Alyssa
Momentos antes, quando a equipe de reportagem apareceu, bloqueando a intenção de Klaus em iniciar uma conversa que não cabia mais entre eles, Alyssa não perdeu tempo. Sumir na multidão foi a decisão mais sensata, mas para o seu desgosto, mesmo depois do divórcio e de tudo o que ele fez, desejava-o tanto quanto antes. Não era o suficiente. As lembranças das revelações sobre a conduta obscura de Klaus durante o casamento foi o ultimato para decidir pelo divórcio é não podia voltar atrás. Como ousaria ficar com aquele que queria manchar a honra da sua família? Um recomeço representaria conviver com o inimigo. Não iria cometer esse erro duas vezes. Não deveria sucumbir ao impulso e se tornar cativa. Ele não soube amá-la como merecia. Ao se aproximar do stand reservado para a Companhia Petrakis, observou o seu irmão com atenção e lembrando das circunstâncias em que ele propôs a aposta numa noite chuvosa em Paris, entre vinhos e risadas, confirmou suas suspeitas de que a disputa no game tinha um propósito maior. Saulo sabia que ganharia e o que ia sugerir como prêmio. Cretino! O irmão era o responsável por toda aquela bagunça. Saulo fitou a irmã, se esquivando das pessoas com passos firmes e fisionomia fechada numa tempestade raivosa. Preocupado, manteve-se quieto, enquanto articulava uma forma de apaziguar a situação de perigo. Se Alyssa fosse embora, seria xingado pelo pai até a décima geração, afinal Alyssa era a alma da marca Petrakis. Teria que ter jogo de cintura para acalmar aquela tempestade em forma de mulher. Assim que ela veio, com uma carranca de dar medo, desconversou: — Alyssa, está tão pálida! Você está bem? Ela grunhiu, fechando os punhos. Depois colocou o dedo em riste na direção ao seu nariz, sem se importar com as funcionárias, que preparavam as mostras culinárias para oferecerem aos visitantes. — Não vem com essa conversa mole, seu traidor! Você sabia desde o início, né? Saulo ficou sem ação. O seu plano de juntar a irmã com o ex-cunhado seria mais difícil do que pensava. Ele a puxou para o lado, afastando-a da curiosidade das funcionárias e alguns visitantes. Perguntou, aflito: — Enlouqueceu? Aqui não é lugar apropriado para fazer escândalos! Quer afastar os visitantes? Tenha postura, Alyssa! Era verdade. Estava representando a empresa. Isso poderia causar uma péssima impressão, porém, só ia parar depois de descobrir a verdade. — Pouco me importa! Sim ou não? Saulo revirou os olhos, descontente com aquela situação. Recuando com um passo para trás, numa medida preventiva para não ser atacado pela irmã raivosa, falou rapidamente: — Tá bom, eu sabia que Klaus estaria no evento, não fiz por mal! Só queria ajudar...Vocês precisam se entender... Pronto, falei! A confirmação da traição do irmão trouxe um sabor amargo, que espalhou-se até sentir uma pontada profunda no coração. — Imbecil! Não acredito que fez isso comigo! Sabe muito bem por que eu me separei dele! Mesmo receoso, num tom compassado, Saulo retrucou: — E daí? Você o ama! — Está enganado! — Esclareceu, lutando contra o desejo de chorar de raiva. — Eu deixei de amá-lo desde o dia que descobri que ele não presta! Ao contrário das palavras proferidas, Saulo observou a irmã baixar os ombros num estado de redenção momentânea, prestes a desabar num choro. Resolveu se aproximar e notando a falta de reação de Alyssa, abraçou-a. Ela não conseguiu conter as lágrimas — Oh, maninha, detesto me meter na sua vida, mas por quanto tempo pretende fugir? O que custa dá uma segunda chance? Ela levantou a cabeça bruscamente, que estava apoiada no ombro do irmão e olhando fixamente em seus olhos lacrimejantes, acusou: — Eu decido! Esqueceu o que ele armou pra mim? Agora virou cúmplice daquele mentiroso desgraçado? Saulo suspirou inconformado com a teimosia dela. — Os problemas se resolvem com diálogo e sabe de uma coisa? Você se faz de coitadinha, mas poderia ter se colocado no lugar dele, então é tão culpada quanto ele pelo término do casamento. Alyssa desviou o olhar. Uma dor profunda anunciou o quanto desejava sumir dali e esquecer todas as suas desventuras. — Não sabe o que está falando, Saulo, mas sem chance. Não vou perdoar Klaus e não se fala mais nisso. E após esse diálogo, voltaram para a frente do stand a fim de atender os visitantes. Só não imaginava ver novamente Klaus em poucos minutos após o reencontro. No entanto, agora, diante do homem que desejou esquecer completamente, precisava ter forças para resistir às sua investidas. Klaus a observava num misto de persistência e esperança, aguardando uma resposta. — E então, Alyssa, diga se o