A manhã seguinte chegou como um lembrete brutal das escolhas que fiz e das consequências que agora enfrentava. Passei a noite em claro, andando de um lado para o outro na recepção do hotel, revivendo cada palavra dita para Cíntia. Eu sabia que tinha feito o certo ao contar a verdade, mas a maneira como ela me olhou… doía. A mágoa em seus olhos estava gravada na minha mente, me deixando inquieto. Não importava que fosse algo irrelevante pra mim, tampouco que eu estivesse livre de qualquer sentimento por Júlia. O fato de ela ter entrado em nossas vidas, era suficiente para destruir qualquer tentativa de algo entre mim e Cíntia. O hotel ainda continuava sem vagas, o que tornava tudo mais embaraçoso, pois eu tinha que esperar a Cintia sair do quarto para poder tomar banho e não receber seus olhares cortantes em minha direção. Subo para tomar um banho, imaginando que a Cintia já tenha se arrumado e saído do quarto, mas encontro ela vestindo um roupão e se maquiando. - Desculpe, pense
Acordei com a luz fraca da manhã atravessando as cortinas. A primeira coisa que senti foi a maciez do colchão e um cheiro doce, familiar. Abri os olhos devagar e percebi o corpo de Cíntia aninhado ao meu. Estávamos quase enroscados um no outro. Ela estava vestindo um roupão, o que me fez pensar que provavelmente havia acordado no meio da madrugada e tomado um banho, enquanto eu já dormia. Sua perna estava entrelaçada ao meu corpo, e sua mão descansava em meu peito, tão leve quanto a respiração calma que eu podia sentir contra minha pele. Fiquei imóvel por alguns segundos, sem saber o que fazer. Meu coração começou a bater mais rápido, como se ela pudesse sentir cada batida através da proximidade. Antes que eu tomasse qualquer atitude, senti um movimento leve, e seus olhos se abriram lentamente. Por um instante, ela me encarou, como se ainda estivesse tentando se situar. Sua expressão oscilava entre surpresa e constrangimento, enquanto o silêncio preenchia o quarto. — Bom dia… — m
Nós nos enrolamos em roupões secos e voltamos para o quarto, o som suave de nossos passos ecoando pelo piso. A água ainda escorria de nossos cabelos, mas o calor do quarto ajudava a dissipar o frio que vinha de dentro e de fora de mim. Henrique parecia calmo, mas eu sabia que por trás daquela expressão controlada havia pensamentos que ele também tentava esconder. Eu sentei na beira da cama, puxando o roupão ao redor do corpo como se fosse um escudo contra as emoções que me dominavam. Não era só o desconforto do que tinha acontecido, mas o que eu sabia que estava por vir. Estava cansada de lutar contra os meus sentimentos, cansada de me manter distante de tudo o que sentia por ele. Havia tanto tempo que eu me negava a sentir qualquer coisa por alguém que agora tudo parecia vir à tona de uma vez. Eu olhei para Henrique, que se apoiava na moldura da janela, as mãos cruzadas na frente do corpo, olhando para o lado de fora. Ele estava tentando me dar espaço, mas sabia que eu não podia
Depois de nos vestirmos, descemos juntos para o restaurante do hotel. O buffet era tentador, com panquecas, frutas frescas, ovos mexidos e café quentinho. Preparamos nossos pratos e caminhamos até a mesa onde nossos amigos já estavam.O som de risadas e conversas animadas enchia o ambiente, e era impossível não se contagiar pela energia deles.— Finalmente! — Carol comentou com um sorriso acolhedor, acenando quando nos sentamos. — Dormiram bem?— Bem demais até. — Respondi, ajustando a xícara de café à minha frente. — Achei que acordaria péssima depois de ontem.— E quem não achou? — Carmem riu, balançando a cabeça. — Mas acho que é o charme de Vegas, né? Exageros são quase regra.— Só quase? — Rogério completou, com uma risada. — Ontem foi um festival, e acho que ninguém saiu ileso.— Ei, eu saí! — Ana protestou, erguendo a mão com uma expressão orgulhosa acariciando a barriga. — E o Henrique também. Estamos na lista dos sobreviventes.Henrique deu um sorriso discreto enquanto tomava
