[Patricia]O cheiro da lasanha e da carne assando tomava conta da cozinha, enquanto Ester estava concentrada em terminar de preparar as duas opções de salada. Eu me sentia mais tranquila com ela por perto, sempre tão prática e positiva. Mesmo assim, havia algo no ar, um desconforto que eu não conseguia afastar completamente.Enquanto lavava a louça de alguns utensílios que tínhamos usado, ouvi meu celular tocar no quarto. Pedi licença a Ester rapidamente.— Vou atender, é rápido. Já volto para ajudar. — Disse, tentando não parecer alarmada, embora meu coração já estivesse acelerado sem motivo aparente.— Vai lá, deixa que eu termine aqu
[Lucas]Após a saída apressada de Patrícia da cozinha, fiquei a sós com Leandro. O ambiente parecia carregado, e eu sabia que precisava esclarecer minha intervenção.— Desculpe por me intrometer, Leandro. Só queria ajudar.Ele me encarou, claramente insatisfeito com minha explicação.— Ajudar? E desde quando eu preciso da sua ajuda com Patrícia?Engoli em seco, tentando manter a calma.— Patrícia é minha amiga. Não quero vê-la magoada.Leandro deu um passo à frente, diminuindo a distância entre nós.
[Patricia]Voltei para a sala tentando colocar um sorriso no rosto, como se nada estivesse me inquietando. Ester, Miguel, Leandro e Lucas ainda estavam jogando cartas. A risada de Miguel era a mais alta, contrastando com a postura mais contida de Lucas e a animação competitiva de Leandro. Ester, sempre animada, me notou assim que entrei.— Finalmente, Patricia! — Ela disse, gesticulando para a mesa. — Vem se juntar a gente! Você não pode ficar só assistindo. Vamos, te ensino as regras rapidinho.Tentei recusar educadamente, mas Ester não aceitou um “não” como resposta.— Não tem desculpa! — Ela insistiu, me puxando pela mão até a mesa. — Miguel, dá um lugar pra ela.Miguel sorriu, movendo algumas cadeiras para acomodar mais uma.— Está preparada para perder? — Ele brincou, ajeitando as cartas na mão.— Vamos ver, né? — Respondi, rindo nervosamente. Sentei-me ao lado de Ester, tentando absorver rapidamente as regras do jogo.No início, fiquei tímida, mas logo entrei no ritmo. A partida
[Patricia]Eu nunca me senti tão fora de lugar como naquele momento. Entrar naquele prédio já era algo fora da minha zona de conforto. O ambiente frio e impecável me deixava ainda mais nervosa, como se eu estivesse prestes a fazer algo que não deveria. Olhei meu reflexo no espelho do elevador, os cabelos soltos caindo sobre os ombros, o rosto levemente corado. Respirei fundo, tentando convencer a mim mesma de que tudo aquilo era normal. “É só uma visita casual, Patrícia. Ele é seu amigo.” Repeti mentalmente, mas o aperto no estômago não cedia.Quando o elevador chegou ao andar de Lucas, senti meu coração martelar com mais força. O silêncio do corredor só intensificava meu nervosismo. Caminhei devagar, olhando para a mesa de Marlene. Ela não estava lá. “Talvez tenha saído para o almoço”, pensei. Me aproximei da porta do escritório de Lucas, que estava entreaberta. Minha mão hesitou por um instante antes de tocar na madeira. Eu só queria me anunciar, só queria conversar, esclarecer as c