que aconteceu entre nós foi só uma paixão passageira ou ainda existe amor... Alyssa baixou o olhar. Não se tratava apenas dos seus sentimentos. A separação custou-lhe muitas noites de lágrimas e se bem lembrava, no dia que o deixou, ele não moveu um dedo para evitar o divórcio. Certo que depois se arrependeu e tentou uma reconciliação. Tarde demais. — Klaus, você sabe a resposta. Não esqueci nada do que houve entre nós dois, por isso volto a dizer: acabou. Dito isso, ela passou por ele, distanciando-se do Festival. Sentia-se sufocada. Observando que mais uma vez, Alyssa o evitava, Klaus tentou segui-la, mas Saulo o impediu, segurando-o pelos ombros. — Não vá, Klaus! Ela precisa ficar sozinha. Seja paciente. Klaus voltou a olhar Alyssa, que sumia entre a multidão. — Minha paciência se esgotou há muito tempo, Saulo. Eu a amo. Novamente tentou se sair de Saulo, mas este não permitiu. —Eu insisto, Klaus! Ela está assustada, e o risco maior é ela ir embora e você perder a chance de reconquistá-la. Klaus entendeu o recado. Alyssa era capaz de afastar tudo o que não lhe fazia bem. Ela provou isso ao pedir o divórcio. Ele respirou fundo. Nova frustração. — Tem razão, Saulo... Vou dar uma pausa agora, mas não vou desistir de Alyssa. Nada vai me impedir de tê-la de volta!O caminho pelas ruas de paralelepípedos e o burburinho do festival foram se distanciando, à medida que Alyssa buscava refúgio no Jardim Público de Fira que ficava a quinhentos metros do festival. Ela avistou o portal verdejante. O ar fresco perfumado dos jasmins e hibiscos invadiu suas narinas. Caminhou até o centro do jardim e sentou-se num dos bancos de pedra. Seu desejo era que o tempo tivesse parado, e ela pudesse se conectar com a paz interior almejada, porém o turbilhão de emoções não a deixava descansar. As lágrimas furtivas vieram e a lembrança de quando conheceu Klaus, trouxe de volta a sensação nostálgica que queria esquecer. Por que se apaixonou pela pessoa errada?Antes que pudesse afastar os pensamentos do passado, em Atenas, surgiu nitidamente.Era uma manhã normal com um tímido sol de abril, no ano de 2017. Cruzou a recepção da Companhia Petrakis e seguiu para o elevador, distraída. Seu foco era chegar na sua sala, no sexto andar para organizar as estratégias de
De olho no relógio, Alyssa aguardava a chegada do seu novo assistente, que naquele momento estava no RH e em alguns minutos se apresentaria em seu gabinete como seu novo assistente.Ela se sentia uma adolescente ansiosa pelo primeiro encontro, olhando-se no espelho, avaliando a maquiagem, alisando com a mão o cabelo.Sabia que diferente do diálogo espontâneo do outro dia no elevador, dessa vez, deveria manter a compostura profissional. Além disso era importante não esquecer de dois detalhes: era proibido romance entre funcionários e de que estava noiva. Não conteve o suspiro exasperado." Maldita hora em que fui concordar com aquele contrato de casamento idiota com o Phil! Estou me sentindo uma prisioneira, sem chance de ser feliz e justo agora que pintou na área esse deus grego!"Enquanto o seu pensamento conspirava para direções proibidas, o telefone sobre sua mesa, tocou.Deu um pulo de susto, quase caindo da cadeira. Certeza que ele estava a poucos metros de sua sala! Com o cor
A hora da saída se aproximava. Alyssa, com um brilho nos olhos, observava Klaus concentrado no trabalho, ora digitando, ora fazendo rascunhos na agenda. O plano de se aproximar mais do assistente e entender porque a evitava virou sua obsessão. Uma obsessão que precisava ser explorada e aquele era o momento. Molhou os lábios com a ponta da língua e levantou-se. O movimento chamou a atenção de Klaus, que parou o que fazia. A pincelada rápida do olhar penetrante sobre ela, deixou-a estremecida. Ele não era imune, mas também não cedia. Aquele impasse a atraia mais. Apoiou as mãos sobre a mesa dele. Sustentou seu olhar enigmático e falou: — Klaus, estou com uma ideia de marketing e preciso muito da sua opinião, pois papai voltará de férias depois de amanhã e se estiver tudo organizado, terei mais chance de conseguir uma boa verba para a divulgação do projeto. — Claro, pode contar comigo... — Ele desviou os olhos para a a tela do laptop — Amanhã, certo? É que hoje não dá ma
