Nossa história começava em uma noite de inverno no Sul do País, dois casais de jovens conversavam animadamente enquanto fitavam a fogueira crepitando à sua frente, bebendo sob a luz das estrelas. Um deles, uma jovem de longos cabelos negros como a escuridão, de repente, ergueu seu copo simulando um brinde enquanto resmungava algo como “feliz ano novo”, mesmo sendo quase incompreensível devido ao seu estado de embriagues.
– Feliz ano novo! Uma das moças, sorridente, exclamou fazendo o mesmo, e piscou levemente para seu namorado que parecia completamente alheio ao que acontecia.
Christophe, o namorado, balançou seu copo concordando um tanto desconcertado, era obvio o quanto estava confuso com relação àquela “virada do ano” fora de época. Estavam juntos desde o inicio da faculdade então, a moça havia convidando-o para conhecer a fazenda dos avós, e apresenta-lo formalmente.
E por algum motivo, a comemoração da antiga tradição família, parecia um excelente momento para o fazer. Um festival de Ano Novo Celta que era comemorado apenas por eles naquela parte do continente, porém, as comidas e bebidas curiosas deixavam os mais jovens interessados.
– Deveríamos contar alguma história de terror... – Thomas comentou, sentindo-se inspirado pela fogueira que iluminava preguiçosamente o bosque ao nosso redor.
– Deixa eu falar... eu conheço uma! Antoniete, a moça de cabelos escuros, pediu enquanto virava outra dose de soda com vodca.
E como ninguém se contrapôs, ela sorriu puxando a gola de sua jaqueta para cima, fitando-os com ar sombrio e ganhando a atenção de todos à sua volta.
– Então conta logo, para de fazer suspense! Thomas reclamou com a prima, mas abriu um sorriso cheio de dentes, debochando do medo no rosto dos outros participantes. – Você mora há tanto tempo fora que nem deve se lembrar...
– Hum... eu lembro de uma que ouvia quando criança, vocês se lembram do caçador noturno? Antoniete questionou voltando seus olhos imediatamente à namorada do primo. – No caminho, eu ouvi algumas crianças comentando sobre, e imagino que os pais continuem contando isso para assustar os filhos.
– Eu morria de medo dessa coisa! Tomas exclamou irritada, fazendo uma expressão que mostrava o quanto aquela história ainda o impactava.
– Do que estão falando? Christophe e Silvia questionaram ao mesmo tempo, quase em sincronia e seus rostos preocupados voltaram-se rapidamente aos respectivos parceiros.
– Uma história antiga... – Antoniete explicou em sussurros próximo ao ouvido do namorado, fingindo que iria morder seu pescoço. – Aqui perto tem um bosque, os mais velhos contavam sobre alguma coisa que simplesmente destroça qualquer pessoa que se arrisque a entrar naquelas terras à noite!
– Assustador! Thomas ironizou revirando os olhos e rindo. Aproximou-se, ficando com o rosto bem próximo ao de Christophe e o fitou com interesse. – Então, garoto da cidade, você teria coragem de testar?
– Na verdade, não... – Christophe discordou, balançando a cabeça negativamente e ignorando as provocações de Thomas. – Isso soou bem imaturo, mesmo que seja mentira, ainda poderíamos nos perder ou encontrar algum animal selvagem.
– E você é chato pra caralh*! O outro resmungou enchendo o copo de Christophe até a borda, claramente sendo a sua forma de se vingar pela negativa.
No fim da noite, todos estavam tão bêbados que mal conseguiam se manter em pé, precisando apoiar-se uns nos outros para não cair enquanto caminhavam tropegamente em direção aos quartos que a avó havia reservado para os netos que vieram acompanhados.
Quando se viu sozinha com o namorado, a morena sentou-se na cama, jogando a blusa de manga longa em qualquer canto e fitou seu namorado cheia de desejo. O agarrou pela jaqueta e o jogou no colchão ao seu lado, pronta para sentar-se em seu colo.
– Você ‘tá’ sóbria pra isso? Christophe questionou rindo baixo enquanto retribuía os beijos de maneira preguiçosa. – Não sei se é uma boa ideia...
