LarissaTive alta, mas o meu bebê não... Ficarei aqui com o meu príncipe até ele sair dessa.— Vai dormir, amor! Nosso filho está bem.— Eu só quero que ele possa sair daqui, Rangel. Tão pequenininho...— Vai ficar tudo bem. Ele nasceu prematuro, mas não corre riscos de vida, e a qualquer momento podemos ir pra casa com ele.— Eu sei. Mas é meu coração de mãe que está apertado.— Vem cá, minha loira, vai ficar tudo bem. - deu-me um beijo.— Tu tá me dando muita força, meu amor. Eu te agradeço muito.— Tem que agradecer não. Eu estarei aqui sempre com você e meu menino tá ligado?— Hum... Eu estou querendo voltar para o Brasil. Esse lugar não é pra mim.— Eu também tô me sentindo assim. Quero ficar com minha mãe, meus parceiros...— Quando você terminar os estudos nós vamos.— Não precisa, amor, você quer ir, eu também... Pra quê esperar?— Porque eu quero você formado.— Quando eu voltar pro Brasil, eu não vou mais pro morro. Os inimigos querem minha cabeça.— E vamos para onde?— Sei
Rangel narrando:— Isso filhão, vem pegar a bola na mão do papai. — Cris veio engatinhando até mim e pegou a bola dando aquele sorriso gostoso.— Já está na hora dele tomar banho, Rafael. — Larissa chegou na sala.— Ah, ele quer brincar mais.— Nada disso. — revirou os olhos. — Você sabe que temos que dormir cedo, amanhã retornaremos ao Brasil.Assenti e entreguei meu filho para ela. Eu estava ansioso; finalmente, voltaria para meu país. Tudo bem que vim para cá foi uma boa decisão; talvez se eu estivesse lá, o nascimento de Cristopher seria mais complicado do que já foi, e a equipe médica daqui é outro patamar, né?— O senhor quer mais algo? — Cláudia perguntou.— Não, Claudinha, pode ir arrumar suas coisas e esteja aqui cedo, ok? — sorri.Subi para o quarto, terminei de colocar minhas coisas nas malas, e infelizmente, minhas armas teriam que ficar aqui nessa casa. Não poderia viajar com armas; seria muito arriscado. Enterrei as armas no jardim da casa e as deixei lá.— Cadê meu bebê
Larissa narrando:Quatro semanas depois...Um mês se passou desde que chegamos ao Rio. Nossa rotina estava um pouco difícil.Arrumar apartamento, procurar um trabalho... Enfim, estava difícil. De fato, Rangel não necessitava de um trabalho; ele poderia muito bem ficar sentado no sofá todas as manhãs assistindo enquanto recebia grana do morro. Por enquanto, não haveria jeito. Teríamos que continuar recebendo dinheiro do crime. Não temos renda, temos um filho, e uma vida a zelar.Cláudia, infelizmente, não poderia vir para o Rio; sua filha estava com câncer. Era muito triste saber que uma pessoa saudável, perder suas esperanças por uma doença maligna. Só lembro da minha mãe...— Vai pra onde? — Perguntei a Rangel enquanto dobrava os lençóis.— Ia procurar algo pra fazer... — falou todo desmotivado.— Eu acho melhor você se acomodar. Vivemos bem, temos tudo que queremos.— É, somos ricos pelo dinheiro do crime.— Eu sei que é difícil porque você ficar sem fazer nada...Pensei um pouco; e
Rangel narrando:De volta à minha favela, eu era só paz e amor. Era meu aniversário hoje, vinte e poucos aninhos, tô ficando velho pra caralho. Lembro da primeira vez que meu pai me ensinou a segurar uma arma, a atirar, e me disse que essa favela toda seria minha. Agora mesmo eu observava o alto do morro sozinho, sorrindo, lembrando de como meu pai era querido. É... Quem escolhe essa vida só tem esse destino, parceiro, ou é morte ou é cadeião.Meu pai não merecia isso. Ninguém merece a morte, mas às vezes tem que ser assim. Quem escolhe errado uma vez, traçou seu destino todinho. Dei sorte com uma mina firmeza, que eu amo tanto, um filho lindo, uma mãe que batalhou por mim e me apoiou em tudo. Claro que nenhuma mãe quer ver seu filho pegando arma pra matar e roubar os outros, mas não tinha jeito, ou ela aceitava ou me abandonava no mundão. Ela se apaixonou por meu pai, e ela sabia que aquilo ia trazer consequências pra sempre, e o que eu mais admiro é que ela ficou com o marido até o
