Bram apareceu pontualmente duas horas mais tarde, conduzindo o grupo pelo corredor noroeste para o jantar que seria servido em uma das salas de refeição, onde outros habitantes de Kathumaram, ao menos doze, já estavam sentados reunidos, saboreando o jantar.
O lugar não era muito grande, mas muito limpo e confortável, havia uma mesa redonda de pedra branca no centro da sala, rodeada por banquetas fixas de pedra azul. As paredes eram decoradas com desenhos pintados à mão: águias, lagos e corsárias conferiam ao ambiente uma atmosfera tranquilizadora. A comida ficava disposta em uma mesa lateral de pedra amarelada, aquecida por uma enorme placa de metal onde, horas antes, uma porção de lava vulcânica filtrada fora despejada.
Havia três opções de prato: um cozido de ervas e batatas, uma sopa de legumes e manjericão, e bolinhos de aipim com grãos. Todos do grupo de Dru Ruver se fartaram com os três pratos, e sem acanhamento repetiam a porção ora uma, ora outra, daquela “ve
O Relato do Dr. Meine Meu nome é Filipe Meine, filho de pais professores, eu sou o mais velho de três irmãos. Infelizmente, minha irmã mais nova morreu ainda criança aos cinco anos de idade, vítima de meningite, eu contava com apenas nove anos na época, mas a perda da menina transformou profundamente a nossa família. Meus pais, até então carinhosos e comprometidos com o diálogo e a boa educação familiar, se tornaram de um momento para o outro, distantes e emocionalmente instáveis. Sendo assim, eu e meu irmão Berni nos transformamos em cúmplices e autores de nossos próprios destinos. Mesmo sem talento ou habilidades especiais fiquei obcecado pela ideia de me transformar no sujeito mais inteligente e bem sucedido daquele subúrbio. Desde modo, fui me acostumando a me dedicar de corpo e alma aos estudos, mesmo não sendo o aluno mais inteligente, com certeza era o mais esforçado e bem informado, e pessoalmente não admitia tirar uma nota inferior que nove e meio n
O Relato de Vitina Meu nome é Vitina Álmen, sou especialista e tradutora de Línguas Arcaicas. Venho de uma família de forte tradição militar, desde meu bisavô que foi um famoso general, quase todos os membros da família, seguindo o exemplo dele, entraram para a Academia Militar. Então, meu pai, não fugindo à regra, seguiu carreira e acabou se tornando o mais bem-sucedido militar da família em décadas, conquistando fama e angariando fortuna. Papai se especializou em comunicação via satélite e, devido ao seu grande talento, executava projetos para as mais renomadas organizações mundiais, sendo o responsável pela implantação e aperfeiçoamento de satélites artificiais em todo o mundo. Desde criança tanto eu quanto mamãe e minha irmã mais nova Adhina nos acostumamos com a vida agitada de papai. Nunca tivemos casa própria, porque vivíamos mudando de uma cidade para outra, e de um país para o outro constantemente. Nesta época, os inúmeros compromiss
O Relato de Dru Ruver Meu nome é Dru Raphael Ruver, filha do oceanógrafo Edgar Ruver e da cinegrafista e fotógrafa submarina Eleonora Raphael. Durante a minha infância, participava de pesquisas científicas a bordo do veleiro Saint-Exupéry, onde meus pais e outros pesquisadores realizavam estudos sobre a vida marinha. Até os nove anos de idade, eu vivi mais a bordo do que em terra firme. Somente no inverno, durante três meses, morávamos na Baía Norte perto do Trópico de Capricórnio em uma aconchegante casa à beira mar. Foi nesta época que conheci Hans, o estrangeiro e sua mãe Sra. Berger, os moradores e vizinhos mais excêntricos da Baía Norte, quando certa vez na véspera de meu aniversário, resgatei o gato de Hans, um filhote desorientado e arteiro que quase morreu de frio na varanda de casa. Comovida com minha ação, a Sra. Berger passou a frequentar a minha casa, sempre me trazendo doces e presentes. Eu não podia sonhar com uma vida melhor: tinha uma tremenda sorte por ter pais tão
