— Foi divertido essa noite — disse Ester, com um sorriso satisfeito no rosto. Seus olhos brilhavam com curiosidade e uma pontada de expectativa enquanto me observava.Eu não pude deixar de sorrir também.— Tudo bem, você tinha razão. Foi divertido — admiti, soltando um suspiro leve.Ester bateu palmas animada, quase como uma criança que acaba de ganhar um doce.— Que ótimo, Paty! Eu sabia que você ia gostar.Por alguns instantes, ficamos em silêncio. Apenas o som do carro deslizando suavemente pela rua preenchia o espaço. Até que Ester olhou de canto de olho para mim, com aquele olhar perspicaz que ela sempre lançava quando queria arrancar algo de mim.— Mas… eu notei algo hoje — ela começou, com a voz carregada de malícia. — A proximidade entre você e o Leandro… é impressão minha ou ele está interessado em você?Senti meu rosto esquentar instantaneamente. Virei o rosto para a janela, tentando disfarçar o leve rubor que subia pelas minhas bochechas.— Não sei, Ester. Acho que foi só i
A manhã chegou lentamente, com os primeiros raios de sol filtrando-se pelas cortinas do meu quarto. Virei-me na cama, puxando o cobertor para cobrir o rosto, mas o brilho suave teimava em me chamar para a realidade. Estava sonolenta, mas, ao lembrar da mensagem de Lucas na noite anterior, um sorriso leve surgiu em meus lábios.Levantei-me devagar, espreguicei-me e fui até o espelho. Meus cabelos estavam bagunçados, mas meus olhos pareciam mais vivos. Era como se uma pequena chama tivesse se reacendido dentro de mim.Ao pegar o celular, vi que não havia novas mensagens. Uma parte de mim se sentiu aliviada, mas outra… outra ficou levemente decepcionada.— Para, Patrícia. — murmurei para mim mesma, balançando a cabeça. — Não crie expectativas.Depois de um banho rápido, vesti uma calça jeans confortável, uma blusa leve e prendi o cabelo em um rabo de cavalo. O cheiro de café fresco vindo da cozinha indicava que Ester já estava acordada.— Bom dia! — cumprimentei ao entrar na cozinha.Est
As aulas seguiam tranquilas, os passos das alunas ecoando pelo estúdio enquanto a música suave preenchia o ambiente. Eu guiava cada movimento com precisão, mas, de repente, algo fez meu coração falhar uma batida.Através do vidro que dava para a rua, meus olhos captaram uma silhueta familiar. Lá estava ele. Terno impecável, cabelos perfeitamente alinhados no mesmo corte que eu conhecia tão bem. Marcus.O mundo ao meu redor pareceu perder o som. O ritmo da música desapareceu, as vozes das alunas se tornaram um zumbido distante. Meu coração começou a bater forte, tão alto que parecia ecoar nos meus ouvidos. Minhas mãos começaram a tremer involuntariamente, enquanto meu olhar permanecia fixo nele.— Professora Patrícia? — Uma das minhas alunas chamou, trazendo-me de volta para o momento presente.Pisquei algumas vezes, tentando me recompor, e voltei meu olhar para a rua. Mas ele não estava mais lá. O lugar onde Marcus estivera parecia agora vazio, como se fosse apenas uma miragem cruel.
[Patricia]Fiquei parada por um longo tempo no vestiário, com as mãos apoiadas na pia e o som da água escorrendo pelo ralo, ecoando no silêncio ao meu redor. Minha mente estava presa naquele olhar do outro lado da rua, naquela sensação sufocante de ser observada.Marcus. O nome dele reverberava na minha cabeça como um eco interminável. Mesmo depois de tanto tempo, mesmo depois de toda a terapia, depois de tantas noites em claro tentando reconstruir quem eu era, apenas uma visão dele bastou para me desestabilizar completamente.— Você não está mais lá, Patrícia… você não está mais lá. — Murmurei para mim mesma, tentando encontrar alguma firmeza na voz.Fechei os olhos e respirei fundo, tentando controlar o tremor nas mãos.— Paty? — A voz de Ester veio novamente, do lado de fora do vestiário, mas desta vez mais calma. — As aulas terminaram. As meninas já foram embora. Tudo bem aí?— Já estou indo… — respondi, tentando disfarçar a fragilidade na voz.Sequei meu rosto com uma toalha e aj
[Lucas]A sala do grupo de apoio estava mais silenciosa do que o habitual. As cadeiras dispostas em círculo, algumas ainda ocupadas por pessoas que demoravam a se levantar, pareciam carregar os pesos invisíveis das histórias compartilhadas naquela noite. O aroma suave de chá misturava-se com o cheiro levemente adocicado dos biscoitos sobre a mesa ao fundo.— Há algum tempo descobri quem era a mulher que encontrei no terraço do hospital. — Minha voz quebrou o silêncio, e todos os olhares se voltaram para mim.Alguns sorrisos surgiram, pequenos, mas encorajadores. Gabriela, uma mulher que havia perdido o filho adolescente em um assalto, estava sentada à minha esquerda, inclinou-se ligeiramente para frente. Ela sempre parecia atenta, seus olhos cheios de compreensão e gentileza.— E como foi, Lucas? Como foi reencontrar ela? — Gabriela perguntou, sua voz suave, mas firme.Soltei um suspiro baixo e sorri de lado, quase tímido.— Foi… inesperado. — Fiz uma breve pausa, as palavras pesavam
[Patricia]O silêncio tranquilo da noite foi interrompido pelo som suave da porta da frente se fechando. Eu estava no meu quarto, enrolada nos lençóis, mas completamente desperta. A luz do abajur projetava sombras suaves nas paredes, e o livro que eu tentava ler estava esquecido ao meu lado.— Paty, está acordada? — A voz de Ester soou do outro lado da porta, seguida de duas batidinhas delicadas.— Sim, estou. Pode entrar! — respondi, ajeitando-me na cama e afastando o livro para o lado.Ester entrou com um sorriso luminoso, como se estivesse carregando uma estrela dentro de si. Seu olhar brilhava, e ela suspirou antes mesmo de falar qualquer coisa.— Nem precisa me diz
[Patrícia]Era próximo do horário do almoço quando Miguel e Leandro apareceram no estúdio, trazendo uma energia descontraída. Eu e Ester estávamos organizando alguns materiais para as aulas quando os vimos entrar.— Olá, meninas! — cumprimentou Leandro, com um sorriso no rosto.— Boa tarde! — respondi educadamente, tentando ser cordial.Ester, por sua vez, ficou ligeiramente tímida, mas não hesitou em cumprimentar Miguel com um beijo nos lábios.— Uuuuu! — provoquei, lançando um olhar divertido para ela.Ester ficou vermelha na hora. [Lucas ]Ver Patrícia ao lado de Miguel, próximo ao estúdio, fez algo apertar no meu peito. Era um sentimento difícil de nomear. Eu sabia que éramos apenas amigos, especialmente por causa do namoro de Miguel com Ester, mas desde o dia em que a vi na inauguração do estúdio, algo começou a se mexer dentro de mim. Era como se uma parte adormecida — algo que eu estava determinado a enterrar — insistisse em voltar à vida.Uma parte de mim sussurrava para tentar, mas a outra gritava que eu não estava pronto. As memórias de Milena ainda estavam frescas demais, como uma ferida que mal começava a cicatrizar.Eu estava perdido nesses pensamentos quando o telefone da minha meCapítulo 29