Enquanto dirijo em silêncio pelas ruas de Chicago, percebo que o olhar de Mia vagueia pela cidade sem realmente enxergar nada. Suas mãos estão entrelaçadas no colo, e os dedos inquietos denunciam sua apreensão. — Tem certeza de que quer entrar comigo? — pergunto ao ver o prédio da Nexus se aproximando. — Posso te deixar na entrada lateral. — Não — responde com uma firmeza que me surpreende. — Se vamos enfrentar isso, vamos enfrentar juntos. Desde o início. Entro na garagem do prédio, sentindo um misto de orgulho e apreensão. Desligo o carro e me viro para ela. — Lembra do que combinamos? — indago, acariciando seu joelho. — Sim. Agir normalmente. Manter a rotina — Mia responde, ajeitando a bolsa no ombro. — E ignorar qualquer possível comentário ou olhar estranho. — Amor, se seu pai… — Se meu pai aparecer, não vou insistir nem o provocar ainda mais — ela me interrompe, respirando fundo. — Não quero piorar as coisas, Ethan. — Você é incrível — digo, me aproximando para beijá-la.
Capítulo 140A notícia não me surpreende. Na verdade, eu já esperava por isso. Mas ouvir da boca de Alec, que continua me encarando como se estivesse prestes a enfrentar a Terceira Guerra Mundial, só confirma o quanto James está puto.— Sabemos que isso não é tão simples — solto um suspiro pesado.— Sei disso, Ethan. Por isso te digo que essa não é a pior parte. James está cogitando outra hipótese.— Que é…?— Vender a parte dele nas ações.— Espero que, apesar de estar cego de raiva, ele não seja estúpido a esse ponto. Seria o mesmo que assinar a falência da Nexus… e dele mesmo.— James não está pensando com clareza — Alec desliza a mão pelo rosto, pensativo. — Ele se sente traído, o que significa que muita merda pode vir por aí.— Imagino — concordo, esfregando o maxilar dolorido. — Mas ainda assim, abrir mão da Nexus é loucura.— Quando foi que algo entre vocês dois não foi? — Alec ri antes de se levantar. — Enfim, só… tente não piorar as coisas, ok? Pelo menos até a poeira baixar.
James não pega o envelope imediatamente. Apenas observa Miranda enquanto seus dedos tamborilam contra a mesa. Num movimento lento, controlado… É isso que ele está fazendo agora: se controlando. Miranda, por outro lado, não percebe nada disso. Está ocupada demais, me encarando com aquele sorriso irritante, me analisando como se já tivesse vencido. — E esses machucados, Ethan? — pergunta, irônica. — Conseguiu defendendo alguma donzela em perigo? Passo a língua pelo corte no lábio antes de um sorriso preguiçoso surgir no canto da boca. Ela está tão confiante que mal percebe seu próprio fim se aproximando. — Quer mesmo saber? — devolvo, no mesmo tom irônico. Mas antes que eu continue, o som do papel sendo puxado me cala. Desvio o olhar para James, que acabou de abrir o envelope. Sua mandíbula tensiona instantaneamente, e Miranda percebe, claro. Como a manipuladora nata que é, decide jogar mais lenha na fogueira. — Sabe, James — suspira, assumindo um tom doce. Falso. — Eu realmente
James não se move. Não fala. Apenas mantém os olhos fixos na porta, os punhos cerrados ao lado do corpo. Então, solta um suspiro longo, passa a mão pelo rosto e, sem me encarar, se senta novamente. O som da cadeira se ajustando sob seu peso é o único ruído por alguns segundos, antes que ele estenda a mão para o telefone na mesa.— Quero que garantam que Miranda Pierce deixe a Nexus nos próximos dez minutos — diz, a voz baixa, mas cortante. — Se ela passar disso, podem tirá-la à força daqui.Desliga e, sem pausa, disca outro número.— Assim que a Srta. Pierce sair, reúna a equipe jurídica na sala de reuniões.Mais um clique seco ao desligar. Ele se recosta na cadeira, tamborilando os dedos contra a mesa, como se sua paciência estivesse no limite.Sei que ele quer que eu saia. Também sei que qualquer palavra minha agora pode ser um erro.Mas não saio.— Você está fazendo a coisa certa. — Quebro o silêncio, mantendo meu tom neutro.James solta uma risada curta, sem humor, e finalmente l
