— Ele sente seu cheiro, não sente?
— Ele diz que sente...
— Pois é. — Moveu as sobrancelhas. — É quase impossível se conter quando se está com sede e próximo de alguém cujo cheiro você sente. Tipo, te deixa pirado mesmo, e ele ficou meses nessa situação sem te implorar uma gota. — Olhou para a parede vermelha atrás de Lee, como que fazendo esforço para imaginar como seria. — Eu suspeitei, mas eu ainda custo a acreditar.
— A acreditar... que ele demorou a me morder?
— Que ele demorou a te morder e todo o resto. — Soltou o ar e deitou as costas na cama. — Victor sem
— Enquanto algo lhe distraia da sua sede por sangue, ele paga. — Virgílio suspirou. — Paga o preço póstumo que for.— Mas ele... Ainda assim tem um limite.— Ah, tem... Pras duas opções, ambas são soluções com prazo de validade, Lee; talvez haja quem consiga viver bem com apenas uma sessão de terapia ou com uma droga cujo efeito a conforte até o final da vida, mas nós... — Virgílio olhou para a parede atrás do amigo mais uma vez, seu olhar perdido. — Nós vivemos demais, e temos que reaprender a lidar ou a viciar de tempos em tempos.— Eu não entendo... — Lee murmurou depois de uns breves minutos em que fica
Lee acordou ainda se sentindo meio bêbado, já que acabou esvaziando a garrafa de vinho com Victor aquela noite, enquanto lhe perguntava sobre os rubis e onde os tinha conseguido enquanto ele fugia das suas perguntas.No fim das contas ele só estava bem bêbado mesmo, e com muito sono, então voltou pro seu quarto e foi dormir, apesar da insistência de Victor para que dormisse com ele. Pôde dormir na mesma cama que Virgílio sem maiores consequências, já com Victor ele duvidava muito.“Transando com meu patrão...”, pensava consigo, enquanto torrava os grãos de café, na cozinha. “A que ponto chegamos, não é mesmo?”, se repreendia por dentro, mas no fundo o problema de estar fazendo sexo com o cara que est
Victor estava nervoso, seu coração palpitando, as inseguranças de Lee se misturando às suas naquele sangue que corria infectado e sem rumo por tudo. Depois de tantos anos quieto, tentando sofrer o mínimo, e então de repente aquele rompante, como sangue explodindo numa gota através de um machucado pequeno; depois de tanto tempo e ele cedendo aos desejos daquele jovem que ele nunca deixou de ser. Aquele jovem que deveria ter morrido, mas que saiu se arrastando num rastro de sangue, agarrado com unhas e dentes à vida. Pôs a mão abaixo do peito, na boca do estômago. Era ali, ele podia sentir... Um dragão longo e vermelho cuspindo fogo, querendo liberdade, querendo sair, e ele prestes a ceder.Balançou a cabeça em negativa. Era o sangue, aquele sangue com o qual se identificava tanto, aquele sangu
Detestava admitir, mas Virgílio tinha um ponto. Por mais que ele evitasse… Cada mordomo, cada caso de uma noite, cada boa conversa, todos eles, todas essas pessoas, um dia elas se foram, o deixando lá, olhando para seus nomes nas lápides, se perguntando quando, quando ele poderia ir junto com elas?Sempre doía, por mais volátil e distante que ele tenha se esforçado pra ser, sempre doía olhar para aqueles nomes gravados nas pedras e pensar quão bom teria sido... quão bom teria sido poder ser amigo delas.Mas maldição, ele não podia! Não podia porque era um maldito vampiro, então que diabos ele estava fazendo com Lee? Lee era só mais um que ia embora logo, o deixando lá sozinho, como todos os outros, por que ent&
Quando acordou no sábado já era tarde; uma da tarde, como lhe respondeu Virgílio quando perguntou, levantando o tronco e coçando os olhos. Ficou um tempo olhando em volta, por alguns segundos esquecido de onde estava, então viu a cabeça de crocodilo mais adiante, e se lembrou.— Conversamos muito ontem. — Virgílio comentou, em tom alegre. — Como quando você morou lá em casa.Lee sorriu também. De fato, quando sua mãe lhe disse que não viveria abaixo do mesmo teto que ele, e então Virgílio lhe respondeu ao telefone que não se importava de compartilhar o teto com um amigo, eles ficaram conversa até tarde aquela primeira noite, Lee chorando muito, e Virgílio sendo o amigo excelente que sempr
Como um bom licor envelhecido, um bom licor de cerejas. Apertou Lee nos braços novamente, afundando o rosto na curva do seu pescoço e inalando ali, sentindo-o por completo; nos seus braços, no seu peito, no seu paladar, no seu olfato; dentro de si, no seu coração, nas suas veias, passando pela sua medula e o estimulando a produzir o próprio sangue mais uma vez.— Am... — Ah, sim!... e ouvindo-o gemer. Lee tinha gemidos tão gostosos, ficava se lembrando deles várias vezes.Subiu uma das mãos pelas suas costas até a nuca, adentrando os cabelos. Lee era uma explosão de tantas coisas; por trás daquela casca de um bom garoto sem sonhos, vermelha escura e singela, uma polpa carnuda rosa violáceo cheia de suco de um doce forte,
— Ah! — Victor gemeu de dor.— Tem como você ficar quieto? — O homem continuava puxando a linha, juntando a carne ali, onde sua barriga estava aberta.— Dói... — E doía mesmo, mas era uma dor... diferente? Como se seu corpo lhe avisasse que algo não ia bem mas sem querer o deixar realmente preocupado com aquilo.— Quase te cortaram ao meio, amigo. — Cortou a linha, tendo terminado mais um nó. — Claro que dói.Victor suspirou, olhando em volta. O quarto do médico era muito cheio de coisas que ele não conseguia identificar o que eram, mas era bem arrumado e limpo.
Lee gostou daquilo. Depois de uns minutos algumas pessoas entraram na sala e Jung mandou logo calarem a boca e não atrapalharem, mas ficaram todos olhando, e vez ou outra soltando umas exclamações positivas, já que ele fazia tudo o que Jung mandava e praticamente não precisava repetir os takes.— A roupa dele é cinza... Ficaria legal num fundo cinza. — Alguém comentou. Jung concordou de parar tudo para trocar o fundo branco por um cinza, e então tiraram mais fotos. No final o editor chefe entrou na sala para se informar da comoção, e acabou que Lee saiu de lá umas quatro horas depois, com um contrato pra assinar nas mãos.— Uah... — Murmurou pra si mesmo no carro. Mal estava acreditando. Modelo… quando aquilo