Arrumou as malas de forma organizada, colocou tudo que precisaria na bolsa, escreveu uma linda carta de despedida a mãe, deixando bem claro por que estava saindo de casa, na carta falava sobre a amante do pai e sobre o golpe que os três dariam em Luis Felipe, colocou em um envelope e deixou em um lugar que a mãe encontraria, no dia seguinte desapareceria do Rio de janeiro, indo a São Paulo onde entraria para uma grande academia de dança, só voltaria para casa quando fosse uma bailarina.
“Dezessete anos e fugiu de casa, sete horas da manhã do dia errado, botou na bolsa umas mentiras pra contar deixou para trás os pais e o namorado”...
Ao som de Natasha do Capital Inicial, Ana jogou o skate velho pela janela e saiu para o jardim, nas costas uma mochila não muito grande, mas com tudo o que precisava, dinheiro, uma roupa para o frio e outra para o calor, calçados confortáveis e um mapa, um mapa que dava para as maiores academias de dança de São Paulo, ela sairia do Rio de janeiro e partiria para o maior centro de dança do País, se tornaria uma bailarina famosa e quando estivesse no topo esnobaria seu pai, ele aprenderia o que tinha perdido, aliás, na carta que escrevera e deixará para sua mãe ela contava o porquê estava indo embora, sentia pena dela é claro, que tanto lutará para que ela e o pai se entendessem, sentia pena de Luis Felipe e por isso deixou uma segunda carta para ele, que a mãe entregaria em ambas ela se desculpava por sua atitude infantil, mas em nenhuma desejava boa sorte ao pai, já que também em ambas revelava o plano dele e do tio de Luis Felipe.
Ana Paula acelerou com o skate quando percebeu o declínio, nem mesmo ela acreditava que tinha saído de casa, ela sabia que o que tinha feito não era exatamente o certo e que sua mãe sofreria muito mais do que ela poderia imaginar, mas ela voltaria um dia, voltaria para sua mãe, por sua mãe, viu um posto de gasolina e resolveu parar para almoçar, alguns caminhoneiros olharam para ela, mas ela apenas pegou o pastel e saiu, não ia ficar, preferia comer na estrada mesmo, aquele tipo de lugar não era confiável.
- Margo!
Berrou Cézar quando chegou em casa no meio dia, a mulher desceu as escadas correndo.
- O que foi Cézar?
-Onde está Ana Paula? Não me diga que ainda dormindo!?
Margo não fazia a menor ideia, não tinha visto Ana a manhã inteira.
- Para ser sincera eu não a vi hoje, passei o dia preenchendo os papéis que ela me deixou para a faculdade.
Cézar começou a subir as escadas.
- É bom que ela esteja no quarto, por que convidei o Luis Felipe para almoçar aqui.
Margo observou o namorado da filha encostar o carro do lado de fora e decidiu correr atrás do marido, se ele fosse brigar com Ana novamente ela precisava estar junto para ajudar a filha, antes que Luis presenciasse alguma cena mais desagradável.
Cézar se aproximou do quarto da filha e deu algumas batidas, mas não teve resposta, bateu mais forte perdendo a paciência, como a resposta não veio, resolveu girar o trinco, para sua surpresa a porta estava destrancada, a cama estava bem feita, Ana não estava em casa.
- Margo!
Ela estava bem atrás dele.
- Acalme-se homem, já estou aqui!
- Onde esta a sua filha? Aquela irresponsável!
Margo já estava de “saco” cheio do marido.
- Minha filha nada, nossa filha! Eu não a fiz sozinha se é o que você quer ouvir, e como eu disse, eu não sei! Não a vi a manhã inteira!
Margo passou a mão pelos cabelos e só então percebeu um envelope rosa sobre a cômoda.
“MÃE”...
Aquilo foi o suficiente para Margo começar a tremer, seu rosto ficou pálido e ela começou a suar frio, não sabia o conteúdo do envelope, mas temia pelo pior, tomando coragem deu três passos e pegou o envelope.
“QUERIDA MAMÃE, EU SEI, EU SEI O QUE EU FIZ NÃO TEM DESCULPA OU JUSTIFICATIVA, VOCÊ FICARÁ PÉSSIMA E CERTAMENTE COM MUITA RAIVA, MAS ERA PRECISO. EU NÃO MENTI, EU FUI ATÉ O ESCRITÓRIO DO PAPAI ONTEM, E O QUE EU VI NÃO FOI NADA AGRADÁVEL, EU VI O PAPAI BEIJANDO OUTRA MULHER, O NOME DELA É LÚCIA, ELES ESTAVAM RINDO E PARECIAM SE DIVERTIR, DESCULPE MAMÃE, MAS, VOCÊS ME ENSINARAM A SER HONESTA E AGORA PERCEBO QUE A HONESTIDADE NUNCA MOROU NESSA CASA, DEIXEI UMA CARTA PARA LUIS FELIPE JUNTO COM ESTA, LÁ EXPLICO TUDO”.
