Julian continuava a se recusando a cooperar, mas sua memória estava voltando aos poucos. Ele já sabia quem realmente era Eris em sua vida. E já não tratava Mary tão mal quanto antes. Apenas eu era a grande lacuna em sua memória. Ele estava se alimentando muito pouco, apenas o suficiente para sobreviver. Eu me sentia terrível por vê-lo tão fraco e debilitado, mas aquilo era necessário. Naquela tarde eu entrei na tenda trazendo dois baldes de água, uma esponja e toalhas. Ele ergueu o rosto para mim confuso, ao me ver ali. -- por quê não veio me visitar ontem? Já está desistindo? -- disse com um sorriso irônico. -- não, eu apenas precisava de um tempo. -- logo peguei uma cadeira e a pus de frente para ele, ao lado das esponjas. Sem demora eu sentei, e logo tirei sua camiseta suja. Enchi a esponja de água, e molhei sua cabeça. Ele cuspiu um pouco de água longe, o que me fez sorrir. -- acha isso engraçado? -- um pouco, na verdade. -- ele não sorriu, mas não estava tão sério quan
Ela correu com imensa velocidade, eu mal senti meu corpo. Quando passamos pelos portões do castelo, e adentramos. Sem que me desse conta, eu já estava no salão principal. Haviam tochas iluminando aquele lugar terrível, haviam também algumas pessoas jogadas no chão. Seus pescoços ainda sangrando. Tive que conter uma imensa vontade de vomitar. A Corva ficou me encarando, havia algo em seu olhar. Eu não sabia o que era. -- querida, você a trouxe. -- Hector adentrou no salão, ele vestia um traje em seda cor de ouro. A Corva se empertigou ao meu lado, e logo andou até ele. Eu continuei olhando ao redor, procurando algo que pudesse usar para me defender. -- eu não quero saber, saía. -- ela parecia ter falado algo para ele, sem demora ela assentiu e nos deixou. Seu olhar gélido, se voltou para mim. -- querida, é tão bom tê-la aqui comigo. -- eu nada disse. -- me perdoe a sujeira, meus filhos... Fizeram uma festinha, crianças mimadas sabe? -- eu apenas engoli em seco, ele começou a
*Julian Meu corpo estava tenso, tudo estava escuro. Minha cabeça doía fortemente, como se algo estivesse me puxando. -- ABRA OS OLHOS! -- ouvi uma voz masculina familiar, eu o conhecia. Ele estava bravo, talvez furioso. -- ABRA OS OLHOS SEU DESGRAÇADO! -- era Eris, eu sabia. Senti meu corpo dando um forte solavanco, e então meus olhos se abriram. Ele estava sobre mim, sacudindo meu corpo com raiva. -- ONDE ELA ESTÁ? -- ele me deu um soco, eu cuspi sangue. Tentei o afastar, mas ele era muito mais forte. E eu não me alimentava direito há dias. -- CADÊ ELA JULIAN? -- eu... Eu não sei. -- meu coração se apertou no peito, e eu nem sabia porquê. Ela havia me beijado, eu senti seus lábios contra os meus. Por um momento eu lembro de sentir algo, talvez um vislumbre, mas sumiu no momento que aquela pessoa quebrou meu pescoço. -- o que você fez com ela? -- ele me deu outro soco, rapidamente eu usei o resto da força que tinha e o joguei longe. Chutando-o. Ele se recompôs em instantes, e
*Julian Voltei até a aldeia segurando o corpo inerte da Corva. Mas o que vi, não foi animador. A aldeia inteira estava em chamas, haviam corpos demais pelo chão. Pessoas chorando, outras ainda agonizando. E haviam poucos vermes vivos. Mary estava do outro lado da aldeia, consolando uma irmã que havia perdido alguém. Eu me aproximei. Ela me fitou de imediato. -- ainda está desmemoriado? -- as memórias ainda estão voltando, lentamente... De forma confusa. -- ela assentiu. -- e ela? -- tenho que a interrogar. -- vou gostar de fazer isso também. -- disse friamente. Após alguns minutos, Henry se pôs no meio da aldeia. -- amigos, sei que não gostarão de ouvir isso, mas nós temos que sair daqui! A aldeia está comprometida, e provavelmente mais vermes virão em nossa direção. Estamos fracos e não temos como lutar, temos que ir embora. -- todos se entreolharam, alguns ainda seguravam seus feridos nos braços. -- como iremos sair daqui assim? -- uma mulher furiosa questionou. -- temos
