sem muita convicção.Ele ergue uma sobrancelha, como se soubesse que estou mentindo, mas não insiste. Apenas sussurra um “eu te amo” antes de seguir para sua sala.E, no momento em que a porta se fecha, os sussurros voltam.“… não bastasse usar a influência do pai para…”“… mas eu não julgo, porque também aproveitaria daquele belo…”“… há meses! E ninguém percebeu que eles…”“... sim, disseram que ela está grávida de gêmeos e…
Por um momento, apenas encaro Ethan, tentando processar suas palavras. A ideia dele se afastando, mesmo que temporariamente, faz meu peito apertar. Mordo o lábio, sentindo as lágrimas voltarem. Primeiro os rumores, agora isso. É como se tudo estivesse desmoronando ao mesmo tempo. — Eu… não consigo ficar aqui sem você — as palavras escapam antes que eu possa contê-las. — Você não vai ficar sem mim, perdição — diz, acariciando meus dedos. — Ethan… isso não é exatamente o que meu pai quer? — pergunto, tentando manter a voz firme apesar do nó na garganta. Ele solta um suspiro pesado antes de se sentar ao meu lado no sofá. Com um movimento suave, me puxa para o seu colo e começa a acariciar meus cabelos. — Não estou fazendo isso por ele — murmura contra minha têmpora. — Estou fazendo porque precisamos. Precisamos dar um tempo para nós três. Não podemos continuar fingindo que está tudo bem quando claramente não está. Você não está bem. Eu não estou bem. Abaixo o olhar, assentindo dev
“Ethan Hayes”Antes que eu tenha tempo de reagir, Mia a chama, atraindo a atenção da minha irmã.Lauren abre um sorriso imediatamente, se aproximando enquanto me analisa de cima a baixo antes de balançar a cabeça.— Oh, meu Deus! — exclama, arregalando os olhos dramaticamente. — James realmente acabou com seu lindo rostinho.Reviro os olhos, já esperando esse comentário, mas antes que eu possa responder, Mia se adianta e abraça minha irmã.— Como foi a viagem? — pergunta assim que se soltam.— Cansativa e irritante. Mas os jantares e os pagamentos compensaram o estresse daquela decoração — Lauren responde, estreitando os olhos para mim. — Por falar em jantar… vocês pretendem ficar aqui, no meio do estacionamento?Solto um suspiro e Mia sorri.— Claro que não, vamos subir — ela responde, entrelaçando nossos dedos.Quando nos aproximamos dos elevadores, Mia aperta minha mão antes de parar.— Só preciso passar no meu apartamento para trocar de roupa — informa, soltando minha mão. — Encon
“Mia Bennett” Observo Ethan negar educadamente a bebida oferecida pela aeromoça pela terceira vez, desde que embarcamos. Seu maxilar está tenso, os dedos tamborilando discretamente no braço da poltrona. Fecho meu livro e apoio a cabeça em seu ombro, entrelaçando nossos dedos. — Você está tenso — murmuro, sentindo-o relaxar um pouco com o toque. — É tão óbvio assim? — Só para quem te conhece bem — respondo, sorrindo. — Especialmente após esses dois dias tão… leves. É impossível negar o quanto foi libertador passar dois dias em Nova York, longe dos olhares, dos comentários maldosos pelos corredores da Nexus e do incômodo do desprezo do meu pai… Dois dias sendo apenas nós. — Foram perfeitos — ele diz baixo, beijando minha testa. — Mas agora… — Agora você vai ver sua mãe, e ela ficará feliz… — interrompo suavemente. — O resto pode esperar. Um dia de cada vez. — Como você consegue ser tão otimista? — Você me ensinou a ser assim — respondo, encarando-o séria. — A confiar em você
“Ethan Hayes” A casa continua exatamente como me lembro. As mesmas cores, as mesmas plantas, os mesmos quadros nas paredes — cada um retratando um dos projetos mais importantes do legado Hayes. Mais de trinta anos de trabalho da minha família expostos como um museu particular de sucessos. Lauren entra primeiro, anunciando nossa chegada em voz alta. Mia aperta minha mão quando hesito na porta, e é tudo que preciso para dar o primeiro passo. — Ethan? A voz da minha mãe ecoa pela sala, tremida e incerta. Segundos depois, ela aparece no corredor. Seus cabelos estão um pouco mais curtos do que me lembro, mas seus olhos… são os mesmos que me observaram crescer. — Oi, mãe — digo baixo, sentindo um nó se formar em minha garganta. Ela não responde. Em vez disso, atravessa a distância entre nós em passos rápidos e me abraça. O perfume dela, o mesmo de sempre, me atinge como uma onda de memórias que permaneceram esquecidas por tanto tempo. — Meu menino — murmura contra meu peito, e perce