Larissa:Acordei com os choros do meu filho. Ora, mais o que aconteceu agora.— Meu amor, o que você tem? — falei com uma voz fofa.Pela minha pequena experiência, ele estava com cólicas. Fiz de tudo para acalmá-lo, e depois de muito tempo, consegui; fiquei contente com o meu "sucesso" como mãe.Rangel estava dormindo; afinal, ainda eram seis da manhã. Eu não conseguia mais dormir; o coração de mãe falava mais alto; vai que Cris precisasse de mim.Fiz café, bolo e me lembrei do meu passado tão recente... De quando acordava pra fazer o café lá na fazenda; ai que saudade. Também me lembrei de Melyssa, espero que tenha morrido; uma pessoa tão má daquela não merecia nada.Enquanto esperava o bolo ficar pronto, olhei para o meu celular que estava carregando desde ontem à noite. O peguei e mexi nas redes sociais; uma mensagem no direct do Instagram. Era uma amiga minha de escola de BH.Sorri, sentia muitas saudades de Jéssica. Mas nunca consegui achar seu contato. Na mensagem, ela falava qu
Larissa:Depois de alguns dias, viajamos para um lugar que eu não fazia ideia. Rangel estava escondendo de mim a todo custo, diz ele que era surpresa. Estávamos no aeroporto, Rangel tapou meus olhos até entrarmos no avião e depois tapou meus ouvidos com um fone nas alturas; deu-me um ódio, queria saber de onde surge essas ideias de Rafael, mano.— Pode tirar esse caralho de mim agora? Já estamos em voo. — falei.— Calma. — ele riu. — Pode tirar, amor.Ele estava segurando nosso bebê no colo, eu estava muito curiosa, mas iria demorar tanto...— Me fala, por favor. — pedi com uma cara fofa.— Deixa de ser curiosa, mano.O tempo passou devagar... Peguei no sono, mas senti algo me cutucando; era Rafael. Levantei atordoada; estavam todos passageiros saindo, queria sair também para ver o que ele estava aprontando!— Vamos. — ele sorriu.Desembarcamos tranquilamente, pegamos nossas malas e entramos no táxi. Olhando o caminho... É óbvio! Estou em Belo Horizonte. O que fez Rangel querer me tra
Larissa narrandoObservando aquele lugar. Me lembro de tantas coisas que vivemos aqui. Lágrimas da nostalgia me tocavam quando lembranças de minha mãe se entrelaçavam com o presente. Sua voz suave ecoava em minha mente, lembrando-me de lições de vida que moldaram a mulher que me tornei.A fazenda, agora sob nosso cuidado, ressoava com o eco dessas palavras. Eu sabia que minha mãe estaria feliz por ver este lugar novamente ganhando vida. Enquanto o sol se punha, iluminando o campo com tons dourados, senti sua presença sussurrando no vento, guiando-me na jornada da minha própria família.O dilema de Rangel não era só dele, mas nosso.Às vezes, a vida exigia que fizéssemos escolhas difíceis, arrancar as raízes familiares do solo onde foram plantadas para buscarmos novos horizontes.— Cris,filho, mamãe já disse que você tem que se comportar, se não não iremos ver os titios — repreendi ele. — Mamãe chata! — ele reclamou. Arregalei os olhos e olhei para Rangel. — Você viu isso? Ele me ch
Larissa narrando. Olhei para aquele teste incrédula. Não estava realmente nos meus planos ser mãe novamente, mas se fosse os planos maiores eu aceitaria. Nós nos despedimos do pessoal, e voltamos para casa de mãos dadas. Cris já havia capotado, coloquei ele para dormir em sua caminha.Nada era melhor do que estar em casa, e era assim que eu me sentia aqui na grota. Rangel veio até mim, sorrindo. —Me sinto tão aliviado — falou me abraçando. — Por que? —falei enquanto dobrava os lençóis. — Estamos aqui, e eu não quero sair daqui nunca. Olho nos olhos dele. Ninguém nesse mundo poderia explicar o quanto eu o amava. Era um amor que não começou do jeito certo, convencional, que começou contra tudo que um dia eu imaginei. O chamei para o quarto e nos sentamos na cama. — Preciso falar com você. —segurei suas mãos. — O que aconteceu?— ele me encarou sem entender. — Eu ....Estou grávida. —falei insegura.Rangel ficou meio incrédulo por uns minutos sem saber o que dizer e eu o encare