– Porque não seria? Ela perguntou tentando tirar as roupas que ainda o cobriam, e ficando realmente incomodada com a dificuldade em fazer isso.
– Porque nos filmes, são os primeiros a morrer... tipo Sexta Feira 13! Ele brincou afundando o rosto em seu busto, beijando-o.
– Eu não acredito que você está recusando sex*... – Antoniete reclamou acariciando o peito alheio, descendo os dedos lentamente em direção ao cinto de sua calça.
Riram trocando mais alguns afagos e quando estavam prestes a partir para as “vias de fato”, ouviram batidas na porta, quebrando rapidamente o clima quente dos dois. Antoniete caminhou em direção à parta, arrumando suas roupas enquanto pensava se tratar da avó e quando a abriu, deparou-se com a namorada do primo.
– O que aconteceu, hein? Perguntou em um resmungo, não conseguindo esconder sua irritação por terem sido atrapalhados na melhor parte.
– O Thomas sumiu! Silvia explicou sem rodeios, seu rosto empalidecido pela preocupação, parecia estar prestes a cair no choro.
– Porr* O que aquele idiota está pensando? Antoniete reclamou caminhando de um lado para o outro, voltou seus olhos ao namorado, notando que ele também já havia se arrumado e suspirou vendo-se sem opções. – Temos que encontra-lo.
E sem dizer mais nada, praticamente correram pelos corredores, procurando pelo quarto em que Max, o irmão de Antoniete, deveria estar dormindo. A jovem chamou baixinho, para não acordar o resto da família e suspirou de alivio ao vê-lo colocar a cabeça pela fresta da porta entreaberta, com cara de sono e parecendo estar irritado.
– Sabem que horas são? Ele perguntou coçando os cabelos negros e bagunçados. – Não ‘tô’ afim de beber mais, não.
– O Thomas sumiu! A irmã apressou-se em dizer, para que ele entendesse em que tipo de situação estavam. – Ele estava falando em entrar no bosque, talvez tenha se machucado ou sido atacado.
Uma expressão de descrença formou-se no rosto de Max ao ouvir aquele comentou, esfregou as têmporas, voltando para dentro do quarto e quando retornou, estava vestido em um casaco pesado e segurava uma lanterna. Ele era o mais velho do grupo, e dava a entender que se sentia responsável pelas merd*s que o primo estava fazendo.
– Vocês estão sóbrios? Questionou assim que saíram do conforto da casa, sendo recebidos pelo frio vento da madrugada. Mas não esperou por resposta alguma e logo, estava entrando no antigo celeiro onde guardavam antigas peças de agricultura, retornando com mais lanternas e o que pareceu uma espingarda.
– Você sabe usar essa coisa? Christophe questionou sério, passando o braço ao redor dos ombros da namorada de forma protetora.
– Fiquem perto de mim, e bem atentos. Há cobras venenosas que saem à noite para caçar... - Max exclamou ignorando a pergunta, depois voltou-se para aos outros com uma expressão preocupada. – Aliás, acho melhor vocês ficarem...
– E se você se machucar? Christophe questionou se impondo de repente, e o olhou com seriedade. – Eu vou com você, posso atirar também.
Silvia concordou em ficar apenas esperando com o celular em mãos, caso precisassem de ajuda, porém, a morena se negou a ficar passiva naquela situação, e insistiu que iria também pois, poderia ajudar com seus conhecimentos de primeiros socorros.
Sem outra escolha, os três entraram no bosque. Sozinhos ali, tudo parecia estranhamente mais sensível, causando a sensação de que poderiam morrer a qualquer momento e nunca serem encontrados. Em silencio, ficaram por alguns segundos apenas ouvindo quaisquer sons que indicassem a direção de onde o rapaz estaria.
De repente, gritos agonizantes chamaram a atenção do trio, e logo perceberam que se tratava de duas vozes destintas, e sem pensar bem no que estavam fazendo, correram, se embrenhando na mata.
– Thomas! Antoniete gritei correndo na direção de onde achou que estivesse vindo o som, ouviu seu nome sendo chamado pelos outros rapazes, mas não parou. – Thomas, onde você está?
