05

A luz suave da manhã já iluminava as montanhas ao redor de Montelago quando Chiara estacionou o carro de Dario em frente ao ginásio. Esse era um pequeno passo para se sentir mais confiante, além de evitar os táxis e as caronas diárias de Martina.

Ela estacionou o carro com cuidado e pegou a bolsa no banco do passageiro. O movimento no estacionamento já estava começando, com alguns jogadores chegando, mas foi a Mercedes Benz C300 azul que chamou sua atenção. A porta do carro se abriu com uma suavidade quase ensaiada, e quem saiu de lá foi Aki, com aquele andar confiante, como se o mundo estivesse exatamente onde ele queria que estivesse.

Chiara respirou fundo. Aki era um enigma para ela, ele era sempre distante, sempre observador, mas nunca de fato amigável. Talvez fosse a hora de tentar quebrar o gelo, ou pelo menos ser educada.

— Bom dia, Aki — disse ela, tentando soar casual, mas sentindo o coração bater um pouco mais forte.

Para sua surpresa, Aki a olhou por um instante, assentiu e respondeu.

— Bom dia — disse ele, num tom neutro, mas nada hostil.

Chiara piscou, surpresa. Ele sequer hesitou em responder, e a expressão no rosto dele não era de irritação, como ela havia esperado. Aki simplesmente continuou seu caminho em direção ao ginásio, com aquela mesma confiança tranquila de sempre.

Ela ficou por um momento parada, observando-o caminhar com aquela postura impecável. “Talvez ele não seja tão odiável assim”, pensou. Com um leve sorriso no rosto, Chiara pegou sua mochila e seguiu para o ginásio.

Alguns minutos depois o ginásio estava repleto de energia, o som das bolas de vôlei batendo no chão ecoava pelo espaço, misturado aos gritos dos jogadores e orientações do técnico. O campeonato se aproximava, e a tensão estava no ar. O treino daquele dia seria pesado e todos sabiam disso.

Chiara, com sua melhor pose de Dario, se juntou ao time de Aki. Seu coração batia forte, e ela sentia o peso de cada movimento. Ela tinha a responsabilidade de não manchar o nome do irmão como jogador, então ela precisava jogar muito bem, como se aquele treino valesse sua vida, e no fim das contas realmente valia.

— Vamos lá, gente! Sem moleza! — gritou o técnico, jogando a bola para o alto.

O treino de hoje seria uma partida simulada, com os jogadores divididos em dois times. Do outro lado da rede, Luca Ricci, o central sempre bem-humorado, preparava-se para a partida. Ele e Aki eram bons amigos, mas sempre que havia a oportunidade de provocação, Luca não perdia tempo.

— Ei, Aki! — gritou Luca, com um sorriso travesso no rosto. — Não vai pegar leve com a gente, né? Ou vai deixar o Dario carregar você nas costas?

Aki apenas lançou um olhar de lado, sem responder. O tipo de comentário que Luca adorava fazer para provocar. Chiara observava a troca, percebendo a leve tensão que vinha de Aki, mesmo que ele tentasse não demonstrar.

A partida começou, e logo o ritmo ficou intenso. Chiara, dava tudo de si para defender as bolas que vinham como mísseis da equipe adversária. Cada mergulho, cada recepção, ela fazia com todo o esforço que tinha, querendo impressionar Aki. Não que ele fosse o tipo de pessoa que precisasse ser impressionado, mas ela não poderia deixar Dario parecer um jogador medíocre.

Por outro lado, Luca estava dando um show no outro time, aproveitando cada oportunidade para provocar Aki, sempre com aquele sorriso malandro.

— Ei, Aki! Tá difícil aí? — provocou ele, após um bloqueio bem-sucedido. — Talvez o Dario precise de um descanso, que tal?

