Como todas as manhãs, desde o acidente, Collin acordou desejando estar morto. Mesmo havendo se passado mais de quatro anos, ainda sentia o terror que era abrir os olhos e continuar no escuro. Permaneceu deitado por um tempo, juntando algum resquício de ânimo para se levantar. Arfou ouvindo as vozes da mãe e de sua cuidadora vindo do andar de baixo, prevendo que logo ela subiria com seu café e o importunaria por mais um dia inteiro. Sem nenhuma motivação, sentou na cama, girou o corpo colocando as pernas para fora, tateou o chão com os pés a procura dos chinelos e calçou-os lentamente. Esticou o braço em direção ao criado mudo, alcançando-o, apoiou-se para se levantar, sentindo o corpo pesado e fraco. Caminhou titubeando em direção à toalete, amparou-se na parede em frente e percorreu as mãos até a
Na tarde do dia seguinte, quando Lily deu continuidade a leitura do livro, Collin recordou que não só já o havia lido, como fora um dos primeiros de sua vida. Causou-lhe espanto perceber que a história, aparentemente infantil, dialogava com ele e depositava reflexões penetrantes em sua alma. Tão profundas quanto a dor e o ressentimento que jaziam dentro dele.Collin seccionou sua vida entre o antes e o após perder a visão. O depois, era um purgatório, onde não podia voltar a viver, mas também não descia de uma vez ao inferno. Não podia realizar tarefas simples, como ler um livro, caminhar ao ar livre, andar a cavalo, jogar bola ou barbear-se. Não tinha ideia de como essas coisas eram valiosas, até perder tudo.Perdas. Sua vida ha
Sulivan não precisava de explicações, mas soube que algo havia mudado no filho desde aquela conversa. No domingo à tarde, a TV do quarto de Collin estava ligada em um documentário sobre a vida dos insetos, o qual ele pouco escutava, enquanto lembrava da garota presunçosa que nos últimos dias, sempre arranjava um jeito de invadir seus pensamentos. Sulivan lhe fazia companhia e depois de um tempo o observando, resolveu tocar no assunto.— Filho, como você está com a Lily? — ela disse sentada na cama dele.A pergunta repentina o pegou de surpresa. Ele se endireitou na cadeira, enquanto instintivamente cerrava os punhos. Pensar sobre isso, não lhe era nada confortável.— Parece que a relaç&
— Papai?Sócrates dormia quando ouviu o chamado distante de uma voz infantil. Despertou aturdido, mas, tranquilizou-se quando viu Helena dormindo ao lado. Acomodou-se novamente na cama e puxou cobertor cobrindo-se mais.— Papai? — ouviu outra vez quando pegou no sono.Abriu os olhos e teve que conter o grito, quando viu uma garotinha em pé no quarto. Esfregou o rosto tentando se livrar da visão, mas olhando uma segunda vez pode perceber que a conhecia muito bem.— O que faz aqui, meu amor? Volte para o seu quarto.A menina encostou o dedo nos lábios, pedindo silêncio, depois gesticulou com as mãos para que a acompanhasse. Ele obedeceu, levantando-se e a ac
— Lily, você está doente? — disse Sulivan notando a palidez da moça de manhã.— Não. Estou bem. — mentiu, levantando-se do balcão para se retirar da cozinha. O chão sumiu debaixo de seus pés, e ela procurou por algo em que se apoiar até ser amparada pela outra mulher.— Você não está bem.— É. Parece que não. — assentiu.A mais velha passou os braços em torno dela e a ajudou a sentar-se novamente.— Fique quietinha aí. Você quer um copo de água? Um remédio? Quer que eu prepare um chá?
— Cuidado com a cabeça, filho.Sulivan advertiu ajudando o filho a entrar no carro. Pela outra porta, uma eufórica Lily entrava acomodando-se ao seu lado. Era 01 de Maio, feriado do trabalho, e a primeira vez em anos, que Collin saía de casa. Suas mãos suavam e sentia-se como se estivesse sufocando. Quando o motorista ligou o motor do carro, foi afetado por um terror repentino. Frustrado e arrependido por ter chegado até ali, soltou o cinto de segurança e procurou pela maçaneta do carro.— Eu não consigo fazer isso. Desculpem, eu não quero mais ir.No banco da frente Sulivan olhou-o decepcionada, depois dele para Lily e de volta para ele.— Eu quero sair!
Por volta das 11:30h estavam exaustos. Andaram por quase duas horas subindo e descendo e precisaram de uma pausa. Sulivan teve a ideia de fazerem um piquenique ao ar livre no almoço e com a ajuda de Lily preparou tudo. Procuraram um lugar afastado onde Collin se sentisse o mais à vontade possível e arrumaram as comidas sobre a tradicional toalha quadriculada. Sulivan havia passado o dia anterior preparando uma fartura de lanches deliciosos, como pequenos sanduíches naturais com pão integral, alface americana, tomate, picles e peito de peru defumado; mini rocamboles de queijo e presunto; mini tortinhas de queijo cottage com salmão, limão e salsinha; Brownies de chocolate meio amargo recheados com nozes e frutas.— A senhora nem exagerou na quantidade de comida Sra. Sulivan. Pretendia convidar todas as pessoas do jardim? — Lily d
— Gostei dele. — Lily disse quando Sulivan se afastou com Dirceu. — Ele é bastante simpático e muito bonito também.— Não faço ideia de quem seja. Não lembro dele.— Collin disse parecendo distante.— Parece que ele se importa muito com vocês. — Ela fez uma pausa, pensando se deveria dizer a próxima frase. — E está interessado pela Sra. Sulivan.— O quê? — Collin sobressaltou. — Você conseguiu identificar chegar a essa conclusão em tão pouco tempo? Você tem alguma super habilidade de ler a mente das pessoas?Ela sorriu revirando os olhos.
Dirceu se ofereceu para levar Lily e Collin para o instituto, ambos agradeceram, mas rejeitaram a oferta. Não queria que isso atrapalhasse a tarde dele com Sulivan.Pegaram um táxi e durante todo o caminho Collin permaneceu tenso e calado. Depois de tanto tempo longe da sociedade a ansiedade e a sensação de pânico diante da possibilidade de estar no meio de outras pessoas não o abandonaria tão cedo.Também estava inseguro quanto a reabilitação, tinha medo de não aprender ou ter mais dificuldade do que os outros. Tentava afastar os pensamentos que o fazia se sentir humilhado, inútil e incapaz. Ele havia decidido mudar de fase, e sua nova fase não tinha espaço para covardia.Saber que Lily es