— Espera... você não pode correr desse jeito, vamos nos perder! Max gritou pelas costas da prima, sua voz soando ofegante.
De repente, a mulher estagnou no lugar, não pelas palavras primo, e sim, por causa da cena em à sua frente. Inclinou-se para a frente e vomitou tudo o que estava em meu estômago, cambaleando para o lado e caindo no chão próximo a uma árvore de tronco firme. Segundos depois, estava gritando como uma louca e, por mais que tentasse, não conseguia tirar os olhos daquela cena horrenda.
Havia muito sangue, grandes marcas de garras pelas árvores, e caídos no chão de terra negra, os corpos mutilados de duas pessoas que pareciam estar mortas, jaziam.
— Mas que porr* é essa? Christophe questionou ao deparar-se com o mesmo que a namorada visualizou, não vomitou, mas seus olhos mostravam o quanto estava horrorizado. Seus olhos se encontraram aos da namorada, e agachou-se para me abraça-la.
— Oh Meus Deus! Ela murmurou aos prantos, agarrando-se a ele. – Você acha que é o Thomas?
Não houve resposta, pois, logo Max os alcançou e sua reação foi exatamente a mesma que a dela, mas se manteve firme tentando não perder o controle. Seus olhos estavam firmemente fechados e lágrimas teimavam em tentar escorrer. Respirou fundo, ficando de costas para nós e passou as mãos pelos cabelos, tirando os fios que colavam na testa suada.
Depois de um tempo, virou-se temeroso e fitou o corpo caído no chão, respirando com dificuldade, depois disso, com uma coragem impressionante, aproximou-se e fitou melhor o que restou daquela pessoa que poderia ser seu primo.
Ao voltar-se para os outros, demonstrou um lampejo de esperança em seus olhos, sua respiração se acalmava aos poucos e mesmo com seus olhos arregalados pelo horror que foi obrigado a ver, parecia aliviado em contar que aquele não era o corpo de Thomas.
— Que tipo de animal faria isso? Christophe questionou, olhando ao redor com apreensão. – Esses corpos foram devorados quase que por completo...
Não houve resposta, nenhum deles sabia. Mas logo a atenção voltou-se a um som de engasgo que vinha de um dos corpos. Antoniete olhei assustada para os dois e tremendo, se aproximou para socorrer caso um deles ainda estivesse vivo.
Quando agachar-se ao lado do rapaz, notou que era ele quem chamava baixinho por um nome feminino, que imaginava ser da garota ao seu lado. Rapidamente a enfermeira tentou fazer algo para ajuda-lo, para aliviar sua dor, mas não havia mais nada que pudesse fazer por ele.
— Eu sinto muito! Murmurou com tristeza e teve que ver aqueles olhos quase sem vida, marejando e aos poucos, ficando opacos.
— Saiam desse lugar... aquela coisa ainda deve estar por aqui. – O homem disse entrecortado, engasgando com o sangue que enchia sua boca. Sua mão ensanguentada fechou-se no braço da moça com um resquício de vitalidade, e alguns segundos depois expirou pela última vez.
— Você ouviu o que ele disse, precisamos achar o Thomas logo! Christophe murmurou tentando não fitar o corpo destroçados a menos de um metro de distância.
– Espera. – Antoniete pediu quando sentiu a mão dele fechando-se em seu braço, tentando leva-la consigo. – Não podemos enterrá-los? Vamos deixá-los desse jeito...
Eles trocaram um olhar culpado, Christophe fitou seu próprio celular e a olhou ainda mais apreensivo, não havia sinal.
— Não podemos... infelizmente não temos como! Max murmurou com pesar e fez um sinal para que o seguissem. – E poderia nos complicar com a polícia, sem contar que o tocamos...
Antoniete fitou mais uma vez o jovem que ainda estava com os olhos abertos, pensou em fechá-los, mas temeu que isso acabasse colocando-os ainda mais como suspeitos e achou melhor apenas segui-los em silencio.
— Aquela coisa ainda deve estar aqui... – Max sussurrou quase sem voz, engatilhando a espingarda. – O que quer que seja, será melhor estarmos preparados.
