— Papai?
Sócrates dormia quando ouviu o chamado distante de uma voz infantil. Despertou aturdido, mas, tranquilizou-se quando viu Helena dormindo ao lado. Acomodou-se novamente na cama e puxou cobertor cobrindo-se mais.
— Papai? — ouviu outra vez quando pegou no sono.
Abriu os olhos e teve que conter o grito, quando viu uma garotinha em pé no quarto. Esfregou o rosto tentando se livrar da visão, mas olhando uma segunda vez pode perceber que a conhecia muito bem.
— O que faz aqui, meu amor? Volte para o seu quarto.A menina encostou o dedo nos lábios, pedindo silêncio, depois gesticulou com as mãos para que a acompanhasse. Ele obedeceu, levantando-se e a ac
— Lily, você está doente? — disse Sulivan notando a palidez da moça de manhã.— Não. Estou bem. — mentiu, levantando-se do balcão para se retirar da cozinha. O chão sumiu debaixo de seus pés, e ela procurou por algo em que se apoiar até ser amparada pela outra mulher.— Você não está bem.— É. Parece que não. — assentiu.A mais velha passou os braços em torno dela e a ajudou a sentar-se novamente.— Fique quietinha aí. Você quer um copo de água? Um remédio? Quer que eu prepare um chá?
— Cuidado com a cabeça, filho.Sulivan advertiu ajudando o filho a entrar no carro. Pela outra porta, uma eufórica Lily entrava acomodando-se ao seu lado. Era 01 de Maio, feriado do trabalho, e a primeira vez em anos, que Collin saía de casa. Suas mãos suavam e sentia-se como se estivesse sufocando. Quando o motorista ligou o motor do carro, foi afetado por um terror repentino. Frustrado e arrependido por ter chegado até ali, soltou o cinto de segurança e procurou pela maçaneta do carro.— Eu não consigo fazer isso. Desculpem, eu não quero mais ir.No banco da frente Sulivan olhou-o decepcionada, depois dele para Lily e de volta para ele.— Eu quero sair!
Por volta das 11:30h estavam exaustos. Andaram por quase duas horas subindo e descendo e precisaram de uma pausa. Sulivan teve a ideia de fazerem um piquenique ao ar livre no almoço e com a ajuda de Lily preparou tudo. Procuraram um lugar afastado onde Collin se sentisse o mais à vontade possível e arrumaram as comidas sobre a tradicional toalha quadriculada. Sulivan havia passado o dia anterior preparando uma fartura de lanches deliciosos, como pequenos sanduíches naturais com pão integral, alface americana, tomate, picles e peito de peru defumado; mini rocamboles de queijo e presunto; mini tortinhas de queijo cottage com salmão, limão e salsinha; Brownies de chocolate meio amargo recheados com nozes e frutas.— A senhora nem exagerou na quantidade de comida Sra. Sulivan. Pretendia convidar todas as pessoas do jardim? — Lily d
— Gostei dele. — Lily disse quando Sulivan se afastou com Dirceu. — Ele é bastante simpático e muito bonito também.— Não faço ideia de quem seja. Não lembro dele.— Collin disse parecendo distante.— Parece que ele se importa muito com vocês. — Ela fez uma pausa, pensando se deveria dizer a próxima frase. — E está interessado pela Sra. Sulivan.— O quê? — Collin sobressaltou. — Você conseguiu identificar chegar a essa conclusão em tão pouco tempo? Você tem alguma super habilidade de ler a mente das pessoas?Ela sorriu revirando os olhos.
Dirceu se ofereceu para levar Lily e Collin para o instituto, ambos agradeceram, mas rejeitaram a oferta. Não queria que isso atrapalhasse a tarde dele com Sulivan.Pegaram um táxi e durante todo o caminho Collin permaneceu tenso e calado. Depois de tanto tempo longe da sociedade a ansiedade e a sensação de pânico diante da possibilidade de estar no meio de outras pessoas não o abandonaria tão cedo.Também estava inseguro quanto a reabilitação, tinha medo de não aprender ou ter mais dificuldade do que os outros. Tentava afastar os pensamentos que o fazia se sentir humilhado, inútil e incapaz. Ele havia decidido mudar de fase, e sua nova fase não tinha espaço para covardia.Saber que Lily es
— Está perfeita, senhora Sulivan! — Lily aplaudia com entusiasmo enquanto Sulivan girava na frente do espelho examinando o vestido tubinho vermelho sobreposto com renda preta floral, sem mangas, com um decote V na frente e nas costas.— Talvez esteja mostrando demais o colo. Será que não está muito ousado?— Não tem nada mostrando demais. Pode confiar, a senhora é linda e está maravilhosa hoje!– Oh, meu Deus! Estou tão insegura. — jogou-se sobre a cama. – Já estou enrolando-o há semanas e pareço ridícula fazendo isso. É que já faz tanto tempo que não saio para um jantar romântico.&m
— Você está gostando da comida, Marie?Dirceu perguntou com um sorriso divertido nos lábios, após ter ficado os últimos trinta segundos, com a cabeça apoiada na mão e cotovelo sobre a mesa, admirando a mulher à sua frente fechar os olhos para saborear o alimento.— Ah! Sim. — Ela disse descansando os talheres sobre a mesa. — Estava delicioso! E o ambiente também é ótimo! — Sulivan disse olhando para o prato vazio onde instantes antes havia um corte de Pato ao Molho de Uva com Risoto de Parmesão.Foram a um bistrô francês no centro do Rio de Janeiro. O lugar era requintado, mas aconchegante. Sulivan se encantou com a grandiosa adega de vinhos e com a simpati
Collin teve que engolir o ceticismo quando o solista iniciou sua performance ao piano. Naquele momento, entendeu o quanto esteve enganado em todos esses anos. A cegueira não foi capaz de impedir o pianista de realizar tamanha façanha. Certamente, a jornada não fora fácil. Ainda assim, mesmo com a limitação e a descrença das pessoas, não deixou de seguir o próprio sonho e tornar-se grandioso. Era isso que Lily queria que ele descobrisse o levando ali? Ela esteve nos últimos meses tentando mostrar haver um mundo onde ele estava incluído? Que poderia reaprender a sonhar?Tomado pela emoção, desejou com ardor tocá-la. Procurou a mão dela e a segurou com força, deixando Lily confusa.— Obrigado, Lily! Por tu