O abrigo foi lançado ao ar e depois sofreu o impacto de ser arrastado pela forte correnteza, tudo girava em uma velocidade alucinante. A tenda hermeticamente fechada transformou-se numa bolha de ar tentando resistir ao forte impacto do tornado. O movimento frenético intensificou-se, os viajantes rolavam de um lado para o outro, de cima para baixo e uns sobre os outros, acompanhando o movimento centrífugo e extenuante.
Por fim o impacto da correnteza das águas turvas engoliu o abrigo, os lançando no fundo do lago. Neste momento a tenda não resistiu à pressão e começou instantaneamente a rasgar-se em tiras.
A água fria e turva atingiu-os e seria muita sorte se não se afogassem. Por instinto, os viajantes tentavam subir a superfície desesperadamente e cerca de alguns metros de profundidade os separavam da morte.
Com movimentos rápidos Vitina foi a primeira a alcançar a superfície, depois Oscar, e Dru chegou quase que no mesmo instante que Ada. A jovem começou a
Foi quando Vitina e Dru se posicionaram a frente de tosca embarcação, enquanto Roddie e Ada ficaram no meio, seguidos por Oscar e Meine que se posicionaram no fundo. Cada um do grupo remava com as mãos seguindo as orientações do cartógrafo que de olho na bússola comandava as manobras. Em cerca de quinze minutos, após ziguezagues e retomadas, a alquebrada embarcação com um grupo de remadores amadores, mas, bem intencionados, seguia para o Sul em direção ao Portão das Profundezas. À medida que atingiam o Sul foi possível avistar as frondosas árvores da Floresta Tropical. No entanto, a costa permanecia a léguas de distância e para alcançá-la seria necessário remar por horas. Noite adentro a tripulação permaneceu se revezando e remando para o Sul, o céu limpo repleto de estrelas e a lua nova iluminavam a trajetória. Após vinte e quatro horas velejando naquela embarcação alquebrada e desconfortável, finalmente o grupo atingiu terra firme. Os viajantes dese
Convencido da urgência da desventura e por sua obrigação moral em ajudar um ser humano solitário, Bram partiu sorrateiramente de Kathumaram na madrugada anterior. Há dois dias ele cavalgava a toda velocidade com sua corsária em direção ao Bosque do Sul, porque sabia de antemão que qualquer humano que cruzasse aquele Bosque seria sumariamente executado pelas raças centáuricas que habitavam a extensa área. Esta antiga decisão foi tomada ainda durante a Primeira Era quando os habitantes do Bosque temiam a invasão e a caça pelos Homens das Terras Baixas do Sul. Foi quando todas as raças centáuricas, entre eles: os onocentauros, os minotauros, os pterocentauros, os leontocentauros e os faunos se reuniram em assembleia para decretar a pena de morte sumária para qualquer invasor humano. Mesmo tendo se passado Duas Eras, a lei ainda estava em vigor. Deste modo as chances de ajuda seriam quase nulas se Bram não fosse capaz de chegar a tempo e deter o ser humano e dono do apit
Checando o apito de localização avançada Bram desmontou há alguns metros de distância do local onde estava a jovem e foi gritando: - Dru Ruver eu voltei para ajudá-la, não tenha medo, apareça! Para os viajantes humanos não era necessário enxergar quem se aproximava. Eles reconheceriam a voz de Bram em qualquer tempo ou lugar, e Dru Ruver surpresa e por impulso foi na direção do explorador saudando-o. - Bram o que faz aqui? - Eu vim ajudá-la e devemos partir... O explorador ficou mudo ao contemplar além da jovem, os outros viajantes do tempo que a acompanhavam. Vitina percebendo a estranha reação do explorador zombou: - O que foi? Parece até que viu um fantasma! Ainda pasmo, Bram perguntou sem hesitar: - Vocês estão vivos? - Bem vivos, obrigado por perguntar! - respondeu Roddie - Afinal, o que está acontecendo? - Ada interrompeu. Bram tentou explicar: - Eu monitorei o progresso de su