Ela respirou com dificuldade, tentando ouvir algo em meio aquele assustador silêncio do bosque, podendo ouvir apenas o amassar de folhas e poucos barulhos feitos por pássaros. E logo estavam se embrenhando na mata detalhada, ouvindo atentamente e procurando por algum rastro deixado por Thomas.
— Você acha que um lobo poderia fazer algo assim? Christophe questionou em um sussurro, sua mão apertando a minha com força como se para garantir que ela ainda estava ao seu lado.
— Só se fosse um lobo de dois metros! Max murmurou parando de repente, indeciso sobre qual caminho seguir. Iluminou para os dois lados e com um suspiro indeciso, optou pela direita, adentrando ainda mais a mata.
Antoniete abriu a boca para retrucar aquela informação, mas se calou ao ouvir o som de chamado, pareciam gritos vindo da direção oposta, a voz era realmente parecida com a de Thomas, e ouvindo com cuidado, percebeu que realmente se tratava da voz dele.
E pela segunda vez, correram pela mata, ignorando os perigos, ela até chegou a pensar como se encaixavam bem no estereótipo dos personagens burros de filmes trash, mas logo esses pensamentos sumiram de sua mente ao se deparar com Thomas, caído em uma clareira, iluminado pela lua cheia.
Quase chorou de felicidade ao ver aquele idiota sentado no chão.
— Que porr* você está fazendo aqui? Max questionou chacoalhando-o bruscamente e em seguida, começou a o examinar, percebendo que havia um corte grande em sua perna. – O que aconteceu?
— Eu cai da porcaria daquele barranco! O outro respondeu com uma expressão de dor. – ‘Tá’ doendo pra caralh*!
Quando finalmente se recuperou do susto, Antoniete correu em sua direção, tentando ajuda-lo com os primeiros socorros, retirou alguns curativos da mochila que carregava no ombro e entregou ao primo uma garrafinha de água mineral que estava perdida ali dentro para sua sorte.
A testa de Thomas suava, mostrando que estava começando a ter febre e possivelmente o ferimento estava inflamado, então precisava ser levado ao hospital antes que acabasse gangrenando.
— Certo! Onde estamos e pra que lado fica a fazenda? Christophe murmurou iluminando a mata com sua lanterna. Seus olhos castanhos fixos nas árvores que balançavam e se moviam de acordo com cada som que ouvia.
Antoniete sentiu um arrepio subir por sua coluna ao ouvir o som de um uivo ao longe, apressando-a para tentar levantar Thomas. Precisavam sair daquele maldito lugar o mais rápido possível, pois o que quer que tivesse comido aquelas pessoas, ainda estava por ali e talvez os procurando. Olhou para a lua que brilhava sobre suas cabeças e checou novamente o sinal no celular, mas continuava na mesma. Nenhum único pontinho.
De repente, um arrepio subiu por sua coluna ao ouvir o som de passos pesados sobre as folhas caídas no chão, parecia que alguém ou algo estava correndo em sua direção. Rapidamente, Christophe e Max passaram os braços de Thomas ao redor de seus ombros, usando o próprio corpo de apoio para o outro que ainda estava um pouco desorientado, e começaram a mover-se.
— Vamos sair daqui! Max resmungou, começando a andar em uma direção que me pareceu aleatória. – Estamos muito longe da fazenda, mas podemos encontrar uma antiga casa de caça que fica por aqui...
Não retrucamos e apenas o seguimos o mais rápido possível, mas por mais que andássemos a maldita casa não aparecia e os passos daquela coisa logo se aproximavam, parecia estar correndo.
— Estamos perdidos! Antoniete choramingou olhando para trás, entrando em desespero, a mochila em suas costas começava a pesar e logo estava ficando para trás.
Quando vislumbrou a cabana de madeira antiga caindo aos pedaços, surgindo em sua frente, quase chorou de felicidade e apressou o passo para entrar ali o mais rápido possível.
Mas antes que pudesse entrar, sentiu uma mão grande fechar-se em seus cabelos, as unhas que pareciam garras machucaram o meu pescoço e gritou ao sentir que estava sendo arrastada novamente para o bosque. Os três rapazes viraram-se para encara-la e seus olhos se arregalaram em horror, pelo seu desespero dava para imaginar que o que tentava a arrastar provavelmente era o mesmo que devorou aquelas pessoas.
