[Patricia]Desci pelo elevador de serviço, o som da porta se fechando parecia distante, abafado pelo tumulto dentro de mim. Quando cheguei ao hall de entrada, o porteiro estava na guarita, sempre atento, como se fosse um vigilante de algum filme policial. Ester e eu já havíamos alertado sobre Marcus, e ele sabia o suficiente para estar atento a qualquer movimento. Mesmo assim, eu não estava preparada para o que aconteceria.Quando vi Marcus, o coração apertou de uma maneira que eu não conseguia explicar. Ele estava ali, parado, esperando. Mas o que ele queria? O que ele tinha a dizer depois de tudo o que aconteceu?– O que você quer, Marcus? – Perguntei, mantendo uma distância segura, tentando esconder o medo que começava a me consumir. Minha voz estava firme, mas por dentro, eu sentia como se fosse desmoronar.Ele deu um passo à frente, mas não ousou se aproximar mais. Seus olhos estavam nublados, como se ele estivesse tentando encontrar palavras que fizessem sentido. Mas eu sabia, s
[Patricia]– Está tudo bem, Paty? Acho que atrapalhei – perguntou Ester, a preocupação evidente no rosto.Respirei fundo, forçando um sorriso que eu sabia que não enganava ninguém. – Está tudo bem. E não, você nunca atrapalha – respondi, tentando parecer casual, mas a voz saindo mais baixa do que eu gostaria.Ester me olhou com atenção antes de continuar. – Então vamos para a sala. A conversa está animada, e a Lara é bem simpática – comentou com naturalidade.– Já se tornou amiga dela? – perguntei, tentando soar descontraída, mas o tom de leve ciúmes escapou antes que eu pudesse controlar.Ela riu de leve, sem perceber meu desconforto. – Não, mas realmente gostei dela. Parece ser legal.– Que bom. Fique com sua nova amiga. Eu vou para o quarto. Estou com dor de cabeça – respondi, desviando o olhar. Antes que ela pudesse insistir, virei e segui para o corredor.– O que foi que eu disse de errado agora? – ouvi Ester murmurar, confusa, enquanto me afastava.Caminhei pelo corredor sem olh
[Miguel]Assim que Leandro se despediu com aquele olhar preocupado, algo em mim ficou inquieto.– Boa noite. Deixe um abraço para a Paty e melhoras – ele disse, e então se foi.Quando a porta se fechou, virei para Ester, que já estava recostada no sofá.– Está acontecendo algo que eu não sei? – perguntei, observando seu semblante pensativo.Ela suspirou antes de responder. – Realmente, eu não sei, amor. Entrei na cozinha e tive a leve impressão de que o Leandro estava beijando a Paty à força, mas é só o que eu acho. Ela não me disse nada. Quando entrei, ele simplesmente se afastou e saiu da cozinha, e logo a Paty foi para o quarto – contou Ester, enquanto apoiava os pés no meu colo, parecendo tão preocupada quanto eu me sentia.Passei a mão pelo rosto, tentando organizar meus pensamentos. – Não duvidaria de algo assim vindo do Leandro. Ele é meu amigo, sim, mas às vezes age de forma impulsiva. Isso já me trouxe problemas antes.Ester assentiu, mas logo mudou de assunto, algo que eu sa
[Leandro]Beijar Patrícia foi como abrir um livro misterioso e descobrir que cada página tem um segredo novo. Era impossível não querer mais. Ontem, quando ela disse que queria que fôssemos apenas amigos, algo dentro de mim estalou. Prometi a mim mesmo que respeitaria os limites dela, mas naquele momento, minha razão ficou em silêncio. Me aproximei, toquei seus lábios rosados e macios, e, por um instante, me perdi.Seu beijo… é diferente. Não sei se é doce pelo jeito dela ou se é o que minha mente quer acreditar. Só sei que, enquanto a beijava, cada segundo parecia prolongar algo que eu não queria que acabasse.Mas aí vem a pergunta: o que é isso que sinto por Patrícia? Não estou apaixonado. Acho que não. Talvez seja só atração, curiosidade, ou o desejo de tê-la de uma forma que ela insiste em negar. Talvez ela só esteja se fazendo de difícil, como tantas outras já fizeram. E, honestamente, eu sei lidar com isso.Meus pensamentos foram interrompidos por Alessa entrando na cozinha, lin
