Victor estava nervoso, seu coração palpitando, as inseguranças de Lee se misturando às suas naquele sangue que corria infectado e sem rumo por tudo. Depois de tantos anos quieto, tentando sofrer o mínimo, e então de repente aquele rompante, como sangue explodindo numa gota através de um machucado pequeno; depois de tanto tempo e ele cedendo aos desejos daquele jovem que ele nunca deixou de ser. Aquele jovem que deveria ter morrido, mas que saiu se arrastando num rastro de sangue, agarrado com unhas e dentes à vida. Pôs a mão abaixo do peito, na boca do estômago. Era ali, ele podia sentir... Um dragão longo e vermelho cuspindo fogo, querendo liberdade, querendo sair, e ele prestes a ceder.
Balançou a cabeça em negativa. Era o sangue, aquele sangue com o qual se identificava tanto, aquele sangu
Detestava admitir, mas Virgílio tinha um ponto. Por mais que ele evitasse… Cada mordomo, cada caso de uma noite, cada boa conversa, todos eles, todas essas pessoas, um dia elas se foram, o deixando lá, olhando para seus nomes nas lápides, se perguntando quando, quando ele poderia ir junto com elas?Sempre doía, por mais volátil e distante que ele tenha se esforçado pra ser, sempre doía olhar para aqueles nomes gravados nas pedras e pensar quão bom teria sido... quão bom teria sido poder ser amigo delas.Mas maldição, ele não podia! Não podia porque era um maldito vampiro, então que diabos ele estava fazendo com Lee? Lee era só mais um que ia embora logo, o deixando lá sozinho, como todos os outros, por que ent&
Quando acordou no sábado já era tarde; uma da tarde, como lhe respondeu Virgílio quando perguntou, levantando o tronco e coçando os olhos. Ficou um tempo olhando em volta, por alguns segundos esquecido de onde estava, então viu a cabeça de crocodilo mais adiante, e se lembrou.— Conversamos muito ontem. — Virgílio comentou, em tom alegre. — Como quando você morou lá em casa.Lee sorriu também. De fato, quando sua mãe lhe disse que não viveria abaixo do mesmo teto que ele, e então Virgílio lhe respondeu ao telefone que não se importava de compartilhar o teto com um amigo, eles ficaram conversa até tarde aquela primeira noite, Lee chorando muito, e Virgílio sendo o amigo excelente que sempr
Como um bom licor envelhecido, um bom licor de cerejas. Apertou Lee nos braços novamente, afundando o rosto na curva do seu pescoço e inalando ali, sentindo-o por completo; nos seus braços, no seu peito, no seu paladar, no seu olfato; dentro de si, no seu coração, nas suas veias, passando pela sua medula e o estimulando a produzir o próprio sangue mais uma vez.— Am... — Ah, sim!... e ouvindo-o gemer. Lee tinha gemidos tão gostosos, ficava se lembrando deles várias vezes.Subiu uma das mãos pelas suas costas até a nuca, adentrando os cabelos. Lee era uma explosão de tantas coisas; por trás daquela casca de um bom garoto sem sonhos, vermelha escura e singela, uma polpa carnuda rosa violáceo cheia de suco de um doce forte,
— Ah! — Victor gemeu de dor.— Tem como você ficar quieto? — O homem continuava puxando a linha, juntando a carne ali, onde sua barriga estava aberta.— Dói... — E doía mesmo, mas era uma dor... diferente? Como se seu corpo lhe avisasse que algo não ia bem mas sem querer o deixar realmente preocupado com aquilo.— Quase te cortaram ao meio, amigo. — Cortou a linha, tendo terminado mais um nó. — Claro que dói.Victor suspirou, olhando em volta. O quarto do médico era muito cheio de coisas que ele não conseguia identificar o que eram, mas era bem arrumado e limpo.
Lee gostou daquilo. Depois de uns minutos algumas pessoas entraram na sala e Jung mandou logo calarem a boca e não atrapalharem, mas ficaram todos olhando, e vez ou outra soltando umas exclamações positivas, já que ele fazia tudo o que Jung mandava e praticamente não precisava repetir os takes.— A roupa dele é cinza... Ficaria legal num fundo cinza. — Alguém comentou. Jung concordou de parar tudo para trocar o fundo branco por um cinza, e então tiraram mais fotos. No final o editor chefe entrou na sala para se informar da comoção, e acabou que Lee saiu de lá umas quatro horas depois, com um contrato pra assinar nas mãos.— Uah... — Murmurou pra si mesmo no carro. Mal estava acreditando. Modelo… quando aquilo
Lee sentiu a cama afundar do seu lado.— Vi - Vic?... — Não estava dormindo, mesmo assim não notou quando o vampiro entrou no seu quarto.— Só... — Passou o braço pela sua cintura. — ...deixa eu dormir aqui com você...— Hm...Sentia a respiração tranquila batendo atrás da sua orelha. Se perguntava se Victor só podia sentir seu cheiro estando perto assim, ou se também podia sentir o cheiro de rosas que perfumou todo seu quarto.— Escuta... Esquece isso... Eu... — Victor falava, o levando embora do escritório pela mão
— Ele é maravilhoso, não é? — Virgílio comentou, vendo Santi fazendo malabarismo com três garrafas de champanhe atrás do balcão.— É sim. — Lee confirmou. De fato, lindo daquele jeito, usando só uma blusa vermelha de gola alta, os cabelos negros de lado, um sorriso pronto nos lábios grossos, as mãos grandes jogando as garrafas de champanhe como se fossem pinos de boliche, é... Se não estivessem só os três na boate clube de Virgílio ele estaria levando a platéia ao delírio. — Mas você está fugindo do assunto.— Que assunto? — Não desviou os olhos de Santino. Lee riu. Era engraçado ver justo Virgílio hipnotizado daquele jeito.&
Podia ouvir os dois vampiros jogando dardos atrás de si, mas era como se não estivesse ouvindo. Santino acabara de tirar suas peles e aparar suas cascas. Santino dissecou-o e cortou-o em mil pedaços, os temperou e cozinhou, e então os serviu para ele mesmo. Não era pelos outros, mas por ele mesmo. Mesmo assim, por mais que ver a si mesmo naquele formato novo tenha parecido estranho num primeiro momento, pensando bem se achou bonito através daquela perspectiva, e estava muito disposto a experimentar.Tomava o champanhe em doses homeopáticas, olhando para algum ponto da parede verde atrás do balcão, só então notando a textura de lagartixas verdes, cada uma como que rastejando para um lado.Por alguma razão, Jung lhe veio à cabeç