Prenda-me!
Prenda-me!
Por: E.J.L Spiekovski
1º Capitulo

Ana debruçou-se sobre o próprio corpo tentando a todo custo alcançar os dedos das mãos nos dedos do pé, a manhã tinha sido bastante produtiva, pensou, acordará às quatro horas da manhã apenas para treinar e ensaiar os últimos detalhes da coreografia, naquela noite, depois do jantar ela se apresentaria em uma apresentação solo para toda a equipe de funcionários da empresa em que seu pai era sócio, há meses ela vinha ensaiando para que tudo fosse perfeito, tinha 17 anos e estava pronta para começar a cursar dança, mas para isso precisava convencer seu pai de que ela era a melhor, e ela tinha trabalhado muito duro nisso, seu corpo doía de cansado, porém, ela precisava dar mais uma, duas, três piruetas, até alcançar a perfeição, ela se olhou no espelho e sorriu, tinha um corpo bonito, desde os três anos de idade respirava e vivia pela dança e hoje não conseguia imaginar nada mais prazeroso em sua vida, ela poderia passar um dia sem se alimentar, mas dificilmente passaria um dia sem dançar.

O dia passou voando e ela gostaria de poder ter mais algumas horas para poder ter certeza de que tudo sairia perfeito, parece loucura levar algo tão a sério assim, mas para ela, isso era muito mais que sério, parou em frente ao espelho e firmou o coque na cabeça.

- Você é linda! Você é perfeita, você nasceu para fazer isso! – Disse para si mesma.

Terminou de se arrumar para a apresentação e viu o pai cruzar pelo corredor arrumando a gravata.

- Pai?

- Diga Ana...

- Depois da apresentação, será que podemos conversar sobre a faculdade?

O pai abriu um imenso sorriso.

- Mas é claro, vejo que finalmente decidiu por algum curso, estou louco para saber o que foi que escolheu, não quer me contar agora ainda temos 15 minutos...

- Não, quero que vá com a mamãe e chegue cedo para que peguem os melhores lugares, iremos conversar nós quatro depois da apresentação, eu você mamãe e Luis Felipe.

- Tudo bem então, Luis Felipe vem busca-la logo?

- Sim, ele já me mandou uma mensagem.

- Ótimo, vamos indo então.

O pai se despediu com um sorriso nos lábios, estava de bom humor, era o dia perfeito para contar a ele que decidirá por fazer dança, seguiria o seu grande amor como profissão e um dia estaria dançando no teatro municipal, seu grande sonho.

Luis Felipe era seu namorado, estavam juntos a pelo menos dois anos, mesmo ele sendo bem mais velho que ela, na verdade 15 anos mais velho que ela, ela não podia reclamar dele, era um homem bom, lhe tratava muito bem e não lhe exigia ou lhe cobrava nada, e seu pai fazia muito gosto da união já que Luis Felipe recentemente tinha se tornado o mais novo dono da empresa, os pais de Luis Felipe tinham falecido em um terrível acidente de forma repentina, tinha sido o pai de Ana que tinha ajudado ele a reerguer a empresa depois disso e faze-la crescer, quando Cézar percebeu o interesse do patrão em sua filha não pensou duas vezes em apoiar o relacionamento e juntar os dois, meses depois Luis o chamou para entrar para a sociedade da empresa.

Ana Paula subiu no palco e dançou, dançou como nunca tinha dançado antes, dançou iluminando o palco, não teve uma sequer pessoa que não aplaudiu sua apresentação em pé, até mesmo seu pai parecia estar orgulhoso da filha, ele sabia que Ana dançava muito bem, mas nunca tinha visto uma apresentação sua e muito menos a tinha visto dançar daquela forma, era como se ela flutuasse no palco, assim que a apresentação terminou e ela recebeu o cumprimento de todos, eles se dirigiram ao restaurante, ela segurou o braço de Luis Felipe com força e tomando coragem falou.

- Bom pai... Eu esperei até agora, mas acredito que não existe momento melhor para dizer, eu me inscrevi na faculdade... Na verdade, recebi a aprovação na semana passada e bom... – Ela fez uma pausa olhando para todos como se esperasse por apoio. – E eu vou fazer dança!

Nessa hora Cézar atirou o guardanapo que tinha nas mãos sobre a mesa e se levantou.

- Você só pode estar ficando maluca não é mesmo?

- O que?

- Acha mesmo que dançar vai encher a sua barriga? Mas é claro que não vai! Eu não vou investir meu dinheiro pagando uma faculdade para ensinar minha filha a dançar! Isso lá é curso que se preste!

- Mas é o que eu amo, foi você que sempre disse que eu deveria fazer o que fosse, mas fazer com amor!

