Chiara estava sentada no sofá apenas pensando no que havia acontecido. Dario já havia ido descansar, deixando-a sozinha para esperar Martina. O toque da campainha a trouxe de volta à realidade.
Ela se levantou rapidamente e abriu a porta. Lá estava Martina, com a expressão preocupada.
— E aí, o que rolou? — perguntou Martina, sem rodeios, entrando no apartamento como um furacão.
Chiara soltou um suspiro pesado, fechando a porta atrás de si.
— Vamos para o quarto, não quero acordar o Dario — sugeriu ela, apontando para o corredor.
As duas caminharam até o quarto, e assim que se sentaram na cama, Chiara começou a contar tudo. Cada palavra dita por Roberto, cada olhar cheio de julgamento. Ela tentou manter o tom neutro, mas a dor era visível. Martina ouviu em silêncio, mas suas expressões falavam por si.
Quando Chiara terminou, Martina explodiu.
— Eu juro, Chiara, esse homem é um desgraçado! — começou ela, jogando as mãos no ar. — Que tipo de pai faz isso? Como ele pode tratar você assim? Ele é um péssimo pai! PÉSSIMO! E ele vai pagar por tudo isso. Ah, se vai!
Chiara suspirou, sentindo o calor da fúria de Martina.
— Ele sempre foi assim, Marti — disse, tentando não chorar de novo. — Eu não esperava outra coisa.
— Não! Não vem com essa de 'eu já esperava'. — Martina se levantou, andando de um lado para o outro no quarto. — Ele é um miserável, Chiara! Miserável! E o pior é que ele sabe o que está fazendo com você, e ainda continua. Como se você tivesse culpa de alguma coisa. Ele é um covarde. E eu estou cansada disso.
— Martina, calma. — Chiara tentou, mas a amiga estava em plena combustão.
— Calma? CALMA? — Martina praticamente gritou, mas em seguida abaixou a voz para não acordar Dario. — Chiara, você é incrível! Eu não sei como você aguenta ele. Eu já teria virado a mesa, gritado na cara dele, e jogado tudo que eu pudesse nas costas daquele homem. Ele vai pagar por isso, por tudo que ele fez e faz com você.
Chiara a observou, e mesmo em meio à explosão de raiva, sentiu-se grata por ter alguém como Martina ao seu lado. Ela sabia que a amiga estava apenas expressando tudo o que ela mesma, muitas vezes, tinha medo de dizer.
— Obrigada, Marti. — Chiara murmurou, com um sorriso cansado. — Você é a única pessoa que me entende de verdade.
Martina parou por um segundo e voltou para a cama, sentando-se ao lado de Chiara.
— Sempre estarei aqui pra você, tá ouvindo? — disse, agora com a voz mais suave, colocando o braço ao redor da amiga. — E a gente vai passar por isso juntas. Sempre.
Martina deu um longo suspiro, tentando se acalmar depois de toda a explosão sobre Roberto, e perguntou:
— Mas e aí, como foi o treino? Quero detalhes.
Chiara soltou o ar lentamente, lembrando-se do esforço e da tensão do dia.
— Foi bem melhor do que eu esperava, pra ser sincera. Consegui receber várias bolas sem vacilar. Ainda bem que o Dario sugeriu usar os manguitos — ela levantou os braços, mostrando-os levemente vermelhos. — Se não fosse por isso, meus braços estariam destruídos.
— Aí sim! — Martina abriu um sorriso enorme. — Sabia que você ia arrasar. E como foi com a galera do time? Todos foram legais?
Chiara riu, pensando na recepção que teve.
— A maioria foi de boa. Todos vieram falar comigo, me deram boas-vindas, menos o Aki Ishikawa. Ele só ficou me encarando, como se estivesse me analisando o tempo todo.
Martina ergueu as sobrancelhas, claramente intrigada.
— O Aki Ishikawa, é? Hum, já ouvi que ele é uma peça rara. — De repente, um sorriso travesso apareceu no rosto dela. — Que homem, hein? Lindo demais, j**a muito bem, e ainda tem aquele ar de "não ligo para nada". Tem certeza de que ele não tá é de olho em você?
Chiara bufou e jogou a cabeça para trás, rindo.
— Aki? Marti, ele me ignorou completamente. Se pudesse, me jogava para fora do time na primeira chance.
Martina arqueou as sobrancelhas, claramente se divertindo com a reação da amiga.
