— Vamos? — falei, chamando a sua atenção. Ela apenas assentiu, se levantando do sofá e seguiu ao meu lado para a lancha. O seu silêncio e quietude me incomoda. Eu sei que a culpa foi minha, mas eu não quero estragar o que temos. Eu quero muito a sua amizade e sinto que agora, ela está distante de mim. Não trocamos uma palavra durante todo o caminho de volta. Ana parecia desligada. Acredito que esteja pensando em tudo que aconteceu entre nós, assim como eu. Ao chegarmos, eu beijo sua testa e a ponho em um táxi e ela se vai. Entro no meu carro e vou para a minha casa. ***Ana Júlia— Motorista, pode me levar para Copacabana? — pedi minutos táxi. Eu preciso pensar. Preciso me encontrar de novo. Olho pela janela, para nada em especial e depois de respirar fundo, solto o ar pela boca e me perco em meus próprios pensamentos. P Minutos depois, pago o motorista e saio do carro. Tiro minhas sandálias para caminhar descalça pela areia branca e molhada da praia. Queria entender o que aconteceu
Luís RenatoEntrei em meu apartamento e pela primeira vez não parei para olhar a sua decoração extremamente elegante e feminina que me faz lembrar do passado. Subo as escadas com pressa e entro em meu quarto, jogando a mochila em cima da cama e vou imediatamente para o banheiro. Tomo um banho rápido e visto uma roupa casual, para depois ir direto para o meu escritório na cobertura mesmo. Marta não está em casa e o lugar está quieto e silencioso demais. Sento-me na cadeira de couro, atrás da enorme mesa de mogno, com um copo de uísque na mão e logo os meus pensamentos voltam para algumas horas atrás. Eu deitado na cama, do pequeno quarto daquele chalé, com Ana do meu lado. Um beijo. Um único beijo abalou toda a minha estrutura, trazendo à tona toda a minha insegurança. Respiro fundo, esfrego as mãos no meu rosto e aperto os meus olhos, tentando impedir que as lembranças invadam a minha mente. Deus, eu senti o seu gosto e isso fez a escuridão dentro de mim estremecer. A minha estrutura
— Alô!— Marcela, oi! É o Luís, tudo bem? — pergunto com um sorriso largo. Faz tempo que não nos vemos e nem nos falamos. — Luís, há quanto tempo? Estou bem e você, como está? — Estou bem na medida do possível — digo e ela suspira. Ela sabe exatamente do que estou falando. — Preciso conversar com você, prima. Podemos marcar um horário?— Sim, claro! Pode ser amanhã, na hora do almoço?— Na hora do almoço está ótimo! A gente pode se encontrar naquele restaurante da praia pra relembrar os velhos tempos, o que acha?— Pode ser! Te vejo lá amanhã, então. Um beijo, querido!— Outro, Marcela! — digo encerrando a ligação e me ponho a andar pela sala me sentindo inquieto, exaltado. Está na hora de começar a enterrar o meu passado de vez! Sento-me no sofá e largo o celular ao meu lado, para logo voltar a olhá-lo. Como será que a Ana está? Deve estar chateada comigo. Sim, com certeza ela está. Será que se sentiu rejeitada? Droga! Meu Deus, eu não queria que isso acontecesse. Definitivamente,
— Nunca é muito tempo, Luís! — Ana fala num tom baixo.—É, eu sei. Mas é assim que eu me sinto mais seguro, sabe?— Sei! — De repente ela me abre um sorriso, que ilumina o meu dia tão negro e nublado. — Mas, se vamos ser amigos, eu quero saber qual seria o nível dessa amizade. — Abro um sorriso e esse é travesso. Ana tem essa facilidade de me fazer sorrir, não importa onde, não importa como e não importa o motivo. Ela faz isso comigo e é isso que me puxa para mais perto dela.— E, como podemos classificar a nossa amizade? — É simples. Vamos lá, de zero a dez, qual seria o nosso nível de amizade? —Levo uma mão ao queixo, faço uma expressão pensativa e respondo à sua pergunta com um sorriso relaxado.— Hum, acho que, nove e meio. — Ela arregala os olhos, faz um “O” perfeito com a boca cor-de-rosa, que logo se transforma em um sorriso largo.— Tá falando sério? Porque se estiver, sabe que temos uma responsabilidade muito grande um com o outro aqui, né? — questiona e dá uma risada gostos