“Mia Bennett”Minhas unhas deslizam pela borda do bloco de anotações, rabiscando formas sem sentido enquanto meus olhos permanecem fixos no relógio digital no canto do computador.Os segundos parecem se arrastar, ou talvez seja apenas minha ansiedade tornando cada um deles insuportável.Meu pai e Ethan estão sozinhos em uma sala, depois de tudo o que aconteceu ontem… Nenhuma possibilidade me parece boa. Especialmente após os cochichos que ouvi há pouco.Discussão acalorada na sala do Sr. Bennett. Seguranças sendo chamados.Cruzo as pernas e descruzo logo em seguida, incapaz de me manter parada. Cada minuto que passa só aumenta a sensação de que algo está errado.Então, finalmente, o som do elevador chama minha atenção.Ethan.Ele sai do elevador com passos firmes, a expressão fechada e os ombros tensos. Seu maxilar está travado, e os hematomas em seu rosto parecem ainda mais evidentes sob a luz fria do escritório.Mas não é isso que me faz prender a respiração. É a maneira como seus o
Já faz três dias que os corredores da Nexus se tornaram um campo minado para mim.Como agora, enquanto caminho ao lado de Ethan após uma reunião externa, e sinto os olhares nos seguindo. Os sussurros nunca vêm diretamente, mas estão por toda parte — e incomodam mais do que deveriam.No início, achei que fosse coisa da minha cabeça. Reflexo de todo o caos que virou minha vida do avesso. Mas agora, depois de dias sentindo o peso desses olhares, sei que não é paranoia.— Está tudo bem? — Ethan pergunta, baixo, quando paramos ao lado da minha mesa.— Sim — respondo, sem muita convicção.Ele ergue uma sobrancelha, como se soubesse que estou mentindo, mas não insiste. Apenas sussurra um “eu te amo” antes de seguir para sua sala.E, no momento em que a porta se fecha, os sussurros voltam.“… não bastasse usar a influência do pai para…”“… mas eu não julgo, porque também aproveitaria daquele belo…”“… há meses! E ninguém percebeu que eles…”“... sim, disseram que ela está grávida de gêmeos e…
Pang! Um estrondo seco ecoa pela casa, seguido pelo som inconfundível de vidro se estilhaçando. Meu corpo se encolhe instintivamente debaixo das cobertas. Não preciso olhar para o relógio ou descer as escadas para saber o que está acontecendo. Eu sei. David, meu padrasto, está bêbado de novo. — Sarah, meu amor! Você não podia ter me abandonado! — ouço-o gritar lá embaixo, seguido pelo som de mais alguma coisa se estilhaçando. Fecho os olhos e respiro fundo, tentando controlar as lágrimas que ameaçam cair. Mas é inútil. Desde que minha mãe faleceu, os dias têm sido assim. A dor já era suficiente, mas a reação de David só torna tudo ainda pior. Exatamente como tem sido nas últimas semanas, os passos cambaleantes no corredor me fazem congelar. Logo, o som de seu punho batendo contra a porta ecoa pelo quarto. — Ela está morta por sua causa! — ele grita, seguido por mais um soco contra a porta. — Você matou sua mãe! — Outro soco. — Se você não fosse tão desobediente, Sarah estaria vi
Três semanas se passaram desde aquela noite. Não me lembro de muita coisa após o toque da campainha. Apenas dos vizinhos, do falatório ao meu redor, das sirenes… Quando realmente despertei, após algumas horas ou dias, já estava no hospital. Sobrevivi, mas com cicatrizes que não aparecem apenas no espelho. Tive alta antes de David. Voltei para casa, tentando acreditar que ele pagaria pelo que me fez. Mas não foi o que aconteceu. Ele voltou duas semanas depois, como se nada tivesse acontecido, como se não tivesse quase tirado minha vida. Naquela mesma noite, o som de uma garrafa sendo aberta me trouxe de volta à realidade. David e álcool nunca foram uma boa combinação. Não esperei para ver o que aconteceria novamente. Peguei o pouco que tinha, uma mochila e minha coragem, e saí pela porta sem olhar para trás. A única pessoa que pode me ajudar agora é alguém que eu mal conhecia: James Bennett, meu pai biológico. Um homem que mal conheço, mas que parece ser minha última chance de rec