— Hum, então ele tá te ignorando? Aposto que ele tá te observando. E, sabe, esses caras que ficam quietinhos, de canto, são sempre os mais interessantes.
Chiara revirou os olhos.
— Não é nada disso. O cara só me olha como se eu fosse um problema.
Martina riu.
— Tá bom. E se ele só estiver interessado em você? — provocou, piscando.
Chiara balançou a cabeça, rindo de novo.
— Só se ele for gay, Marti. Afinal, para ele eu sou um homem.
Martina fez uma pausa dramática, depois deu de ombros com um sorriso malicioso.
— Vai que ele é gay, ninguém sabe. Já pensou? Plot twist.
Chiara deu uma gargalhada, cobrindo o rosto com as mãos.
— Ai, meu Deus! — Ela jogou uma almofada em Martina, que desviou com facilidade. — Você tá delirando.
Martina riu alto, erguendo as mãos como se estivesse se rendendo.
— Tô só dizendo! Cuidado com o seu coraçãozinho, Chiara. Esses caras que ficam na deles, calados, são os piores. E você tem uma tendência a gostar de quem te ignora.
Chiara revirou os olhos ainda sorrindo.
— Claro, porque essa situação já não é complicada o suficiente. Agora você quer me enfiar num romance impossível.
— Ah, é o que você pensa. — disse Martina, sorrindo de forma travessa. — Vai que, por dentro, ele tá lutando contra uma paixão avassaladora que nasceu no primeiro instante em que ele olhou para você.
— Marti, para. — Chiara riu de novo. — A única coisa que ele quer é me ver fora do time. Confia em mim.
— Veremos. — disse Martina, com um tom misterioso e piscando, antes de mudar de assunto. — Mas agora, sério. Deixa eu te contar o que tá rolando no meu time. As meninas lá estão insuportáveis. Algumas só pensam em tirar fotos para as redes sociais, sabe? E jogar que é bom, nada! Eu juro, às vezes parece que estão mais preocupadas em serem famosas do que em ganhar os jogos.
Chiara riu, balançando a cabeça em concordância.
— Sério? Tão ruim assim?
— Pior. — Martina bufou. — Uma das novatas lá passa o treino inteiro mexendo no cabelo, sabe? Tipo, gata, tem uma bola de vôlei vindo na tua direção, presta atenção. Mas não, parece que o foco é a próxima selfie. Se eu fosse a capitã, já tinha colocado todo mundo no lugar.
Chiara soltou mais uma risada, se sentindo um pouco mais leve com a mudança de conversa.
— Você deveria ser a capitã, Marti. Aposto que todo mundo entraria na linha rapidinho.
— Ah, sem dúvida! — Martina piscou, rindo junto. — Mas até lá, vou continuar fingindo que não tenho vontade de socar umas bolas na cabeça de certas pessoas.
Martina se deitou de costas na cama de Chiara, soltando um suspiro exagerado.
— Ai, Chiara, vou te falar uma coisa, eu preciso transar. Sério! — disse, balançando as mãos dramaticamente no ar. — Faz tanto tempo que tô sozinha que já tô criando teia de aranha.
Chiara riu, jogando uma almofada em cima de Martina, que a pegou no ar.
— Ai, Marti, só você mesmo, para mudar para esse tipo de assunto do nada.
— Mas é sério! — insistiu Martina, sentando-se e colocando as mãos no rosto, fingindo desespero. — Não tô tendo tempo nem para respirar ultimamente, quem dirá para encontrar alguém que me ajude com as minhas necessidades, sabe?
Chiara continuou rindo, sacudindo a cabeça.
— Bom, pelo menos você tem a temporada pela frente. Quem sabe não aparece alguém interessante?
— Durante a temporada? — Martina bufou. — Vai ser pior ainda. — Ela fez uma careta dramática. — Acha que vou arrumar tempo para saciar minhas vontades? Pff, tá difícil, amiga.
Chiara deu de ombros, ainda rindo da situação.
— Ainda bem que não tenho esse problema.
Martina se virou com os olhos arregalados, o sorriso brincalhão já se formando nos lábios.
— Ai, cala a boca, virjona! — disse ela, rindo e jogando uma almofada de volta em Chiara. — A gente precisa arrumar alguém para você, já que você também tá nessa seca eterna.
Chiara gargalhou, balançando a cabeça.
— Eu tô de boa, obrigada.
Martina suspirou dramaticamente mais uma vez.
