Depois daquela conversa intensa na cafeteria, o silêncio que se instalou entre nós não era desconfortável, mas parecia carregar algo mais profundo, quase sagrado. Como se, de alguma forma, tivéssemos tocado em um ponto delicado do destino, um nó invisível que nos unia desde aquele dia no hospital.Ester, sempre a mais falante entre nós, tentou aliviar a atmosfera com uma piada leve:— Certo, acho que depois desse café, ninguém aqui nunca mais vai olhar para um terraço do mesmo jeito.Nós três sorrimos, mas era um sorriso carregado de compreensão mútua. Patrícia desviou os olhos para sua xícara quase vazia e passou os dedos pelo cabelo preso em um coque desalinhado. Havia uma fragilidade em seus gestos, mas também uma força silenciosa que me intrigava profundamente.— Bom… acho que precisamos ir. — Patrícia disse, sua voz suave, mas firme. — Ainda temos algumas coisas para organizar no estúdio antes das aulas começarem na segunda-feira.— Claro. — Assenti, forçando um sorriso. — Foi bo
Entrei no carro e segui para casa. O som baixo do rádio preenchia o silêncio enquanto minha mente estava longe, vagando entre lembranças sobre Patrícia. O que foi aquele encontro no estúdio hoje? O jeito como ela sorriu, como seus olhos azuis pareciam carregar oceanos de sentimentos…No meio do caminho, meu celular vibrou no painel. Era Miguel.— Fala, brother! — Ele disse com aquela animação característica. — Combinei com Leandro, Ester e Patrícia aqui em casa hoje. Pizza e cerveja. Você vem?Suspirei, desviando o olhar para a rua.— Ah, não sei, Miguel. Não estou com clima para festa.— Lucas, não é uma festa, cara. É só uma reunião entre amigos. Vem, vai ser legal.Miguel sabia ser insistente quando queria. E, no fundo, eu sabia que ele tinha razão. Talvez sair de casa fosse uma boa ideia.— Tá bom, Miguel. Eu vou.— É isso! Te espero aqui às oito.Desliguei o telefone, mas a ansiedade começou a se instalar no meu peito. Será que ia ser estranho encontrar Patrícia novamente, depoi
Depois daquela conversa intensa na cafeteria, o silêncio que se instalou entre nós não era desconfortável, mas parecia carregar algo mais profundo, quase sagrado. Como se, de alguma forma, tivéssemos tocado em um ponto delicado do destino, um nó invisível que nos unia desde aquele dia no hospital.Ester, sempre a mais falante entre nós, tentou aliviar a atmosfera com uma piada leve:— Certo, acho que depois desse café, ninguém aqui nunca mais vai olhar para um terraço do mesmo jeito.Nós três sorrimos, mas era um sorriso carregado de compreensão mútua. Patrícia desviou os olhos para sua xícara quase vazia e passou os dedos pelo cabelo preso em um coque desalinhado. Havia uma fragilidade em seus gestos, mas também uma força silenciosa que me intrigava profundamente.— Bom… acho que precisamos ir. — Patrícia disse, sua voz suave, mas firme. — Ainda temos algumas coisas para organizar no estúdio antes das aulas começarem na segunda-feira.— Claro. — Assenti, forçando um sorriso. — Foi bo
Entrei no carro e segui para casa. O som baixo do rádio preenchia o silêncio enquanto minha mente estava longe, vagando entre lembranças sobre Patrícia. O que foi aquele encontro no estúdio hoje? O jeito como ela sorriu, como seus olhos azuis pareciam carregar oceanos de sentimentos…No meio do caminho, meu celular vibrou no painel. Era Miguel.— Fala, brother! — Ele disse com aquela animação característica. — Combinei com Leandro, Ester e Patrícia aqui em casa hoje. Pizza e cerveja. Você vem?Suspirei, desviando o olhar para a rua.— Ah, não sei, Miguel. Não estou com clima para festa. O silêncio suave da varanda foi interrompido pelo som da porta se abrindo. Leandro apareceu, com um sorriso travesso e olhar curioso.