O Reencontro

O Festival ocorria em polvorosa com aromas das comidas típicas pairando no ar. Os stands, representados por restaurantes de várias cidades ofereciam aos visitantes o que havia de melhor na culinária e cultura grega.

Desde a moussaka, um prato de berinjela em camadas com carne moída, temperada com especiarias e coberta com molho bechamel à tsipoura, um peixe grelhado das águas mediterrâneas, como opção imperdível.

Mas para Klaus, só existia Alyssa.

Ela estava a poucos metros e a memória do que viveram no passado o pegou desprevenido. Lembrava nitidamente do perfume suave de frutas vermelhas no corpo curvilíneo que era incapaz de esquecer. O instinto fez o seu coração disparar, o desejo ousando se manifestar entre as pernas. Ela se apresentava palpável e tentadora. Como pôde se contentar em ficar tanto tempo sem o seu amor?

Alyssa, por sua vez continuava imóvel, sentindo-se acuada como se fosse um inocente cordeiro diante do algoz. Os seus pensamentos se misturavam num vendaval de emoção em proporções irreparáveis. Precisava sufocar seus sentimentos se quisesse continuar imune ao olhar de Klaus que transmitia a mensagem de uma promessa silenciosa:

" Nada mudou entre nós. Vou quebrar todas as barreiras que nos separa e te amar para sempre".

O passo cauteloso, um sorriso hesitante nos lábios era a estratégia de Klaus para ganhar-lhe a confiança e apagar a apreensão que a dominava, mas estaria preparada para as mesmas decepções?

No entanto, inesperadamente uma equipe de televisão,com luzes ofuscantes e microfones invasivos, se interpôs entre eles, criando uma barreira impenetrável. Uma repórter local, sorridente, abordou Klaus.

Ainda assim, os olhos de Klaus permaneceram fixos em Alyssa. Ele percebeu a hesitação em seu olhar, a quase imperceptível contração de seus lábios. Era a chance perfeita para a reaproximação, e no entanto, estava sendo impedido.

Sem rodeios, Alyssa aproveitou a interrupção para fugir e com a movimentação dos frequentadores, misturou a eles. Evaporada na multidão, deixou apenas o eco de um momento perdido. Controlando-se para não esbravejar, notou o olhar confuso da repórter, no aguardo de uma resposta.

— Por gentileza, pode repetir a pergunta?

— Claro, senhor Ferranti! — Ela exibiu um sorriso sugestivo, passeando o olhar pelo seu corpo, até focar em seus olhos azuis . — Considerando as indicações nas categorias de sustentabilidade e de melhor produto grego da atualidade, quais suas expectativas para amanhã?

Fez um breve silêncio. A mente invocando-o a ir até Alyssa. Enfim, contra sua vontade, forçou-se a mudar o foco dos seus pensamentos para responder a pergunta.

— É uma honra representar minha terra natal com duas indicações. Produzir vinhos gregos é minha paixão e poder ver meu trabalho reconhecido em um nível tão alto é uma realização extraordinária. Independentemente do resultado final da premiação, sinto-me um vencedor por ter chegado até aqui.

— Nós agradecemos o seu empenho e estamos na torcida. Agora uma pergunta mais pessoal... Continua divorciado, namorando ou à procura de um novo amor?

A pergunta indiscreta, unindo-se ao interesse íntimo da repórter, pareceu-lhe inconveniente.

— Sinto muito, responderei apenas a perguntas profissionais, então essa vai ficar sem resposta.

Desconcertada, a repórter concordou, e agindo com mais profissionalismo, continuou:

— Muito bem! Então para finalizarmos a reportagem, diga qual a sua mensagem final para quem está nos assistindo?

— Que não desistam dos seus sonhos, e deem o seu melhor, não importa as circunstâncias. Agradeço a todos que me apoiaram e acreditaram em mim. Um brinde a todos vocês!

A repórter encerrou a entrevista e antes que ela viesse com segundas intenções, rápido, afastou-se dali. Ele deu meia-volta e seguiu para o stand dos Petrakis. Dessa vez nada o impediria de falar com Alissa.

O stand simulava uma cozinha. As funcionárias preparavam algumas iguarias, usando o azeite como o ingrediente essencial para o sucesso das receitas culinárias.

Percorreu o olhar pela área e mais atrás pôde ver Alyssa. Ela e Saulo faziam as exposições acerca do azeite.

Engoliu em seco. Precisava apagar a dor que lhe causou. Precisava do seu perdão e ter uma segunda chance.

Observou-a numa espécie de devoção. Ela fazia a explicação a alguns visitantes sobre o azeite feito nas propriedades dos Petrakis, enquanto eram oferecidas mostras apetitosa de molhos e saladas com pão pita.

Atentou-se aos seus labios num leve sorriso. As lembranças dos momentos de amor o dominaram como se fosse uma avalanche, devastando todas as suas forças.

" Volta pra mim, Alyssa. Eu te amo!"

Como se percebesse a intensidade daquelas palavras, Alyssa voltou-se em sua direção. Novamente os olhares se cruzaram e o impacto disso foi bem diferente do breve reencontro há minutos.

A frieza foi como um tapa para seus sentimentos. Não seria fácil, mas nada foi até hoje. Nada que não pudesse mudar. Pensando assim, seguiu com passos firmes, entrando no espaço dos Petrakis.

Alyssa arregalou os olhos e se afastou dos visitantes, indo para um canto, de braços cruzados. Disfarçando as emoções, encarou-o desafiante.

— Alyssa, preciso conversar com você...

A tensão tomou a fisionomia da ex-esposa, que não fez questão de responder. As funcionárias, após a surpresa por ver Klaus ali, disfarçaram e voltaram a trabalhar. Saulo balançava a cabeça levemente, num sobreaviso de que não era a hora certa para se entenderem.

— Por favor...

— Não temos nada o que conversar, — ela cortou suas palavras com frieza. — ou melhor, encerramos lá atrás no dia do divórcio, então com licença...

— Só um minutinho. Precisa me ouvir... — Ele insistiu. O olhar estampado pelo arrependimento.

— E pra quê? — seu rancor era visível. — Pra insultar minha família com suas acusações e me usar outra vez nos seus planos sórdidos?

Esperava as palavras implacáveis de Alyssa, mas dessa vez não as deixariam derrubar suas esperanças. Precisava de uma certeza.

— Aceite meu perdão, Alyssa, por favor. Reconheço meu erro e estou disposto a pagar pelo preço, mas posso vê em seus olhos algo diferente e se isso for verdade, lutaremos juntos contra as dores do passado, então me diz: você ainda me ama?!

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