— Pois é, já vi que tá todo mundo mal resolvido aqui. Mas, sério, chega de drama por hoje. Vamos dormir antes que eu fique ainda mais maluca.
Chiara sorriu e se deitou na cama, puxando o cobertor enquanto Martina fazia o mesmo.
— Boa ideia. Amanhã será um longo dia.
A luz suave da manhã já iluminava as montanhas ao redor de Montelago quando Chiara estacionou o carro de Dario em frente ao ginásio. Esse era um pequeno passo para se sentir mais confiante, além de evitar os táxis e as caronas diárias de Martina.Ela estacionou o carro com cuidado e pegou a bolsa no banco do passageiro. O movimento no estacionamento já estava começando, com alguns jogadores chegando, mas foi a Mercedes Benz C300 azul que chamou sua atenção. A porta do carro se abriu com uma suavidade quase ensaiada, e quem saiu de lá foi Aki, com aquele andar confiante, como se o mundo estivesse exatamente onde ele queria que estivesse.Chiara respirou fundo. Aki era um enigma para ela, ele era sempre distante, sempre observador, mas nunca de fato amigável. Talvez fosse a hora de tentar quebrar o gelo, ou pelo menos ser educada.— Bom dia, Aki — disse ela, tentando soar casual, mas sentindo o coração bater um pouco mais forte.Para sua surpresa, Aki a olhou por um instante, assentiu e
Aki encarou Chiara por alguns segundos, sua expressão séria, enquanto cruzava os braços. O ambiente no vestiário estava carregado de suspense.— Sabe qual o meu problema com você? — começou Aki, o tom de voz controlado, mas carregado de desprezo. — Eu não gosto desse tipo de jogador que chega em um time sem ter lutado por nada. Que não sabe o que é sacrificar o corpo, o tempo, e tudo mais, só para ter a chance de jogar.Chiara sentiu o estômago apertar, mas manteve-se firme, com os ombros retos, tentando parecer imperturbável.— Do que você tá falando? — ela retrucou, tentando manter a voz firme. — Eu treino como qualquer um aqui.Aki soltou uma risada curta, mas sem humor.— É fácil falar agora. — Ele deu um passo à frente, mantendo o olhar fixo nela. — Mas você sabe o que o Luca passou? O cara jogava em um time de quinta categoria antes de finalmente conseguir uma chance aqui. Três anos sendo ignorado por clubes de elite até alguém enxergar o talento dele.Ele apontou para outro joga
A manhã do primeiro jogo oficial da Superlega chegou mais rápido do que Chiara imaginava. Os últimos dias haviam passado sem grandes problemas, e o Lombardy Lions parecia cada vez mais entrosado. Chiara ajustava as meias enquanto observava seus companheiros de equipe se aquecendo. O ginásio estava repleto de energia, os gritos dos torcedores ecoavam nas arquibancadas, e o clima de competição já dominava o ambiente. A adrenalina corria solta e seu coração batia muito rápido, mas havia uma sensação de estar em casa, ela estava confiante.— Vamos começar com tudo! — gritou o técnico, aproximando-se do time. — Vocês sabem o que fazer. Foco no bloqueio e não se deixem intimidar pela pressão. É só mais um jogo, um passo de cada vez.O apito inicial soou, e o jogo começou.O Lombardy Lions entrou com força total, determinado a impor seu ritmo logo de cara. A bola subiu para o saque inicial, e o adversário tentou intimidar com ataques rápidos e precisos. Chiara, estava atenta em cada movimen
O som dos passos de Luca ecoava pelo vestiário enquanto ele e Aki entravam, prontos para mais um dia de treino. O clima estava relativamente tranquilo.Chiara estava chegando ao ginásio quando, ao se aproximar da entrada do vestiário, ouviu vozes familiares. Seu coração acelerou, e ela parou antes de entrar. Era Aki e Luca, conversando com um tom despreocupado.— Valeu pela carona, Aki. Meu carro parece que decidiu tirar férias — disse Luca, rindo enquanto guardava suas coisas no armário.Aki deu de ombros, jogando a mochila no banco ao lado.— Sem problema. Só não se acostuma — respondeu ele, sem muito entusiasmo.Chiara, sem querer, continuou parada perto da entrada. Ela não sabia por que, mas algo naquela conversa a prendeu. Os dois estavam falando do treino? Do jogo? A sua curiosidade era maior do que qualquer outra coisa.Luca, sempre curioso, puxou assunto novamente enquanto terminava de guardar suas coisas.— Então, o que você acha do Dario? — perguntou ele, com o habitual sorr
