As árvores ao lado da estrada passavam como vultos enquanto eu corria de volta para casa, em minha forma animal. Havia uma pressão em meu peito, como um incêndio que recusava a ser apagado. Quem ela pensava que era, me desafiando daquela maneira? Ela nem tinha ideia do que estava em jogo.Ainda assim, não consegui tirá-la da minha cabeça desde o momento em que a vi. E isso só piorava as coisas.“Eu vou decidir o que fazer com ela.” As palavras ecoaram na minha mente, irritantes como um zunido constante. Como se ela tivesse algum tipo de controle sobre a situação. Sobre mim.Não, eu não podia permitir isso. Eu precisava de controle, manter a ordem. Desde que assumi a liderança após a morte do meu pai, tudo o que fiz foi garantir a integridade da minha Alcateia e das nossas terras. Agora, com ela aqui, parecia que tudo estava prestes a ruir. Cheguei à porta de casa em um salto poderoso, os músculos das patas impulsionando meu corpo com força.O ar da noite cortava meus pulmões, um lembr
A noite tinha se instalado, trazendo consigo uma quietude que eu não conseguia encontrar em mim mesma. Após ligar para minha mãe e contar como havia sido o meu dia, preparei um chá de camomila, peguei um livro para ler, mas não consegui me concentrar, as palavras se misturaram, ficaram borradas e então cochilei.Minha mente retornou ao encontro de mais cedo.Arturo Pellegrini. Alto, poderoso, e incrivelmente irritante. E ao mesmo tempo... instigante.Meu corpo ainda carregava os resquícios da energia que ele trouxe consigo, um arrepio subindo pela espinha quando lembro da forma como me olhou. Senti um calafrio na espinha e acordei assustada.— Pare de pensar nisso, tire-o da sua cabeça e foque em resolver suas coisas e voltar para sua vida — me repreendi.Deixei o livro na poltrona, fui até a janela e encarei a floresta lá fora. A escuridão parecia densa, a neb
Eu podia sentir cada fibra do meu ser tensionada, como se estivesse conectada a tudo o que acontecia lá fora. A respiração ficou presa em minha garganta quando Arturo recuou, os flancos arfando, o sangue escorrendo por sua pelagem escura.— Não, não, não... —sussurrei, minhas mãos apertando a cortina até meus dedos ficarem brancos.Ele estava sendo empurrado para trás, para fora do portão, e algo nele parecia estar quebrando, como se cada passo fosse um fardo insuportável. Mas então ele parou. Ficou imóvel por um segundo que pareceu uma eternidade. Os lobos ao redor recuaram levemente, rosnando baixo, aguardando seu próximo movimento. A tensão no ar era sufocante, e eu podia sentir meu coração batendo tão forte que ecoava em meus ouvidos. E então, ele avançou.Com um rugido que parecia surgir das profundezas da terra, Arturo se lançou para frente, e o som de sua investida foi como o de uma onda se quebrando contra rochedos.Os lobos se dispersaram, tentan
Arturo dormia pesadamente diante da lareira, seus músculos tensos finalmente relaxando enquanto eu terminava de limpar a bagunça da noite. Olhei para ele, sentindo uma tempestade de emoções que não conseguia controlar. O ataque dos lobos tinha sido brutal, violento, e eu sabia que ele havia se ferido gravemente para me proteger.No entanto, eu não entendia nada do que estava acontecendo.— Por que esses lobos vieram atrás de mim?Eu me sentei no chão, encostada na parede, tentando organizar os pensamentos. Meus olhos continuavam a vagar em direção a Arturo, mesmo quando eu tentava olhar para qualquer outro lugar.Ele era tão... poderoso.Mesmo agora, com as roupas rasgadas e os ferimentos ainda visíveis em sua pele, a força que emanava dele era quase palpável. E era isso que me assustava. Eu sabia que deveria estar mais preocupada em sair daqui,
