Eu podia sentir cada fibra do meu ser tensionada, como se estivesse conectada a tudo o que acontecia lá fora. A respiração ficou presa em minha garganta quando Arturo recuou, os flancos arfando, o sangue escorrendo por sua pelagem escura.
— Não, não, não... —sussurrei, minhas mãos apertando a cortina até meus dedos ficarem brancos.
Ele estava sendo empurrado para trás, para fora do portão, e algo nele parecia estar quebrando, como se cada passo fosse um fardo insuportável. Mas então ele parou. Ficou imóvel por um segundo que pareceu uma eternidade. Os lobos ao redor recuaram levemente, rosnando baixo, aguardando seu próximo movimento. A tensão no ar era sufocante, e eu podia sentir meu coração batendo tão forte que ecoava em meus ouvidos. E então, ele avançou.
Com um rugido que parecia surgir das profundezas da terra, Arturo se lançou para frente, e o som de sua investida foi como o de uma onda se quebrando contra rochedos.
Os lobos se dispersaram, tentan
Arturo dormia pesadamente diante da lareira, seus músculos tensos finalmente relaxando enquanto eu terminava de limpar a bagunça da noite. Olhei para ele, sentindo uma tempestade de emoções que não conseguia controlar. O ataque dos lobos tinha sido brutal, violento, e eu sabia que ele havia se ferido gravemente para me proteger.No entanto, eu não entendia nada do que estava acontecendo.— Por que esses lobos vieram atrás de mim?Eu me sentei no chão, encostada na parede, tentando organizar os pensamentos. Meus olhos continuavam a vagar em direção a Arturo, mesmo quando eu tentava olhar para qualquer outro lugar.Ele era tão... poderoso.Mesmo agora, com as roupas rasgadas e os ferimentos ainda visíveis em sua pele, a força que emanava dele era quase palpável. E era isso que me assustava. Eu sabia que deveria estar mais preocupada em sair daqui,
— A lua?Quis rir, mas a seriedade em seu rosto impediu o som de sair. Tudo dentro de mim gritava que aquilo era loucura. Mas então, um arrepio percorreu minha espinha, como se algo no ar ao nosso redor estivesse reagindo às palavras dele.— Quem é o seu povo?— Nós somos lobos e a lua é a fonte do nosso poder, nossa rainha. Minha cabeça girou. Nada disso fazia sentido.— E o que você é, Arturo?Ele se virou lentamente para me encarar, e quando seus olhos encontraram os meus, eu senti um arrepio percorrer minha espinha.— Eu sou parte disso. Sou o Alfa máximo da minha Alcateia, sou o guardião dessas terras. E você, Mirella, é a lua.A sala pareceu girar ao meu redor.As palavras dele atingiram meu peito como uma onda, deixando- me sem ar. Guardião? Eu era a lua? Eu não sabia se queria rir ou gritar. Isso era ridículo. Era impossível.E, no entanto, havia algo em seu tom, em seu olhar, que fazia tudo parecer... verdadeiro
Eu o encarei, esperando que ele recuasse. Mas Arturo não se mexeu. Ele se manteve ali, próximo a ponto do calor de seu corpo irradiar, como uma brasa prestes a incendiar tudo o que estivesse ao nosso redor.Minha respiração acelerou, e por mais que eu tentasse, não consegui desviar o olhar dos seus olhos prateados.Havia algo ali, algo que me puxava para ele como um ímã.O ar parecia se tornar mais denso, carregado de uma energia que fazia minha pele se arrepiar. Meu coração martelava em meus ouvidos, abafando todos os pensamentos racionais.“Não posso,” minha mente protestou, mas meu corpo se inclinou, se aproximando, quase sem perceber. Ele ergueu a mão, como se fosse me tocar, e todo o meu corpo se enrijeceu em antecipação. Eu prendi a respiração, meus lábios se entreabriram sem que eu me desse conta. O calor de sua palma se aproxim
MIRELLA ESPOSITOApós o meu chefe pedir por mais um artigo sobre “as tendências históricas na cor dos tecidos usados em toalhas de mesa do século XVIII” – sim, isso existe e, surpreendentemente, alguém em algum lugar, realmente quer ler sobre – eu decidi que era hora de desligar o computador e limpar a minha mesa de trabalho.Eu tinha acabado de sair da faculdade de jornalismo, com um bom emprego no mais respeitado veículo de imprensa do país. Infelizmente todo o meu talento ali era usado apenas para matérias que ninguém nunca iria ler.— Fico feliz que vai tirar esse monte de documentos e encadernados de vista, enfim poderemos voltar a ter contato visual. — Kira brincou.Levantei e comecei a arrumar as pilhas intermináveis de papéis, documentos e livros que cobriam cada centímetro da minha mesa.Claro, eu sabia que Kira estava apenas me provocando, mas ela não estava completamente errada. Eu tinha me enterrado em tanto material de pesquisa inútil que nem conseguia me lembrar da últim