Gritou se debatendo e ao se virar, se deparou com a bocarra enorme de um animal prestes a lhe morder. Gritou esperando o pior, mas de repente, a criatura a soltou e o som de balas a ensurdeceu por alguns instantes. Cambaleou caindo no chão de terra úmida e rapidamente se arrastei para longe daquela coisa que cambaleio também, sangrando e urrando de dor.
Era Christophe quem estava atirando, seus olhos se encontraram enquanto engatilhava a espingarda novamente, e o viu se aproximando, disparando mais. Puxou a namorada pelo braço e correram para dentro da casa, usando um antigo móvel pesado para escorar a porta carcomida.
— O que porr* era aquilo! Christophe gritou com os olhos arregalados para a porta. – Não era pra aquela coisa existir... p-parecia um lobo, mas estava sobre as duas pernas!
Trancados ali dentro, ela se sentia apreensiva com cada pequeno barulhinho que ouvia, e a sensação se tornava ainda mais aterradora quando o silencio tomava conta do ambiente. Balançou o celular, xingando-o de imprestável e sentiu as lágrimas quentes escorrerem por seu rosto ao notar que nem sequer a maldita linha de emergência funcionava.
– Mais que droga! Murmurou se sentando no chão, escondendo o rosto nas mãos e encolhendo as pernas contra o tronco.
– Ei! Você está bem? Christophe questionou se sentando ao lado da namorada, abraçando-a enquanto a ouvia agradecer por ter sido salva.
– Teu pescoço está sangrando... – Ele murmurou ignorando os agradecimentos. Rasgou a manga de sua camisa e pressionou no local, provavelmente tentando estancar o sangue. – Me lembra de não visitar mais sua família depois de casarmos? Brincou.
Ela sorriu de canto, concordando e sentiu-se um pouco mais calma, checou novamente o celular e percebeu que se aguentassem mais um pouco, logo amanheceria.
Ergueu o rosto em direção a Max, que andava de um lado para o outro, segurando a espingarda com tanta força que o metal parecia estar prestes a envergar a qualquer momento e em seguida, voltou sua atenção a Tomas que, assim como ela, estava recostado a antiga parede de madeira tentando se recuperar. Seu rosto estava contorcido em dor e as mãos tremiam involuntariamente por causa do frio e do medo.
– Que porr* você estava fazendo nesse maldito bosque? Max perguntou de repente, voltando-se para o primo.
– Eu só queria saber que é essa coisa... – Thomas explicou com a voz soando cansada. Seus olhos se arregalaram como se uma horrível imagem passasse em sua mente. – Aquilo é um monstro... eu o vi destroçar aquelas pessoas como se fossem manteiga.
– Meu Deus! Max exclamou tentando manter-se calmo, mas claramente estava muito irritado, chegando a ranger os dentes. – Duas pessoas morreram, e praticamente estamos perdidos... o que faremos?
Não havia resposta, nenhum deles sabia o que fazer, e a menos que aquela coisa se cansasse, não conseguiam imaginar uma perspectiva em que poderíamos sair vivos dali. E para piorar a situação, o som de rosnados e uivos começou a ressoar próximo a pequena cabana. Logo, golpes violentos começaram a ser desferidos contra a porta que, parecia estar prestes a cair a qualquer momento.
– Aquela coisa está tentando entrar! Antoniete gritou encolhendo-se atrás de Christophe, olhou ao redor e percebeu que, presos ali dentro, seriam um alvo fácil para aquele animal selvagem. – Precisamos sair daqui!
– Me dá a espingarda! Christophe pediu de repente, fitando Max com seriedade e beijou a testa da namorada. – Saiam correndo, eu o distraio!
– O que? Não! Não vamos te deixar aqui! A moça exclamou horrorizada com sua ideia, nunca seria capaz de deixa-lo sozinho naquele maldito lugar.
– Você sabe que não posso correr, meu joelho foi fraturado... – Ele explicou com seriedade, respirou fundo parecendo tentar manter a calma. – Saiam pela janela, vou dar cobertura.
