Segui o conselho de Kira e fui explorar a cidade.Port Angeles tinha um charme peculiar, suas ruas estreitas e prédios antigos pareciam ter sido arrancados de um livro de histórias, e a neblina que pairava no ar dava um toque quase mágico ao lugar. Após passar pela livraria-café, mercado e um dos restaurantes tradicionais da cidade comecei a compreender por que minha tia-avó havia amado este lugar.Mesmo assim, a inquietação não me deixava.Passei algumas horas perambulando, tentando absorver um pouco do que a cidade tinha a oferecer. Passei no cartório para assinar os papeis e assumir titularidade da casa, me aventurei em uma loja de antiguidades que parecia ter séculos de poeira acumulada e comprei alguns suprimentos em outro mercadinho.Tudo ali era diferente do que eu conhecia. Ainda assim, por mais que tentasse, a sensação de pertencimento que senti na casa não se repetia aqui. Era como se a cidade, de alguma forma, estivesse me testando.— Por que existe esse símbolo em quase to
As árvores ao lado da estrada passavam como vultos enquanto eu corria de volta para casa, em minha forma animal. Havia uma pressão em meu peito, como um incêndio que recusava a ser apagado. Quem ela pensava que era, me desafiando daquela maneira? Ela nem tinha ideia do que estava em jogo.Ainda assim, não consegui tirá-la da minha cabeça desde o momento em que a vi. E isso só piorava as coisas.“Eu vou decidir o que fazer com ela.” As palavras ecoaram na minha mente, irritantes como um zunido constante. Como se ela tivesse algum tipo de controle sobre a situação. Sobre mim.Não, eu não podia permitir isso. Eu precisava de controle, manter a ordem. Desde que assumi a liderança após a morte do meu pai, tudo o que fiz foi garantir a integridade da minha Alcateia e das nossas terras. Agora, com ela aqui, parecia que tudo estava prestes a ruir. Cheguei à porta de casa em um salto poderoso, os músculos das patas impulsionando meu corpo com força.O ar da noite cortava meus pulmões, um lembr
A noite tinha se instalado, trazendo consigo uma quietude que eu não conseguia encontrar em mim mesma. Após ligar para minha mãe e contar como havia sido o meu dia, preparei um chá de camomila, peguei um livro para ler, mas não consegui me concentrar, as palavras se misturaram, ficaram borradas e então cochilei.Minha mente retornou ao encontro de mais cedo.Arturo Pellegrini. Alto, poderoso, e incrivelmente irritante. E ao mesmo tempo... instigante.Meu corpo ainda carregava os resquícios da energia que ele trouxe consigo, um arrepio subindo pela espinha quando lembro da forma como me olhou. Senti um calafrio na espinha e acordei assustada.— Pare de pensar nisso, tire-o da sua cabeça e foque em resolver suas coisas e voltar para sua vida — me repreendi.Deixei o livro na poltrona, fui até a janela e encarei a floresta lá fora. A escuridão parecia densa, a neb
Eu podia sentir cada fibra do meu ser tensionada, como se estivesse conectada a tudo o que acontecia lá fora. A respiração ficou presa em minha garganta quando Arturo recuou, os flancos arfando, o sangue escorrendo por sua pelagem escura.— Não, não, não... —sussurrei, minhas mãos apertando a cortina até meus dedos ficarem brancos.Ele estava sendo empurrado para trás, para fora do portão, e algo nele parecia estar quebrando, como se cada passo fosse um fardo insuportável. Mas então ele parou. Ficou imóvel por um segundo que pareceu uma eternidade. Os lobos ao redor recuaram levemente, rosnando baixo, aguardando seu próximo movimento. A tensão no ar era sufocante, e eu podia sentir meu coração batendo tão forte que ecoava em meus ouvidos. E então, ele avançou.Com um rugido que parecia surgir das profundezas da terra, Arturo se lançou para frente, e o som de sua investida foi como o de uma onda se quebrando contra rochedos.Os lobos se dispersaram, tentan
