Entrei no carro e segui para casa. O som baixo do rádio preenchia o silêncio enquanto minha mente estava longe, vagando entre lembranças sobre Patrícia. O que foi aquele encontro no estúdio hoje? O jeito como ela sorriu, como seus olhos azuis pareciam carregar oceanos de sentimentos…No meio do caminho, meu celular vibrou no painel. Era Miguel.— Fala, brother! — Ele disse com aquela animação característica. — Combinei com Leandro, Ester e Patrícia aqui em casa hoje. Pizza e cerveja. Você vem?Suspirei, desviando o olhar para a rua.— Ah, não sei, Miguel. Não estou com clima para festa. O silêncio suave da varanda foi interrompido pelo som da porta se abrindo. Leandro apareceu, com um sorriso travesso e olhar curioso.— O que vocês dois estão fazendo aqui fora? — perguntou ele, cruzando os braços e encostando no batente da porta.Eu e Patrícia nos entreolhamos por um breve instante, e ela sorriu de maneira doce, mas discreta.— Nada demais — respondeu Patrícia, sua voz calma, porém carregada de algo que nem eu conseguia decifrar. — Só comentando que, às vezes, a vida nos surpreende.Leandro arqueou uma sobrancelha, claramente intrigado com a resposta. Ele lançou aquele olhar brincalhão, o tipo de olhar que eu conhecia bem — algo entre provocação e curiosidade.Antes que qualquer um de nós pudesse responder, a voz animada de Miguel ecoou da sala.— Bora, pessoal! Estou ligando o videogame. Quem vai ser derrotado hoje?Leandro riu e fez um gesto para que seguíssemos para dentro.— Vocês ouviram o chefe. Vamos lá!Quando estávamos de volta à sala, Miguel já estava sentaCapítulo 21
— Foi divertido essa noite — disse Ester, com um sorriso satisfeito no rosto. Seus olhos brilhavam com curiosidade e uma pontada de expectativa enquanto me observava.Eu não pude deixar de sorrir também.— Tudo bem, você tinha razão. Foi divertido — admiti, soltando um suspiro leve.Ester bateu palmas animada, quase como uma criança que acaba de ganhar um doce.— Que ótimo, Paty! Eu sabia que você ia gostar.Por alguns instantes, ficamos em silêncio. Apenas o som do carro deslizando suavemente pela rua preenchia o espaço. Até que Ester olhou de canto de olho para mim, com aquele olhar perspicaz que ela sempre lançava quando queria arrancar algo de mim.— Mas… eu notei algo hoje — ela começou, com a voz carregada de malícia. — A proximidade entre você e o Leandro… é impressão minha ou ele está interessado em você?Senti meu rosto esquentar instantaneamente. Virei o rosto para a janela, tentando disfarçar o leve rubor que subia pelas minhas bochechas.— Não sei, Ester. Acho que foi só i
A manhã chegou lentamente, com os primeiros raios de sol filtrando-se pelas cortinas do meu quarto. Virei-me na cama, puxando o cobertor para cobrir o rosto, mas o brilho suave teimava em me chamar para a realidade. Estava sonolenta, mas, ao lembrar da mensagem de Lucas na noite anterior, um sorriso leve surgiu em meus lábios.Levantei-me devagar, espreguicei-me e fui até o espelho. Meus cabelos estavam bagunçados, mas meus olhos pareciam mais vivos. Era como se uma pequena chama tivesse se reacendido dentro de mim.Ao pegar o celular, vi que não havia novas mensagens. Uma parte de mim se sentiu aliviada, mas outra… outra ficou levemente decepcionada.— Para, Patrícia. — murmurei para mim mesma, balançando a cabeça. — Não crie expectativas.Depois de um banho rápido, vesti uma calça jeans confortável, uma blusa leve e prendi o cabelo em um rabo de cavalo. O cheiro de café fresco vindo da cozinha indicava que Ester já estava acordada.— Bom dia! — cumprimentei ao entrar na cozinha.Est
As aulas seguiam tranquilas, os passos das alunas ecoando pelo estúdio enquanto a música suave preenchia o ambiente. Eu guiava cada movimento com precisão, mas, de repente, algo fez meu coração falhar uma batida.Através do vidro que dava para a rua, meus olhos captaram uma silhueta familiar. Lá estava ele. Terno impecável, cabelos perfeitamente alinhados no mesmo corte que eu conhecia tão bem. Marcus.O mundo ao meu redor pareceu perder o som. O ritmo da música desapareceu, as vozes das alunas se tornaram um zumbido distante. Meu coração começou a bater forte, tão alto que parecia ecoar nos meus ouvidos. Minhas mãos começaram a tremer involuntariamente, enquanto meu olhar permanecia fixo nele.— Professora Patrícia? — Uma das minhas alunas chamou, trazendo-me de volta para o momento presente.Pisquei algumas vezes, tentando me recompor, e voltei meu olhar para a rua. Mas ele não estava mais lá. O lugar onde Marcus estivera parecia agora vazio, como se fosse apenas uma miragem cruel.