Os dois trocaram um olhar sério e depois de alguns segundos, Max entregou-lhe a espingarda enquanto fazia uma negativa com a cabeça, em seguida, puxou a prima pelo braço, levando-a a força.
No momento em que a porta cedeu, ela gritou em desespero. Christophe rapidamente começou a atirar, engatilhando e recarregando os cartuchos com facilidade. A última coisa que viram, foi ele andando em direção a aquela coisa, enchendo-a de grandes balas.
Antoniete ainda tentou resistir, mas logo foi arrastada para fora da cabana e correram na direção oposta, não parando em momento nenhum.
Minutos depois, com uma enorme dor no peito misturava ao alivio, a moça avistou a fazenda e caminhei naquela direção em silencio. Os primários raios de sol iluminavam a floresta por sobre a copa das árvores, e aos poucos, o frio da noite se dissipava. Não conseguia olhar para Max ou Thomas, e continuou marchando, sentindo as lágrimas escorrerem livremente pelo seu rosto.
Assim que os viu, Silvia correu na direção deles e assim que os alcançou, abraçou o namorado com toda a força que dispunha, chorando copiosamente em seus braços.
– Fiquei tão preocupada... – Exclamou, erguendo o rosto molhado em lágrimas do seu peito, e fitou a outra moça com uma expressão lívida. – Onde está o Christophe?
– Desculpe-me! Thomas sussurrou e nossos olhos se encontraram, fazendo com que a garganta da outra doesse ainda mais por segurar os soluços.
– Cale-se! Ela pediu notando como a sua voz saia fria. – Só fique com a porr* da boca calada...
– O que aconteceu? Silvia questionou assustada, voltando os olhos ao grande casarão às suas costas. – Ouvimos tiros...
– Fomos atacados por algum animal selvagem! Max explicou com o rosto baixo, e esfregou as mãos pelo rosto pálido. – Precisamos que chame a polícia.
Nesse momento, a matriarca da família, irrompeu pela porta fitando-os com apreensão, questionando o porquê de estarem ligando para a polícia, e após ouvir uma explicação resumida do que aconteceu, os levou para dentro. Exceto por Antoniete que não conseguiu entrar, seus olhos ainda fixados na floresta onde Christophe estava ferido, ou talvez, na pior das hipóteses, morto.
Ouviu pedidos para que entrasse, mas permaneceu parada.
Logo uma viatura surgiu no horizonte, levantando a poeira do chão. Voltou-me para ela, e implorou aos policiais que entrassem na floresta pois, ele ainda poderia estar vivo. Queria entrar com eles, mas não foi permitido. Então, ficou parada observando atentamente qualquer movimento e esperei.
Sentiu seus pelos se arrepiando por completo ao ver uma pequena movimentação entre as árvores e, sem pensar em nada, correu naquela direção, gritando de felicidade enquanto abraçava com força Christophe que caminhava em sua direção, amparado pelos dois jovens policiais que vieram na viatura. Um de seus braços parecia estar quebrado, seu rosto estava branco pela perda de sangue e com horror, ela percebeu que em sua mão esquerda faltavam três dedos.
– A espingarda do teu primo quebrou... – Ele comentou parecendo estar atordoado, o que era natural devido a quantidade de sangue que vinha perdendo.
– Como você conseguiu? Antoniete perguntou abraçando-o com mais força, parando apenas ao ouvi-lo gritar de dor. – Desculpe, desculpe...
No fim, por causa dos corpos, a polícia tomou conta do local e assegurou que provavelmente haviam sido atacados por lobos, e como estávamos bêbados não conseguiram ver bem o que se passava. O mesmo para a médica que os atendeu, porém, ela havia explicado que aquelas marcas de ataque eram tão grandes quanto as de um urso, mostrando que não estavam tão confusos assim.
Em momento nenhum ela conseguiu se afastar de Christophe, grudando nele como um carrapato, e passaram o resto do dia descansando deitados.
Batidas soaram na porta, e depois de alguns minutos, a matriarca se aproximou lentamente, observando-os com cautela.
– Rapaz... deixe-me ver seus machucados! Pediu de repente, aproximando-se e começando a tirar as ataduras. – Você lembra se foi mordido?
