O Relato do Dr. Meine
Meu nome é Filipe Meine, filho de pais professores, eu sou o mais velho de três irmãos. Infelizmente, minha irmã mais nova morreu ainda criança aos cinco anos de idade, vítima de meningite, eu contava com apenas nove anos na época, mas a perda da menina transformou profundamente a nossa família. Meus pais, até então carinhosos e comprometidos com o diálogo e a boa educação familiar, se tornaram de um momento para o outro, distantes e emocionalmente instáveis. Sendo assim, eu e meu irmão Berni nos transformamos em cúmplices e autores de nossos próprios destinos. Mesmo sem talento ou habilidades especiais fiquei obcecado pela ideia de me transformar no sujeito mais inteligente e bem sucedido daquele subúrbio. Desde modo, fui me acostumando a me dedicar de corpo e alma aos estudos, mesmo não sendo o aluno mais inteligente, com certeza era o mais esforçado e bem informado, e pessoalmente não admitia tirar uma nota inferior que nove e meio n
O Relato de Vitina Meu nome é Vitina Álmen, sou especialista e tradutora de Línguas Arcaicas. Venho de uma família de forte tradição militar, desde meu bisavô que foi um famoso general, quase todos os membros da família, seguindo o exemplo dele, entraram para a Academia Militar. Então, meu pai, não fugindo à regra, seguiu carreira e acabou se tornando o mais bem-sucedido militar da família em décadas, conquistando fama e angariando fortuna. Papai se especializou em comunicação via satélite e, devido ao seu grande talento, executava projetos para as mais renomadas organizações mundiais, sendo o responsável pela implantação e aperfeiçoamento de satélites artificiais em todo o mundo. Desde criança tanto eu quanto mamãe e minha irmã mais nova Adhina nos acostumamos com a vida agitada de papai. Nunca tivemos casa própria, porque vivíamos mudando de uma cidade para outra, e de um país para o outro constantemente. Nesta época, os inúmeros compromiss
O Relato de Dru Ruver Meu nome é Dru Raphael Ruver, filha do oceanógrafo Edgar Ruver e da cinegrafista e fotógrafa submarina Eleonora Raphael. Durante a minha infância, participava de pesquisas científicas a bordo do veleiro Saint-Exupéry, onde meus pais e outros pesquisadores realizavam estudos sobre a vida marinha. Até os nove anos de idade, eu vivi mais a bordo do que em terra firme. Somente no inverno, durante três meses, morávamos na Baía Norte perto do Trópico de Capricórnio em uma aconchegante casa à beira mar. Foi nesta época que conheci Hans, o estrangeiro e sua mãe Sra. Berger, os moradores e vizinhos mais excêntricos da Baía Norte, quando certa vez na véspera de meu aniversário, resgatei o gato de Hans, um filhote desorientado e arteiro que quase morreu de frio na varanda de casa. Comovida com minha ação, a Sra. Berger passou a frequentar a minha casa, sempre me trazendo doces e presentes. Eu não podia sonhar com uma vida melhor: tinha uma tremenda sorte por ter pais tão
Vitina tentou quebrar o gelo e comentou: − Então, os homens daqui são muito mal vistos? − São temidos, eu diria! – completou Bran. Logo Roddie mencionou: − Por isso aquelas criaturas que vimos no lago, fugiram apavorados! Dru Ruver concordou: - Eles estavam com medo de nós “humanos”. Mas Bram, por que você não teme a nossa presença? − Esta é uma pergunta a que devo responder em três partes. A primeira parte é que eu não temo vossa presença, nem a de outros homens e nem qualquer outra raça. Eu e meu povo vivemos em paz com todos os outros habitantes destas terras, nem mesmo os homens podem nos fazer mal, porque ninguém pode entrar em Kathumaram. − Mas nós entramos! – Dru completou surpresa. − Não! Eu permiti que vocês entrassem! − Então, ninguém pode entrar sem ser visto em Kathumaram? − Isto é irrelevante. Por certo muitos tentaram, mas repito que ninguém pode entrar em Kathumaram, ninguém! Aquel
