LarissaFinalmente retornei à minha casa. Tudo estava exatamente como deixei. Que saudades desse morro.Após um banho revigorante, vesti-me e sentei-me na cama.— De volta ao seu lar, minha princesa — Rangel me abraçou por trás.— Ai, Rangel... esse tempo longe de ti só aumentou meu amor por você.— E eu percebi que você é a mulher da minha vida.— Rafael, precisamos conversar.— Pode falar.— Eu não consigo me perdoar. Eu te traí nesse tempo separados, Rangel, eu queria que...— Shh. Esqueça tudo. O que você e eu fizemos nesse tempo que estávamos separados não importa mais, certo? A gente já enfrentou tantas coisas, e hoje eu percebi o quanto te amo, muito! — ele me beijou.Ele tinha razão. O passado ficou para trás. Eu errei, ele errou diversas vezes, mas o amor deles prevalecia.— Sim, a partir de hoje, esqueceremos tudo.— E tem outra coisa, Larissa.— O quê?— Vou abandonar o morro.— O quê? Como assim, Rangel... esse morro é sua vida, eu não entendo sua decisão.— Minha vida não
RangelEstava radiante, minha mulher estava de volta, e tudo parecia em paz.— Tem certeza de que vai abandonar o morro, Rangel? Eu não quero isso, cara. Você sempre foi o cabeça disso tudo aqui — Júnior expressou sua preocupação.— Júnior, entenda minha escolha, você é meu irmão.Ele foi resolver alguns assuntos importantes, enquanto eu lidava com a papelada. Ser traficante vai além de vender drogas na esquina, tem uma porção de burocracias envolvidas.— Ô Biel! — Chamei meu vapor.— Sim, patrão.— Chama minha prima Carla pra mim.Demorou um pouco até Carla chegar, com a maior cara de poucos amigos.— O que foi, Rangel? Eu tava trabalhando, cara.— Relaxa, Carla. Eu só queria que você me ajudasse com uma parada.— Que parada?— O Natal está chegando, e eu queria fazer uma surpresa pra Larissa. Queria comprar um presente legal, sabe? Fazer alguma coisa, mas não sei o quê.— Ai, eu te ajudo — ela ficou animada.— Não conta nada pra ela, tá ligada?— Tá bom. Você podia comprar uma joia
LarissaJá faz uma semana desde que fui pedida em casamento. Estávamos planejando nos casar aqui na igreja do morro e depois realizar uma festa mais íntima.Rangel decidiu que iríamos nos mudar para fora do país, para Nova York. Gostei muito da ideia. Morar em um lugar diferente, construir uma nova vida, uma nova identidade. Era uma oportunidade de começar de novo, longe dos vestígios do passado de Rangel. Mesmo que fosse um pouco difícil, valeria a pena.— Amor, tô com fome! — Rangel gritou da cozinha.— Sei fazer comida não, cara. — respondi.— Poxa, gostosa. — ele veio até mim. — Faz comida pro seu marido.— Tá bom, me pedindo assim, claro que faço. — dei um beijo nele.Era incrível a convivência entre um casal. Nunca me enjoava estar com Rangel. Podíamos passar o tempo todo juntos e sempre dava mais vontade de estar perto um do outro, de nos beijarmos...Fui para a cozinha fazer comida: bife à milanesa, feijão, arroz e uma salada do jeito que meu nego gostava. Enquanto arrumava a
LarissaAcordei com o despertador irritante zunindo na minha cabeça, revirei os olhos e me levantei.Desliguei o ar condicionado e saí enrolada no meu roupão. Ia tomar banho antes de acordar o Rangel, coitadinho, ele está exausto.Tomei um banho rápido, o dia estava estranhamente frio, apesar do calor absurdo do Rio!— Amor, acorda, não podemos perder o voo.— Só mais uns dois minutos… — Rangel respondeu meio sonolento.— Ok. — sorri e fui me vestir.Eu valorizava muito o que Rangel fazia por mim, mesmo que ele não demonstrasse tanto carinho, ele provou que me ama. Passamos por muitas adversidades, mas quando o amor é real, a gente sempre volta.Estou tentando me manter forte. Não quero chegar lá em BH mostrando ao meu pai que estou triste; quero transmitir confiança a ele. Quero fazer o papel de filha, independentemente de tudo. Minha relação com ele sempre foi complicada: ele cuidou de mim, mas amor e carinho, só para a Melyssa. E falando nela, gostaria muito de vê-la e falar alguma