[Patricia]Miguel ligou uma, duas, três vezes. Eu vi o nome dele brilhando na tela, mas não atendi. Assim como as chamadas de Lucas, preferi ignorar. Não tinha forças para falar com ninguém agora. Não sabia o que dizer. Talvez, no meio do nervosismo, minha voz me traísse, e eu acabasse admitindo o que não devia. Respirei fundo, deslizei o dedo pela tela para silenciar o aparelho e o coloquei na bolsa. Era mais seguro assim.A sensação de estar sendo consumida por uma onda de pensamentos me acompanhou durante todo o caminho para casa. O silêncio no carro parecia ecoar os ruídos que não paravam na minha cabeça. Lucas e Lara. O jeito como estavam juntos. As mãos entrelaçadas. Aquela intimidade que eu nunca havia visto antes. Era tão claro, tão óbvio, e eu me senti tão… insignificante.Tentei me convencer de que estava exagerando. De que não tinha direito de sentir nada daquilo. Lucas e eu éramos amigos, e só. Amigos que se apoiaram em momentos difíceis, amigos que compartilharam conversa
[LucasO escritório estava silencioso, o único som era o tic-tac do relógio pendurado na parede. Eu estava sentado à minha mesa, mas a papelada à minha frente não fazia sentido algum. As palavras pareciam se misturar, e minha mente insistia em fugir para outro lugar. Para outra pessoa.Patrícia.Desde que recebi o aviso de Miguel, não consegui tirá-la da cabeça. Ele comentou casualmente que a encontrou no elevador, que parecia estar com pressa. Algo no tom dele me fez pensar que havia mais, mas ele não disse muito. E desde então, tudo o que consegui pensar foi: por que ela estava aqui? E por que não veio me ver?Peguei meu celular no bolso, mais uma vez checando as mensagens. Nenhuma nova, nenhuma explicação. Apenas o mesmo vazio que eu sentia crescendo dentro de mim. Será que eu fiz algo? Será que ela descobriu sobre Lara? Minha mente estava um caos, tentando conectar os pontos.Eu e Patrícia sempre tivemos algo fácil, uma conexão que fluía sem esforço. Mesmo nos piores dias, ela era
[Patricia]Quando Ester e Miguel apareceram à porta com caixas de pizza e algumas garrafas de cerveja, minha reação foi imediata.— Pizza em plena terça-feira? — brinquei, arqueando uma sobrancelha.— Precisamos comemorar, Paty — disse Ester, com um sorriso tão radiante que era impossível não se contagiar.— Ah, é? Acho que isso é coisa boa. O que seria? — perguntei, cruzando os braços e encarando os dois com curiosidade.Ester e Miguel trocaram um olhar cúmplice, e foi ela quem deu a notícia:— Você é a primeira a saber. Miguel me pediu em casamento.Fiquei boquiaberta por um segundo, mas logo corri para abraçar minha amiga com força.— Ester! Eu estou tão feliz por vocês! — exclamei, de coração sincero.Apesar de achar que o tempo de namoro deles era curto para algo tão sério, não deixei que meus pensamentos interferissem. Eu precisava apoiar Ester, assim como ela sempre esteve lá para mim.Depois de soltar Ester, me virei para Miguel, apontando um dedo para ele em tom de brincadeir
[Patricia]Desci pelo elevador de serviço, o som da porta se fechando parecia distante, abafado pelo tumulto dentro de mim. Quando cheguei ao hall de entrada, o porteiro estava na guarita, sempre atento, como se fosse um vigilante de algum filme policial. Ester e eu já havíamos alertado sobre Marcus, e ele sabia o suficiente para estar atento a qualquer movimento. Mesmo assim, eu não estava preparada para o que aconteceria.Quando vi Marcus, o coração apertou de uma maneira que eu não conseguia explicar. Ele estava ali, parado, esperando. Mas o que ele queria? O que ele tinha a dizer depois de tudo o que aconteceu?– O que você quer, Marcus? – Perguntei, mantendo uma distância segura, tentando esconder o medo que começava a me consumir. Minha voz estava firme, mas por dentro, eu sentia como se fosse desmoronar.Ele deu um passo à frente, mas não ousou se aproximar mais. Seus olhos estavam nublados, como se ele estivesse tentando encontrar palavras que fizessem sentido. Mas eu sabia, s