[Patricia]Miguel ligou uma, duas, três vezes. Eu vi o nome dele brilhando na tela, mas não atendi. Assim como as chamadas de Lucas, preferi ignorar. Não tinha forças para falar com ninguém agora. Não sabia o que dizer. Talvez, no meio do nervosismo, minha voz me traísse, e eu acabasse admitindo o que não devia. Respirei fundo, deslizei o dedo pela tela para silenciar o aparelho e o coloquei na bolsa. Era mais seguro assim.A sensação de estar sendo consumida por uma onda de pensamentos me acompanhou durante todo o caminho para casa. O silêncio no carro parecia ecoar os ruídos que não paravam na minha cabeça. Lucas e Lara. O jeito como estavam juntos. As mãos entrelaçadas. Aquela intimidade que eu nunca havia visto antes. Era tão claro, tão óbvio, e eu me senti tão… insignificante.Tentei me convencer de que estava exagerando. De que não tinha direito de sentir nada daquilo. Lucas e eu éramos amigos, e só. Amigos que se apoiaram em momentos difíceis, amigos que compartilharam conversa
[LucasO escritório estava silencioso, o único som era o tic-tac do relógio pendurado na parede. Eu estava sentado à minha mesa, mas a papelada à minha frente não fazia sentido algum. As palavras pareciam se misturar, e minha mente insistia em fugir para outro lugar. Para outra pessoa.Patrícia.Desde que recebi o aviso de Miguel, não consegui tirá-la da cabeça. Ele comentou casualmente que a encontrou no elevador, que parecia estar com pressa. Algo no tom dele me fez pensar que havia mais, mas ele não disse muito. E desde então, tudo o que consegui pensar foi: por que ela estava aqui? E por que não veio me ver?Peguei meu celular no bolso, mais uma vez checando as mensagens. Nenhuma nova, nenhuma explicação. Apenas o mesmo vazio que eu sentia crescendo dentro de mim. Será que eu fiz algo? Será que ela descobriu sobre Lara? Minha mente estava um caos, tentando conectar os pontos.Eu e Patrícia sempre tivemos algo fácil, uma conexão que fluía sem esforço. Mesmo nos piores dias, ela era
[Patricia]Quando Ester e Miguel apareceram à porta com caixas de pizza e algumas garrafas de cerveja, minha reação foi imediata.— Pizza em plena terça-feira? — brinquei, arqueando uma sobrancelha.— Precisamos comemorar, Paty — disse Ester, com um sorriso tão radiante que era impossível não se contagiar.— Ah, é? Acho que isso é coisa boa. O que seria? — perguntei, cruzando os braços e encarando os dois com curiosidade.Ester e Miguel trocaram um olhar cúmplice, e foi ela quem deu a notícia:— Você é a primeira a saber. Miguel me pediu em casamento.Fiquei boquiaberta por um segundo, mas logo corri para abraçar minha amiga com força.— Ester! Eu estou tão feliz por vocês! — exclamei, de coração sincero.Apesar de achar que o tempo de namoro deles era curto para algo tão sério, não deixei que meus pensamentos interferissem. Eu precisava apoiar Ester, assim como ela sempre esteve lá para mim.Depois de soltar Ester, me virei para Miguel, apontando um dedo para ele em tom de brincadeir
[Patricia]Desci pelo elevador de serviço, o som da porta se fechando parecia distante, abafado pelo tumulto dentro de mim. Quando cheguei ao hall de entrada, o porteiro estava na guarita, sempre atento, como se fosse um vigilante de algum filme policial. Ester e eu já havíamos alertado sobre Marcus, e ele sabia o suficiente para estar atento a qualquer movimento. Mesmo assim, eu não estava preparada para o que aconteceria.Quando vi Marcus, o coração apertou de uma maneira que eu não conseguia explicar. Ele estava ali, parado, esperando. Mas o que ele queria? O que ele tinha a dizer depois de tudo o que aconteceu?– O que você quer, Marcus? – Perguntei, mantendo uma distância segura, tentando esconder o medo que começava a me consumir. Minha voz estava firme, mas por dentro, eu sentia como se fosse desmoronar.Ele deu um passo à frente, mas não ousou se aproximar mais. Seus olhos estavam nublados, como se ele estivesse tentando encontrar palavras que fizessem sentido. Mas eu sabia, s