[Lucas]Ao me aproximar de Patrícia no centro da sala, senti meu coração acelerar. Talvez ela não tenha notado, mas, se eu não estivesse usando o paletó, com certeza poderia ver o pulsar no meu peito. Havia algo sobre estar perto dela que sempre me deixava inquieto, uma mistura de nervosismo e curiosidade.– Queria saber se você estava bem. Ontem, quando fui embora, você ainda estava no quarto e não pude me despedir – falei, tentando manter minha voz firme, mas sem soar invasivo.Ela recuou um pouco, quase imperceptivelmente, e desviou o olhar por alguns segundos antes de responder:– Sim, estou bem. Só estava com enxaqueca ontem. Mas você não precisava vir até aqui para perguntar – disse ela, a voz tímida, mas com uma ponta de seriedade.– Eu sei que não precisava – respondi, com sinceridade. – Mas quis ter certeza de que você estava bem.Ela me olhou brevemente, talvez surpresa pela minha resposta, mas logo desviou novamente e foi até a garrafa de água que estava no chão próximo ao
[Patricia]Cheguei em casa e encontrei Ester sentada na sala, impecavelmente maquiada e vestida com uma roupa elegante.— Vai sair hoje? — perguntei, trancando a porta ainda de costas para minha amiga.— Sim. Miguel, Lucas, Lara e eu. Programa de casal. — disse Ester, sua voz carregada de uma leve hesitação.Virei-me para ela e me sentei ao seu lado no sofá. Notei a incerteza em seu olhar e tentei soar encorajadora, embora uma pontada de ciúmes insistisse em se fazer presente.— Ei, Ester, não precisa ficar com receio de me contar. Estou bem. Isso é legal, né? Sair em casal... — sorri, fingindo leveza.Ester suspirou, parecendo buscar as palavras certas.— Tem certeza, Paty? Há pouco tempo atrás, era a gente que fazia esse tipo de programa...Respirei fundo, ignorando a saudade que as palavras dela despertaram.— Tenho certeza, amiga. — Segurei sua mão. — Só espero não perder você para a Lara.Ela riu baixinho e me abraçou com carinho.— Isso nunca. Você é minha irmã de alma, Paty.So
[ Patricia]Cheguei na cafeteria primeiro que Leandro, estava nervosa sobre o que ele queria conversar comigo. Desde o beijo que ele roubou na cozinha naquele dia, não conversei com ele e também procurei não pensar muito no assunto, já havia deixado claro pra ele que gostaria apenas de manter a amizade. Enquanto tomava meu capuccino, meus pensamentos vagavam pela visita inesperada de Marcus nos meus pensamentos, desde a última aparição dele no meu apartamento ele não surgiu novamente, mas meu coração estava inquieto. Marcus era como água de um oceano, quando menos espera ele aparece como uma onda em meio às águas calmas. Sem perceber, minha mente vagou para aquele fatídico dia.Eu havia chegado em casa de uma entrevista de emprego para professora de balé, já que não estava mais na companhia de dança, talvez poderia continuar trabalhando com a dança de alguma forma. Ao chegar em casa Marcus estava em casa com um copo de uísque na mão, havia saído mais cedo do escritório.— Oi, amor, já
[ Patricia]Sequei uma lágrima solitária que deslizava pela minha bochecha, enquanto meus olhos perdidos acompanhavam o movimento das crianças no parque do outro lado da rua. Suas risadas soavam distantes, como ecos de uma felicidade que já não me pertencia. O fim de tarde tingia o céu de tons alaranjados, mas dentro de mim tudo parecia permanecer em um eterno crepúsculo.Eu me sentia suspensa entre o passado e o presente, presa em lembranças que insistiam em me assombrar. O aroma doce do cappuccino à minha frente deveria ser reconfortante, mas apenas servia para acentuar a sensação de vazio.Foi quando ouvi o ruído da cadeira se arrastando que voltei à realidade. Leandro sentou-se à minha frente, e seu olhar carregava aquela mesma preocupação de sempre. Suspirei, tentando disfarçar a tristeza que, mesmo sem querer, transparecia em cada gesto meu.— Desculpe, Paty. A academia estava lotada e o trânsito... — Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos úmidos de suor antes de se acomodar