— A lua?Quis rir, mas a seriedade em seu rosto impediu o som de sair. Tudo dentro de mim gritava que aquilo era loucura. Mas então, um arrepio percorreu minha espinha, como se algo no ar ao nosso redor estivesse reagindo às palavras dele.— Quem é o seu povo?— Nós somos lobos e a lua é a fonte do nosso poder, nossa rainha. Minha cabeça girou. Nada disso fazia sentido.— E o que você é, Arturo?Ele se virou lentamente para me encarar, e quando seus olhos encontraram os meus, eu senti um arrepio percorrer minha espinha.— Eu sou parte disso. Sou o Alfa máximo da minha Alcateia, sou o guardião dessas terras. E você, Mirella, é a lua.A sala pareceu girar ao meu redor.As palavras dele atingiram meu peito como uma onda, deixando- me sem ar. Guardião? Eu era a lua? Eu não sabia se queria rir ou gritar. Isso era ridículo. Era impossível.E, no entanto, havia algo em seu tom, em seu olhar, que fazia tudo parecer... verdadeiro
Eu o encarei, esperando que ele recuasse. Mas Arturo não se mexeu. Ele se manteve ali, próximo a ponto do calor de seu corpo irradiar, como uma brasa prestes a incendiar tudo o que estivesse ao nosso redor.Minha respiração acelerou, e por mais que eu tentasse, não consegui desviar o olhar dos seus olhos prateados.Havia algo ali, algo que me puxava para ele como um ímã.O ar parecia se tornar mais denso, carregado de uma energia que fazia minha pele se arrepiar. Meu coração martelava em meus ouvidos, abafando todos os pensamentos racionais.“Não posso,” minha mente protestou, mas meu corpo se inclinou, se aproximando, quase sem perceber. Ele ergueu a mão, como se fosse me tocar, e todo o meu corpo se enrijeceu em antecipação. Eu prendi a respiração, meus lábios se entreabriram sem que eu me desse conta. O calor de sua palma se aproxim
Eu fiquei olhando para Amber, esperando ela começar a falar. Mas a verdade é que eu não sabia se queria ouvir. Depois de uma noite caótica tudo o que eu queria era fazer as malas e dar o fora daqui para poder escrever artigos sobre panos do século XVIII.— Acho que tudo isso é muito para absorver no seu primeiro dia... Amber me olhou com compaixão e segurou em meu ombro, levando-me até a poltrona. Eu sentei, cruzei os braços em um gesto automático de defesa.— Não consigo acreditar em nada disso. Estou em negação.— É claro que está em negação, esteve distante da sua natureza a vida toda que ouvir a verdade entrou em choque...— Como assim distante da minha natureza, Amber? Ela sorriu de forma compreensiva.— Sua tia-avó Karen uma vez me disse que a primeira e última vez que você esteve aqui, quando bebê para receber o batismo da lua, chamou a atenção de todos os lobos a pelo menos 1000km de distância.— Espera, batismo da lua?— Uma Ômega precisa ser apresentada à sua lua de origem,
O sol mal havia nascido quando acordei. Meu corpo permanecia pesado pelos eventos da noite anterior. Eu sentia as consequências da luta contra os lobos Spinelli, as dores surdas nos músculos me lembravam de que eu havia cruzado a barreira sagrada da montanha da lua para proteger Mirella.— Alfa? — Kaelan deu algumas batidas na porta do meu quarto.— Oi, entre.— Tem certeza de que não precisa de um médico?— A dor que sinto não é apenas pelos ferimentos — sentei na cama e o encarei. — O que foi?— Temos... visitas.Eu levantei e me movi lentamente pela casa. Parte minha, que sentia o cheiro daquela teimosa, desejava que fosse ela.— Obrigado — acenei para Vaulkner que me entregou uma xícara de café quando sentei na poltrona. — Ora, ora, ora, vejam só quem decidiu aparecer diante de mim...Encarei quatr