Ana JúliaChego no C&H no horário de sempre e como não trabalhamos no dia anterior, estamos sobrecarregados hoje. Luís está saindo de mais uma reunião, que durou quase duas horas. Ele veio direto para minha mesa, e ao seu lado estava o doutor Marcos e sua secretária, Cassandra.— Ana, vamos nos reunir em meu escritório, pode nos trazer um café, por favor? — Meu chefe pediu em seu modo profissional.— Sim, senhor! — respondi com o mesmo tom, levantando-me em seguida e dei alguns passos para sair dali. — Ah, e Ana? Traga um pra você também e se junte a nós e nada de senhor, lembra? — indagou, completamente à vontade, mas eu fiquei sem jeito e olhei para o doutor Marcos e depois para Cassandra, e em fim para ele, lançando lhe um olhar como quem pergunta tem certeza?— Claro, Luís. — sibilo, ainda sem graça e giro em meus calcanhares e vou direto para a copa, sentindo o meu coração aos pulos e o meu rosto queimando de vergonha. Sirvo quatro xícaras de café, colocando-as em uma bandeja e vo
Depois que Marcela sai do apartamento, eu ainda fico aqui, apreciando o meu novo lar.— Não acredito que ele é meu! — sussurro, passando as mãos pelos móveis novos, pelas paredes recém-pintadas e sorrindo à toa. — Meu cantinho! —Sinto-me vibrar por dentro. Queria que você pudesse estar aqui comigo agora, mãe! Imediatamente sinto um nó sufocar a minha garganta. Apesar do tamanho da minha felicidade, é inevitável não sentir a sua falta em cada conquista minha. Uma lágrima desce pelo meu rosto, enquanto ainda esboço um sorriso bobo nos meus lábios.— Você ficaria tão feliz. — sussurro, ainda olhando cada detalhe do lugar. Meu celular começa a tocar dentro da bolsa que está largada em cima do balcão da cozinha. Rapidamente, seco as minhas lágrimas com o dorso das mãos e volto para a sala, a fim de atendê-lo. Sorrio ao ver quem é.— Oi, Luís!— Oi, e aí? Deu tudo certo?— Se deu certo? Nossa, Luís, o apartamento é lindo! Não, não... ele é perfeito! Você precisa ver. — Não consigo conter a
Seguimos abraçados para a mesa e nos acomodamos um ao lado do outro. Enquanto nos servimos de uma deliciosa lasanha à bolonhesa, com um vinho tinto de mesa, descubro que a minha caçula partirá logo depois da inauguração do hotel em Portugal. Jantamos alegremente, ouvindo os relatos empolgados da minha irmã sobre nova Universidade. Lilian é uma mulher muito linda. È loira e alta, e seus olhos são verdes, como a mamãe. Não posso esquecer de mencionar que é uma garota muito alegre, extrovertida e espontânea. Amo a minha boneca e para mim ela ainda não cresceu. Noto Dona Joana me olhar com uma expressão séria. Ela está parada, sem comer nada. Encabulado com a sua especulação, viro minha cabeça para o lado e vejo que o meu pai faz o mesmo, enquanto Lilian apenas sorri me olhando com se visse algo extraordinário na sua frente. Largo os talheres no meu prato e seguro o guardanapo para limpar o canto da minha boca. Incomodados com esses olhos focados em mim, eu limpo a garganta e pergunto de
Luís RenatoSão seis da manhã e eu já estou de pé e de banho tomado. Pus uma roupa casual e desci as escadas tomado de ansiedade. Tudo aqui está muito quieto e Marta com certeza ainda deve estar dormindo. Estou inquieto e nervoso demais para ficar deitado na cama. Me sento no sofá, encaro o teto branco e depois o meu relógio de pulso e me levanto. Começo a andar de um lado para o outro da sala ampla, com o meu celular em mãos. Na tela, o nome Ana pisca, preparado para chamar a qualquer momento. Olho novamente a hora. Ainda são seis e dez da manhã.— Droga de relógio que não anda! — resmungo com um sussurro para mim mesmo. Perdi completamente o sono às três da madrugada, com a conversa que tive com o meu pai martelando na minha cabeça. Ele tem toda a razão! A Ana me faz bem, eu gosto de estar com ela, de conversar com ela. Gosto da sua alegria e da forma como me faz rir. Você está apaixonado! Lembro-me das palavras da Lilian e respiro fundo, parando de andar feito uma barata tonta. Olh