[Patricia]– Está tudo bem, Paty? Acho que atrapalhei – perguntou Ester, a preocupação evidente no rosto.Respirei fundo, forçando um sorriso que eu sabia que não enganava ninguém. – Está tudo bem. E não, você nunca atrapalha – respondi, tentando parecer casual, mas a voz saindo mais baixa do que eu gostaria.Ester me olhou com atenção antes de continuar. – Então vamos para a sala. A conversa está animada, e a Lara é bem simpática – comentou com naturalidade.– Já se tornou amiga dela? – perguntei, tentando soar descontraída, mas o tom de leve ciúmes escapou antes que eu pudesse controlar.Ela riu de leve, sem perceber meu desconforto. – Não, mas realmente gostei dela. Parece ser legal.– Que bom. Fique com sua nova amiga. Eu vou para o quarto. Estou com dor de cabeça – respondi, desviando o olhar. Antes que ela pudesse insistir, virei e segui para o corredor.– O que foi que eu disse de errado agora? – ouvi Ester murmurar, confusa, enquanto me afastava.Caminhei pelo corredor sem olh
[Miguel]Assim que Leandro se despediu com aquele olhar preocupado, algo em mim ficou inquieto.– Boa noite. Deixe um abraço para a Paty e melhoras – ele disse, e então se foi.Quando a porta se fechou, virei para Ester, que já estava recostada no sofá.– Está acontecendo algo que eu não sei? – perguntei, observando seu semblante pensativo.Ela suspirou antes de responder. – Realmente, eu não sei, amor. Entrei na cozinha e tive a leve impressão de que o Leandro estava beijando a Paty à força, mas é só o que eu acho. Ela não me disse nada. Quando entrei, ele simplesmente se afastou e saiu da cozinha, e logo a Paty foi para o quarto – contou Ester, enquanto apoiava os pés no meu colo, parecendo tão preocupada quanto eu me sentia.Passei a mão pelo rosto, tentando organizar meus pensamentos. – Não duvidaria de algo assim vindo do Leandro. Ele é meu amigo, sim, mas às vezes age de forma impulsiva. Isso já me trouxe problemas antes.Ester assentiu, mas logo mudou de assunto, algo que eu sa
[Leandro]Beijar Patrícia foi como abrir um livro misterioso e descobrir que cada página tem um segredo novo. Era impossível não querer mais. Ontem, quando ela disse que queria que fôssemos apenas amigos, algo dentro de mim estalou. Prometi a mim mesmo que respeitaria os limites dela, mas naquele momento, minha razão ficou em silêncio. Me aproximei, toquei seus lábios rosados e macios, e, por um instante, me perdi.Seu beijo… é diferente. Não sei se é doce pelo jeito dela ou se é o que minha mente quer acreditar. Só sei que, enquanto a beijava, cada segundo parecia prolongar algo que eu não queria que acabasse.Mas aí vem a pergunta: o que é isso que sinto por Patrícia? Não estou apaixonado. Acho que não. Talvez seja só atração, curiosidade, ou o desejo de tê-la de uma forma que ela insiste em negar. Talvez ela só esteja se fazendo de difícil, como tantas outras já fizeram. E, honestamente, eu sei lidar com isso.Meus pensamentos foram interrompidos por Alessa entrando na cozinha, lin
[Lucas]Ao me aproximar de Patrícia no centro da sala, senti meu coração acelerar. Talvez ela não tenha notado, mas, se eu não estivesse usando o paletó, com certeza poderia ver o pulsar no meu peito. Havia algo sobre estar perto dela que sempre me deixava inquieto, uma mistura de nervosismo e curiosidade.– Queria saber se você estava bem. Ontem, quando fui embora, você ainda estava no quarto e não pude me despedir – falei, tentando manter minha voz firme, mas sem soar invasivo.Ela recuou um pouco, quase imperceptivelmente, e desviou o olhar por alguns segundos antes de responder:– Sim, estou bem. Só estava com enxaqueca ontem. Mas você não precisava vir até aqui para perguntar – disse ela, a voz tímida, mas com uma ponta de seriedade.– Eu sei que não precisava – respondi, com sinceridade. – Mas quis ter certeza de que você estava bem.Ela me olhou brevemente, talvez surpresa pela minha resposta, mas logo desviou novamente e foi até a garrafa de água que estava no chão próximo ao