[Patricia]O silêncio tranquilo da noite foi interrompido pelo som suave da porta da frente se fechando. Eu estava no meu quarto, enrolada nos lençóis, mas completamente desperta. A luz do abajur projetava sombras suaves nas paredes, e o livro que eu tentava ler estava esquecido ao meu lado.— Paty, está acordada? — A voz de Ester soou do outro lado da porta, seguida de duas batidinhas delicadas.— Sim, estou. Pode entrar! — respondi, ajeitando-me na cama e afastando o livro para o lado.Ester entrou com um sorriso luminoso, como se estivesse carregando uma estrela dentro de si. Seu olhar brilhava, e ela suspirou antes mesmo de falar qualquer coisa.— Nem precisa me diz
[Patrícia]Era próximo do horário do almoço quando Miguel e Leandro apareceram no estúdio, trazendo uma energia descontraída. Eu e Ester estávamos organizando alguns materiais para as aulas quando os vimos entrar.— Olá, meninas! — cumprimentou Leandro, com um sorriso no rosto.— Boa tarde! — respondi educadamente, tentando ser cordial.Ester, por sua vez, ficou ligeiramente tímida, mas não hesitou em cumprimentar Miguel com um beijo nos lábios.— Uuuuu! — provoquei, lançando um olhar divertido para ela.Ester ficou vermelha na hora. [Lucas ]Ver Patrícia ao lado de Miguel, próximo ao estúdio, fez algo apertar no meu peito. Era um sentimento difícil de nomear. Eu sabia que éramos apenas amigos, especialmente por causa do namoro de Miguel com Ester, mas desde o dia em que a vi na inauguração do estúdio, algo começou a se mexer dentro de mim. Era como se uma parte adormecida — algo que eu estava determinado a enterrar — insistisse em voltar à vida.Uma parte de mim sussurrava para tentar, mas a outra gritava que eu não estava pronto. As memórias de Milena ainda estavam frescas demais, como uma ferida que mal começava a cicatrizar.Eu estava perdido nesses pensamentos quando o telefone da minha meCapítulo 29
[Patricia]O estúdio de dança estava repleto de risadas leves e da energia vibrante das crianças. Caminhei pelo espaço iluminado, com o olhar atento e o coração aquecido por estar ali. Minhas pequenas alunas se esforçavam para acompanhar os movimentos básicos que eu ensinava. Algumas tropeçavam nos próprios pés, outras riam da descoordenação, mas todas estavam tão empenhadas que meu peito se enchia de orgulho.— Certo, meninas, vamos tentar mais uma vez! Lembrem-se: posição de primeira! — disse com entusiasmo. — Pés juntos, braços arredondados... Isso mesmo, Ana! Muito bem!Observei Ana acertar a posição, o sorriso orgulhoso iluminando seu rosto. Outras parecia
[Patricia]Marcus estava parado na entrada do estúdio, um sorriso nos lábios, mas seus olhos carregavam algo que me fazia recuar instintivamente.— Você continua linda. — disse ele, com aquele tom que antes me fazia ceder. — Sinto falta de quando você dançava pra mim.A memória dos dias em que ele exigia que eu dançasse veio como uma facada no peito. Respirei fundo, tentando manter a calma.— Marcus, vai embora. — consegui dizer, com a voz mais firme. — Não tenho nada para falar com você.— Mas eu tenho, Paty. — Ele deu um passo à frente, e eu recuei automaticamente. — Eu sinto saudades de você… de nós. Me perdoa. Sei que errei.Ele estava bloqueando a saída, e cada palavra sua parecia me prender ainda mais.— Já te perdoei tantas vezes, Marcus. Não acredito mais em você. — falei, tentando soar confiante, mas a verdade é que meu corpo tremia por dentro.Ele riu, um som amargo e cheio de sarcasmo.— Eu te amo, Paty. — disse ele, a voz suave, quase como um sussurro. — Eu não queria te m
[Patricia]Ester lançou um olhar firme para os dois homens.— Já voltamos. Vou acompanhar a Paty até o quarto dela.Lucas e Miguel assentiram em silêncio, o clima ainda pesado pelos eventos da noite.No meu quarto, sentei-me na beira da cama, tentando assimilar o caos de momentos atrás. O ambiente, antes meu refúgio, agora parecia opressor, como se as paredes estivessem fechando ao meu redor.— Eu não sei, Ester… como ele conseguiu me achar? Como ele foi capaz…? — Minha voz falhou, e as palavras ficaram presas na garganta, sufocadas pela lembrança de Marcus. — Se o Lucas não tivesse chegado, ele teria… — não consegui conter as lágrimas que molhavam meus cílios. A dor de terminar a frase era insuportável.Ester se ajoelhou à minha frente, segurando minhas mãos com firmeza.— Paty, não pense nisso agora. O importante é que não aconteceu nada. Você está aqui, segura. — Seus olhos transbordavam de preocupação. — Tome um banho. Eu volto em alguns minutos.Assenti em silêncio, incapaz de a
[Lucas]Enquanto o elevador descia lentamente do décimo andar, mantive as mãos nos bolsos, tentando processar tudo que havia acontecido. O espelho no elevador refletia meu rosto marcado — o pequeno corte na testa e o lábio ainda machucado. Suspirei, sabendo que no dia seguinte o roxo se destacaria, denunciando a briga. Mas, antes que a autopiedade tomasse conta, um sorriso sutil surgiu em meus lábios, lembrando-me de Patrícia.A imagem dela cuidando dos meus ferimentos voltou à minha mente. A proximidade, a maneira como sua respiração se alterava quando nossas faces quase se tocavam… E aquela covinha discreta que aparecia em sua bochecha quando ela tentava sorrir, mesmo em meio ao caos.O elevador finalmente parou no térreo, interrompendo meus pensamentos. Ao sair do prédio, olhei para o alto, para a janela de Patrícia. Mesmo sem vê-la, senti uma conexão inexplicável. Atravessei a rua e entrei no meu carro, um Maverick que me acompanhava há anos. Dei partida, mas um arrepio percorreu
[Lucas]A sala de reuniões estava iluminada, e o brilho do projetor já preenchia a parede com os primeiros slides do briefing. Era mais um dia na SynerTech, e minha mente fervilhava com as possibilidades do novo projeto. Sentei na ponta da mesa, como de costume, com Lara ao meu lado. Ela já estava pronta, com o notebook aberto e as anotações organizadas. Miguel chegou pontualmente, como sempre, ajeitando os óculos com aquele ar impecável que ele nunca perdia.— Bom dia, pessoal. — Miguel começou, sua voz firme preenchendo o ambiente. Ele colocou a pasta sobre a mesa com um movimento calculado, como se até isso fizesse parte de seu discurso. — Então, vamos falar sobre esse novo projeto. Lucas, pode nos contextualizar?Respirei fundo e ajustei a postura. Era hora de apresentar minha visão.— Claro. — Comecei, olhando para cada um na sala, tentando medir o impacto das palavras. — A ideia é criar um aplicativo de relacionamento que vá além dos padrões atuais. Queremos algo que realmente p