– Acho que não, eu atirei muito naquela coisa... – Christophe respondeu sendo sincero, mesmo não acreditando muito em superstições.
– Mas afinal, como você conseguiu fugir? Foi a vez da namorada perguntar enquanto apertava suas mãos, como se fosse ela a receber os curativos.
– Na verdade, quando os raios de sol começaram a iluminar por entre as árvores aquela coisa correu, sumindo no meio da mata. – Ele explicou fechando os olhos e franzindo a testa como se estivesse se lembrando daquela memória ruim.
Mesmo com a informação dada por Christophe, ela só se deu por satisfeita depois de verificar seu corpo, conferindo todos os machucados.
– Porque a senhora está fazendo isso? A neta perguntei enquanto olhava a senhora afastando-se em direção à porta.
– Lua cheia! Foi a única coisa que ela respondeu, em sussurros, antes de sair, deixando-os sozinhos novamente.
Quando terminei a narrativa, percebi que precisaria de uma coletânea diferente para anexá-lo, era muito “gutural” para ser colocado juntamente com alguns contos açucarados de romance. Criei uma nova página, intitulando de “Histórias para ler no escuro”, e o coloquei, reservando o espaço para alguns contos um pouco mais violentos. Fechei o notebook, e esfreguei os olhos, sentindo-os cansados. Pensei no trabalho videográfico que precisaria fazer em algumas horas e bocejei sonolenta, estava feliz por ter concluído o conto, mas cansada por quase não ter dormido aquela noite. Peguei meu celular, notando as mensagens do grupo e observei a previsão do tempo, percebendo que o clima iria ficar um pouco mais ameno. Sabendo disso, caminhei em direção ao guarda-roupas e escolhi uma calça jeans clara, combinando-a com uma camiseta branca, um conjunto casual que não chamaria muita atenção. Peguei minha bicicleta, pedalando pela via destinada aos ciclistas e respirei fundo
Dylan me mandou algumas mensagens, depois de dias sem nenhum sinal de vida, fiquei irritada, sentindo vontade de deixa-lo no vácuo, mas não o fiz. Respondi seus questionamentos de como eu estava, e franzi as sobrancelhas ao perceber a frequência com que ele me questionava a respeito da minha segurança.“Porque a minha segurança te preocupa tanto?” Retribui sua pergunta com outra, e esperei pelo que ele responderia, ficando cada vez mais irritada com suas mensagens ambíguas.“Quando nos veremos novamente?” Questionei sentindo meu peito se apertar pois, começava a pensar novamente sobre nosso possível término, pois, dessa vez, o questionaria sobre minhas dúvidas e caso ele realmente fosse casado, essa seria a última vez que nos veríamos.Para a minha surpresa, uma chamada começou a sinalizar na tela do meu celular, pensei um pouco se
Na manhã seguinte, acordei sentindo os raios de sol entrando pela janela, era quentinho, mas incomodava meus olhos irritados, fazendo com que quase não conseguisse mantê-los abertos. Bocejei, sentando-me desajeitadamente em meio ao amontoado de panos e observei ao redor, reconhecendo o que parecia ser as pernas de Mari sobre seu estomago. Ela estava esticada de qualquer jeito, e seus braços mantinham-se jogados próximo à sua cabeça, repuxando a camiseta longa e branca, mostrando o short curto e rosado que usava.Ri baixo, percebendo que não estava em posição de criticá-la, visto que uma de minhas pernas estava sobre a mesinha e a outra dobrada formando um “quatro”, isto enquanto meu pescoço entortava-se para caber no espaço entre o um móvel que não consegui identificar e a parede.“Como raios eu consegui ficar nessa posição?” Que
Dylan...Fitei a tela do celular, me questionando se a ligação havia caído ao acaso, ou se Azarya havia a encerrado de propósito – algo que não seria uma surpresa visto que parecia muito irritada com os comentários daqueles dois imbecis querendo seu número –, e isso até deveria ser um aliviado, porém, somente me enchia cada vez mais de preocupação.Sua desconfiança era óbvia. Principalmente nas últimas semanas quando começou a fazer algumas perguntas esporádicas, mas que se mostravam bem pontuais, eu diria até que dignas de uma detetive. E algumas hipóteses me vinham à mente para aquele comportamento curioso, sendo que já tinha quase certeza que ela temia ser minha amante pois, era um medo bem recorrente entre as garotas.O número estava guardado em minha memória, eu nunca havia o registrado em nenh