Margo tinha vontade de rasgar a carta da filha, as lágrimas escorriam pelo rosto e ela não conseguia mais esconder sua raiva e seu desespero, o marido percebeu o estado da mulher e começou a ficar nervoso.
- O que diabos está acontecendo aqui mulher, o que fiz nesse bilhete afinal?
Margo não conseguia falar, apenas chorava, sua filha tinha ido embora, sua linda filha estava por ai, jogada a própria sorte, por que ela tinha sido tão omissa? Por que não tinha conversado com o marido, ajudado Ana, ela sempre tinha abaixado a cabeça para tudo que o marido fazia e agora o que tinha recebido em troca? Uma traição! Sua vida era uma mentira.
Luis Felipe ouviu o choro e entrou no quarto acreditando que alguma coisa tinha acontecido a Ana.
Assim que Margo o viu, respirou fundo, ele não merecia passar por nada daquilo, ela retirou o papel dobrado de dentro da carta que Ana tinha deixado para ela e entregou a ele, Cézar estava de fora, ele não tinha recebido nenhum papel da filha.
- Alguém pode me dizer o que esta acontecendo aqui? – Disse exasperado, Margo olhou o marido, seus olhos queimavam de raiva e estavam vermelhos de tanto chorar.
- Pergunte para a Lúcia querido! Ela deve saber o que houve.
Cézar tremeu na base, suas pernas ficaram moles ao ouvir o nome da amante, como Margo podia saber seu nome? Margo continuava a olhar para ele, com aquele olhar que ele bem sabia o que queria dizer, ela já sabia de tudo não adiantava mentir, ela saiu chorando do quarto e ele foi atrás dela, enquanto isso Luis Felipe desdobrou o papel que havia recebido de Margo.
“QUERIDO FELIPE, EU NUNCA GOSTEI DE NOMES COMPOSTOS, VOCÊ BEM SABE, ‘ANA PAULA’ ‘LUIS FELIPE’ PARECE COISA DE NOVELA MEXICANA, E VOCÊ SABE QUE NOSSA VIDA NÃO PRECISA SER UM DRAMA, EU NUNCA MENTI PARA VOCÊ, E MESMO SABENDO QUE ISSO O MAGOÁRA NO FUNDO VOCÊ SABE QUE EU NUNCA O AMEI, NOSSO RELACIONAMENTO COMEÇOU COM A IMPOSIÇÃO DE MEU PAI, COM O INCENTIVO DE SEU TIO, MAS ABSOLUTAMENTE NUNCA PARTIU DE NÓS DOIS, MAS ÉRAMOS MUITO AMIGOS, EU ESTAVA DO SEU LADO COMO VOCÊ ESTAVA DO MEU, TORCIA POR MIM ASSIM COMO EU TORCIA POR VOCÊ, MAS A DANÇA, AH A DANÇA É SIM MEU VERDADEIRO AMOR, E É POR ESSE AMOR QUE VOU PASSAR A LUTAR AGORA, DESCULPE, MAS PRECISO PARTIR, NÃO SE PREOCUPE, EU FICAREI BEM, PROMETO, ASSIM COMO DESEJO QUE VOCÊ TAMBÉM FIQUE... POR ISSO MESMO QUE QUERO QUE SAIBA, ONTEM AO ENTRAR NO ESCRITÓRIO E DESCOBRIR A TRAIÇÃO DE MEU PAI PARA COM MINHA MÃE, DESCOBRI TAMBÉM A TRAIÇÃO DE MEU PAI E DE SEU TIO, ELES PLANEJAM TE TIRAR TUDO, SEU TIO FOI QUEM PLANEJOU TUDO, ELE NÃO O AMA E SEMPRE INVEJOU SEUS PAIS, EU SEMPRE DESCONFIEI DELE, MAS AGORA QUE EU OUVI TUDO EU TENHO CERTEZA, POR FAVOR, FELIPE, NÃO FIQUE COM RAIVA DE MIM,(NEMCOM RAIVA DE MEU PAI, ELE FOI TOLO E SE DEIXOU LEVAR POR SEU TIO) SINTO MUITO TER ME APROXIMADO DE VOCÊ ASSIM, LHE QUERO MUITO BEM! UM BEIJO DA SUA E SEMPRE SUA ANA”.
Luis Felipe não sabia o que dizer, lembrou-se dos contratos que tinha assinado a mando do pai de Ana, como podia ter sido tão cego, esfregou os olhos e saiu para o corredor, Cézar estava voltando.
- Luis meu querido, o que Ana lhe disse? Por favor, ignore a carta, ela certamente ficou louca, vou m****r a policia atrás dela, ela ainda é menor de idade e assim que ela voltar ela irá se desculpar por tudo!