Vitina tentou quebrar o gelo e comentou: − Então, os homens daqui são muito mal vistos? − São temidos, eu diria! – completou Bran. Logo Roddie mencionou: − Por isso aquelas criaturas que vimos no lago, fugiram apavorados! Dru Ruver concordou: - Eles estavam com medo de nós “humanos”. Mas Bram, por que você não teme a nossa presença? − Esta é uma pergunta a que devo responder em três partes. A primeira parte é que eu não temo vossa presença, nem a de outros homens e nem qualquer outra raça. Eu e meu povo vivemos em paz com todos os outros habitantes destas terras, nem mesmo os homens podem nos fazer mal, porque ninguém pode entrar em Kathumaram. − Mas nós entramos! – Dru completou surpresa. − Não! Eu permiti que vocês entrassem! − Então, ninguém pode entrar sem ser visto em Kathumaram? − Isto é irrelevante. Por certo muitos tentaram, mas repito que ninguém pode entrar em Kathumaram, ninguém! Aquel
O grupo de Dru Ruver ficou imóvel e sem jeito pelo discurso, mas Bram continuou: − Tornei-me explorador há quase oitocentos anos e jamais encontrei outros pequenos como vocês! Se vosso mundo é tão avançado com máquinas que falam e voam, posso garantir que nunca vi nada parecido com o que dizem, e sei o que digo, porque já percorri todas estas terras. Conheço todas as raças, vilas, aldeias e colônias por estes vastos territórios, cheguei até a borda das terras mais distantes. Este lugar de onde vocês vieram ou está muito longe de todas as terras mais distantes, ou está em outro... - ele se calou. − Tempo? – indagou sério o Dr. Meine. − Então acredita em nós? – Dru interpelou-o, ansiosa. − Em nossa história nestes dois ciclos de vida não há registro de exploradores como vocês, e nem do lugar de onde dizem que vieram! − Isto é ruim, não? – indagou Roddie. − Sem dúvida, torna-se mais ampla e complexa vossa tarefa. E somente posso responder
O rígido inverno durou cerca de cinquenta dias e durante este período o grupo de Dru Ruver estudou com afinco na Biblioteca de Kathumaram todos os dados mais relevantes sobre aquelas terras, aprendendo com exatidão a duração das estações do ano, e a localização dos territórios através dos rústicos mapas disponíveis. No início da primavera os viajantes decidiram partir para as Terras Baixas do Sul. Talvez lá, pudessem descobrir mais pistas sobre o antigo livro, e com muita sorte, quem sabe, pudessem conseguir um carimbo em seu passaporte com uma passagem de volta para casa! Antes de partirem, Bram deu de presente a cada viajante uma capa térmica de viagem, uma bússola colorida de cristal, um cantil de água intermitente e, não menos importante, um apito de localização. Os presentes foram festejados, afinal a capa térmica de viagem era capaz de resfriar o corpo se a temperatura ficasse alta, ou então aquecê-los no frio intenso. A bússola colorida de cristal era
Houve agitação e euforia, até Hans retomar a palavra: - É claro, que para isto ocorrer, vocês precisam colaborar conosco. - O que você quer dizer? O que nós vamos ter que fazer? - Eu adoro mulheres práticas! – gracejou Hans - Mas, respondendo a sua pergunta de modo direto, Doutora Vitina: vocês vão colaborar conosco, fornecendo todas as informações detalhadas obtidas em Kathumaram. - Só isso? Temos que contar tudo que aconteceu conosco? - Exato, meu rapaz. Precisamos destas informações e claro, dos presentes que vocês ganharam. - Como você sabe que ganhamos presentes? – especulou Dru. - Porque vocês não tinham estes, digamos, esses apetrechos quando chegaram aqui. - E porque isto é tão importante, Hans? - Porque doutor, nós vamos civilizar este mundo e precisamos conhecer os nossos adversários! - Adversários? Então, pretendem migrar, colonizar e dominar estas terras? - Sim, doutor! Nós queremos u
Neste momento, Hans encarou Dru Ruver: o estrangeiro estendeu a palma da mão direita, como que inquirindo algo! Foi então, que Dru tateou o bolso esquerdo da calça e retirou a chave extraordinariamente comum, que Hans havia dado à ela meses atrás: - Você quer dizer que esta chave: a chave da suposta casa de arandelas niqueladas, na verdade é a chave de um Portal do Tempo? - Mas é claro, minha jovem. – explicou Hans - Sem uma chave, ninguém pode atravessar um Portal do tempo! Foi deste modo que vieram para este lugar e é com este chave que poderão voltar para casa! Todos estavam pasmos com a ideia, Dru não se conformava: - E se eu tivesse perdido esta chave? Ou melhor, e se eu não tivesse guardado esta chave no bolso? - Então, minha jovem, vocês jamais voltariam para casa! - E você? Como atravessa o Portal? – Roddie perguntou áspero. - Eu tenho a minha própria chave, é claro! E assim, acontece com todos os viajantes do tempo. Ca