- Amor, Ana, amor não te leva a nada, você não vai estudar dança está decidido, vai estudar contabilidade, economia, administração qualquer um desses cursos e vai assumir a empresa, está decidido!

Ana atirou o guardanapo na mesa e se levantou.

- Nunca! Nem mesmo nos seus sonhos papai!

Ela disparou porta afora do restaurante, sob os protestos de sua mãe e de Luis Felipe.

Ana estava inconformada pelo rumo que as coisas tinham tomado, ela tinha saído do restaurante sozinha, tomado um taxi e ido para casa, tinha abandonado Luis Felipe lá com seu pai e sua mãe, ela tinha que pelo menos m****r uma mensagem para ele dando a entender que não tinha condições de conversar com ele, afinal ele não tinha culpa.

 Ela tinha se esforçado tanto, durante toda sua vida ela tinha sido uma bailarina, então por que não seguir sua paixão agora? Isso parecia tão injusto.

Quando Ana Paula abriu os olhos no dia seguinte ela sabia que tinha uma grande missão pela frente, encarar seu pai de frente depois de tê-lo abandonado na mesa de jantar do restaurante aos gritos, isso a fez suspirar e rolar para o outro lado, será que ela poderia adiar o café da manhã por tipo assim uns 20 anos? Quando finalmente tomou coragem e resolveu sair do quarto, se deparou com sua mãe parada no corredor como se estivesse perdida.

- Mamãe?

- Óh, querida, eu estava indo ver como você estava, quando chegamos ontem já estava dormindo e eu não quis lhe acordar, seu pai foi tão grosseiro ontem, eu sinto muito...

- Tudo bem, eu imaginava que ele não ficaria feliz, mas não pensei que ele odiasse tanto me ver dançar.

- Ele não odeia, não, não é isso... É só que... Ele quer que tenha um futuro melhor que o dele foi, bom você sabe como lutamos para conseguir a posição de temos hoje, não foi fácil para ele, ele tem tanto medo que termine nas ruas...

- A dança não vai me levar para as ruas mamãe, vai me levar para os palcos! Existem tantos dançarinos famosos e você sabe que eu tenho talento!

- É claro que eu sei... Sempre fui a sua maior fã!

- Ah mãe, será que se você falar com ele?

- Acredite, eu tentei ontem, mas ele parecia irredutível, mas estive pensando, por que não se matricula na faculdade de administração como ele tanto quer? Você não precisa parar de dançar por isso, faça os dois, eu sei que é esforçada, dará conta!

- Acha mesmo que ele deixaria?

- Bom, ele não teria no que se opor, estaria fazendo o que ele quer e ao mesmo tempo seguindo seus sonhos.

Ela deu um pulo e abraçou a mãe com força, sim, aquela era sem dúvidas a solução para os seus problemas.

Ana resolve ir visitar seu pai na empresa, assim podia mostrar algum tipo de interesse nos negócios. Ela tomou o elevador principal sem necessidade de ser anunciada pela recepcionista, todos ali a conheciam, quando chegou até o escritório do pai Paula vinha saindo da sala com uns papéis nas mãos.

- Ana, não sabia que viria.

- Eu e papai discutimos ontem, pensei em convidá-lo para almoçar e fazer as pazes, ele está?

- Não, desceu até a montagem para averiguar um novo projeto, eu estou saindo pro almoço agora se quiser pode esperar por ele na sala dele acho que não vai demorar.

Ela concordou com a cabeça e entrou na sala, se sentou por um tempo na cadeira, observou o retrato que o pai tinha em cima da mesa com a foto de sua mãe e dela, na foto Ana tinha uns quatro anos, detestava a foto por que ela aparecia desdentada, mas ficava feliz de saber que o pai se importava com ela a ponto de ter uma foto sua na escrivaninha.

Nessa hora ela ouviu um barulho estranho, como uma batida, olhou para trás e percebeu que alguém tinha esbarrado na porta, não demorou muito para ouvir risadas, uma mais forte provavelmente de um homem e outra mais aguda que era bem identificada pela de uma mulher, sem saber quem era Ana correu até um armário e se escondeu atrás dele, a porta se abriu e os dois entraram.

- Aí, Cezar, vai com calma já pensou se alguém nos pega aqui?

- E quem vai nos pegar Lúcia? Todos estão no almoço agora.

Ana espiou por de trás do armário e viu seu pai e uma moça bem mais nova que sua mãe, aliás, muito mais nova que sua mãe, na verdade poderia ser da sua idade, ela não quis acreditar no que via, sempre se orgulhou de seu pai, sempre acreditou que ele era perfeito, o marido ideal, ele sempre tinha lhe ensinado os valores da família e deixado bem claro o valor que ela tinha para ele, e então agora ele estava traindo sua mãe, ela juntou forças e respirou fundo deixando a raiva a dominar, invadiria a sala naquele momento e colocaria o pai contra a parede, mas exatamente nessa hora alguém abriu a porta e entrou.