Michel...Apertei os joelhos contra o peito e deitei a cabeça sobre eles, era claro que algo estava errado e por mais que eu teimasse em não querer reconhecer, meu subconsciente me lembrava isso. Principalmente, desde ontem à noite, quando Thomas cancelou nossos planos de ir ao cinema, mal consigo me comunicar com ele.– Quer pizza? Mari questionou irrompendo pela porta da cozinha e vindo em minha direção, em uma de suas mãos, segurando um prato com fatias de pizza requentadas no micro-ondas.– Não. Obrigada! Murmurei voltando minha atenção novamente ao meu celular, me questionando porque ele não respondia.Suspirei mandando uma interrogação e fiquei ainda mais ansioso ao perceber que as barrinhas azuis de visualização estavam desativadas, minha garganta se apertou e senti meus olhos ardendo enquanto pensava que pelo menos para mim, ele poderia vi
Thomas chamou meu nome, sua voz soando hesitante, virei-me para fita-lo, sentindo meu sangue fervendo e quando nossos olhos se encontraram, um nó formou-se em minha garganta causando uma sensação de sufocamento, recuei alguns passos, e tive o ímpeto de correr. Não queria conversar com ele, sabendo que não gostaria do que ouviria, mas não consegui me mover, minhas pernas estavam pesadas como pedras. – Precisamos conversar... – Thomas tornou a falar, erguendo o braço e tentando me alcançar mesmo um tanto distante. – Não seja assim... a gente ‘tá’ junto há quase três anos. – E isso te dá o direito de me trair? Questionei sentindo minha boca se contorcendo involuntariamente, apertei meus punhos e o fitei sério, me esforçando ao máximo para não chorar em sua frente. – Você mais do que ninguém sabe o que eu passei tentando manter esse relacionamento. – Não seja egoísta, você não foi o único a se esforçar... – Thomas retrucou franzindo as sobrancelhas, parecendo est
Dylan... A moça ainda se debateu por mais alguns momentos, balançando seu corpo no ar enquanto tentava acertar chutes aleatórios em qualquer um que tentasse se aproximar. Pelo canto do olho, eu podia ver o sorriso sádico no rosto de Gale enquanto olhava para seu corpo ainda em desenvolvimento, ficando ainda mais excitado quando a viu completamente vulnerável ao receber uma injeção de sedativo que fez seu corpo amolecer. – Se não tivesse uma cara tão bonita, teria levado um soco agora... – Ele disse entre sussurros quando a pegou em seus braços, jogando-a por sobre o ombro como um saco e em seguida, seus olhos voltara-se a mim. – Vamos embora, aproveitando enquanto ela ‘tá’ chapada. Concordei, acenando com a cabeça positivamente e o acompanhei, carregando as duas malas pesadas que um dos subordinados do mercador havia me entregado. Quando chegamos ao carro, notei que Scar caminhava em direção a
Azarya...Depois de noite de bebedeira e a conversa com Mari, dormi uma longa noite de sono cheia de sonhos confusos nos quais a antiga inquilina sempre aparecia entristecida, era como se ela continuasse tentando se comunicar comigo, mas fosse impossibilitada por algo que eu desconhecia.Quando acordei, na manhã seguinte, senti vontade de trabalhar no meu livro compilado antes do café da manhã. Sentei-me em frente a escrivaninha onde ficava o notebook, planejando iniciar um novo conto a partir das anotações que havia feito nos últimos dias, e estranhamente me vi sem saber por onde deveria começar.Esfreguei as têmporas, confusa pelo que estava acontecendo, já havia uma linha de raciocínio pronta, então não fazia sentido estar com aquele tipo de bloqueio praticamente sem motivo. Suspirei apoiando o queixo na mão e tentei pensar em uma frase que fosse impactante o suficiente