Arturo dormia pesadamente diante da lareira, seus músculos tensos finalmente relaxando enquanto eu terminava de limpar a bagunça da noite. Olhei para ele, sentindo uma tempestade de emoções que não conseguia controlar. O ataque dos lobos tinha sido brutal, violento, e eu sabia que ele havia se ferido gravemente para me proteger.No entanto, eu não entendia nada do que estava acontecendo.— Por que esses lobos vieram atrás de mim?Eu me sentei no chão, encostada na parede, tentando organizar os pensamentos. Meus olhos continuavam a vagar em direção a Arturo, mesmo quando eu tentava olhar para qualquer outro lugar.Ele era tão... poderoso.Mesmo agora, com as roupas rasgadas e os ferimentos ainda visíveis em sua pele, a força que emanava dele era quase palpável. E era isso que me assustava. Eu sabia que deveria estar mais preocupada em sair daqui,
— A lua?Quis rir, mas a seriedade em seu rosto impediu o som de sair. Tudo dentro de mim gritava que aquilo era loucura. Mas então, um arrepio percorreu minha espinha, como se algo no ar ao nosso redor estivesse reagindo às palavras dele.— Quem é o seu povo?— Nós somos lobos e a lua é a fonte do nosso poder, nossa rainha. Minha cabeça girou. Nada disso fazia sentido.— E o que você é, Arturo?Ele se virou lentamente para me encarar, e quando seus olhos encontraram os meus, eu senti um arrepio percorrer minha espinha.— Eu sou parte disso. Sou o Alfa máximo da minha Alcateia, sou o guardião dessas terras. E você, Mirella, é a lua.A sala pareceu girar ao meu redor.As palavras dele atingiram meu peito como uma onda, deixando- me sem ar. Guardião? Eu era a lua? Eu não sabia se queria rir ou gritar. Isso era ridículo. Era impossível.E, no entanto, havia algo em seu tom, em seu olhar, que fazia tudo parecer... verdadeiro
Eu o encarei, esperando que ele recuasse. Mas Arturo não se mexeu. Ele se manteve ali, próximo a ponto do calor de seu corpo irradiar, como uma brasa prestes a incendiar tudo o que estivesse ao nosso redor.Minha respiração acelerou, e por mais que eu tentasse, não consegui desviar o olhar dos seus olhos prateados.Havia algo ali, algo que me puxava para ele como um ímã.O ar parecia se tornar mais denso, carregado de uma energia que fazia minha pele se arrepiar. Meu coração martelava em meus ouvidos, abafando todos os pensamentos racionais.“Não posso,” minha mente protestou, mas meu corpo se inclinou, se aproximando, quase sem perceber. Ele ergueu a mão, como se fosse me tocar, e todo o meu corpo se enrijeceu em antecipação. Eu prendi a respiração, meus lábios se entreabriram sem que eu me desse conta. O calor de sua palma se aproxim
MIRELLA ESPOSITOApós o meu chefe pedir por mais um artigo sobre “as tendências históricas na cor dos tecidos usados em toalhas de mesa do século XVIII” – sim, isso existe e, surpreendentemente, alguém em algum lugar, realmente quer ler sobre – eu decidi que era hora de desligar o computador e limpar a minha mesa de trabalho.Eu tinha acabado de sair da faculdade de jornalismo, com um bom emprego no mais respeitado veículo de imprensa do país. Infelizmente todo o meu talento ali era usado apenas para matérias que ninguém nunca iria ler.— Fico feliz que vai tirar esse monte de documentos e encadernados de vista, enfim poderemos voltar a ter contato visual. — Kira brincou.Levantei e comecei a arrumar as pilhas intermináveis de papéis, documentos e livros que cobriam cada centímetro da minha mesa.Claro, eu sabia que Kira estava apenas me provocando, mas ela não estava completamente errada. Eu tinha me enterrado em tanto material de pesquisa inútil que nem conseguia me lembrar da últim