O grupo de Dru Ruver ficou imóvel e sem jeito pelo discurso, mas Bram continuou: − Tornei-me explorador há quase oitocentos anos e jamais encontrei outros pequenos como vocês! Se vosso mundo é tão avançado com máquinas que falam e voam, posso garantir que nunca vi nada parecido com o que dizem, e sei o que digo, porque já percorri todas estas terras. Conheço todas as raças, vilas, aldeias e colônias por estes vastos territórios, cheguei até a borda das terras mais distantes. Este lugar de onde vocês vieram ou está muito longe de todas as terras mais distantes, ou está em outro... - ele se calou. − Tempo? – indagou sério o Dr. Meine. − Então acredita em nós? – Dru interpelou-o, ansiosa. − Em nossa história nestes dois ciclos de vida não há registro de exploradores como vocês, e nem do lugar de onde dizem que vieram! − Isto é ruim, não? – indagou Roddie. − Sem dúvida, torna-se mais ampla e complexa vossa tarefa. E somente posso responder
O rígido inverno durou cerca de cinquenta dias e durante este período o grupo de Dru Ruver estudou com afinco na Biblioteca de Kathumaram todos os dados mais relevantes sobre aquelas terras, aprendendo com exatidão a duração das estações do ano, e a localização dos territórios através dos rústicos mapas disponíveis. No início da primavera os viajantes decidiram partir para as Terras Baixas do Sul. Talvez lá, pudessem descobrir mais pistas sobre o antigo livro, e com muita sorte, quem sabe, pudessem conseguir um carimbo em seu passaporte com uma passagem de volta para casa! Antes de partirem, Bram deu de presente a cada viajante uma capa térmica de viagem, uma bússola colorida de cristal, um cantil de água intermitente e, não menos importante, um apito de localização. Os presentes foram festejados, afinal a capa térmica de viagem era capaz de resfriar o corpo se a temperatura ficasse alta, ou então aquecê-los no frio intenso. A bússola colorida de cristal era
Houve agitação e euforia, até Hans retomar a palavra: - É claro, que para isto ocorrer, vocês precisam colaborar conosco. - O que você quer dizer? O que nós vamos ter que fazer? - Eu adoro mulheres práticas! – gracejou Hans - Mas, respondendo a sua pergunta de modo direto, Doutora Vitina: vocês vão colaborar conosco, fornecendo todas as informações detalhadas obtidas em Kathumaram. - Só isso? Temos que contar tudo que aconteceu conosco? - Exato, meu rapaz. Precisamos destas informações e claro, dos presentes que vocês ganharam. - Como você sabe que ganhamos presentes? – especulou Dru. - Porque vocês não tinham estes, digamos, esses apetrechos quando chegaram aqui. - E porque isto é tão importante, Hans? - Porque doutor, nós vamos civilizar este mundo e precisamos conhecer os nossos adversários! - Adversários? Então, pretendem migrar, colonizar e dominar estas terras? - Sim, doutor! Nós queremos u
Neste momento, Hans encarou Dru Ruver: o estrangeiro estendeu a palma da mão direita, como que inquirindo algo! Foi então, que Dru tateou o bolso esquerdo da calça e retirou a chave extraordinariamente comum, que Hans havia dado à ela meses atrás: - Você quer dizer que esta chave: a chave da suposta casa de arandelas niqueladas, na verdade é a chave de um Portal do Tempo? - Mas é claro, minha jovem. – explicou Hans - Sem uma chave, ninguém pode atravessar um Portal do tempo! Foi deste modo que vieram para este lugar e é com este chave que poderão voltar para casa! Todos estavam pasmos com a ideia, Dru não se conformava: - E se eu tivesse perdido esta chave? Ou melhor, e se eu não tivesse guardado esta chave no bolso? - Então, minha jovem, vocês jamais voltariam para casa! - E você? Como atravessa o Portal? – Roddie perguntou áspero. - Eu tenho a minha própria chave, é claro! E assim, acontece com todos os viajantes do tempo. Ca
O grupo se instalou na confortável sala de estar, Dru fechou todas as cortinas e as portas para isolar o ambiente. A jovem sentou em sua poltrona preferida com a poodle em seu colo e desabafou:- Será que Hans vai mesmo avisar que voltamos para casa?- Sem dúvida! Afinal, eles não iriam nos mandar de volta se isto não fosse conveniente! – respondeu Meine.- E agora? Qual é o plano? – indagou Roddie.- A única certeza que tenho é que eu não vou colaborar com estes crápulas! – Vitina argumentou.- Nem eu! – constatou Meine – Eu blefei, entenderam?! Jamais vou entregar Bram! Ele salvou a minha vida!- Eu sabia que era um blefe! Tinha certeza! – Dru se adiantou- Nossa tio: você foi mais velhaco que Hans! Hahaha, hahaha, hahaha.- E o tempo todo, eu estava revoltada, imaginando que você era de fato um traidor! &ndas