— Que delícia! — Alyssa suspirou ao saborear a sua sobremesa favorita. — Amo Galaktoboureko!Klaus esboçou um leve sorriso ao vê-la revirar os olhos, enquanto comia a torta de massa filo com creme de leite doce.— Prefiro meu vinho!Ele ergueu a taça e tomou um gole da bebida. — Nada disso. Devia ter pedido uma pra você. Não sabe o que está perdendo!Ela lhe lançou um olhar cheio de segundas intenções e ficou extasiada por notar a maneira que ele de novo baixava a guarda, fitando-a com intensidade. — Não sou muito fã de sobremesas, mas estou me divertindo com a forma que você está aproveitando a Galaktoboureko. — É que você não faz ideia o quanto eu estava com saudade dessa torta. E essa daqui? Divina!E colocou a última porção da sobremesa na boca.— Hum... Muito bom...Klaus abriu mais ainda o sorriso. Ele parecia uma montanha russa na mudança das suas emoções e apesar de ser estranho, estava gostando daquele desafio, só não esperava uma mudança na atitude dele que fez suas e
O dia da reunião chegou.Alyssa optou por um tailleur bege clássico, sapatos de salto médio e um colar de pérolas que dava o toque final para a discrição e elegância que aquela ocasião exigia. Ao chegar na sala, deparou-se com Klaus e cumprimentou-o com o tom mais neutro que pôde. Diferente do que normalmente acontecia, ele a observava como se quisesse decifrá-la. — Está tudo bem, Alyssa? Parece tensa... É por causa da reunião? "Ah, se ele soubesse que passou longe da verdade. "— Sim... — Concordou para não evidenciar o real motivo de sua atual tribulação. — Está tudo organizado, mas sabe, nem sempre é fácil convencer os colaboradores. — Não se preocupe, vai conseguir. — Ainda bem que alguém aqui está otimista. Obrigada, Klaus, vamos.Eles seguiram para a sala de reunião. A conversa entre os dois fluiu leve, mas tudo o que ela desejava era jogar para o alto toda e qualquer regra que a impedisse de viver a paixão ardente que rondava o seu corpo. Klaus entrou numa etapa sem
Um a um, os colaboradores concordaram, demonstrando seu apoio à proposta de Alyssa, que no íntimo, vibrou de alegria por ver o pai não fazendo objeção aos seu projeto de marketing. Certamente as férias de aniversário de casamento no Brasil foi bem proveitosa. — Muito obrigada pela confiança. Com o apoio de vocês, podemos alcançar novos patamares de sucesso. Enviarei por e-mail nossas estratégias de marketing. Até a próxima. E assim, a reunião terminou. Klaus ficou à distância, guardando os equipamentos. Alyssa foi até o pai e Damon e os abraçou. — Mandou bem, Alyssa — O irmão elogiou. — nâo é a toa que você é a alma da marca Petrakis. Você está conseguindo administrar seu cargo com excelência. — Ah, eu não conseguiria se não tivesse a ajuda do meu assistente...— E se virou:— Klaus! Ele se voltou devagar. Parecia mais tenso que o normal, o que talvez fosse por estar diante do grande presidente da empresa. Após Alyssa fazer as apresentações, Heitor, feito raposa, farejava aq
Eles estavam em chamas. As mãos deslizavam numa procura insana por mais prazer. — Alyssa... Não consigo parar....Ela gemeu de satisfação ao ouvir as palavras que até então faziam parte somente das suas secretas fantasias. Pena que um barulho na maçaneta da porta, quebrou o encanto do clima intenso, deixando para trás um rastro de calor e excitação entre os dois. Eles pararam e tentaram se recompor o mais rápido possível.— Senhorita Petrakis? — Alyssa reconheceu a voz da secretária. " Droga! Justo agora?"Veio em seguida as batidas na porta. Mirtes não ia desistir. — Um momento! — Alyssa respondeu, enquantoaguardava Klaus voltar para o retroprojetor. Aproveitou para ajeitar a saia e a blusa por baixo do tailleur. Com as pernas bambas, abriu a porta. Mirtes observou o rosto afogueado e o busto arfante de Alyssa. Por um instante, franziu o cenho, como se quisesse encaixar as peças do que realmente estava acontecendo. Abriu a boca como se fosse fazer um comentário. Desistiu ao
(Tempo Presente)— Alyssa? — A voz de Saulo interrompeu as lembranças do passado e como se houvesse saído de uma máquina do tempo, olhou para o irmão, ainda ressentida com ele. — Vai ficar aí contando quantas formigas tem no jardim?Dos irmãos, Saulo era o mais hilário da família e sempre lhe dava motivos pra sorrir, menos naquele instante. Tudo o que queria era distância daquele traidor.Evitando olhá-lo nos olhos, fixou-se no ambiente florido do jardim público de Fira.— Será que não posso ter um minuto de paz? Ele continuou no mesmo lugar, com as mãos no bolso.— Por favor, Alyssa, tenha bom senso. Precisa voltar. Esqueceu que precisa me ajudar no stand?— Quero ficar sozinha! E se pensa que vou perdoar você, se enganou!Saulo suspirou como se fosse um soldado cansado de guerra. As palavras de protesto da irmã eram compreensíveis, porém não podia desistir fácil. Ele se aproximou de um galho florido, esticou o braço e pegou uma delas. Em seguida, com certa cautela foi até Alyss