Meu corpo estava rígido, mas eu senti que estava confortável. Meus olhos ainda se recusavam a se abrir. Até que senti uma pontada em minha cabeça, e sem demora abri os olhos. Eu estava em um quarto, não estava tão bem iluminado. Mas eu conhecia aquele quarto, aquele comôdo. Meu corpo se enrijeceu, lentamente eu sentei. Eu estava vestindo uma camisola de cetim, azul. Deitada em uma cama macia, confortável. Olhei ao redor, eu conhecia aquele lugar. Meu corpo começou a tremer, e as memórias vieram de imediato à minha mente. "𝑉𝑜𝑢 𝑙𝑒𝑣á-𝑙𝑎 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑐𝑎𝑠𝑎 𝑓𝑖𝑙ℎ𝑎" ouvi a voz dele, a voz de meu pai. Desci da cama de imediato, minhas pernas tremeram e eu cambaleie. Mas me pus de pé, e andei até a sacada. Abri as cortinas, sol. O mais quente sol tocou minha pele. Fechei os olhos de imediato, parecia que faziam anos. Que eu não sentia aquele calor. Minha visão custou a se acostumar, até que eu vi o jardim. Os muros do palácio, e o mar a frente. Minha cabeça girou. -- princesa. -
Fiquei deitada naquela cama, enquanto os dias se passavam. Todo dia e toda noite eu sentava em frente a janela, e encarava o horizonte. Esperava ver Julian, ou até mesmo algum de meus amigos ali. mas não havia ninguém, ninguém estava vindo atrás de mim. Talvez eu mesma devesse sair dali. Andei pelos arredores do castelo, fui até a praia. Mas os navios estavam todos atracados, ou estavam em viagem. Não havia como eu fugir, não daquela forma. E para piorar, minha dor de cabeça estava cada vez mais forte e intensa. Estava no jardim, deitada na grama. Quando ouvi passos. -- Ravena que coisa feia de se fazer, você é a princesa! Levante-se daí. -- logo eu me sentei, e a fitei. -- o baile será amanhã à noite. -- já disse que não quero baile. -- e nós já dissemos que ele acontecerá. -- apertei os punhos. -- você deve estar preparada querida, talvez arranjemos um noivo para você amanhã. -- me pus de pé em um salto, e a encarei com intensidade. -- não, você não irá! Eu já sou casada. -
Eu estava agitada demais, meu coração batia tão forte que eu achava que eles conseguiam ouvir. -- Ravena, Ravena olhe para mim, escute eu imploro. -- mamãe tentou me segurar, mas eu me afastei furiosa. Meu corpo tremia, as lágrimas agora rolavam não só de tristeza, mas de ódio. -- o que mais há para escutar mamãe? -- isso... Isso pode não ser verdade! Talvez você tenha sido um milagre minha filha, talvez... Talvez... -- eu comecei a gargalhar sem nenhuma felicidade. -- você acha que sou criança mamãe? O quão burra você acha que sou para pensar que eu acreditaria nisso? -- tentei respirar fundo, mas meu fôlego estava preso na garganta. -- Ravena... -- não toque em mim! -- chega! -- papai se pôs de pé furioso, e andou até nós. -- isso não aconteceu Ravena, isso... Foi um acaso. Esqueça do que lhe contamos agora. -- ri de forma histérica, eu não consegui me conter. -- vocês não sabem da metade do que acontece do outro lado do oceano, não sabem o que eu vi! O que existe lá. Não s
Meu corpo estava imóvel, enquanto aquelas pessoas dançavam ao redor de nós dois. Meu coração estava acelerado no peito, tudo estava tão... Confuso em minha mente. -- é... Você? -- as palavras saíram em um sussurro emocionado. Ele segurou minha cintura, e acariciou meu rosto lentamente. -- sou eu princesa. -- mas... Mas você... -- eu me lembro de você amor, minhas memórias voltaram. Eu estou aqui princesa. -- senti imensa vontade de chorar, meu coração acelerou dentro do peito. -- mas como é possível que esteja aqui? -- tivemos alguns contratempos, mas conseguimos chegar. -- uma dor tomou meu peito. -- devo dizer que você está maravilhosa, minha esposa. Eu resisti contra a vontade de tocar seu rosto. -- vocês não estão dançando. -- ouvi um sussurro de uma voz familiar, a voz de Camila. Me virei e a vi ao meu lado, dançando com Andreas. Ela era a donzela familiar. -- Camila... -- sim, estamos aqui. -- eu também entro nessa contagem? -- já disse que não. -- ela repreendeu An