Port Angeles costumava ser uma cidade tranquila. Bem, tão tranquila quanto uma cidade que abriga uma Alcateia inteira de lobos pode ser. Nos últimos anos, essa calmaria havia se tornado cada vez mais rara, porque além de enfrentarmos inimigos na fronteira ao norte, lidávamos com uma cisão dentro do nosso próprio clã.Esfreguei a palma da mão aberta em meu rosto e mantive meu olhar fixo na janela do escritório, observando a linha das árvores que margeavam o território da nossa alcateia, que antes ia até perder a vista, agora a fronteira se aproximava.— Arturo?Meu irmão Draven me chamou, interrompendo o fluxo dos meus pensamentos. Ele tinha o talento de aparecer nos momentos em que eu mais queria ficar sozinho.— Precisamos conversar.— Pode falar.Me direi para ele e encostei na mesa de madeira antiga.Draven, o Beta mais proeminente de toda a Alcateia e meu braço direito, estava parado à porta, braços cruzados e aquele olhar sério que sempre usava quando queria me dar alguma notícia
A carta repousava em cima da impressora, como se desafiasse minha capacidade de ignorá-la. Enquanto eu me acomodava na cadeira para mais um dia de trabalho, minha cabeça não conseguia se concentrar nos tecidos do século XVIII, apenas na propriedade na encosta da montanha em Port Angeles. Kira e eu passamos um tempo pesquisando tudo sobre e tentando entrar em contato com alguma autoridade da cidade, sem sucesso.Tudo isso era o tipo de coisa que eu via em filmes, não na minha vida monótona e presa a um escritório abafado, cercada por documentos esquecidos e projetos que ninguém se importava em ler. Kira olhou para mim, ansiosa. Eu sabia que ela queria que eu dissesse algo sobre o assunto, qualquer coisa que mostrasse que eu tinha um plano ou pelo menos uma ideia do que fazer a seguir.Mas a verdade era que eu não tinha.Essa notícia havia caído como um raio em um dia já chuvoso, e minha mente se recusava a processá-la completamente.— O que decidiu?— Nada, ainda, mas falei com a minha
A cidade estava ficando menor à medida que os dias passavam. Os mesmos prédios, as mesmas pessoas, os mesmos trajetos para o trabalho – e os mesmos artigos enfadonhos. De repente, cada pequena coisa na minha vida parecia sufocante. Mas o que realmente me empurrou para tomar uma decisão foi uma conversa que tive com a minha mãe, depois de finalmente contar sobre a propriedade e quão valiosa era.“Às vezes, a vida te dá oportunidades disfarçadas de obstáculos. Cabe a você descobrir o que elas realmente são”.E foi assim que dei o sinal verde para Naomi comprar a passagem.“Qualquer lugar menos aqui” parecia exatamente o que eu precisava. E quem sabe? Talvez uma pausa para recarregar as energias e uma vida em uma cidade pequena pudesse me oferecer a paz que o barulho incessante da capital nunca poderia.Pelo menos, era o que eu esperava.Empacotei minha vida em duas malas e uma caixa de sapatos cheia de pendrives, porque, claro, você nunca sabe quando vai precisar de um backup do artigo
O cheiro dela estava em toda parte, mesmo antes de vê-la. Doce, fresco, intenso, como uma flor silvestre recém-desabrochada.Era... Humano. Algo que, normalmente, seria insignificante para mim. Mas aquele aroma despertou não apenas o meu lobo, mas um instinto primitivo que eu não sentia havia muito tempo. Não consegui ignorar, não queria ignorar.Era cheiro humano, mas diferente. E essa diferença estava bagunçando todos os meus sentidos. Enquanto me encostava no carro de Draven que havia tentado acompanhar minha corrida animalesca até a fonte do meu desejo, cruzei os braços, observei a casa de sua família. A casa que deveria ser minha. Precisava ser minha. A névoa da manhã envolvia a propriedade, dançando como um véu protetor. E, naquele instante, eu senti que o poder da montanha estava mais forte do que nunca.E então, ela espiou pela janela.Quando a vi pela primeira vez, fiquei surpreso com o contraste entre seu cheiro capaz de dominar meus sentidos e ela. Era uma mulher jovem de c