[Patricia]
Quando destranquei a porta, a primeira coisa que vi foi Ester sentada no sofá, de pernas cruzadas e uma expressão curiosa estampada no rosto. Ela estava segurando uma caneca de chá, claramente esperando por mim.
— E então? Como foi? — Ela perguntou, assim que entrei e fechei a porta atrás de mim.
— Boa noite pra você também, Ester. — Respondi, tentando disfarçar o sorriso que insistia em aparecer.
— Sem essa de boa noite, Patrícia! Quero saber tudo. — Ela se ajeitou no sofá, como se estivesse prestes a ouvir uma história épica.
— Foi... legal. — Respondi, indo até a cozinha para
[Lucas]O escritório estava em silêncio, exceto pelo som suave dos nossos teclados e do ar-condicionado. O restante da equipe já tinha ido embora, e a luz dourada do fim de tarde havia sido substituída pelo brilho frio das lâmpadas fluorescentes. Estávamos ali, apenas eu e Lara, ajustando os últimos detalhes do layout do aplicativo.— Acho que esse botão precisa estar mais visível — comentei, apontando para a tela do notebook dela.Lara inclinou a cabeça, concordando. — É, faz sentido. Vou testar outra posição.Ela estava concentrada, mordendo de leve a ponta do lápis que segurava. Mesmo que eu não quisesse admitir, havia algo magnético nela. Su
[Lucas]A chave estava na ignição e minha mão no volante, mas antes que pudesse dar a partida, o som do celular me fez parar. Olhei para a tela. Era Miguel. "O que será que ele quer a essa hora?", pensei antes de atender.— Fala, Miguel. O que houve? — perguntei, tentando soar casual.— Nada demais, só uma ideia. Leandro e eu estamos aqui no meu apartamento tomando umas cervejas. Pensei em te chamar pra descontrair um pouco. Que tal?Eu hesitei por um momento, mas depois de um dia como aquele, talvez fosse bom espairecer.— Beleza, estou indo pra aí. Só não garanto que vou ficar muito. — Respondi.— Combinado. Mas se prepare, a conversa tá boa. — Miguel riu antes de desligar.Cheguei ao apartamento de Miguel cerca de vinte minutos depois. Ele abriu a porta com uma garrafa de cerveja na mão e o típico sorriso descontraído no rosto. Leandro já estava no sofá, com os pés apoiados na mesa de centro.— Finalmente, o homem chegou! — disse Miguel, me entregando uma cerveja.— O trânsito não
[ Patricia]O cheiro do molho borbulhando no fogão já preenchia a cozinha, mas eu não conseguia me concentrar nos detalhes do almoço. Minha mente estava a mil, principalmente depois que Ester me disse que Lucas viria. Não era só o fato de ele estar entre os convidados, mas a possibilidade de ele saber sobre o beijo com Leandro. Meu estômago revirava só de pensar.— Você tá muito quieta, Paty. — Ester comentou, mexendo na panela de arroz enquanto lançava um olhar curioso na minha direção.— Só tô pensando no almoço... quero que tudo fique perfeito. — Tentei disfarçar, mas Ester não era boba.— Não vem com essa. — Ela riu. — Tá nervosa porque o Lucas vem, né?Suspirei e me encostei no balcão, abraçando os próprios braços. — Talvez... e se ele souber do beijo com Leandro? Eu não faço ideia de como ele reagiria.Ester deixou a colher de lado e se virou para mim com um sorriso leve. — Relaxa, Paty. Primeiro: o Leandro não é do tipo que fica espalhando as coisas. Segundo: você não deve nada
[Patricia]O cheiro da lasanha e da carne assando tomava conta da cozinha, enquanto Ester estava concentrada em terminar de preparar as duas opções de salada. Eu me sentia mais tranquila com ela por perto, sempre tão prática e positiva. Mesmo assim, havia algo no ar, um desconforto que eu não conseguia afastar completamente.Enquanto lavava a louça de alguns utensílios que tínhamos usado, ouvi meu celular tocar no quarto. Pedi licença a Ester rapidamente.— Vou atender, é rápido. Já volto para ajudar. — Disse, tentando não parecer alarmada, embora meu coração já estivesse acelerado sem motivo aparente.— Vai lá, deixa que eu termine aqu
[Lucas]Após a saída apressada de Patrícia da cozinha, fiquei a sós com Leandro. O ambiente parecia carregado, e eu sabia que precisava esclarecer minha intervenção.— Desculpe por me intrometer, Leandro. Só queria ajudar.Ele me encarou, claramente insatisfeito com minha explicação.— Ajudar? E desde quando eu preciso da sua ajuda com Patrícia?Engoli em seco, tentando manter a calma.— Patrícia é minha amiga. Não quero vê-la magoada.Leandro deu um passo à frente, diminuindo a distância entre nós.
