— Virgílio... — Lee engoliu em seco. — Por que… nunca me contou isso antes?
— Por que você não perguntou...?...
— Aish! — Reclamou, irritado. — Mas que porra, eu tenho que perguntar tudo...?!?... — Mordeu os lábios. O whisky finalmente lhe subindo à cabeça, a ficha de que Virgílio era um vampiro finalmente caindo, com o peso de uma bigorna. Em um breve momento que pra ele durou horas ele olhou pra Virgílio e teve vontade de chorar. Era como se ele estivesse… se sentindo traído. Por que não soube antes que seu melhor amigo era um vampiro, que tinha sofrido tanto, que tinha vivido tanto? Por quê? Por que de um momento pro outro Virgílio não era mais seu calouro, ingênuo e bri
Já era segunda à tarde quando Lee pôs a bagagem de Victor no porta malas e voltou para o banco do motorista, dando uma espiadela em Victor pelo retrovisor. Ele estava com o paletó solto sobre os ombros, abraçado à perna dobrada sem se importar com o sapato em cima do banco e com a testa no joelho. Parecia cansado e sem querer olhar pra janela de um jeito que Lee nunca vira antes.Assim que chegaram na garagem da mansão, Victor saiu do carro por conta, batendo a porta atrás de si e tirando os sapatos e meias ali mesmo antes de entrar em casa. Lee suspirou, recolhendo os sapatos e entrando na casa depois dele; olhou-o de esguelha, os cabelos castanhos muito lisos, como que recém penteados, em nada combinando com os olhos cansados, os lábios levemente puxados para baixo, os ombros largos des
— Mh... — Lee suspirou nos lábios alheios, se sentindo cada vez mais derrotado e entregue. Ficou pensando se Victor sempre beijava assim, com tanto calor, com tanta intensidade, com tanto desejo que parecia exclusivo e direcionado para a boca que estava beijando. “Viciado em sexo”... estava mais para especialista.Victor subiu as mãos pelo abdômen do garoto, no intuito de tirar-lhe a camisa branca, já um pouco translúcida pela quantidade de suor. Separou o beijo, deixando Lee erguer os cotovelos para o ajudar a descer as mangas pelos ombros, e então enxergou claramente ali, do lado esquerdo, um risco vermelho, entre a clavícula e o peito.— Onde se machucou? — Franziu o cenho, passando a ponta do dedo pela textura do coágulo recente
Lee piscava os olhos, letárgico, já se sentindo meio tonto na metade do segundo copo de whisky. Virgílio ria dele, achando divertido.— Caralho, como você é fraco.— E você é um saco furado. — Soluçou. — Igualzinho o Victor. O que é que vocês têm no estômago? Um buraco negro?— Seria legal se fosse, mas, não. — Falou, esvaziando seu copo pela quinta vez. — Com o tempo o álcool para de fazer efeito; mas continua gostoso.— Hm... — Murmurou, esticando o corpo na cama e agarrando um travesseiro, segurando o copo redondo o mais firme que conseguia naquele estado.
— Ele sente seu cheiro, não sente?— Ele diz que sente...— Pois é. — Moveu as sobrancelhas. — É quase impossível se conter quando se está com sede e próximo de alguém cujo cheiro você sente. Tipo, te deixa pirado mesmo, e ele ficou meses nessa situação sem te implorar uma gota. — Olhou para a parede vermelha atrás de Lee, como que fazendo esforço para imaginar como seria. — Eu suspeitei, mas eu ainda custo a acreditar.— A acreditar... que ele demorou a me morder?— Que ele demorou a te morder e todo o resto. — Soltou o ar e deitou as costas na cama. — Victor sem
— Enquanto algo lhe distraia da sua sede por sangue, ele paga. — Virgílio suspirou. — Paga o preço póstumo que for.— Mas ele... Ainda assim tem um limite.— Ah, tem... Pras duas opções, ambas são soluções com prazo de validade, Lee; talvez haja quem consiga viver bem com apenas uma sessão de terapia ou com uma droga cujo efeito a conforte até o final da vida, mas nós... — Virgílio olhou para a parede atrás do amigo mais uma vez, seu olhar perdido. — Nós vivemos demais, e temos que reaprender a lidar ou a viciar de tempos em tempos.— Eu não entendo... — Lee murmurou depois de uns breves minutos em que fica
Lee acordou ainda se sentindo meio bêbado, já que acabou esvaziando a garrafa de vinho com Victor aquela noite, enquanto lhe perguntava sobre os rubis e onde os tinha conseguido enquanto ele fugia das suas perguntas.No fim das contas ele só estava bem bêbado mesmo, e com muito sono, então voltou pro seu quarto e foi dormir, apesar da insistência de Victor para que dormisse com ele. Pôde dormir na mesma cama que Virgílio sem maiores consequências, já com Victor ele duvidava muito.“Transando com meu patrão...”, pensava consigo, enquanto torrava os grãos de café, na cozinha. “A que ponto chegamos, não é mesmo?”, se repreendia por dentro, mas no fundo o problema de estar fazendo sexo com o cara que est
Victor estava nervoso, seu coração palpitando, as inseguranças de Lee se misturando às suas naquele sangue que corria infectado e sem rumo por tudo. Depois de tantos anos quieto, tentando sofrer o mínimo, e então de repente aquele rompante, como sangue explodindo numa gota através de um machucado pequeno; depois de tanto tempo e ele cedendo aos desejos daquele jovem que ele nunca deixou de ser. Aquele jovem que deveria ter morrido, mas que saiu se arrastando num rastro de sangue, agarrado com unhas e dentes à vida. Pôs a mão abaixo do peito, na boca do estômago. Era ali, ele podia sentir... Um dragão longo e vermelho cuspindo fogo, querendo liberdade, querendo sair, e ele prestes a ceder.Balançou a cabeça em negativa. Era o sangue, aquele sangue com o qual se identificava tanto, aquele sangu
Detestava admitir, mas Virgílio tinha um ponto. Por mais que ele evitasse… Cada mordomo, cada caso de uma noite, cada boa conversa, todos eles, todas essas pessoas, um dia elas se foram, o deixando lá, olhando para seus nomes nas lápides, se perguntando quando, quando ele poderia ir junto com elas?Sempre doía, por mais volátil e distante que ele tenha se esforçado pra ser, sempre doía olhar para aqueles nomes gravados nas pedras e pensar quão bom teria sido... quão bom teria sido poder ser amigo delas.Mas maldição, ele não podia! Não podia porque era um maldito vampiro, então que diabos ele estava fazendo com Lee? Lee era só mais um que ia embora logo, o deixando lá sozinho, como todos os outros, por que ent&