Chiara ignorou a provocação, querendo apenas se manter focada na partida. As bolas vinham rápidas e violentas, e ela mal tinha tempo de respirar entre uma defesa e outra. Mas, por mais que ela se esforçasse, o time de Aki estava tendo dificuldades em manter o controle do jogo. A recepção estava quebrada, o bloqueio falhava constantemente, e a equipe adversária se aproveitava de cada oportunidade.

No final, o time de Luca venceu a partida, e o silêncio pesado pairou sobre o time de Aki. Chiara sentiu o corpo dolorido, mas a sensação de frustração era ainda maior.

Aki, visivelmente irritado, se aproximou do técnico e do time. Ele não era de gritar, mas a irritação estava estampada em sua expressão.

— A gente precisa ajustar o bloqueio — começou ele, com o tom controlado, mas firme. — Toda vez que paramos a bola no bloqueio, não tem ninguém embaixo para cobrir. Isso tá custando pontos demais.

O técnico assentiu, ouvindo atentamente, enquanto os outros jogadores mantinham o olhar fixo no chão.

— A recepção também tá falhando — continuou Aki. — Os passes estão vindo muito tortos, e isso dificulta qualquer ataque. Não adianta a gente tentar melhorar o bloqueio e as entradas se não tem uma defesa sólida para segurar a jogada.

Então, ele lançou um olhar rápido para Chiara, mas desviou logo em seguida.

— E o Dario. — ele hesitou por um segundo, mas logo continuou. — Tá muito lento. Se não acelerar, vai ser difícil manter o ritmo do time. — A última frase saiu mais baixa, quase como se estivesse falando consigo mesmo — Mas também, o que se podia esperar de um filhinho de papai que compra a vaga em um time de elite?

Chiara ouviu claramente o comentário. Sentiu um aperto no estômago, mas não reagiu. Ela sabia que estava dando o melhor de si, mas aos olhos de Aki, isso parecia não ser suficiente.

Instantes mais tarde o treino terminou sem grandes conversas. O clima no time ainda estava tenso, mas todos sabiam que havia tempo para corrigir os erros antes da primeira partida oficial. Aki e o técnico haviam apontado pontos claros a serem melhorados, e a equipe saiu da quadra mais focada no que precisavam ajustar.

Chiara, por sua vez, tentava manter a calma, mas a frase de Aki ainda ecoava na sua mente. “Filhinho de papai que compra a vaga em um time de elite.” Aquilo a estava corroendo por dentro, porque não era assim que as coisas haviam acontecido. Dario havia sido sondado pelo time bem antes de Roberto entrar com o patrocínio. Ele havia conquistado sua vaga por mérito, e o envolvimento do pai foi uma ideia que apareceu depois, como se Roberto quisesse garantir um espaço ao lado do filho. No entanto, aos olhos de Aki, tudo parecia uma jogada de poder.

“Até quando meu pai tenta ajudar, ele atrapalha.”, pensou Chiara, sentindo a raiva crescer. Era como se o peso de todas as decisões de Roberto sempre recaísse sobre ela e Dario, e agora ela estava carregando esse fardo duplamente.

Enquanto caminhava em direção ao vestiário, a frustração fervilhava dentro dela. Antes que percebesse o que estava fazendo, seus pés a levaram diretamente na direção de Aki, que havia acabado de entrar no vestiário. Ela mal teve tempo de reconsiderar seu próximo movimento. A impulsividade tomou conta, e antes que pudesse se arrepender, ela já se encontrava em pé, na frente dele, o sangue fervendo nas veias.

— Qual o problema que você tem comigo, cara? — A pergunta saiu em um tom mais grosso do que ela esperava, mas estava longe de se sentir intimidada naquele momento.

Aki, que estava prestes a tirar suas coisas do armário, parou e olhou para ela, levantando as sobrancelhas, surpreso. O silêncio que se seguiu era quase palpável, e os poucos jogadores que ainda estavam no vestiário deram uma olhada de relance, chocados com o que estava acontecendo.

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