[Lucas]Enquanto o elevador descia lentamente do décimo andar, mantive as mãos nos bolsos, tentando processar tudo que havia acontecido. O espelho no elevador refletia meu rosto marcado — o pequeno corte na testa e o lábio ainda machucado. Suspirei, sabendo que no dia seguinte o roxo se destacaria, denunciando a briga. Mas, antes que a autopiedade tomasse conta, um sorriso sutil surgiu em meus lábios, lembrando-me de Patrícia.A imagem dela cuidando dos meus ferimentos voltou à minha mente. A proximidade, a maneira como sua respiração se alterava quando nossas faces quase se tocavam… E aquela covinha discreta que aparecia em sua bochecha quando ela tentava sorrir, mesmo em meio ao caos.O elevador finalmente parou no térreo, interrompendo meus pensamentos. Ao sair do prédio, olhei para o alto, para a janela de Patrícia. Mesmo sem vê-la, senti uma conexão inexplicável. Atravessei a rua e entrei no meu carro, um Maverick que me acompanhava há anos. Dei partida, mas um arrepio percorreu
[Lucas]A sala de reuniões estava iluminada, e o brilho do projetor já preenchia a parede com os primeiros slides do briefing. Era mais um dia na SynerTech, e minha mente fervilhava com as possibilidades do novo projeto. Sentei na ponta da mesa, como de costume, com Lara ao meu lado. Ela já estava pronta, com o notebook aberto e as anotações organizadas. Miguel chegou pontualmente, como sempre, ajeitando os óculos com aquele ar impecável que ele nunca perdia.— Bom dia, pessoal. — Miguel começou, sua voz firme preenchendo o ambiente. Ele colocou a pasta sobre a mesa com um movimento calculado, como se até isso fizesse parte de seu discurso. — Então, vamos falar sobre esse novo projeto. Lucas, pode nos contextualizar?Respirei fundo e ajustei a postura. Era hora de apresentar minha visão.— Claro. — Comecei, olhando para cada um na sala, tentando medir o impacto das palavras. — A ideia é criar um aplicativo de relacionamento que vá além dos padrões atuais. Queremos algo que realmente p
[Patricia]Ver Lara tão próxima de Lucas me fez sentir estranha, como se algo dentro de mim quisesse se encolher e desaparecer. Eu sei que nos conhecemos há pouco tempo, e estamos apenas iniciando uma amizade. Meu último relacionamento foi tão complicado e doloroso que esse sentimento em relação a Lucas me pega desprevenida. Não consigo evitar o nervosismo quando estou perto dele, e isso só piora quando ele olha diretamente para mim.“Não posso deixar transparecer,” pensei, tentando manter a compostura. “Como isso daria certo? Ele perdeu a noiva, a mulher que amava. Tenho certeza de que ele não sente nada por mim. E depois do que aconteceu ontem, quem iria querer se aproximar de mim?”Enquanto esses pensamentos me consumiam, fui interrompida pela voz de Lucas, que me tirou do devaneio:— Patrícia, aceita um café? — Ele perguntou, com a voz gentil.Eu me sobressaltei levemente, percebendo que estava distraída.— Não, Lucas, estou bem. Obrigada. — Respondi, tentando soar natural. — Na v
[Patricia]Ao entrar no estúdio, notei Ester próxima à entrada, conversando com o novo segurança, um homem alto, de aparência firme, que parecia levar seu trabalho a sério. Eles trocaram olhares sérios antes de me cumprimentar.— Bom dia, Paty. — Ester sorriu calorosamente, mas seu olhar denunciava que ainda estava preocupada comigo.— Bom dia. — Respondi, tentando transmitir serenidade. Cumprimentei o segurança com um leve aceno de cabeça e segui direto para o vestiário.Ao me sentar na cadeira de frente para o espelho, tirei os sapatos e soltei um suspiro pesado. O espaço estava vazio e silencioso, mas minha mente estava tumultuada. Foi então que, como uma onda fria e amarga, a memória do passado me atingiu sem aviso, trazendo consigo a noite em que Marcus revelou o pior de si.FLASHBACKEstávamos no início da noite, e eu havia acabado de voltar de um jantar com uma amiga da companhia de balé. Naquele dia, ao sair do restaurante, um garçom foi muito gentil ao segurar a porta para mi