Lucas sentia o mundo ruir ao seu redor. A notícia havia sido devastadora, arrancando dele qualquer resquício de esperança. Sua noiva, seu futuro, seu amor havia partido de forma brutal e repentina em um acidente de carro. No corredor do hospital, os sons dos monitores e passos apressados soavam distantes, abafados pelo peso do luto que o sufocava. As paredes pareciam se fechar ao redor, como se quisessem esmagá-lo. Ele não conseguia encarar os pais ou os sogros, que também choravam em silêncio. O vazio em seus olhos espelhava o próprio vazio que sentia. “Com licença”, murmurou, sem realmente esperar uma resposta. Precisava sair dali, encontrar ar para respirar, mesmo que por um instante. No elevador, Lucas apoiou a testa contra a parede metálica, a superfície gelada um breve alívio para o calor sufocante da dor que o consumia. Quando as portas estavam prestes a se fechar, uma mulher entrou apressadamente. Ela evitava contato visual, enxugando discretamente as lágrimas que escorriam
Patrícia agradeceu com um aceno tímido e murmurou: — Obrigada… de verdade.Lucas apenas assentiu, observando enquanto ela se afastava lentamente, os passos hesitantes carregando o peso de sua dor. Ele ficou parado no terraço, o vento ainda frio batendo contra seu rosto, como se tentasse despertá-lo de um pesadelo que não tinha fim.Quando as portas do elevador se fecharam atrás dela, o silêncio pareceu ainda mais opressor. Lucas ergueu os olhos para o céu nublado, buscando respostas que não vinham. — Por quê? — pensou ele, os lábios se movendo sem som. — Por que ela? Por que agora?A imagem de Milena veio à sua mente. Seu sorriso brilhante, os planos que faziam juntos, as risadas que compartilhavam. Tudo parecia tão próximo e, ao mesmo tempo, inatingível. A perda era como uma ferida aberta, latejante e insuportável.Ele permaneceu ali por algum tempo, tentando encontrar sentido no caos. Mas as respostas não vieram, e Lucas soube que talvez nunca viriam. Respirou fundo, ainda sentindo
Conheci Milena Cruz em um lugar inesperado: uma boate. Admito, não era exatamente o cenário onde eu imaginava encontrar o amor da minha vida. Esses lugares geralmente são sobre curtição, encontros passageiros, algo leve e sem compromisso. Mas Milena… Milena não era qualquer pessoa.Eu estava no bar, um tanto deslocado. Não era muito de dançar nem de socializar como meus amigos. Leandro e Miguel, com toda sua popularidade e confiança, dominavam a pista de dança, atraindo olhares e sorrisos de todas as direções. Eu? Bem, estava no segundo ano de Ciência da Computação, o típico “nerd” do grupo, tentando decidir qual cerveja pedir, enquanto eles se divertiam sem preocupação.— Ei, rapaz,— disse o bartender, interrompendo meus pensamentos enquanto enchia um copo. — Aquela garota ali, de blusa vermelha… Ela não tira os olhos de você.Franzi a testa, surpreso. — Quem? Eu?Ele riu, inclinando-se um pouco mais próximo. — Você mesmo. Por que não vai lá e paga uma bebida pra ela?Olhei na direçã