- Eu sabia que você se encontraria com ela aqui hoje, não era de se espantar, afinal, é segunda feira, faz muito tempo que eu ando cuidando vocês dois, sei quando e como se encontram, aliás, tenho muitas provas dos encontros também, fotos e até vídeos inclusive.

Era José Carlos, tio de Luis Felipe e acionista da empresa.

- E o que você pretende com tudo isso, Zé Carlos?

Ana voltou para o seu lugar e rezou para que ninguém a tivesse visto.

- Eu se fosse você Cezar mudava o tom da entonação, até por que você está na minha mão agora.

Ana observou o pai, ela conhecia aquele olhar, ele detestava chantagem, mas parecia preocupado, o que será o que o tio de Luis Felipe queria?

- O que quer que eu faça?

- Luis Felipe vai assinar alguns documentos na terça feira, quero que coloque esses papéis junto, ele confia em você e não vai ler, mas é claro que se eu der os documentos ele vai desconfiar, aquele garoto nunca gostou de mim, aliás nem ele nem o pai dele, miserável, morreu e deixou tudo para o moleque!

Os pais de Luis Felipe tinham morrido em um acidente de carro quando viajavam para a segunda lua de mel, Luis Felipe era ainda uma criança, tinha apenas cinco anos quando tudo aconteceu, a empresa então passou a ser administrada pelo tio, mas quando ele completou dezoito anos exigiu que seu lugar fosse tomado, foi então que o pai de Ana foi contratado, ele era contador e famoso por sua honestidade, tornou-se o braço direito de Luis Felipe, juntos os dois reergueram a empresa e quando ela completou 15 anos o pai fez questão de lhe apresentar para Luis Felipe, ela até gostava um pouco dele, mas ele não era bem o homem que ela esperava para si, porém o pai insistia tanto no relacionamento que ela acabou aceitando o pedido de namoro de Luis, e agora o pai estava ali, prestes a lograr o próprio genro, em beneficio próprio para que ninguém soubesse sobre sua amante.

Ana estava enojada, assim que todos saíram da sala ela cuidadosamente saiu também e disparou pelos corredores saindo pelos fundos da empresa sem ser vista, ela queria chorar, chorar e por tudo que estava sentindo para fora, mas a raiva e indignação era tanta que ela simplesmente não conseguia, passou o dia inteiro fora tentando se acalmar, não atendeu nem as ligações de Luis Felipe e nem de sua mãe, como poderia fingir para eles? Ela não sabia nem mesmo como voltaria a olhar para a cara do pai.

Ana chegou em casa por volta das oito horas da noite, sua mãe a esperava na sala.

- Querida! Que preocupação! Eu liguei mais de trinta vezes, seu pai está furioso, por onde esteve esse tempo todo?

- Por aí...

- Disse que iria vê-lo na empresa e não foi, onde foi?

Ana se lembrou do que tinha visto na empresa, suspirou profundamente, a mãe era a única inocente ali e não merecia isso, quando se virou para subir as escadas deu de frente com seu pai, dele devia estar mesmo furioso, seus olhos estavam esbugalhados e seu rosto vermelho.

- Onde é que esteve até essa hora? Sua mãe ligou todo o dia, eu liguei! As empregadas ligaram! Luis Felipe também ligou, desapareceu! Disse para sua mãe que iria me ver, para negociar sobre a faculdade e então desapareceu, é dessa forma que quer negociar algo? Eu não deveria nem mesmo lhe pagar uma! Seu comportamento chegou ao limite!

- E quem é o senhor para falar em comportamento? O senhor é um nada! Um lixo! Desonesto e sujo! Tenho nojo de ser sua filha!

Ana cuspiu no chão e nesse exato momento o pai lhe desferiu um tapa no rosto com força, a mãe levou a mão ao rosto sem acreditar, Cezar nunca tinha sido violento com ela, pelo contrario sempre reclamava dela por ser muito dura com Ana.

- Enquanto morar sob o meu teto terá que me respeitar, agora suba para o seu quarto e não saia de lá até eu m****r!

Ana sorriu com deboche.

- Como queira, papaizinho...

Subiu as escadas correndo, ela não iria ficar, não depois de tudo, não conseguia olhar para ele, não conseguia vê-lo como seu pai ou seu herói ou como tudo que um dia ele tinha sido, se enquanto ela morasse ali ela teria que respeitá-lo, então isso seria um problema, pois ele já perderá todo o respeito que ela um dia teve por ele.

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