— O que vocês dois estão fazendo aqui fora? — perguntou ele, cruzando os braços e encostando no batente da porta.Eu e Patrícia nos entreolhamos por um breve instante, e ela sorriu de maneira doce, mas discreta.— Nada demais — respondeu Patrícia, sua voz calma, porém carregada de algo que nem eu conseguia decifrar. — Só comentando que, às vezes, a vida nos surpreende.Leandro arqueou uma sobrancelha, claramente intrigado com a resposta. Ele lançou aquele olhar brincalhão, o tipo de olhar que eu conhecia bem — algo entre provocação e curiosidade.Antes que qualquer um de nós pudesse responder, a voz animada de Miguel ecoou da sala.— Bora, pessoal! Estou ligando o videogame. Quem vai ser derrotado hoje?Leandro riu e fez um gesto para que seguíssemos para dentro.— Vocês ouviram o chefe. Vamos lá!Quando estávamos de volta à sala, Miguel já estava sentaCapítulo 21
— Foi divertido essa noite — disse Ester, com um sorriso satisfeito no rosto. Seus olhos brilhavam com curiosidade e uma pontada de expectativa enquanto me observava.Eu não pude deixar de sorrir também.— Tudo bem, você tinha razão. Foi divertido — admiti, soltando um suspiro leve.Ester bateu palmas animada, quase como uma criança que acaba de ganhar um doce.— Que ótimo, Paty! Eu sabia que você ia gostar.Por alguns instantes, ficamos em silêncio. Apenas o som do carro deslizando suavemente pela rua preenchia o espaço. Até que Ester olhou de canto de olho para mim, com aquele olhar perspicaz que ela sempre lançava quando queria arrancar algo de mim.— Mas… eu notei algo hoje — ela começou, com a voz carregada de malícia. — A proximidade entre você e o Leandro… é impressão minha ou ele está interessado em você?Senti meu rosto esquentar instantaneamente. Virei o rosto para a janela, tentando disfarçar o leve rubor que subia pelas minhas bochechas.— Não sei, Ester. Acho que foi só i
Lucas sentia o mundo ruir ao seu redor. A notícia havia sido devastadora, arrancando dele qualquer resquício de esperança. Sua noiva, seu futuro, seu amor havia partido de forma brutal e repentina em um acidente de carro. No corredor do hospital, os sons dos monitores e passos apressados soavam distantes, abafados pelo peso do luto que o sufocava. As paredes pareciam se fechar ao redor, como se quisessem esmagá-lo. Ele não conseguia encarar os pais ou os sogros, que também choravam em silêncio. O vazio em seus olhos espelhava o próprio vazio que sentia. “Com licença”, murmurou, sem realmente esperar uma resposta. Precisava sair dali, encontrar ar para respirar, mesmo que por um instante. No elevador, Lucas apoiou a testa contra a parede metálica, a superfície gelada um breve alívio para o calor sufocante da dor que o consumia. Quando as portas estavam prestes a se fechar, uma mulher entrou apressadamente. Ela evitava contato visual, enxugando discretamente as lágrimas que escorriam
Patrícia agradeceu com um aceno tímido e murmurou: — Obrigada… de verdade.Lucas apenas assentiu, observando enquanto ela se afastava lentamente, os passos hesitantes carregando o peso de sua dor. Ele ficou parado no terraço, o vento ainda frio batendo contra seu rosto, como se tentasse despertá-lo de um pesadelo que não tinha fim.Quando as portas do elevador se fecharam atrás dela, o silêncio pareceu ainda mais opressor. Lucas ergueu os olhos para o céu nublado, buscando respostas que não vinham. — Por quê? — pensou ele, os lábios se movendo sem som. — Por que ela? Por que agora?A imagem de Milena veio à sua mente. Seu sorriso brilhante, os planos que faziam juntos, as risadas que compartilhavam. Tudo parecia tão próximo e, ao mesmo tempo, inatingível. A perda era como uma ferida aberta, latejante e insuportável.Ele permaneceu ali por algum tempo, tentando encontrar sentido no caos. Mas as respostas não vieram, e Lucas soube que talvez nunca viriam. Respirou fundo, ainda sentindo