[Lucas]O relógio na parede marcava 14h20 quando eu finalmente fechei o último relatório da manhã. Meu escritório estava silencioso, exceto pelo som do ar-condicionado e o ruído distante de teclados sendo pressionados no setor ao lado. Peguei minha caneca nova – presente da Patrícia – e tomei um gole do café ainda morno. Era estranho como um objeto tão simples tinha se tornado algo especial.Eu estava distraído, olhando para o horizonte pela janela, quando uma batida suave na porta me trouxe de volta à realidade.— Entra. — Minha voz soou mais firme do que eu pretendia.Lara entrou com o notebook em mãos, usando o mesmo jeans impecável da manhã e uma camisa diferente, levemente ajustada, que destacava sua postura confiante.— Lucas, você tem um minuto? Queria te mostrar como organizei as ideias da reunião.— Claro, pode sentar. — Apontei para a cadeira à frente da minha mesa, enquanto ajeitava alguns papéis.Ela se acomodou, cruzando as pernas com naturalidade, e abriu o notebook.— O
[Patricia]Eu estava no quarto, parada em frente ao espelho, tentando decidir se o vestido azul claro que escolhi era a melhor opção. Ester estava sentada na cama, me observando com um sorriso divertido enquanto eu mexia no cabelo, indecisa se prendia ou deixava solto.— Amiga, relaxa. Você está linda. Não é um baile de gala, é só um cinema. — Ester comentou, balançando a cabeça.Suspirei, ajustando o tecido do vestido.— Eu sei, mas faz tanto tempo que eu não saio assim... Estou até meio nervosa.Ester se levantou e veio até mim, pousando as mãos nos meus ombros.— Nervosa por quê? É só o Leandro. Ele é legal, divertido... e vamos combinar, um gato. — Ela riu, piscando para mim.Revirei os olhos, tentando não rir também.— Eu sei que ele é legal, mas é diferente. Não quero dar nenhuma impressão errada.Ester cruzou os braços, arqueando uma sobrancelha.— Impressão errada? Paty, você está solteira. Ele está solteiro. E se ele gosta de você, qual é o problema?Pensei naquilo por um mom
[Patricia]Quando destranquei a porta, a primeira coisa que vi foi Ester sentada no sofá, de pernas cruzadas e uma expressão curiosa estampada no rosto. Ela estava segurando uma caneca de chá, claramente esperando por mim.— E então? Como foi? — Ela perguntou, assim que entrei e fechei a porta atrás de mim.— Boa noite pra você também, Ester. — Respondi, tentando disfarçar o sorriso que insistia em aparecer.— Sem essa de boa noite, Patrícia! Quero saber tudo. — Ela se ajeitou no sofá, como se estivesse prestes a ouvir uma história épica.— Foi... legal. — Respondi, indo até a cozinha para
[Lucas]O escritório estava em silêncio, exceto pelo som suave dos nossos teclados e do ar-condicionado. O restante da equipe já tinha ido embora, e a luz dourada do fim de tarde havia sido substituída pelo brilho frio das lâmpadas fluorescentes. Estávamos ali, apenas eu e Lara, ajustando os últimos detalhes do layout do aplicativo.— Acho que esse botão precisa estar mais visível — comentei, apontando para a tela do notebook dela.Lara inclinou a cabeça, concordando. — É, faz sentido. Vou testar outra posição.Ela estava concentrada, mordendo de leve a ponta do lápis que segurava. Mesmo que eu não quisesse admitir, havia algo magnético nela. Su