**Larissa**Meu mundo desabou após ouvir aquilo. Não pode ser. Tudo o que eu pensava saber sobre mim, sobre o meu nascimento, era uma mentira.— Eu não sou seu pai.Minha garganta deu um nó; desejava que aquilo fosse mentira ou uma brincadeira.— Como... assim?— Larissa, eu quero que você saiba que você é minha filha! Pode não ser de sangue, mas sempre será minha filha de coração.— Você está brincando comigo?— Não...— Pai, eu... — deixei uma lágrima escorrer. — Me explica isso direito.— Eu conheci sua mãe na fazenda, os pais dela trabalhavam lá em casa. Ela era uma menina linda, e eu sempre a quis. O tempo passou e de menina ela virou mulher, meu amor por ela só aumentava, mas ela só tinha olhos para um filho de fazendeiro rico vizinho de lá.— Sim, e o que isso tudo tem a ver? — perguntei sem entender.— Sua mãe se envolveu com esse cara e acabou engravidando...— De mim? — uma lágrima escorreu dos meus olhos.— Sim, mas sua mãe era pobre e seu pai biológico, rico. A mãe dele de
LarissaApós a morte de meu pai, retornamos ao Rio.Matei a saudade de Carla e minha prima; Rangel estava ocupado resolvendo alguns negócios. Como iríamos embora, ele deixou o morro que tomou do Italiano para Marcelo.Eles dois se odiavam, e eu me arrependo de ter dormido com Marcelo. Ele é incrível, mas é meu amigo, um grande amigo. Mas como diz Carla, "quem vive de passado é museu".Fui para a casa de minha tia, e ela me contou sobre meu pai. Minha mãe, antes de falecer, pediu a ela para não contar que eu não era filha do meu "pai", e ela, como boa irmã, obedeceu. Eu entendo minha mãe, e não culpo meu pai biológico, pois ele não sabe da minha existência.Minha tia me deu o contato do meu pai. Ele se chamava Pablo Contreras e era muito rico. Não queria me aproximar, pois ele poderia pensar que eu estava atrás de grana. Mas, segundo minha tia, ele era meu pai e era um homem bom. Tinha o direito de saber da minha existência.— Tem certeza que vai atrás do teu pai? — Rangel falou meio i
RangelComo dizia aquela música "maloqueiro também ama".E eu demorei a mudar, percebendo que Larissa era tudo pra mim. Era minha mulher, meu alicerce.Estávamos na casa de minha mãe; a coroa estava toda chorosa porque eu ia viajar, mas eu sempre ia vim ver ela ou então mandá-la para lá de vez em quando.— Mãe, o Natal tá chegando. Quero que a senhora mande ver naquela ceia. - falei.— Vou sim, meu filho, e Larissa vai me ajudar.— Sou uma negação na cozinha, sogra, mas vou ajudar! - Larissa riu.— E como estão as coisas com seu pai, Lari?— Ele é um ótimo homem! Natal ele vai vim passar aqui com a gente.— Seu pai? - ri irônico. - Um homem rico passar o Natal com os favelados, essa é boa.— Já conversamos sobre isso, Rafael! - falou séria. - Ele não é mesquinho, muito menos preconceituoso.— Tá bom, desculpa.Eu só queria a felicidade de Larissa, mas também só quero cuidar para que ela não se decepcione. Mas vamos esperar até eu conhecer esse coroa rico, aí eu tiro
Carla (narrando)Deus tem um plano para cada um de nós. Eu sempre fui muito louca, nunca fui de obedecer pai nem mãe; tanto que saí de casa com apenas dezesseis anos e vim morar aqui na favela com minha tia, mãe de Rangel.Já me frustrei tanto devido a homem, me desvalorizei, mas sempre tive esperança de que um dia iria ser feliz.— Amiga! - coloquei a mão na cabeça.— Que foi? - Larissa falou enquanto ajeitava as coisas no carro do supermercado.— Eu esqueci do vinho e da catuaba. - revirei os olhos.— Afe, eu deixei as partes das bebidas com você... Quer que eu vá pegar?— Não precisa, vai pra casa que tu tem muito o que fazer. Eu pego o vinho e outras bebidas.— Uns quatro está bom né. - ela falou.— Sim, vou aproveitar e comprar mais algumas coisas.— Ok, vida. - me deu um beijo no rosto.Lari foi pra casa e eu voltei pro supermercado; hoje era Natal e a agonia estava repleta aqui no morro. Iríamos fazer a ceia, todo mundo junto na casa de Rangel. Eu não quero