Enquanto caminhávamos pela Strip, o grupo acabou se dividindo. Ana e Carmem desapareceram em uma loja de souvenirs lotada, enquanto Fernando e Carol ficaram discutindo sobre qual seria a melhor opção para o jantar e Felipe havia ido em alguma loja, ou cassino com o Rogério. Henrique e eu seguimos juntos, andando lado a lado, aproveitando o clima da cidade.Depois de nos separarmos do grupo, Henrique e eu decidimos explorar uma rua menos movimentada. A Strip ainda estava lotada, mas parecia mais tranquila sob a luz suave do final da tarde.— Achei que Rogério ia nos arrastar para outro cassino. — Brinquei, enquanto caminhávamos lado a lado.— Acho que meu pai está tentando ganhar de volta o que perdeu ontem. — Henrique respondeu, rindo. — Mas, para ser honesto, estou feliz que ficamos só nós dois.Eu o olhei por um momento, surpresa pela confissão. Ele sempre tinha um jeito contido, mas, ultimamente, parecia mais aberto comigo.— Eu também. — Confessei, sem desviar o olhar.Paramos em
A noite caiu, mas Vegas parecia só ganhar mais vida. O grupo se reuniu na entrada do hotel, todos vestidos para aproveitar a última noite com estilo. Carmem usava um vestido dourado que brilhava tanto quanto as luzes da cidade, enquanto Ana optou por algo mais casual, mas igualmente vibrante. Henrique, como sempre, estava impecável, e seu sorriso tranquilo me fez sentir que a noite seria especial. — Então, qual o plano, pessoal? — Carol perguntou, animada. — Cassino! — Rogério anunciou, erguendo os braços como se fosse um mantra sagrado. — Depois, precisamos passar na placa do “Welcome to Las Vegas”. — Ana sugeriu, sacudindo o celular. — Precisamos de fotos pra lembrar disso tudo. — Isso se o Rogério não perder todo o dinheiro primeiro. — Felipe brincou, arrancando risadas de todos. Caminhamos até um dos cassinos mais movimentados da cidade, onde as luzes piscavam como se estivessem convidando cada pessoa a entrar. O som das máquinas de caça-níqueis, as risadas e o tilintar
O quarto estava meio escuro, mas a luz da manhã já começava a se esgueirar pelas frestas das cortinas. Henrique ainda estava ao meu lado no sofá, respirando devagar, como quem dorme profundamente. Em algum momento da noite, ele apagou, mas eu não consegui fechar os olhos. Não depois de tudo o que tinha rolado. Levantei devagar para não acordá-lo e fui até a janela. Afastei as cortinas só um pouco, o suficiente para enxergar o horizonte. O céu de Vegas estava mudando, as luzes piscantes da cidade dando espaço para aquele tom azul suave. O sol surgia, tímido, no meio da paisagem. Era raro essa cidade desacelerar, mas parecia que, naquele instante, o mundo tinha parado comigo. — Você devia ter me acordado — Henrique murmurou atrás de mim, a voz rouca e cheia de sono. Virei, meio surpresa, e o vi em pé, esfregando os olhos enquanto vinha até mim. Ele parou ao meu lado e ficou encarando o mesmo espetáculo que tinha me feito ir até a janela. — Achei que você precisava descansar. — Dei u
PrólogoA luz da manhã entrava pela janela, mas eu não conseguia sentir seu calor. Sentada na cama desfeita, o silêncio da casa parecia ecoar as palavras que eu não conseguia pronunciar. O coração ainda pulsava acelerado, e a imagem dele, a expressão de desespero e culpa, se repetia em minha mente.“Cíntia, eu nunca quis que você soubesse assim.” As palavras soavam como uma lâmina, cortando o que restava da confiança que construímos ao longo dos anos. A traição não era apenas um ato; era um golpe na alma, uma reviravolta que eu nunca poderia ter imaginado.Levantei-me e fui até a janela, observando a fazenda que agora era tudo o que eu tinha. A terra que um dia parecia um lar agora era um campo de batalha entre o que fui e o que precisava me tornar. Eu fui a esposa obediente e boazinha, mas isso não tinha me levado a lugar nenhum.Lembrei-me das promessas feitas, das risadas compartilhadas. A lembrança do meu ex-marido me enchia de raiva. Por muitas vezes, me questionei onde eu havia