- Se desculpar? Se desculpar pelo que exatamente senhor Cézar? Pela sua traição? Pelos contratos que o senhor me fez assinar a mando de meu Tio? Acho que quem deve desculpas aqui é o senhor, mas eu vou lhe poupar disso, faça o favor de passar no RH assim que voltar a empresa, vou pedir para minha secretária deixar seus papéis prontos!
Luis deu as costas a Cézar e começou a descer as escadas, Cézar correu atrás dele.
- Como? Estou sendo demitido? Mas o senhor não pode!...
- Sim eu posso, como herdeiro e sócio majoritário eu posso fazer o que eu quiser dentro da minha empresa e tem mais, alegre-se de ter uma filha tão boa quanto Ana, por que mesmo ela tendo descoberto sua traição, ela se preocupou com o senhor o suficiente para que eu não o mandasse para a cadeia, passar bem senhor Cézar!
Cézar não acreditava no que estava acontecendo, seu mundo estava desmoronando em questão de minutos, tinha que haver algo para fazer, ele pegou o telefone e pensou em ligar para o Tio de Luis Felipe e dizer que ele tinha descoberto tudo, mas assim que pegou o telefone, lembrou-se de Ana, sua filha... Ele não tinha se importado com ela, e mesmo assim ela pediu para que Luis não o mandasse para cadeia, isso não era um castigo, era uma lição, quem tinha errado não era ela, era ele... Como podia ter sido tão cego? Como podia ter se deixado levar por Lúcia? Ele tinha jogado fora, sua vida, sua filha e seu casamento... O que faria agora? O que?
Ana chegou até a rodoviária e pegou um ônibus indo a São Paulo, ela tinha dinheiro suficiente para pegar um avião, mas queria economizar e ao mesmo tempo achava que seria muito mais difícil seu pai conseguir rastrear ela de ônibus, o celular ela entregou para um morador de rua, Cézar, Luis Felipe, sua mãe... Qualquer pessoa que fosse poderia morrer ligando, ela nem ao menos saberia, sabia também que ia sofrer com isso, mas era melhor assim, se acostumar com a solidão, por que se topasse conversar com qualquer um deles, perderia o foco e mudaria de ideia, ela seria uma bailarina, custasse o que for. O Ônibus encostou na rodoviária de São Paulo, Ana caminhou apressada até o ponto de Taxi e então percebeu que estava sendo seguida, era o cara do ônibus. - Ta com pressa gracinha? Ela abaixou a cabeça e apressou ainda mais o passo, quando se deu por conta estava correndo, não demorou muito para despistar o cara, porém a rodoviária tinha ficado para trás, ela tinha
Eram quatro da manhã e Ana já estava de pé, colocou uma música baixa para não atrapalhar quem estava dormindo e começou a se alongar, seu corpo inteiro doía muito das longas caminhadas e das horas em que ficou parada no ônibus, mas precisava se exercitar, não podia perder tempo, perdeu o equilíbrio pelo menos duas vezes, na terceira vez desistiu a dor era imensa, precisava descansar mais, caiu na cama e apagou, levou um susto ao perceber quando acordou que passavam das nove, arrumou a cama e desceu as escadas correndo, Maria a dona da pensão olhou para ela e sorriu. - Já estava recolhendo o café, mas sente-se querida vou esquentar a água. - Na verdade estou super atrasada, tenho que chegar ao centro da cidade. - Ao centro? Oh, pobre menina o ônibus que vai ao centro já passou na verdade, a menos que pegue um taxi, mas saiba que eles são bastante carreiros, esses dias me cobraram 50 reais, fiquei irada, era tudo que eu tinha na carteira! Disse a senhor
Antes de sair aquele dia Ana abriu a carteira, ela só tinha para mais uma viagem até o centro, teria que voltar a pé provavelmente, abriu o segundo compartimento e viu o dinheiro que tinha reservado para a terceira semana de estadia na pensão, ela tinha imaginado que depois de 14 dias ela já teria conseguido entrar para uma grande companhia de dança, mas isso não tinha acontecido, balançou a cabeça, seu pai tinha bloqueado seus cartões e ela sabia qual era a intenção dele com isso, fazer ela voltar parta casa quando o dinheiro terminasse, mas ela não ia voltar, suspirou sem saber o que fazer, foi quando ouviu umas batidas na porta, era dona Maria ela tinha vindo receber o aluguel da semana certamente, Ana se levantou e abriu a porta. - Bom dia menina, não saiu cedo hoje? - Não, hoje não, eu imaginei que a senhora viria para receber o aluguel. - Oh, mas não ligue para isso, pode me pagar mais tarde! Ana abriu a carteira e entregou o dinheiro que estava