O grupo se pôs em marcha guiados por Bram que seguia à frente, lado a lado com a sua corsária. Logo atrás e em duplas vinham Vitina e o Dr. Meine, depois Ada e Oscar Kupis, e na retaguarda Roddie e Dru Ruver. O grupo caminhou por toda a manhã deixando para trás a fronteira, cruzando o primeiro flanco das Terras Baixas do Sul. A partir daquele ponto toda atenção e prudência seriam requeridas, os viajantes contavam apenas com a discrição e sorte para transpor desapercebidos aquele território. O primeiro flanco não oferecia muitos obstáculos, apesar da subida íngreme e vagarosa o território não era uma trilha acidentada e nem difícil de transpor, e ainda naquela noite o grupo pretendia galgar o topo do primeiro flanco. Já era fim da tarde e os viajantes estavam a um quilômetro do cume. Foi quando Bram sugeriu: - Vamos esperar anoitecer para ganhar o topo, nas Terras Baixas do Sul existem torres de observação e guardas que vigiam as montanhas. - E
Como de hábito a corsária guiava o grupo, mas desta vez não era necessário utilizar o cordão-guia e pela primeira vez os viajantes do tempo prosseguiam felizes por conseguirem enxergar a trilha. Após uma hora de caminhada o espesso nevoeiro retornou e isto não permitia ao grupo avistar mais do que cinco metros adiante. Contudo, ninguém reclamou porque a neblina os protegia encobrindo os movimentos do grupo. Por vezes o farfalhar das árvores e estranhos assobios interrompiam a marcha por alguns segundos. Dru Ruver já estava inquieta com o piar que ecoava pelo desfiladeiro e Vitina percebendo o desconforto da jovem perguntou: - Será que estes assobios são de algum pássaro? O que acha Bram? Mas o explorador de Kathumaram fingiu não ouvir a pergunta e permaneceu calado até que Meine interveio: - Afinal, esses assobios são de algum animal ou não? O explorador sem alternativa respondeu: - Julgo que são das patrulhas. - Patrul
PORTAL DE CAPRICÓRNIO II A GUERRA DO PORTAL CAPÍTULO I – O REGRESSO INESPERADO A sala quadrada, branca, impecável e com três janelas, indicava que os viajantes do tempo estavam de volta à casa de arandelas niqueladas próximo ao Trópico de Capricórnio. Não fosse por uma incrível jornada através de um portal do tempo e uma lacuna de vinte mil anos, aquele encabulado grupo poderia ser confundido com viajantes comuns usufruindo férias em um remoto paraíso à beira-mar. Contudo, a realidade para Dru Ruver, Filipe Maine, Vitina Álmen, Roddie Meine, Ada e Oscar Kupis não poderia ser mais desconexa, ainda mais porque na travessia de volta ao seu próprio tempo e espaço, vieram acompanhados de Bram, o explorador e amigo de Kathumaran que era um habitante do passado remoto do Portal do Tempo. Foi quando em uma tímida indagação, Dru Ruver apontou: -
“O tempo é a chave para encontrar coisas perdidas” Provérbio Chinês Nada nesse mundo começa por acaso. E mesmo sem saber disso, Dru Ruver ansiava por um mundo que não exigisse tantas explicações de uma garota de dezessete anos. Como leitora voraz, aproveitava o tempo livre consumindo livros de novos autores de Literatura Fantástica e Ficção Científica, ora se imaginando lutando contra monstros e criaturas fantásticas, ora salvando o mundo de uma iminente destruição. Como qualquer jovem de sua idade, ela sonhava em viver uma gra
Já era final da tarde, quando Dru decidiu fazer um lanche e checar com a cozinheira Sra. Lile algumas informações: − Sra. Lile, conhece aquele homem? O nosso vizinho – ela apontou involuntariamente para o terraço - com quem eu estava conversando? − Vizinho, ele? Ah... Srta. Ruver, eu nunca vi este homem antes por aqui! − Não viu? Tem certeza? − Não, não vi, tenho certeza! E olha que conheço bem nossa vizinhança. Sei quem trabalha pra quem. O nome dos patrões, a que horas eles acordam e dormem, quem trabalha, quem não trabalha e onde trabalham! Os filhos, os filhos dos filhos, quem é da capital, quem mora mesmo aqui e quem fica só por uns dias... − Eu entendo que a senhora conhece bem todo mundo por aqui! Mas aquela casa cinza, a única na encosta do declive sul que estava à venda, quem mora lá? A Sra. Lile pensou seriamente, olhou para cima e fez três movimentos com os olhos da esquerda para direita, conferindo em sua lista mental