— Eu não acredito! — disse Martina entre risadas, segurando a xícara de café com as duas mãos. — Você vai ter que dividir o quarto com o Aki? Você?Chiara ergueu a cabeça o suficiente para lançar um olhar de puro desespero à amiga.— Sim, Marti, é isso mesmo que você ouviu. Eu estou ferrada! — respondeu Chiara, largando o corpo de novo na mesa. — Não sei como vou sobreviver a isso.Martina deu mais uma risada, sacudindo a cabeça.— Chiara, pelo amor de Deus, você tá se passando pelo seu irmão gêmeo e tá mais preocupada com o fato de ter que dividir um quarto com o Aki? Isso não deveria ser o menor dos seus problemas?Chiara levantou o rosto de novo, agora apoiando o queixo nas mãos.— Marti, ele é o capitão! O cara que mais desconfia de mim no time. Ele me olha como se soubesse que tem algo errado. E agora eu vou dormir no mesmo quarto que ele. Se eu fizer qualquer coisa fora do comum, ele vai descobrir.Martina arqueou as sobrancelhas e cruzou os braços, inclinando-se um pouco para f
No dia combinado, Chiara descia as escadas de seu prédio com a mala em mãos, pronta para encontrar o time. Ela respirou fundo, sentindo a brisa da manhã enquanto Dario e Martina a acompanhavam até o carro.— Você vai se sair bem, Chiara — disse Dario, com um sorriso confiante. Chiara olhou para o irmão com um sorriso de gratidão. — É, vai lá e arrasa, garota — acrescentou Martina, com seu jeito animado de sempre. — Acha mesmo que o Aki vai te intimidar? Ele que se cuide. Chiara deu uma risada nervosa, mas agora mais relaxada. O apoio dos dois a fazia se sentir confiante.— Valeu, gente. Acho que agora estou pronta — disse ela, erguendo a mala. Martina piscou e deu um leve empurrão de incentivo no ombro de Chiara.— E não esquece, se tudo der errado, é só ligar para mim que a gente foge para Espanha. — Ela disse, rindo.Chiara revirou os olhos, rindo com os dois antes de se despedir. Com um último aceno, ela ligou o carro e se afastou indo em direção ao ponto de encontro com o time
Na manhã do jogo, Chiara acordou com o quarto vazio. O silêncio era absoluto, e a cama de Aki já estava arrumada, indicando que ele havia saído cedo. Ela franziu a testa, um pouco surpresa, mas logo entendeu. Aki estava claramente tentando manter distância depois do momento estranho da noite anterior. Enquanto arrumava suas coisas, Chiara não pôde deixar de se sentir um pouco aliviada. Dividir o espaço com Aki havia sido demais para ela. Instantes mais tarde no ginásio, o time estava aquecendo, e Aki estava em sua costumeira bolha de concentração. Chiara percebeu que ele a evitava discretamente e estava falando apenas o necessário com o resto do time. Ela se juntou aos outros jogadores, tentando focar no jogo que estava por vir em poucos minutos.Luca se aproximou de Aki, observando o colega de equipe que parecia mais calado que o habitual.— Cara, você tá com uma cara fechada hoje. Dormiu mal? — Luca comentou, tentando aliviar o clima com uma risadinha.Aki deu de ombros, sem desvi
Não demorou muito para que Chiara tivesse que descer para ir ao encontro do seu time e voltar para casa. Felizmente quando ela encontrou seu capitão, ele apenas perguntou se ela estava melhor e com a afirmativa dela, ele seguiu sem dizer mais nada e assim entraram no ônibus. Ele parecia distante, como sempre, e logo ocupou um assento mais na frente. Mas o que Chiara não esperava era Luca se sentar ao lado dela, com a expressão curiosa de sempre e cheio de perguntas.— E aí, Dario, como tá o estômago? Aki comentou que você estava passando mal. — perguntou Luca, cutucando-a com o cotovelo enquanto se acomodava no banco.Chiara forçou um sorriso de lado, tentando ser simpática apesar da dor ainda presente.— Já tô melhor. Acho que o remédio ajudou — respondeu, esperando que isso encerrasse a conversa.Mas Luca era insistente.— Que bom! — disse ele, sorrindo. — Mas, me diz aí, o que você faz para relaxar? Tipo, fora das quadras. Você parece mais na sua, não deve curtir baladas e essas coi