Ana ia todas as noites trabalhar na boate e com isso conseguiu pagar o aluguel atrasado para dona Maria, porém uma coisa a estava preocupando, a filha de dona Maria, Carla, não tirava os olhos dela nos últimos dias, era como se estivesse cuidando ela. Cezar conseguiu vender a casa e também o carro que tinha, com o dinheiro comprou a antiga casa em que ele e a família costumavam viver, comprou um carro mais comum e também decidiu que pagaria Luis Felipe, ele queria recomeçar e para isso precisava iniciar do zero, como não tinha coragem de olhar para o antigo genro colocou o dinheiro em um envelope e entregou para a secretária dele, ele sabia que ela jamais trairia o patrão, dentro escreveu uma pequena carta, onde pedia desculpas por todo o incomodo e agradecia pelo tempo em que teve a oportunidade de trabalhar na empresa, ainda tinha sobrado um bom dinheiro da venda da casa e dos móveis então após passar na delegacia e ver que nada tinha sido descoberto sobre Ana ele decidiu
Naquela manhã de sábado Marcelo chegou mais cedo na delegacia do que costumava chegar, ele não tinha plantão, mas tinha decidido ir trabalhar o dia todo, precisava esvaziar a cabeça, nas ultimas noites tudo que ele tinha sonhado era com sua ex mulher Bianca e esses sonhos estavam começando a perturbar sua prudência, quando Peçanha o viu riu alto.- Caiu da cama chefe?Marcelo sorriu.- Às vezes faz bem, mas hoje sim de fato cai mesmo, não tive bons sonhos, ainda de plantão?- Ainda... Não tivemos uma noite fácil, to acabado, já tomei duas jarras de café, deixei uns pareceres em cima da sua mesa.- Onde está Raimundo, ele não devia estar de plantão com você?- Então... Ele saiu pra fazer uma ronda em Paraisópolis.- Paraisópolis? Aconteceu alguma coisa por lá? Nem mesmo é
Quando o dia amanheceu ela viu que não estava sozinha no quarto, por fim então ela tinha conseguido dormir um pouco, a garota na sua frente sorria e tinha um copo nas mãos.- Trouxe um calmante para você, como se sente?Era Valérie, Ana esfregou os olhos e aceitou o copo.- Foi horrível eu achei que ninguém viria me salvar, achei que ele me estupraria.- Eu corri o mais rápido que pude para chamar Leonel.- Foi você que o chamou?- Claro, não achou que tinha sido Juliana néh?- Não, na verdade eu estava bem confusa, ela foi bem fria comigo.- Ana querida não seja tola, foi ela quem entregou a chave para ele, só Juliana tem acesso à chave cópia dos quartos.- O que? Mas por que ela faria isso?- Você estava rendendo dinheiro, mas eles querem mais, eles sempre querem mais, ela sabia que não ia c
Ana terminou seu trabalho antes naquele dia, disse para Leonel que precisava que ele lhe compasse algumas coisas, pois queria que sua primeira noite fosse inesquecível, Leonel acreditou e saiu do escritório, enquanto isso Ana teve tempo para entrar e falar com Gabriele. - Vamos ter que antecipar os planos. - O que? - Parece que a policia está atrás de você, seu pai veio até aqui e Leonel vai fazer a sua negociação amanhã à noite, por isso vamos fugir hoje. - Hoje? - É... Está pronta para fugir? - Estou com medo e se não conseguirmos, e se eles pegarem a gente? - Acredite eu pareço firme, mas estou derretendo por dentro, eu não sei se vamos conseguir Gabi, mas precisamos fazer isso, entende? - Sim. - Ótimo. Quando Ana ia sair percebeu que a menina correu para o computador de Leonel. - O que vai fazer? - Preciso pegar umas coisas, não se preocupe, só guarde a porta por 15 minutos. A
Os capangas de Leonel viram Ana ser atropelada violentamente. - Vamos embora cara, essa aí já era. Os dois fugiram antes de serem vistos, Marcelo saiu do carro sinalizando para todos e trancando o transito correu até onde a garota estava à cabeça sangrava assim como a perna que parecia conter uma fratura exposta, mas ela ainda respirava, ligou imediatamente para a ambulância, acabava de retirar a ideia de que aquele seria um dia perfeito. Ana deu entrada no hospital em estado grave, Marcelo acompanhou tudo, mas recebeu uma ligação da delegacia e precisou sair. - Avise-me se ela acordar. - Fique tranquilo senhor delegado. Marcelo entrou na viatura e partiu até a delegacia, Peçanha estava lhe esperando na porta. - O que houve? - O delegado do 19º distrito ligou, pediu para que você retornasse o mais rápido possível, ele disse que era um assunto do seu interesse. Marcelo adentrou na sala, com o afastamento de Raimu