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5- ARTURO PELLEGRINI

O cheiro dela estava em toda parte, mesmo antes de vê-la. Doce, fresco, intenso, como uma flor silvestre recém-desabrochada.

Era... Humano. Algo que, normalmente, seria insignificante para mim. Mas aquele aroma despertou não apenas o meu lobo, mas um instinto primitivo que eu não sentia havia muito tempo. Não consegui ignorar, não queria ignorar.

Era cheiro humano, mas diferente. E essa diferença estava bagunçando todos os meus sentidos. Enquanto me encostava no carro de Draven que havia tentado acompanhar minha corrida animalesca até a fonte do meu desejo, cruzei os braços, observei a casa de sua família. A casa que deveria ser minha. Precisava ser minha. A névoa da manhã envolvia a propriedade, dançando como um véu protetor. E, naquele instante, eu senti que o poder da montanha estava mais forte do que nunca.

E então, ela espiou pela janela.

Quando a vi pela primeira vez, fiquei surpreso com o contraste entre seu cheiro capaz de dominar meus sentidos e ela. Era uma mulher jovem de curvas generosas, com um corpo que exalava feminilidade e fertilidade. Seus jeans abraçavam suas coxas cheias, e a blusa acentuava a curva suave de seus ombros e quadris largos. Seus cabelos castanhos emolduravam seu rosto, com bochechas coradas e lábios carnudos. Não era o tipo de mulher que passaria despercebida, a presença que carregava era hipnotizante.

E, naquele instante, a ideia de que ela era diferente de todas as outras se enraizou ainda mais em minha mente.

— O que está acontecendo? — Draven resmungou atrás de mim.

— Não está sentindo?

— Sentindo o quê? Desespero por você ter saído de uma reunião importante, corrido pela floresta feito um bicho e chegado aqui mais rápido que meu carro?

A pele dela parecia macia e seu cheiro me deixava louco, parecia me convidar a atravessar o portão, mas havia um encanto naquele local que impedia qualquer lobo de se aproximar sem permissão.

— A presença dela, Draven.

— Que presença? Do que está falando? Entre no carro, vamos voltar para a reunião.

— Silêncio.

Escutei os pensamentos da velha Naomi Owens, embora com o passar dos anos ela tivesse se tornado muito boa em embaralhar as palavras de sua cabeça. Mas ela... eu não podia ouvi-la. Eu a sentia, como se seu corpo estivesse a um palmo e seu cheiro estivesse em minha língua sedenta, pronta para chupá-la até a última gota. No momento em que reparei em suas feições, percebi que ela parecia cansada, como se acabasse de sair de uma batalha contra os próprios pensamentos. Havia uma linha de preocupação em sua testa, mas seu queixo erguido e a maneira como olhava em volta demonstravam determinação.

Determinação suficiente para acender algo dentro de mim que eu mantinha enterrado há muito tempo. Um desejo de proteger... e de possuir.

— Quem é ela, Arturo? — Draven espiou pela janela.

— Ela é o meu destino.

Quando nossos olhos finalmente se encontraram através do vidro da janela, eu senti como se tivesse levado um golpe. Um calor se espalhou por meu peito, invadindo minhas veias, pulsando em cada parte do meu corpo. Não era algo que eu esperava. Não era algo que eu podia controlar.

Ela me olhou com surpresa, os lábios ligeiramente entreabertos, como se estivesse tentando entender o que eu estava fazendo ali. E eu estava parado, congelado por um momento, como um idiota. Um Alfa idiota. Porque aquele encontro, aquele simples olhar, tinha acabado de mudar tudo. Eu deveria virar as costas e ir embora. Deveria deixar Naomi lidar com ela e voltar para o que restava do meu dia, como se nada tivesse acontecido. Mas eu não conseguia me mover.

Não conseguia tirar os olhos dela.

Porque o meu lobo uivou tão alto dentro do meu coração que eu soube imediatamente que eu era dela, e ela precisava ser minha. Observei quando ela se afastou da janela, confusa, e senti uma pontada de... alívio? Ou seria medo? Sim, medo. Algo raro para mim.

Porque, pela primeira vez em anos, eu estava diante de algo que não podia controlar completamente. Ela era imprevisível, uma variável que poderia fazer com que o plano cuidadoso que eu havia elaborado desmoronasse. E isso me perturbava. Mas também me atraía.

A casa de Karen Esposito sempre teve uma aura peculiar, um magnetismo que influenciava as terras ao seu redor. Algo que podia mudar o equilíbrio do território, se caísse nas mãos erradas. Eu sabia que aquela mulher não fazia ideia do que estava guardado ali, ou da importância daquela propriedade para minha Alcateia. E, naquele momento, enquanto a observava através da vidraça, me dei conta de que teria que lidar com ela pessoalmente.

Não havia outra maneira. Ela semicerrou os olhos, como se quisesse me enxergar direito e eu fiz questão de manter o contato, deixando que ela sentisse a intensidade do meu olhar. Queria que soubesse que eu estava ali. Que eu a tinha notado. Seus olhos castanhos brilharam em hesitação, na vã tentativa de decifrar quem eu era e o que estava fazendo ali. Era fascinante. Ela era fascinante. E, naquele momento, algo mudou dentro de mim. Como se um alarme tivesse disparado. Como se a lua cheia olhasse para mim em todo seu esplendor e aguardasse minha entrega de corpo e alma para me tornar um só com sua natureza.

Ela estava chamando por mim.

A simples ideia era absurda, e ainda assim, eu sabia. Sabia que havia algo ali, algo que iria nos arrastar para um turbilhão de problemas. Algo que eu não podia, e não queria, evitar.

Soltei um longo suspiro, desfazendo a pose relaxada que eu mantinha. Endireitei-me e dei um passo em direção à casa, mas hesitei. Não era o momento. Ainda não. Eu precisava ser cuidadoso. Ela precisava ser cuidada. Ela era humana, afinal, frágil demais para a tempestade que eu estava prestes a trazer para sua vida. E, por mais que me incomodasse admitir, eu sentia um impulso irracional de puxá-la para minha tempestade.

— Entre no carro, Arturo, precisamos voltar.

— Nossos melhores lobos precisam ficar de olho nela — entrei no veículo —, coloque-os para patrulhar o território e me avisar sobre qualquer mudança.

— Por causa de uma humana qualquer?

— Ela não é uma humana qualquer — a olhei uma última vez, estava de lado conversando com Naomi — ela é minha.

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