[Patricia]Voltei para a sala tentando colocar um sorriso no rosto, como se nada estivesse me inquietando. Ester, Miguel, Leandro e Lucas ainda estavam jogando cartas. A risada de Miguel era a mais alta, contrastando com a postura mais contida de Lucas e a animação competitiva de Leandro. Ester, sempre animada, me notou assim que entrei.— Finalmente, Patricia! — Ela disse, gesticulando para a mesa. — Vem se juntar a gente! Você não pode ficar só assistindo. Vamos, te ensino as regras rapidinho.Tentei recusar educadamente, mas Ester não aceitou um “não” como resposta.— Não tem desculpa! — Ela insistiu, me puxando pela mão até a mesa. — Miguel, dá um lugar pra ela.Miguel sorriu, movendo algumas cadeiras para acomodar mais uma.— Está preparada para perder? — Ele brincou, ajeitando as cartas na mão.— Vamos ver, né? — Respondi, rindo nervosamente. Sentei-me ao lado de Ester, tentando absorver rapidamente as regras do jogo.No início, fiquei tímida, mas logo entrei no ritmo. A partida
[Patricia]Eu nunca me senti tão fora de lugar como naquele momento. Entrar naquele prédio já era algo fora da minha zona de conforto. O ambiente frio e impecável me deixava ainda mais nervosa, como se eu estivesse prestes a fazer algo que não deveria. Olhei meu reflexo no espelho do elevador, os cabelos soltos caindo sobre os ombros, o rosto levemente corado. Respirei fundo, tentando convencer a mim mesma de que tudo aquilo era normal. “É só uma visita casual, Patrícia. Ele é seu amigo.” Repeti mentalmente, mas o aperto no estômago não cedia.Quando o elevador chegou ao andar de Lucas, senti meu coração martelar com mais força. O silêncio do corredor só intensificava meu nervosismo. Caminhei devagar, olhando para a mesa de Marlene. Ela não estava lá. “Talvez tenha saído para o almoço”, pensei. Me aproximei da porta do escritório de Lucas, que estava entreaberta. Minha mão hesitou por um instante antes de tocar na madeira. Eu só queria me anunciar, só queria conversar, esclarecer as c
[Patricia]Miguel ligou uma, duas, três vezes. Eu vi o nome dele brilhando na tela, mas não atendi. Assim como as chamadas de Lucas, preferi ignorar. Não tinha forças para falar com ninguém agora. Não sabia o que dizer. Talvez, no meio do nervosismo, minha voz me traísse, e eu acabasse admitindo o que não devia. Respirei fundo, deslizei o dedo pela tela para silenciar o aparelho e o coloquei na bolsa. Era mais seguro assim.A sensação de estar sendo consumida por uma onda de pensamentos me acompanhou durante todo o caminho para casa. O silêncio no carro parecia ecoar os ruídos que não paravam na minha cabeça. Lucas e Lara. O jeito como estavam juntos. As mãos entrelaçadas. Aquela intimidade que eu nunca havia visto antes. Era tão claro, tão óbvio, e eu me senti tão… insignificante.Tentei me convencer de que estava exagerando. De que não tinha direito de sentir nada daquilo. Lucas e eu éramos amigos, e só. Amigos que se apoiaram em momentos difíceis, amigos que compartilharam conversa